Quando vi que iam lançar um jogo LEGO baseado em Horizon Zero Dawn, fiquei meio que alerta. Não é segredo nenhum que adoro os jogos Lego mas rapidamente ajustei as minhas expectativas porque desta feita não seria desenvolvido pela Traveller’s Tales mas sim pela Guerilla Games. Ainda assim, seria de confiar no estúdio que nos trouxe Horizon, certo? Mais ou menos.Ainda que estejamos a falar de estúdios diferentes, é impossível não associar o modelo de jogo licenciado LEGO aos moldes popularizados pela Traveller’s Tales e estabelecer paralelos e comparações, por mais injusto que tal seja.
Apesar de ser um spin-off, LEGO Horizon Adventures é nada mais menos que uma adaptação um pouco mais leve e family friendly de Horizon Zero Dawn. O elenco original está de volta (com a óbvia excepção de Lance Reddick) mas com uma direção com muito mais humor e leveza. Destaco ainda a adaptação em português de Portugal, que está um absoluto mimo e que permite que o jogo seja desfrutado pelos nossos mais pequenos, sem espinhas. A adaptação do texto é, a par dos visuais (já lá vamos) uma das melhores partes do jogo, sem qualquer sombra de dúvida. Um enredo e aventura sérios são aqui apresentadas de um modo muito mais apelativo a um público juvenil, sem, no entanto, perder a sua essência. Ashly Burch dá a volta à sua Aloy e transforma-a numa personagem que poderia ter saído de um qualquer filme animado infantil, sem ser uma caricatura de si mesma, comprovando o seu talento.
Visualmente, é também impressionante, com um mundo construído todo ele de peças de LEGO. Existiu aqui um cuidado e carinho ao recriar o mundo de Horizon, bem como as criaturas mecânicas que o populam, com excelente iluminação e uma adaptação perfeita das personagens e identidade visual do jogo original.
No entanto, onde o jogo para mim falha, é sem dúvida naquilo que o torna num jogo e naquilo que deve definir um jogo destes – LEGO Horizon Adventures é tão simples, tão linear, que se torna muito pouco divertido e francamente sensaborão. Como disse acima, deveremos ter em conta que quem desenvolveu este jogo não foi o mesmo estúdio de outros jogos Lego, mas mais uma vez, é impossível não estabelecer comparações e não ter uma certa expectativa.
Se os títulos anteriores (mesmo até os mais iniciais, na altura de Star Wars) primavam por uma simplicidade com alguma complexidade, primando pela exploração e rejogabilidade, aqui a simplicidade é tanta que quando me vi a braços com a mesma tarefa e o mesmo tipo de nível pela enésima vez, simplesmente desliguei a consola com a frustração que senti. Não temos aqui uma estrutura open world, muito pelo contrário, seguindo para níveis que rapidamente percebemos têm sempre a mesma estrutura, com muito pouco para explorar e descobrir – culminando sempre numa área com inimigos humanos ou mecânicos, que temos de derrotar. Podem ainda escolher entre cinco níveis de dificuldade, permitindo assim ajustar a experiência a qualquer nível de habilidade e/ou idade.
O combate também é simples, ainda que tente introduzir algumas diferenças, ainda que seja difícil variar tanto esta componente neste tipo de jogo, face a Zero Dawn. Com eventual acesso a quatro personagens diferentes, as armas que temos disponíveis diferem também, podendo tomar partido dos elementos (lançando projeteis através de fogo, por exemplo), ou mesmo de bombas (por exemplo) que podem atirar aos inimigos. Ainda que não exista grande complexidade no combate, a variedade é suficiente para manter as batalhas q.b. frescas, algo que é deitado por água quando percebemos que o jogo não vai mesmo passar da cepa torta. Isto é ainda mais gritante quando percebemos e sabemos que o mundo de Horizon tem muito para explorar, ainda para mais numa junção com o mundo LEGO. Não existe incentivo à exploração, aliás como já referi esta é extremamente limitativa. A diferenciação entre personagens jogáveis advém principalmente das suas diferenças em combate, sendo possível jogar em co-op. Podem ainda melhorar habilidades e desbloquear opções de personalização das vossas personagens no hub – Mother’s Heart – que podem também ir personalizando.
No entanto estas opções acabam por ser vazias de conteúdo efetivo. LEGO Horizon Adventures é bonito, tem potencial e não se pode dizer que é um mau jogo. Mas peca em ser apenas mediano, principalmente para um jogo vendido a full price e que mais parece uma forma de vender e publicitar os conjuntos de LEGO de Horizon. É visualmente impressionante mas rapidamente se percebe que é oco e que não nos leva a querer jogar os níveis/missões uma e outra vez. Para além disso, é um jogo bastante curto. Podemos alegar que aqui o foco será mesmo um público juvenil, mas o belo de outros jogos Lego era mesmo o equilíbrio entre a simplicidade e complexidade, um jogo que poderia perfeitamente ser jogado por crianças ou em conjunto com os pais, culminando numa experiência colaborativa com um sentido final de que tinham chegado a algo. Aqui temos apenas missões sem alma, num sistema que quase senti ser on rails, na esperança eterna de que algo irá mudar ou melhorar – infelizmente, encosta-se à sombra da bananeira e parece ficar perfeitamente contente na sua mediocridade.
Opinião Final:
LEGO Horizon Adventures só me deixou com muita vontade de voltar a Zero Dawn (ainda mais com o lançamento do remaster), ao invés de participar numa experiência tépida, cuja alma advém mais do trabalho feita pela equipa de escrita e atores, ao invés da jogabilidade em si.
Do que gostamos:
- Visuais impressionantes e detalhados;
- Direção de história e atores excelente para um jogo do género.
Do que não gostamos:
- Jogabilidade insípida;
- Exploração quase nula.
Nota: 7/10
Análise efetuada com um código PlayStation 5 cedido gentilmente pela distribuidora.