Esquecida desde o lançamento de Marvel Ultimate Alliance 2 em 2009, a série de action-RPGs com visão isométrica ao estilo de Diablo protagonizada pelos mais variados heróis, anti-heróis e vilões da Marvel regressa agora sob a forma de um soft-reboot produzido pela Team Ninja (Ninja Gaiden, Dead or Alive, Nioh) e publicado pela Nintendo em exclusivo para a Nintendo Switch.
Marvel Ultimate Alliance 3: The Black Order chegou ao mercado no passado dia 19 de julho e traz consigo um elenco de 36 personagens jogáveis (com mais a serem adicionadas posteriormente através de uma expansão), além de muitas outras que farão a delícia dos fãs dos comics da Marvel, assim como daqueles que acompanham as suas séries e filmes. Mesmo que, como eu, não tenham crescido a ler comics das mais variadas personagens que existem neste multiverso, se seguem o universo cinematográfico da Marvel (e personagens que apenas no futuro se poderão juntar, agora que a Disney detém os direitos de Deadpool, X-men, etc.), conseguirão encontrar ainda assim imensas referências e sentir o prazer de jogar com personagens que admiram. Aquelas que porventura não conhecem ainda apenas vos deixarão com um bichinho para explorar mais a fundo as origens deste vasto leque de personagens.
De facto, considerado de uma forma geral, o enredo vai ser algo familiar para os fãs dos filmes. A história começa com os Guardiões da Galáxia a abordar uma nave Kree em busca de tesouro e na esperança de oferecer auxílio, após constatarem que a mesma aparenta estar vazia. Em breve descobrem que a bordo desta nave se encontram as seis pedras do infinito, e que Thanos as está a tentar obter, contando para tal com a ajuda de uma série de vilões, a Black Order. Os Guardiões acabam por conseguir escapar com uma das pedras do infinito (a do Espaço), e as restantes acabam por ficar espalhadas pela Terra, ficando a nosso cargo reunir vários heróis para combater esta ameaça e, caso tudo corra bem, reunir as pedras do infinito antes que a Black Order o consiga. O enredo vai sofrendo algumas reviravoltas, mas é no geral bastante previsível, o que o poderá tornar algo aborrecido. Ainda assim, é suficientemente interessante para, no geral, nos fazer querer continuar a explorar a campanha, sendo ainda de nota que embora em traços gerais este pareça ser o enredo dos mais recentes filmes da Marvel, existem muitas diferenças de nota.
Este modo história pode ser explorado tanto em modo solo como em modo cooperativo local (tanto numa única consola, como conectando várias Nintendo Switch) ou online para até 4 pessoas. Ao iniciarem a campanha poderão escolher entre duas dificuldades – Friendly e Mighty. Mesmo tendo optado pela opção Mighty, que é aconselhada a jogadores familiarizados com o género de jogos de ação, o jogo fez-se sentir demasiado acessível. Embora não tenha tanta experiência assim com este género de jogos Diablo-like, apenas me deparei com o ecrã de Game Over duas vezes durante a campanha inteira – ambas contra um mesmo boss, na primeira metade do jogo, em que uma delas se deveu a estarem a ocorrer demasiadas coisas no ecrã e não ter visto uma informação necessária. Após terminarem a campanha em Mighty, um novo nível de dificuldade (Superior) é desbloqueado, ao qual poderão aceder selecionando Continue no menu principal. Embora seja positivo que o jogo tenha um modo de dificuldade mais desafiante, é de lamentar que não seja possível escolher o nível mais elevado logo à partida.
De forma a compensar a dificuldade reduzida da campanha, ao longo da mesma irão descobrindo e desbloqueando Infinity Rifts, portais que ligam dimensões e nos quais poderão entrar para concluir desafios. Estes são substancialmente mais difíceis de completar, e em especial se pretendem também cumprir com todos os objetivos opcionais. Concluir cada um destes desafios dá-vos recompensas úteis para melhorarem a vossa equipa de heróis, e as condições opcionais, embora ainda mais difíceis de satisfazer, valem a pena, uma vez que se as conseguirem cumprir, irão receber recompensas bem mais numerosas e/ou valiosas. Embora estas não sejam de grande uso para a campanha (na verdade, de forma a ver se o jogo se tornava mais difícil, completei a campanha sem concluir qualquer um destes desafios), poderão ser para outros Infinity Trials mais impiedosos. É nestes que reside o verdadeiro desafio de Marvel Ultimate Alliance 3: The Black Order. Também neste modo poderão jogar em modo cooperativo local ou online e ainda desbloquear algumas personagens que ficam a faltar após concluírem o modo história. Dada a dificuldade mais elevada destes desafios, talvez este seja o modo mais indicado para explorarem com os vossos amigos em modo cooperativo.
