Há tanto por onde começar esta antevisão. Pela forma totalmente nova e inédita da jogabilidade apresentada. Pela relação pai e filho entre Kratos e Atreus. Pelo mundo belíssimo que em tudo honra a continuação da saga em universos mitológicos. A banda sonora que está presente de forma intrínseca naquilo que é o acompanhar das batalhas e dos momentos de maior intensidade emocional. São de facto muitos os adjetivos que podemos proferir a este novo capítulo de Kratos assim que o jogamos mas vamos tentar fazê-lo de forma a que percebam o que podem realmente esperar deste novo jogo.
Ao contrário do que vimos em todos os outros jogos da saga God of War, este é aquele em que as diferenças são verdadeiramente realçadas, em tudo. Nos outros episódios vimos um Kratos sem qualquer interesse em ajudar o próximo, nada altruísta e apenas interessado em cumprir a sua vingança. Agora não, o poder da paternidade invadiu aquilo que achávamos ser a personalidade do brutal personagem e tornou-o mais dócil, compreensivo e muito preocupado em educar o filho, tendo em conta o mundo onde vive.
Foi neste estado emocional que dei embargo à minha aventura de pouco mais de uma hora a jogar o novo God of War: com Kratos a ter uma conversa de pai para filho com Atreus – claro que à sua maneira rígida e demasiado assertiva – mas qualquer fã da saga sabe que, no seu mais íntimo recanto, quer apenas ver o filho a tornar-se num homem preparado para os demais perigos deste fascinante e traiçoeiro mundo da mitologia Nórdica, preocupando-se assim com a preservação do seu futuro.
Do pouco a que tive acesso, vamos puder esperar muito desta história. Promete ser de longe a que vai puxar pelo lado mais emocional deste universo associado ao caos e à destruição. Inicialmente temos o objetivo de subir umas montanhas, que por algum motivo estão relacionadas com a mãe de Atreus onde a informação não me foi totalmente percetível. Até lá foi possível ver algumas sequências cinemáticas que me catapultaram o interesse no enredo do jogo. Algumas personagens que deram a cara na demonstração a que tive acesso ainda não aparecerem nos trailers disponibilizados pela Sony, algumas com bastante carisma e que te vão fazer soltar diferentes emoções ao longo de todo o jogo, pelo menos é essa a minha expectativa para o desenrolar daquilo que será a continuação da demonstração providenciada pela Sony.
Depois desta pequena introdução seguiu-se o tão aguardado momento de deitar as mãos ao DualShock 4 e começar a explorar as mecânicas oferecidas pela Santa Monica neste reset à franquia. Inicialmente temos acesso a um escudo que serve para nos proteger dos ataques inimigos e consequentemente contra atacar, abrindo de imediato uma excelente oportunidade para acabarmos com a saúde do nosso oponente. A arma inicial de Kratos, de seu nome Leviathan Axe, é muito dinâmica e faz-nos esquecer rapidamente a velocidade e fulgor das icónicas lâminas de Atenas. O facto de podermos atirar o machado gelado para os inimigos ou para contornar obstáculos impostos pelo jogo dá-nos a sensação de que todo o enredo à nossa volta se torna mais completo e preenchido. Depois, com o simples premir de um botão conseguimos que este retorne até nós com um belo efeito boomerang. É possível também a realização de combos com o machado, temos a hipótese de fazer ataques leves e ataques pesados, que nos permitem jogar de forma mais ágil ou então mais cautelosa, mas que causam um dano mais significativo. Isto, sem nunca perder um pingo de brutalidade, independentemente da tua abordagem.
