Metaphor: ReFantazio é o novo RPG de fantasia da ATLUS, o estúdio famoso pelas séries Persona e Shin Megami Tensei, e marca a sua primeira incursão numa fantasia clássica, afastando-se dos temas urbanos e contemporâneos que definiram a sua marca. O jogo representa uma nova direção para o estúdio, uma tentativa ambiciosa de criar um RPG de mundo semi-aberto que mistura elementos de estratégia, aventura e narrativa profunda.
Anunciado com grande expectativa, especialmente dados os visuais diferentes daquilo a que a ATLUS já nos habituou, Metaphor prometeu um universo vasto e envolvente, personagens bem construídas, e mecânicas de combate desafiadoras que trazem algo de novo ao género. No entanto, com tamanha ambição, a pergunta que se coloca é se Metaphor: ReFantazio consegue ou não corresponder ao nível de inovação e imersão que os fãs esperam de um estúdio como a ATLUS.
A narrativa de Metaphor é inspirada pelos arquétipos da fantasia clássica medieval, mas com um toque pessoal da ATLUS, centrando-se em temas de identidade, destino e transformação ao invés dos temas presentes em Persona. A narrativa decorre no reino unido de Euchronia, um reino caracterizado pela União de três países e pela existência de 8 tribos. Infelizmente, as 8 tribos não se relacionam da melhor maneira, sendo muito comum situações de ódio racial e de discriminação. Mal o pano sobe, testemunhamos a morte do Rei às mãos de Louis, um dos seus generais, o que cria uma crise de sucessão, pois acredita-se que o príncipe herdeiro morrera uns anos antes. No meio destes eventos, o nosso protagonista parte numa missão para salvar a vida do seu melhor amigo – o príncipe desaparecido – e vê-se envolvido numa profecia antiga e num mundo à beira do caos. À medida que o jogador explora reinos cheios de criaturas míticas e monstros, começa a desvendar segredos que remontam a eras passadas, enquanto questiona o papel do herói no seu próprio destino.
Tal como a ATLUS já nos habituou, os personagens secundários são um dos pontos fortes, cada um com horas de desenvolvimento e uma ligação ao mundo que é aprofundada ao longo da jornada. A ATLUS faz uso dos diálogos intensos e das interações entre personagens para explorar temas de maneira emocional, mantendo a narrativa envolvente e multifacetada. Preparem-se para ler, muito! Ou seja, para alguns jogadores, tal como em Persona, a complexidade da história e o ritmo mais lento de certos diálogos podem parecer excessivos e dificultar a fluidez da experiência.
A nível da jogabilidade, Metaphor mistura o combate tático dos RPG por turnos com exploração em mundo semi-aberto. Tal como em Persona, as batalhas exigem uma gestão cuidadosa de recursos e estratégias variadas, desde escolher as habilidades face às fraquezas dos inimigos até saber quando se defender. A grande diferença está na utilização dos Archetypes – cavaleiros e heróis do destino em que as personagens se podem transformar. A contrário daquilo que já estamos habituados em Persona – cada personagem tem a sua persona, mas o protagonista é um wild-card que tem a capacidade de mudar de persona –, em Metaphor, todas as personagens podem estudar qualquer Archetype, combinando atributos e habilidades em Archetypes cada vez mais poderosos. Esta abordagem torna o combate dinâmico, mas também muito recompensador, particularmente nos encontros com bosses.
A exploração do mundo de Metaphor é outro destaque, oferecendo um universo vasto e variado com várias zonas, desde florestas encantadas até ruínas antigas, cada uma com segredos e desafios próprios. Tal como em Persona, em Metaphor também existe um sistema de calendário, em que podemos usar o nosso dia a dia para conhecer personagens, participar em atividades, e como esperado, explorar as várias masmorras. Uma das novidades encontra-se no sistema de navegação, que nos obriga a gastar mais que um dia “em viagem”, dado que os gauntlet runners (o principal meio de locomoção em Euchronia) não conseguem viajar de noite e algumas viagens demoram mais que um dia. Todavia, ainda assim, é possível utilizar o nosso tempo da melhor maneira durante os momentos mortos da viagem, cozinhando receitas, lendo livros, cuidando de plantas, conversando com os nossos camaradas, entre outros. Não compreendemos a reimposição da regra “não se pode fazer nada durante a noite após exploração de uma masmorra” de Persona 5. Esta regra, que havia sido abolida na versão Royal de Persona 5, com o protagonista a conseguir visitar masmorras durante a tarde e participar em atividades durante a noite, está de volta em Metaphor, pelo que se visitarmos as masmorras, só podemos conversar com os nossos companheiros durante a noite.
Visualmente, Metaphor: ReFantazio é impressionante, utilizando um estilo artístico único que mescla o realismo com o surrealismo fantástico. Os detalhes nos cenários, criaturas e nos próprios personagens mostram o cuidado e a atenção da equipa de arte. Cada ambiente parece uma obra de arte, com uma paleta de cores rica e animações que conferem uma vida única ao mundo de Metaphor. Imaginem a época do renascimento vs. revolução industrial e um choque entre ilustrações científicas dos grandes mestres face à influencia que o design industrial do inicio do seculo XIX teve no mundo. Não é a modernidade de Persona, é um conflito entre um mundo claramente pós-medieval e industrializado, acabado de sair da época das trevas, época essa que ameaça voltar a qualquer momento.
A banda sonora, composta por Shoji Meguro, transporta o jogador para uma experiência épica, com uma trilha que combina instrumentos clássicos com toques modernos, criando um ambiente imersivo e emocional em cada cenário. Os temas de combate são simplesmente fabulosos, trazendo uma combinação de cântico monástico budista e coros grandiosos, tudo num estilo muito épico! As músicas mudam conforme o contexto e a emoção do momento, conforme aquilo a que a ATLUS já nos habituou! O único ponto que pode ser negativo é que, ao longo de várias horas de jogo, algumas faixas podem tornar-se repetitivas, dado que muitas batalhas “menores” são resolvidas em poucos turnos.
Opinião Final:
Metaphor: ReFantazio é uma entrada ambiciosa e encantadora na linha de RPGs da ATLUS, oferecendo uma experiência rica para os fãs de RPGs de fantasia que procuram uma história profunda e um sistema de combate desafiante. Com visuais impressionantes e uma banda sonora cativante, o jogo é uma verdadeira imersão num mundo de fantasia. Contudo, a ATLUS poderia ter melhorado certos aspetos de navegação e clareza no design de mundo semi-aberto, que podem causar alguma frustração em jogadores menos familiarizados com o género.
Para os fãs de RPGs, Metaphor oferece uma experiência única e recompensadora, especialmente para quem aprecia uma história com temas complexos e um mundo denso em mistério. Este é um jogo que demonstra a capacidade da ATLUS de inovar, mesmo em território familiar, e que certamente se destaca como uma adição notável ao catálogo do estúdio.
Do que gostamos:
- Novo RPG ATLUS, desta vez num mundo de fantasia medieval;
- Novo sistema de combate permite a qualquer personagem mudar de Archetype (as personas do jogo) e assim fazer combinações fortíssimas;
- Direção artística é simplesmente brilhante;
- Banda sonora é do melhor que a ATLUS já fez!
Do que não gostamos:
- Alguns aspetos de navegação poderiam ser melhorados;
- Ainda não é desta que a ATLUS faz uma narrativa acessível.
Nota: 9/10
Análise efetuada com um código Xbox cedido gentilmente pela distribuidora.