Estamos na época do Halloween, altura de muitos sustos, partidas, doces e travessuras. De forma a capitalizar com este período festivo, as várias empresas de entretenimento aproveitam para lançar novos videojogos, séries, filmes e mesmo livros que de uma forma ou de outra estejam ligados ao terror ou ao supernatural.
Pensando na Nintendo em específico, não há como não nos vir logo à cabeça Luigi’s Mansion – série de jogos em que o assustadiço irmão de Mario se vê protagonista de uma aventura noturna repleta de fantasmas, quartos escuros e perigos à espreita a cada canto. Apesar desta clara associação entre Luigi’s Mansion e o Halloween, a verdade é que apenas agora com o lançamento de Luigi’s Mansion 3 para a Nintendo Switch (precisamente no dia 31 de outubro) é que a Nintendo tirou finalmente partido de todo este fenómeno cultural. O jogo original para a GameCube saiu em meses diferentes nas várias regiões, mas nenhuma delas em outubro; já o segundo jogo, lançado exclusivamente para a 3DS, chegou no mês de março de 2013.
Estamos assim perante o primeiro título desta não muito longa franquia que aposta em pleno em tirar proveito do dia das bruxas. É por isso mais assustador que os jogos que o precedem? Não, é claro que não. Embora contenha cenários negros, algumas criaturas bizarras e uma banda sonora, Luigi’s Mansion 3 está longe de ser assustador, chegando no máximo a ser algo tenso em breves secções (e olhem que vos fala uma das pessoas menos tolerantes a terror e sustos que por aí há). Trata-se simplesmente de um jogo de aventura na terceira pessoa, tão brincalhão como os restantes jogos que se passam no Reino Cogumelo.
Ter como tema os fantasmas e mansões assombradas faz, no entanto, com que este jogo apresente uma série de mecânicas que tornam esta série única entre as várias que figuram Luigi e companhia. Nomeadamente, sendo que nos cabe explorar locais interiores, como salas e corredores escuros e apertados, não nos é permitido correr a uma grande velocidade ou sequer saltar. Em vez disso, contamos com uma espécie de aspirador, o Poltergust G-00, que nos permite de uma forma bastante literal aspirar os fantasmas com que nos vamos deparando, após os termos… assustado e atordoado com o flash da nossa lanterna.
Disse mansões? Esqueçam, o título engana. Em Luigi’s Mansion 3 exploramos na verdade um hotel assombrado. Mais uma vez, Luigi, Mario, Peach e os seus acompanhantes Toads são enganados e capturados enquanto desfrutam de umas bem merecidas férias num hotel aparentemente perfeito… ou quase todos capturados. Luigi consegue escapar por um triz a ser enfiado dentro de um retrato, cabendo-lhe a ele resgatar os seus companheiros deste hotel afinal não tão esplendoroso.
Com esta nuance de se tratar de um hotel e não mais de uma mansão ou conjunto de mansões, Luigi’s Mansion 3 abre aqui espaço para uma enorme criatividade. Dar grandes detalhes seria estragar muita da surpresa, mas confiem em mim quando vos digo que à medida que forem subindo no hotel, vão encontrando pisos cada vez mais malucos, confortavelmente situados ao lado de pisos tão comuns, como um dedicado à restauração. Como poderão ter visto nos materiais promocionais, mesmo um piso que é também um castelo medieval não é demasiado out there para este jogo.
De facto, desta forma esta terceira noite de Luigi a caçar fantasmas consegue combater uma certa repetitividade em termos de estrutura, durante uma campanha que me levou cerca de 15 horas e meia a completar. Regra geral, é esta a sucessão de eventos que se dá: chegam a um novo piso com um Luigi a tremer a varas verdes, por exemplo apenas espreitando para o piso em questão enquanto se encosta às bermas do elevador; após uma breve animação, passamos a estar em controlo da personagem, fase em que devemos explorar o piso, resolvendo puzzles e combatendo fantasmas; até que somos confrontados com o boss do piso, o qual detém um dos botões dos pisos que nos falta ainda explorar (o elevador é a única forma de trocar entre pisos e está com um problema grave de falta de botões); finalmente deslocamo-nos vitoriosos com o novo botão do elevador resgatado.
Não há grandes mudanças a este nível ao longo dos 15 pisos que compõem este hotel. Como deverão calcular, a experiência tornar-se-ia rapidamente enfastiante, pelo menos durante sessões de jogo mais longas, caso não houvesse nada que contrabalançasse esta estrutura. E é exatamente aqui que a enorme variedade de cenários e temas de Luigi’s Mansion 3 nos saúda, prendendo a todo o momento o nosso interesse.
