Uma das franquias com mais visibilidade no universo da PlayStation será, sem dúvida, o Gran Turismo. Aliás, podemos dizer com toda a segurança que não há uma geração das consolas da Sony que não tenha recebido, de uma forma ou de outra, um título “GT”, dedicado a levar mais longe a procura pelo fotorrealismo e pela absoluta e perfeita simulação.
“The Real Driving Simulator” – ou o simulador real de condução é a palavra de ordem para qualquer título Gran Turismo, vindo ostensivamente escrito logo abaixo do título do jogo.
Para além da procura do sentimento perfeito de conduzir um dos bólides, a saga Gran Turismo sempre presenteou os fãs com um conjunto crescente de viaturas que poderão ser colecionadas e alteradas, assim como várias competições. Porém, curiosamente, o último título “principal” a ser lançado – “Gran Turismo SPORT”, na PlayStation 4 – dava um passo atrás em alguns elementos. Falamos do inexistente modo carreira – que depois foi adicionado através de um update – e a relativamente parca seleção de viaturas que podiam ser colecionadas, as quais foram sendo aumentadas para mais do dobro.
Gran Turismo 7 procura ir mais longe que o seu antecessor na oferta de modos de jogo e na profundidade com que estes são desenvolvidos. Naturalmente que o número de veículos não se aproxima dos antecessores a SPORT, que ficou conhecido por diminuir drasticamente o número de bólides disponíveis. Ainda assim, à partida, mais de 420 veículos juntam-se à festa automobilística. Atenção, falamos de veículos meticulosamente reproduzidos, não apenas graficamente, mas também a nível sonoro e na “sensação” de condução, graças à maravilhosa implementação dos haptics. Claro que nunca poderá haver um consenso sobre a inclusão de determinadas viaturas num jogo deste escopo, mas consideramos que talvez a seleção de viaturas novas pudesse ser um pouco mais diversificada. É notório um pendor para uma sobre-representação de viaturas de marcas japonesas, é um jogo da Polyphony afinal, o que resulta numa sub-representação de algumas marcas ocidentais até bastante conhecidas. Quando jogos como os da franquia Forza da Playground apostam numa ampla variedade de modelos de várias marcas, custa-nos ver que Gran Turismo 7 aperta o cinto, mais uma vez, na diversidade de modelos à escolha. Ainda assim, é de louvar a inclusão de vários modelos clássicos, os quais podem ser adquiridos no mercado de carros usados – tal como na vida real – os quais vêm com quilometragem (e um estado de desgaste) absolutamente realistas.
Mas vamos por partes! Assim que iniciarmos o jogo somos agraciados pelo novo modo “Music Rally” que nos convida a dar umas voltas iniciais em vários carros enquanto os restantes ficheiros são descarregados e a experiência principal fica disponível. O modo inspira-se nos jogos de rally das arcadas em que o jogador deve passar pelos checkpoints antes do tempo acabar. Só que em vez do tempo, o modo substitui o cronometro por batidas! À medida que vamos passando os vários checkpoints, vamos ganhando mais batidas para a corrida (e a música) poderem continuar. É uma excelente maneira de sermos recebidos por aquilo que é um dos melhores jogos de carros desta geração.
Assim que a instalação estiver acabada, somos recebidos no “mapa mundo”, inspirado naquilo que pensamos ser uma vila italiana junto ao mar. Daqui, seguimos uma cerca narrativa, cujo objetivo é introduzir-nos aos vários modos existentes. O modo carreira deste jogo evoluiu para algo bastante mais casual e honestamente, consideramos que tal escolha demonstra, numa luz bastante positiva, a nova filosofia de Gran Turismo 7, isto é, falamos da paixão pelos automóveis, não apenas o desporto automóvel, mas todo o mundo que rodeia o fenómeno automobilístico. Veja-se que os vários objetivos que necessitam de ser cumpridos para irmos progredindo no jogo, são recolhidos num café de um entusiasta automóvel, que nos vai dando missões em que, não poucas vezes, o objetivo é adquirir um conjunto de automóveis que representam uma fatia da história automobilista. Por vezes, é normal até que os designers das várias viaturas apareçam no café e nos contem um pouco sobre aquilo que os influenciou nas suas criações. É algo fresco, desprendido e casual, exatamente como imaginamos ser a vida de um colecionador de automóveis.