Como mencionado, ao completarem Infinity Rifts receberão recompensas. O mesmo também é verdade para a campanha, e com a gestão daquilo que se vai desbloqueando chegamos ao ponto que faz de Marvel Ultimate Alliance 3 também um RPG. Mesmo que joguem a solo, controlarão sempre um herói de uma equipa de quatro. Esta deve ser escolhida com base em dois fatores principais: quão bem as características das personagens que vão juntando à vossa equipa combinam umas com as outras (há personagens que se focam em ataques de magia à distância, mas têm menos vida; outras mais ágeis e focadas em ataques corpo-a-corpo; outras com mais vida, mas mais pesadas e lentas, etc.) para formar um todo o mais completo possível; e a ligação que as próprias personagens mantêm no multiverso da Marvel. Se combinarem personagens que têm relações estreitas entre si (como por exemplo pertencerem aos Vingadores, ou ao universo do Homem-Aranha), receberão bónus para toda a equipa, pelo que será importante manter um certo equilíbrio. Conseguir conciliar estes dois pontos e formar uma boa equipa não é de todo complicado, mas é sempre curioso experimentar com as diversas possibilidades e confirmar qual aquela que melhor se adequa ao nosso estilo.
Como referido, à medida que se vai progredindo na campanha, vão-se desbloqueando novas personagens. Ora, os inimigos também se vão tornando cada vez mais poderosos e resistentes. Tal está baseado num sistema de níveis, pelo que as novas personagens que vão desbloqueando são cada vez mais evoluídas, o que convida o jogador a experimentar as personagens que vai desbloqueando. Cada personagem conta com quatro habilidades especiais, as quais se vão desbloqueando à medida que estas sobem de nível (em níveis mais baixos apenas uma delas está disponível, depois passam a estar duas, e por aí adiante). Cada uma destas habilidades tem 4 níveis, e poderão melhorá-las com Ability Points, que recebem ao subir de nível, Ability Orbs e Void Spheres (ambas que podem ser ganhas também nos Infinity Trials), o que confere ainda mais personalidade à vossa formação de heróis.
Esta aliança pode ainda ser melhorada no Lab, em que poderão gastar créditos (dinheiro in-game que ganham ao derrotar inimigos ou a partir objetos no cenário) para dar mais vitalidade, resistência, durabilidade, força e maestria a todos os heróis que façam parte da equipa (ou seja, se trocarem de equipa, os bónus mantêm-se), entre outros benefícios possíveis. Finalmente, existem os cristais ISO-8, cristais menos poderosos que surgiram com o aparecimento das pedras do infinito na Terra, e que podem equipar em cada um dos heróis (os quais podem carregar até no máximo 4 cristais) e que lhes conferem ainda mais bónus.
Tudo isto poderá parecer extremamente complexo – e na verdade nem sequer explicámos alguns pormenores adicionais. Contudo, é de facto bastante acessível. Marvel Ultimate Alliance 3: The Black Order pode pecar por não oferecer a opção por uma experiência desafiante para os mais familiarizados com videojogos de ação, mas em contrapartida trata-se de um dos mais acessíveis jogos do género disponíveis. Todas estas mecânicas são introduzidas gradualmente e a um ritmo confortável e não há tutoriais intermináveis ou imensos textos para ler. A Team Ninja desenhou um sistema que oferece imensas possibilidades, mas é também bastante acessível, alcançando ao mesmo tempo o feito de não torturar o jogador com morosas explicações.
No que toca à parte da ação, em que consistirá a maior parte do vosso tempo de jogo, Marvel Ultimate Alliance 3: The Black Order apresenta tanto pontos positivos como negativos, mas no fundo oferece uma experiência que, embora tenha algumas falhas, é acima de tudo divertida. O combate deste jogo é ao estilo hack n’ slash, em que a personagem que controlam muda também a vossa aproximação aos inimigos. Contam com um ataque normal e um ataque pesado, assim como com a possibilidade de saltar, de se esquivarem ou bloquearem um ataque, e usarem uma das quatro habilidades especiais já referidas. Em dados momentos, quando estão próximos de uma personagem que realizou um ataque, poderão usar por breves instantes o botão A para realizar um Sinergy Attack, o qual pode causar grande dano ao escudo de bosses ou inimigos de maior porte, ou atordoá-los, assim como aniquilar uma boa quantidade de minions mais pequenos. Finalmente, há ainda os Extreme Attacks, estes podem ser acionados quando a barra amarela está preenchida (na imagem em cima, a de Deadpool está praticamente cheia, mas a de Black Panther, Wolverine ou Storm ainda estão bastante vazias) pressionando os botões L e R. São ataques bem mais potentes e que podem aliar a ataques Extreme dos restantes membros da equipa (bastando premir essa combinação de botões uma vez por cada herói que tenha a respetiva barra cheia) – escolher a altura ideal para um Ultimate Attack conjunto poderá fazer a diferença entre a vitória e o ecrã de Game Over.
