Metroid Prime 4: Beyond – Análise

Anunciado logo no ano de lançamento da Switch original, já há mais de 8 anos, Metroid Prime 4 (agora com o subtítulo Beyond) foi uma bomba pela qual todos esperámos ansiosa e pacientemente durante toda essa longa geração. Muitos de nós apostámos, após o recomeço do seu desenvolvimento em 2019, que o mesmo ia acabar por ser lançado em simultâneo tanto para a Switch como para a sua eventual sucessora. Tal foi exatamente o que aconteceu, embora talvez ninguém esperasse na altura que a Switch tivesse pernas para se aguentar como consola de foco único da Nintendo durante 8 anos no mercado.

Mas a espera por Metroid Prime 4: Beyond é bem mais  longa do que esta espera desde 2017. Desde o lançamento de Metroid Prime 3: Corruption dez anos antes (estamos a falar de 2007!) e em particular desde o seu final secreto sinalizando que Sylux viria a desempenhar um papel mais importante, que ansiamos por um novo jogo Prime que não seja… o que quer que seja que Federation Force foi.

Infelizmente, com longas esperas vêm também espectativas altas, e estamos a falar de uma série como Metroid Prime, em que os três títulos da trilogia da Retro Studios têm médias na Metacritic de 90 (em 100) para cima. No entanto, com uma produção que teve problemas que inclusive vieram a público e com uma mudança de equipa de desenvolvimento a meio, é normal também haver receios de este não ser um Hollow Knight: Silksong, mas sim um Duke Nukem: Forever.

Neste sentido, há boas e más notícias. As boas notícias é que este não é de todo um caso como o de Duke Nukem: Forever. Metroid Prime 4: Beyond é, apesar de algumas falhas, um jogo competente e que com certeza vos irá divertir se forem fãs de jogos de ação, e da série Metroid Prime em particular. Os seus pontos mais altos são principalmente dois, pela seguinte ordem. Em primeiro lugar, a apresentação audiovisual. Este é sem dúvida o jogo Metroid visualmente mais vistoso até à data, apresentando-nos autênticas obras de arte constantemente com os seus cenários variados e desolados, aos quais esta série já nos habituou. Penso que é indiscutível também que este é o jogo publicado pela Nintendo que mais deslumbra até ao momento na Switch 2, o que é especialmente de espantar dado que é um jogo que escala perfeitamente para a Switch original. A nível de banda sonora, este jogo conta igualmente com algumas das trilhas mais empoderadoras, relaxantes e sinistras da série. O segundo ponto mais alto que tenho a notar são os confrontos contra bosses. Mais talvez do que qualquer outro Metroid Prime, este é um jogo em que as batalhas contra bosses são momentos de alta tensão e que nos fazem assumir a “gamer pose” e até suar das mãos dado o desafio e intensidade.

As más notícias é que apesar de claramente não ser um Duke Nukem: Forever, este também claramente não apresenta o mesmo nível consistentemente alto de qualidade de jogos como Silksong ou o primeiro Metroid Prime. Tal, penso, poderá dever-se ao ciclo de produção problemático deste jogo. Um dos elementos básicos do género metroidvania, a que Metroid dá parte do nome, é a sua falta de linearidade, que se faz notar na jogabilidade por descobrirmos novas habilidades ou poderes e revisitarmos áreas em que antes encontraramos um obstáculo intransponível. Em Metroid Prime 4: Beyond, encontramos 5 áreas separadas por uma área central desértica chamada Sol Valley. Não existe forma de viagem rápida entre as mesmas, nem entre cada uma delas e Sol Valley, pelo que encontramos momentos de loading disfarçados entre cada uma das áreas de Viewros (o planeta em que se desenrola esta nossa aventura) e Sol Valley,  e depois entre o deserto e a área para a qual pretendemos ir. Tal até poderia ser divertido caso houvesse muito para fazer no deserto, ou fosse mais rápido chegar de cada área ao deserto. Infelizmente, o deserto sente-se várias vezes demasiado vazio, tendo dado por mim várias vezes a desejar que houvesse forma de viajar rapidamente entre diversos pontos do mapa. E aqui entra a parte importante: a equipa de desenvolvimento deve também ter percebido que andar entre cada uma destas áreas não era divertido e que era um processo demasiado demorado. Tal é evidenciado pelo facto de que o número de vezes em que é necessário voltar a cada uma delas é bastante reduzido, especialmente quando comparamos a outros títulos da série, como o primeiro Metroid Prime. A estrutura de Metroid Prime 4: Beyond torna-se especialmente problemática, finalmente, uma vez que cada uma das áreas não é grande o suficiente para conter um número de habilidades suficiente para proporcionar por si uma exploração não-linear, e portanto a exploração neste jogo acaba por ser toda ela bastante linear.

