Os mais curiosos em relação à indústria dos videojogos sabem certamente que a franquia Metro provém dos livros de Dmitriy Glukhovskiy, escritor de ficção cientifica russo. Os fãs de literatura e videojogos sabem que sempre puderam confiar nas adaptações destes livros para as suas favoritas plataformas de gaming, e desta vez não foi diferente: a 4A Games trouxe-nos uma obra singular, carregada de qualidade.
Este novo Metro apresenta um enquadramento único, nunca antes visto na série, levando-nos numa viagem que segue as condutas de caminhos hostis e claustrofóbicos das linhas do metro de Moscovo. Desta vez, mais do que uma luta pela sobrevivência e pelo desejo de expandir a vida para além do metro, as personagens vão de encontro a uma aventura totalmente diferente. Vão “passear” pela Rússia radiotiva à boleia da Aurora, nome atribuído à locomotiva usada para procurar uma vida melhor do que aquela a que se submetiam nos túneis de Moscovo, que os protegia da radiação.
O início da narrativa é marcado pelo ritmo lento associado à série, com discursos carregados de informação que por vezes até se tornam aborrecidos para uma grande fatia de jogadores, mas quem jogou os outros títulos da franquia sabe que esta é uma característica própria de Metro, o que aliás torna estes jogos em FPS’s sem igual, com um carisma e uma mensagem completamente diferentes dos demais. Percebemos de imediato que não estamos a jogar um Call of Duty radioativo ou um FPS genérico de ação desenfreada. Em Metro, o mais importante é o enredo e todo o ambiente que nos quer mortos a todo o custo.
O meio envolvente é um ponto predominante em Metro, e o trabalho feito com um orçamento reduzido pelo estúdio ucraniano não pode passar despercebido. Ótimas localizações, com inimigos diferenciados que foram tornando todo o gameplay orgânico e raramente repetitivo, repito, com um orçamento bastante reduzido perante as grandes empresas da indústria, são uma enorme amostra do valor e talento que permitiu que tivesse perante mim um jogo especial e único.
Muitos esperavam um open world, mas não foi esta a premissa do level design em Metro Exodus. O jogo enquadra quatro grandes áreas exploráveis e nestas temos um conjunto de objetivos, que ao serem completados, nos permitem explorar as áreas seguintes. Este é, por isso, muito diferente dos seus antecessores e embora não seja um jogo em mundo aberto, os territórios que podemos explorar são muito grandes e com uma quantidade razoável de missões secundárias ao nosso dispor. Cada uma das localizações representa uma estação do ano, pelo que, como devem imaginar, os cenários são muito diversificados ao longo da jornada, assim como os inimigos.
Além de todo o ambiente, um dos focos principais promovidos pela 4A Games foi o da diversificação de equipamento bélico. A quantidade de armas e respetiva personalização não falhou, entregando Metro Exodus uma liberdade de abordagem de tal forma vasta que a experiência terá sido vivida de forma muito diferente por cada jogador – o que é algo raro de se ver hoje em dia, em que muitas vezes o uso das armas costuma ser scripted ou com uma quantidade muito reduzida de possíveis escolhas em determinadas situações. Além da vasta personalização ainda podemos craftar itens como molotovs, facas, objetos de distração, balas entre outros.
Entre os fatores que fizeram deste um grande jogo estão as oportunidades de abordagem em quase todos os momentos. Se quiserem uma experiência mais militar e destrutiva podem quase sempre entrar “à Rambo” e distribuir balas pelos inimigos num jogo de rato e gato onde estamos sempre em desvantagem comparativamente aos nossos inimigos. Por outro lado, se preferirem passar pelas sombras e evitar o tocar das sirenes, podem utilizar itens como o silenciador ou a clássica faca, e ir abatendo inimigo a inimigo como se de um jogo de tabuleiro estivéramos a falar, sendo que normalmente conseguimos limpar todos os inimigos de forma silenciosa se a nossa estratégia for bem pensada e executada desde o início.