É inevitável fazer comparações deste novo God of War a jogos como The Last of Us, no seu estilo linear mais amplo, que nos cede a possibilidade de explorar o mundo através de quebra cabeças ou apenas pela curiosidade que cada jogador tem em examinar cada canto do mundo que nos é oferecido. Esta não é a única semelhança que vais encontrar em God of War com a obra prima da Naughty Dog. A câmara está bastante mais próxima de Kratos, o corpo do personagem enche-nos muito do ecrã disponível, o que pode ser um tanto ou nada estranho inicialmente, mas que rapidamente se torna confortável e algo banal, havendo também uma aproximação a Gears of War neste quesito. Seguindo as tendências da Internet, é possível fazermos uma comparação do gameplay com Dark Souls. Admito que quando vi os restantes jogadores a jogarem pela primeira vez a nova aventura de Kratos, temi que o jogo estivesse demasiado parecido com Dark Souls, com uma jogabilidade mais tática e lenta em que a importância de conhecermos os golpes dos inimigos é demasiado elevada. Isso deixou-me um pouco preocupado com aquilo que a experiência me podia proporcionar. Mas tudo não passou de um susto, não porque não goste do gameplay de Dark Souls, mas porque achei que não era o melhor estilo a adotar para um jogo como God of War. Rapidamente as incertezas passaram a encanto e o gameplay, embora muito diferente, continua épico, arrojado e a transbordar violência ao ritmo de golpes rápidos e bastante acessíveis. Portanto, é aceitável concluir que este novo jogo se baseou nos melhores atributos de outros grandes jogos mas como seria de esperar, modelou estas características criando algo singular e diferente.
As diferenças neste novo God of War não se ficam por aqui, os seus antecessores eram considerados como das franquias de hack n´ slash mais famosas e reconhecidas do mundo. Contudo, para este recomeço da série tudo isso foi posto de lado. O jogo apresenta-se como um RPG de ação desenfreada. Continuamos a ter todo um gameplay brutal e rico em cenas de violência, mantendo até características dos jogos anteriores como a de dar o golpe final nos inimigos, fazendo o Kratos espantar todos os que o vêem com a sua brutalidade e força. Porém, sem os tradicionais quick time events. Mas estes serão dos poucos atributos herdados pelos seus antecessores, tudo o resto é totalmente diferente. Temos os objetivos das respetivas missões bem visíveis no ecrã, temos de acumular uma espécie de pontos de experiência para fazer upgrades às armas e moldá-las assim ao nosso gosto. Assim como as nossas armaduras e até mesmo ao arco de Atreus que podemos usar contra os nossos inimigos, indicando essa ação ao filho de Kratos durante as batalhas. Algo que é completamente novo em relação a todos os outros God of War.
A Santa Monica também não poupou o menu do jogo a mudanças. Ainda não foi possível verificarmos essas mudanças através de vídeos disponibilizados pela Sony, mas quando tiverem a oportunidade de jogar o jogo pela primeira vez e carregarem no botão options vão soltar um ar de espanto, tais são as diferenças em relação a todos os outros jogos da franquia. Não querendo entrar muito em detalhes para não te estragar a surpresa, vais contar com funcionalidades e um background que te vai fazer lembrar jogos como Horizon Zero Dawn e até mesmo Assassin´s Creed Origins.
Os visuais apaixonam até os mais cépticos, não sendo de esperar menos da Santa Monica, que sempre nos presenteou com grandes gráficos e mundos ricos em detalhes com tons que nos fazem lembrar autênticos quadros. Esta nova mitologia é também por si só um baú de encantos, e o estúdio aproveitou muito bem as suas características para criar cenários absolutamente fantásticos com um enorme sentido de profundidade, proporcionando aos jogadores uma sensação de que são apenas um ponto minúsculo a vaguear pelas terras de Odin. O nível da qualidade das cinemáticas é também algo de outro mundo… Talvez do Nórdico. O detalhe chega a ser microscópico: cabelo, roupa, rugas, cenários…. Um autêntico regalo para os mais atentos.
É de louvar o risco que a Santa Monica trouxe a sua franquia de maior visibilidade. As alterações promovidas no jogo tinham tudo para não correrem tão bem e até podem não agradar aos fãs mais hard core da saga, que preferiam uma continuação dentro do mesmo estilo de gameplay. Porém, é impossível refutar que a qualidade do trabalho feito pelo estúdio Norte Americano é ímpar e que esta apenas ao nível dos melhores. É com uma grande expetativa que a nossa equipa aguarda o lançamento oficial do jogo para pudermos desfrutar deste que é sem dúvida um dos fortes concorrentes a jogo do ano de 2018.
God of War estará disponível dia 20 de Abril exclusivamente para a PlayStation 4.
Podes ainda ver a entrevista da Portugal Gamers a Ricardo Carriço aqui.