A câmara é isométrica e em algumas partes não é possível movê-la. Tal causa alguns constrangimentos em espaços mais fechados, e sendo este um jogo linear, tal significa que problemas com a câmara poderão ser ligeiramente mais frequentes do que seria desejável. De igual modo, quando há muitos inimigos no ecrã, ou muitos ataques a ocorrer (como em algumas boss fights), o rácio de fotogramas sofre uma considerável queda – o que já seria de esperar de um jogo como este, mas que é sempre de nota. Embora bastante divertido e mesmo viciante, o combate poderá tornar-se monótono em sessões mais longas de jogo – trata-se sempre de derrotar uma série de inimigos menores, e quebrar o escudo dos inimigos de maior dimensão ou dos bosses com habilidades especiais e Synergy Attacks, e ir lentamente diminuindo a sua barra de vida. Ao longo do jogo, o desafio não aumenta muito, mas simplesmente se fica com a sensação que os inimigos demoram mais a morrer e tiram mais dano quando fazemos asneira, o que no entanto não é suficiente para tornar este jogo desafiante.
Como último ponto a respeito do combate, é notável a atenção ao detalhe que a Team Ninja conferiu às diversas personagens. É muito satisfatório ver quais são as habilidades especiais de cada uma, incluindo o seu Extreme Attack. É igualmente satisfatório constatar pequenos detalhes como o facto de personagens como Wolverine ou Deadpool recuperarem lentamente vida durante o combate. São estes pormenores deliciosos, que se podem encontrar tanto na jogabilidade como nos cenários e interações entre personagens, que tornam este jogo tão agradável para fãs da Marvel.
Em termos de apresentação, Marvel Ultimate Alliance 3: The Black Order poderá ser um pouco inconsistente. Em alguns momentos, como em algumas cinemáticas, os gráficos podem até mesmo deslumbrar na Switch, enquanto que em outros tudo parece necessitar de retoques. No geral, em termos visuais não estamos perante nada de grandioso, mas simplesmente de um jogo que se esforça, com algumas falhas, por cumprir com a qualidade média de um jogo nesta plataforma. De igual modo, a banda sonora contém algumas músicas mais mexidas ou grandiosas, desempenhando o seu papel, mas no geral nenhuma fica presente na nossa memória (excetuando o tema principal).
Opinião Final:
Embora não seja de todo perfeito, com alguns problemas com o controlo da câmara e inconsistências gráficas e no rácio de fotogramas mais frequentes do que seria desejável, Marvel Ultimate Alliance 3: The Black Order é ainda assim um jogo bastante divertido. A Team Ninja pegou numa fórmula de combate e jogo conhecidas e apresenta-nos um resultado final bastante competente, oferecendo uma experiência de combate viciante (embora em sessões mais longas, também repetitiva) aliada a sistemas de progressão que permitem inúmeras possibilidades, mas que são ao mesmo tempo bastante intuitivos.
Com vários modos de dificuldade, uma série de desafios – os Infinity Trials – mais desafiantes, e mais heróis a chegar em breve sob a forma de conteúdos adicionais pagos (com personagens como Colossus e Cyclops a serem lançados excecionalmente de forma gratuita), aliados a uma jogabilidade viciante, este poderá ser um jogo ideal para passarem horas e horas a explorar em modo cooperativo com os vossos amigos fãs da Marvel.
Do que gostamos:
- Enredo cativante que nos faz querer jogar mais;
- Jogabilidade viciante;
- Bastantes personagens jogáveis;
- Inúmeras possibilidades de formação e personalização da equipa de heróis;
- Infinity Trials proporcionam um necessário desafio extra;
- Possibilidade de desfrutar do jogo completo em modos cooperativo local e online.
Do que não gostamos:
- Enredo pode ser demasiado previsível em alguns pontos;
- Pode tornar-se repetitivo em sessões de jogo mais longas;
- Falta de opção por um modo de dificuldade mais exigente assim que se inicia o jogo;
- Alguns problemas com a câmara, especialmente em espaços mais fechados;
- Alguma inconstância nos visuais e no rácio de fotogramas por segundo.
Nota: 7,5/10