Relativamente aos gráficos o que podemos encontrar é um jogo muito bonito, com cenários de nos deixar de boca aberta e com inimigos com peculiaridades interessantes. A performance na PlayStation 4 é relativamente boa mas apresenta algumas quedas de framerate nomeadamente nos momentos onde existe uma grande quantidade de balas a sobrevoar o ecrã, comprometendo a fluidez adequada para um jogo em primeira pessoa. Apesar deste pequeno problema pontual, o seu desempenho consegue ser surpreende para uma editora como a 4A Games, tendo melhorado visualmente em tudo relativamente só jogos anteriores, apesar claro, de se apresentar numa outra geração com outras capacidades antes nunca possíveis de produzir.
Sendo um jogo totalmente focado na história e com ausência de modos online, estávamos à espera que a história correspondesse às expetativas criadas. Relativamente aos jogos anteriores esta é para nós a melhor desta coletânea de três jogos. Uma história que apresenta pontos de grande relevo, e que tem um ritmo adequado ao que esperávamos de Metro. Ao longo de cada capítulo vai sendo possível especular mais e mais sobre o futuro de Artyom e dos seus companheiros. A narrativa pode, no entanto, mostrar-se maçadora e não atrativa para uma grande parte dos jogadores, isto porque é contada a um nível de detalhe tal que por vezes podemos estar a falar com a mesma personagem durante largos minutos e sempre com um texto diferente. Vi nisso uma grande mais valia para este novo jogo porque, ao contrário do que se tornou generalizado, não é um jogo a pensar na ação, mas sim no enredo, com um consequente mundo em primeira pessoa apresentado como o estúdio quer e não como as tendências ditam. É por isso que possivelmente Metro nunca deixará de ser uma franquia de jogos de nicho.
A nossa missão, como já referi, vai passar por uma enorme odisseia pela Rússia, onde vamos encontrar personagens que em tudo se adequam aos jogos anteriores: dominados pelo ódio, poder ou pretensões religiosas (que pouco querem saber dos valores humanos, ao invés interessando-se os que as têm de viver bem através da passagem de mensagens nada elucidativas e que em tudo se baseiam no populismo, um pouco como acontece nos jogos anteriores com as fações fascistas e comunistas). O mundo mostra-se podre e a caminhar para a extinção da humanidade às mãos da própria, mostra um mundo onde se fazem poucos amigos e se ganham hordas de inimigos pela sua visão obcecada dos ideais dos seu líderes. Quem gosta de narrativas complexas que peguem em problemas reais e os adaptem em ficção encontrará aqui um prato cheio de conteúdo.
Apesar deste foco na narrativa, o gameplay é muito divertido e realista. Como shooter, Metro Exodus corresponde sem quaisquer dificuldades a um jogo de tiros em primeira pessoa, apresentando apenas alguns bugs mas que ao longo das atualizações deixaram de ocorrer, pelo menos de forma tão vistosa. Além dos elementos tradicionais de qualquer shooter, existem ainda elementos que apenas se encontram nesta franquia, como a máscara de gás que sofreu ligeiras alterações, sendo o facto de se poder partir durante um tiroteio uma delas, que afeta a jogabilidade, dado que temos de colocar de imediato uma espécie de fita adesiva na máscara para que a radiação não consiga passar por esta.
A banda sonora, que é um elemento de enorme importância para uma narrativa tão densa como esta, encaixou que nem uma luva. As músicas foram escolhidas ao pormenor para cada momento da história, tornando cada momento mais único e especial. Sendo sincero, não esperava menos que uma prestação musical acima da média para este título.
Opinião Final:
Entre túneis sujos e estruturas podres e em constante degradação, consegue-se encontrar, devido à força da personagem principal, Artyom, um motivo para viver e não desistir daquele que é um mundo que pouca esperança dá aos poucos habitantes que tentam sobreviver a todo o custo. Um jogo emotivo com uma excelente narrativa e com um gameplay viciante que nos prendeu ao ecrã durante toda a história. Não é um jogo para todos, pelas características que tornam esta uma experiência mais lenta e pausada. Mas não se pode julgar algo por ser diferente, e este é um caso em que ser diferente é ser superior.
Do que gostamos:
- Excelente narrativa;
- Bom enquadramento da série;
- Gameplay bem trabalhado e divertido;
- Diversidade de armamento;
- Credibilidade do mundo.
Do que não gostamos:
- Framerate por vezes instável;
- Alguns bugs que comprometem determinadas ações.
Nota: 9/10