Mas não é apenas a loucura criativa na base da criação dos vários pisos que nos salva do aborrecimento. Em alguns momentos, faça-se justiça, Luigi’s Mansion 3 quebra este ritmo, devido ao surgir inesperado de mais dificuldades. Aqui um exemplo é Polterkitty, gata-fantasma de estimação da também fantasmagórica gerente do hotel, que nos rouba um dos botões e o leva com ela para outras divisões do hotel, incluindo algumas de pisos que já exploráramos. Outro exemplo é de que resgatar os Toads geralmente significa explorar um piso em que não há muitas divisões nem uma correspondente parte extensa dedicada à exploração, mas sim uma boss fight com maiores dimensões (e, no geral, bastante épicas). Existem ainda outros momentos em que se quebra o esquema anteriormente referido, mas estes são, na minha experiência, os mais destacados.
Apesar de estas formas de estimular o jogador estejam presentes, julgo que ainda assim Luigi’s Mansion 3 tinha tudo para ir mais longe neste quesito. As secções com Polterkitty de facto acabam por impedir que o ciclo se mantenha, mas em troca dão-nos momentos de alguma frustração. Perseguir uma gata por zonas que já explorámos poderia ser divertido se houvesse algo de substancialmente novo ou de surpreendente à nossa espera, como alguma ligação inesperada entre pisos. Infelizmente, tal não é o caso, o que acaba por nos levar a sentir que estes são momentos que servem para pouco mais do que prolongar artificialmente uma campanha que não tinha, à partida, sequer a necessidade de ser expandida.
Resumindo este ponto, em Luigi’s Mansion 3 sente-se, apesar de tudo, uma leve sensação de fastio em sessões mais longas devido à repetição de um mesmo padrão, e que mesmo quando é quebrada, nem sempre o é de uma forma desejável. Aqui é importante, no entanto, notar que é mesmo ao de leve. Apesar de tudo, Luigi’s Mansion 3 ainda será um jogo a que quererão dedicar horas a fio e terminar num par de dias.
Algo que não ajuda a esta sensação é a falta de uma maior variedade de inimigos comuns. Com todos os seus diferentes acessórios e tamanhos, e estratégias diferentes que os mesmos implicam, a verdade é que no fundo, no fundo, podemos contar pelos dedos de uma mão os tipos de fantasma comuns que encontramos neste hotel. De facto, encontramos uma muito maior variedade de bosses ao longo dos pisos, os quais nos obrigam também a uma muito maior variedade de abordagens. A variedade de confrontos com inimigos comuns passa assim a depender de uma forma bastante significativa dos itens de que estes dispõem: por exemplo vassouras como armas que tiram mais dano; ou óculos de sol e baldes que os protegem do flash da nossa lanterna que os assusta e permite que os aspiremos.
Aspirar fantasmas de um lado para o outro com Luigi continua a ser muito engraçado, não fiquem com a ideia contrária. Ademais, nesta nova entrada na série contamos com algumas melhorias ao nosso Poltergust. Podem atirar êmbolos contra certos objetos e inimigos e puxar por eles usando o aspirador. Podem ainda, enquanto sugam fantasmas, agarrá-los com o aspirador pela sua(s) “cauda(s)” e atirá-los contra o chão um número limitado de vezes, o que lhes causa mais dano (estes são sugados quando o número por cima de si chega a 0). Há, por fim, uma gosma verde que agora preenche o vosso Poltergust: Gooigi.
Gooigi é a grande novidade em termos de mecânicas neste novo Luigi’s Mansion. Com o premir do analógico R, a gosma guardada no interior da nossa maquineta multiusos ganha vida em forma de uma cópia exata de Luigi. Sendo uma gosma, mantém as propriedades da mesma, podendo atravessar grades e não sendo afetada por materiais cortantes como picos. Quando criam esta gosma, Luigi fica adormecido e parado no lugar em que o deixaram, e passam então a estar em controlo de Gooigi. Premindo de novo o analógico, passam a estar em controlo de Luigi, e se premirem duas vezes de seguida, Gooigi volta para o interior do Poltergust.