Além disto, o jogo traz consigo os modos já habituais: um mecânico em que po9demos comprar e instalar várias peças (de diferentes categorias) nos nossos veículos, um autoshop onde podemos lavar, costumizar e até mesmo “arranjar” os vários carros, algo útil para os carros usados – e os carros novos que com o passar do conta-quilómetros, vão se tornando usados; a central da Marca, que regressa de SPORT ainda com mais conteúdo para os fãs do automobilismo, sendo o local onde podemos adquirir os carros novos; uma concessionária para carros usados, mas também uma concessionária especificamente para carros lendários; uma central de licenças – um marco do Gran Turismo – onde necessitamos de aprender as várias técnicas de condução de modo a adquirir as várias licenças (ou cartas de condução) e que nos permitem aceder aos diferentes campeonatos e eventos. Infelizmente o jogo apenas grava o seu progresso se estivermos online, o que afasta a possibilidade de jogadores sem ligação à internet efetivamente jogarem. Naturalmente que compreendemos que é uma exigência dos tempos atuais estarmos sempre ligados, mas por vezes não conseguimos manter uma ligação estável ou por vezes a ligação cai, sendo impossível, e imensamente frustrante, ter de perder o “save” em razão desta imposição.
Devemos fazer duas menções especiais, em primeiro lugar ao modo “Scapes” que nos traz de volta a possibilidade de tirar fotografias aos nossos veículos em mais de 2500 localizações. Os detalhes dados a este modo praticamente que poderiam fazer um jogo só por sí. É um verdadeiro simulador de fotografia automóvel, com todos os pequenos detalhes técnicos que farão um fotografo profissional sentir-se em casa. A outra menção especial é ao Meeting Place onde nos podemos encontrar com outros jogadores para jogar online. É um hub para os vários modos online e será onde passaremos grande parte do nosso tempo com os vários amigos fãs de GT.
Do ponto de vista técnico, a preocupação com o realismo na condução dos bólides toma um lugar prominente. Não dizemos isto levemente, a experiência de condução de Gran Turismo 7 é a experiência mais realista que alguma vez tivemos. Nenhum outro jogo permite chegar aos níveis detalhados de “tunning” que GT7 oferece. Dependendo do jogador, com o título mais recente da Polyphony, é possível ver os carros de GT7 a comportarem-se como carros verdadeiros, não só na experiência de condução, mas também na experiência de manutenção dos mesmos. Para quem só deseja conduzir os bólides, a nova experiência de haptics graças ao Dual Sense da PlayStation 5 permite ao jogador sentir cada detalhe de conduzir. É exatamente como ter um volante nas mãos, dado que qualquer pressão nos pneus ou irregularidade da pista vai ser sentida nas nossas mãos. É uma experiência next-gen obrigatória!
Graficamente, podemos dizer com toda a certeza que este é o jogo de corridas mais bonito alguma vez visto! Gran Turismo 7 apresenta dois modos gráficos, um modo de alta framerate, em que sacrifica uma ínfima parte da apresentação gráfica para dar aos jogadores uma experiência mais fluida, e um modo Ray-Tracing em que os famosos efeitos de reflecção da luz são aplicados, mas que sacrifica a fluidez da apresentação. Dada a existência dos vários modos de jogo, a melhor forma de aproveitar ambos os modos de apresentação é utilizar o modo de alta framerate quando estamos a correr e o modo Ray-Tracing quando vamos ao modo “Scapes” para tirar fotografias aos veículos.
A nível da sonoplastia, o Gran Turismo 7 devolve-nos ao mundo do jazz moderno e trendy nos vários menus, introduzindo músicas atuais de vários artistas conhecidos nas várias corridas. Com temas como Unstoppable de Kim Dracula, I Don’t Care por Major Lazer & Lous e Yakuza e até Bizcochito de Rosalía. Ainda assim, a banda sonora não se inibe de nos premiar com alguma música clássica nos menus, embora de uma forma mais reservada. Há um bocadinho de tudo para todos, mantendo o espírito clássico de Gran Turismo.
Gran Turismo 7 possui ainda um modo Sport, dedicado à competição automobilística online, tal como o seu antecessor. É neste modo onde as lendas automobilistas online são feitas, podendo o jogador aceder às competições internacionais da FIA Gran Turismo, especialmente criadas para o efeito.
Opinião final:
Gran Turismo 7 é o próximo passo no mundo da paixão automobilística da Polyphony. Toma vários passos no sentido correto ao trazer para a nova geração um título Gran Turismo completo à partida. Continua a não ter o número de carros que os antecessores de SPORT, mas o tratamento que dá aos mesmos, e à experiência de os conduzir, é imaculado. Quem possuir uma Play Station 5 está obrigado a jogar Gran Turismo 7.
Do que gostamos:
- Experiência extremamente realista de condução;
- Nenhum outro jogo chega aos calcanhares de GT7 no que toca ao “tunning”;
- Implementação perfeita dos haptics do Dual Sense;
- Apresentação gráfica linda de morrer.
Do que não gostamos:
- Necessidade de estar sempre online para poder gravar.
Nota: 9/10
Análise efetuada com um código cedido gentilmente pela distribuidora.