Posto isto, Metroid Prime 4: Beyond acaba por ser muito mais um jogo de ação e aventura do que um metroidvania clássico, acabando por perder muito do que tornava únicos os títulos que o antecediam. Enquanto título de ação e aventura é, como dito anteriormente, bastante competente e apresenta-nos uma experiência com aspetos muito positivos em termos de ação e apresentação audiovisual. Ainda assim Metroid Prime 4: Beyond sofre de alguns problemas. Especialmente notório quando comparado a outros títulos do género, é o facto de o seu enredo ser extremamente básico e pouco explorado, deixando várias pontas soltas. Se esperam muito de Sylux, talvez acabem por ficar desapontados. Igualmente, Samus ser uma protagonista silenciosa em cinemáticas com outras personagens é algo que se torna estranho. Funcionava há décadas atrás melhor quando não havia vozes nos jogos, mas agora ver cinemáticas com personagens a ser afáveis com Samus e a mesma simplesmente a acenar com a cabeça é… uncanny. Metroid Prime 4: Beyond nestes aspetos acaba por ficar num meio termo desconfortável entre um jogo de ação e um metroidvania que não o favorece.

O pecado cardinal de Metroid Prime 4: Beyond, no entanto, encontra-se na parte final do jogo. Em Sol Valley irão encontrar vários cristais de “energia verde”, os quais terão de colecionar com a ajuda da Vi-O-La para satisfazer um determinado objetivo. Inicialmente este objetivo parecia opcional, até porque a quantidade de cristais de energia verde para cumprir com esse objetivo é bastante elevada. Como pude comprovar de uma forma azeda, no entanto, é mesmo obrigatório colecioná-los e cumprir esse objetivo para acabar a campanha. Trata-se de uma fetch quest em que temos de fazer farming durante um período de tempo um pouco longo sem grande razão de ser, parecendo que apenas está presente para prolongar artificialmente a duração do jogo.

Tenho até aqui sido bastante negativa, mas a verdade é que até estes momentos finais, Metroid Prime 4: Beyond é um jogo bastante divertido. As habilidades clássicas de Samus estão todas cá, como Morph Ball, Power Bomb, Spider Ball, Space Jump, etc. Várias delas têm agora uma adjetivação de “psíquica”, uma vez que todo o jogo se desenrola em volta de Samus estar conectada psiquicamente a um povo agora estinto do planeta Viewros, os Lamorn. Apesar da exploração ser agora muito mais linear, continua a ser recompensador desbloquear várias destas habilidades e voltar aos sítios onde outrora estiveramos para descobrir itens que deixámos para trás. Infelizmente, o jogo baixa de qualidade no final, e aquilo que poderia ter sido um 8 ou 8.5 acaba por sofrer devido a estes artifícios.

Opinião Final:

Agora com uma exploração muito mais linear e mais focado na sua vertente de ação e aventura, Metroid Prime 4: Beyond apresenta-nos uma nova missão de Samus com detalhes visuais e auditivos como nunca haviamos experienciado. Embora não alcance os mesmos pontos altos ou de forma tão consistente como os primeiros Metroid Prime, é ainda assim um título que merece a vossa atenção.

Do que gostamos:

  • Melhor apresentação audiovisual na Switch 2 e da série Metroid;
  • Habilidades clássicas de Samus estão cá todas;
  • Confrontos com bosses são incríveis;
  • Jogabilidade clássica de Metroid continua bastante divertida.

Do que não gostamos:

  • Exploração bastante linear;
  • Enredo deixa muitas pontas soltas;
  • Protagonista silenciosa não funciona num jogo desta envergadura;
  • Jogo acaba numa má nota.

Nota: 7/10

Análise efetuada com um código Nintendo Switch e Switch 2 cedido gentilmente pela distribuidora.