Quando esta funcionalidade foi introduzida, tive receio de que desse aso a secções irritantes de plataformas ou algo do género em que deveríamos alternar rapidamente entre uma e outra, ou que tornasse um modo cooperativo (que está disponível) o único modo satisfatório de ter esta experiência. Tal, felizmente, não foi o caso. Gooigi é usado de forma recorrente ao longo do jogo, e todas as suas utilizações acabam por ser satisfatórias. Estamos perante um jogo de puzzles e aventura, e é essencialmente para enriquecer estas duas dimensões que temos Gooigi. A presença desta cópia de Luigi permite toda uma nova série de puzzles, desempenhando ainda um papel crucial no que toca a derrotar certos inimigos (por exemplo, um dos fantasmas comuns é invisível até que surge mesmo nas nossas costas e nos prega um susto; trocando para Gooigi, Luigi fica especialmente vulnerável, o que atrai rapidamente o fantasma, com o qual podemos então lidar sem problemas com Gooigi). Esta versão de Luigi enriquece, então, em larga medida a experiência. É difícil agora imaginar um Luigi’s Mansion sem Gooigi.
Dado este sistema de combate muito bem construído, apesar de alguma repetição, Luigi’s Mansion 3 acaba por ser uma experiência altamente viciante. Mas não só devido a este, ou ao génio criativo da equipa que nos brinda com este extravagante hotel dos sustos, nos faz este jogo querer ficar em companhia de Luigi, Polterpup e E. Gadd por mais um pouco. A apresentação deste título está qualquer coisa de fenomenal. Com cinemáticas do melhor que podem encontrar na Switch, efeitos espetaculares tanto em fases de gameplay, como fora delas, e uma banda sonora original incrível, Luigi’s Mansion 3 acaba por ser um dos títulos da consola que mais prima neste quesito, deixando mesmo para trás a última aventura a 3 dimensões protagonizada pelo irmão Mario mais conhecido.
Para além da campanha principal, Luigi’s Mansion 3 vem ainda com divertidos minijogos com que se poderão divertir com familiares e amigos em modo local, intitulado ScreamPark, assim como com o modo ScareScraper, que podem jogar tanto em modo local como em linha (quer com amigos, ou quaisquer jogadores que detenham Luigi’s Mansion 3). Não nos foi possível testar o modo ScreamPark em multijogador local, mas podemos dizer que ScareScraper é um modo divertido de partilhar a clássica experiência de Luigi’s Mansion, fazendo lembrar o modo que já existia em Luigi’s Mansion 2 para a Nintendo 3DS. É também uma boa forma de alargar a experiência, embora a campanha já seja mais do que suficiente para tal (de facto, completei a mesma em 15 horas, mas sem ligar muito aos colecionáveis do jogo, que também ajudam a expandir a mesma, e que aconselhamos a que recolham todos para ver o que acontece). Infelizmente, notei também alguns slowdowns pontuais ao movimentar Luigi durante a minha experiência de jogo com ScareScraper, e que não me pareceram devidos à minha própria ligação, uma vez que com esta não tenho problemas em outros jogos.
Opinião Final:
Apesar de por vezes apresentar meios artificiais e não muito inspirados de prolongar uma campanha (que já era por si suficientemente longa), e de não escapar suficientemente a uma certa monotonia, Luigi’s Mansion 3 é ainda assim um grande jogo que vos deixará agarrados à vossa Nintendo Switch durante horas a fio. Com uma apresentação verdadeiramente fantasmagórica, várias adições em termos de jogabilidade em relação a títulos anteriores, entre as quais se destaca Gooigi, e um sistema de combate que é pura diversão, Luigi’s Mansion 3 não falha como passagem desta franquia para uma consola de alta definição. Auxiliado por modos multijogador divertidos e que expandem a experiência, este é um jogo que não vão querer deixar passar.
Do que gostamos:
- Apresentação gráfica e sonora sem rival na Nintendo Switch;
- Jogabilidade clássica da série enriquecida a todos os níveis;
- Puzzles ficam ainda mais interessantes com a introdução de Gooigi;
- Batalhas contra bosses são variadas e por vezes bastante épicas;
- Modos multijogador são uma forma divertida de ter mais Luigi’s Mansion para jogar;
- Extremamente viciante.
Do que não gostamos:
- Pode-se constatar alguma monotonia, apesar de tudo;
- Presença de algumas formas de prolongar a campanha de modo artificial e um pouco aborrecido;
- Pedia-se um pouco mais de variedade no que toca aos inimigos comuns.
Nota: 8.5/10