Kingdom Come: Deliverance II – Análise

Quando Kingdom Come: Deliverance chegou em 2018, apresentou-se como uma das experiências mais ambiciosas do género RPG. O jogo da Warhorse Studios oferecia um mergulho profundo na vida medieval, apostando em realismo e detalhe histórico, mas também ficou marcado por uma curva de aprendizagem íngreme, problemas técnicos e bugs que afetaram a experiência. Sete anos depois, chega-nos Kingdom Come: Deliverance II, e a verdade é que a sequela não só honra o legado do original como eleva praticamente todos os seus aspetos a um novo patamar.

A primeira grande diferença salta logo à vista: a escala. O mundo aberto de Kingdom Come: Deliverance II é significativamente maior, com regiões novas como Kutná Hora, que brilham tanto pela imponência arquitetónica como pelo detalhe minucioso das ruas, casas, florestas e planícies que rodeiam as cidades. A sensação de estar num espaço histórico autêntico é mais forte do que nunca, apoiada por uma direção artística soberba e por um motor gráfico agora muito mais estável e otimizado.

Este é um jogo incrivelmente belo de início ao fim.

A vida no jogo continua a ser marcada pela atenção ao detalhe: a higiene, a alimentação, o descanso e a forma como o equipamento se desgasta fazem parte integral da jogabilidade. Porém, ao contrário do primeiro título, onde estas mecânicas por vezes eram fonte de frustração, aqui sentem-se mais integradas e equilibradas, contribuindo para a imersão sem se tornarem um peso.

Se no original a história era sólida, mas pouco surpreendente, desta vez a Warhorse construiu uma narrativa mais envolvente, com ramificações reais que respondem às ações do jogador. As missões principais são complementadas por side quests ricas e variadas, muitas delas capazes de rivalizar com a narrativa principal em termos de escrita e impacto.

As escolhas morais ganham maior relevância, influenciando não apenas diálogos, mas também a reputação de Henry e a forma como as personagens reagem à sua presença. A sensação de estar a viver o papel de um camponês que ascende, passo a passo, no mundo medieval, nunca foi tão convincente.

A interface de utilizador continua a intimidar-nos e a não ser muito intuitiva.

O sistema de combate foi alvo de melhorias claras, mas continua a ser exigente e até punitivo. O realismo histórico mantém-se como prioridade, e isso significa que duelos exigem paciência, precisão e atenção ao posicionamento. Para alguns jogadores, isto poderá ser motivo de frustração e até suficiente para evitar combates o máximo possível ou abandonar este jogo, mas para quem aprecia o desafio, é uma experiência recompensadora.

O mesmo pode ser dito do lockpicking e de outras mecânicas: estas continuam complexas e exigem prática, mas desta vez a sensação de recompensa é muito maior quando dominadas. Ainda assim, é justo dizer que o jogo poderia beneficiar de uma curva de aprendizagem ligeiramente mais acessível para novatos.

Se o primeiro jogo ficou algo manchado por bugs e problemas técnicos, Kingdom Come Deliverance II demonstra uma evolução notável. A estabilidade em geral é muito superior, o desempenho é consistente e os problemas de pop-in ou de animações quebradas são bem menos frequentes. Claro que não está isento de falhas, há ainda glitches ocasionais e algumas animações menos refinadas, mas estes nunca chegam a comprometer seriamente a experiência.

Os duelos são árduos, mas recompensarão os vossos esforços.

Visualmente, o jogo impressiona. As florestas, os vales e as cidades respiram autenticidade, reforçados por um design sonoro imersivo e por uma banda sonora que sabe criar a tensão e o ambiente certos em cada momento.

Opinião Final:

Kingdom Come: Deliverance II é uma sequela exemplar. Mantém a essência do original, na forma de realismo, imersão e toda a exigência que isso involve, mas apresenta um mundo maior, uma narrativa mais rica e uma execução técnica muito mais competente. Nem todos os problemas foram eliminados, sobretudo no que toca à curva de aprendizagem e à interface, mas o saldo é amplamente positivo.

Para quem gostou do primeiro jogo, esta é uma evolução quase obrigatória; para quem nunca se aventurou, este é o melhor ponto de entrada num dos RPGs mais autênticos e únicos do mercado.

Do que gostamos:

  • Mundo aberto maior, mais detalhado e visualmente impressionante;
  • Narrativa mais envolvente, com escolhas impactantes;
  • Missões secundárias ricas e memoráveis;
  • Enorme atenção dada aos detalhes históricos;
  • Melhorias técnicas significativas face ao primeiro jogo;
  • Sistema de progressão gratificante e diversificado.

Do que não gostamos:

  • Combate ainda pesado e por vezes frustrante;
  • Lockpicking e certas mecânicas continuam um pouco exigentes;
  • Interface por vezes confusa e pouco intuitiva.
  • Pequenos bugs e glitches que, embora raros, quebram a imersão.

Nota: 9/10

Análise efetuada com um código Steam cedido gentilmente pela distribuidora.