Sendo uma daquelas pessoas que achou New Super Mario Bros., para a Nintendo DS, uma boa forma de revitalizar os jogos de plataformas em 2D de Mario, mas que ao mesmo tempo julga que a série está mesmo, mesmo a precisar de uma nova cara (e que Super Mario Maker foi um bom passo, mas que não compensa a ausência de uma experiência mais controlada por parte da Nintendo), não foi com grande entusiasmo que vi o anúncio de New Super Mario Bros. U Deluxe.
Desde o jogo da Nintendo DS, até ao exclusivo da Wii U, num total de 4 jogos, parece que os New Super Mario Bros. não foram trazendo grandes novidades uns em relação aos outros. Tirando melhorias visuais, mais opções de controlo, novos power-ups, entre outras modificações menores, a experiência de New Super Mario Bros. U parece ser essencialmente a mesma que encontramos no primeiro New Super Mario Bros.
Apesar da minha descrença, ir de mente aberta ao experimentar esta versão Deluxe, que no fundo se trata de, num mesmo pacote, oferecer com algumas adições e alterações New Super Mario Bros. U e a sua expansão New Super Luigi U. Estamos, por isso, perante mais um port de um jogo da Wii U para a Nintendo Switch, e, como sempre, uma das grandes questões que nos devemos colocar é: traz esta versão algo de novo, ou trata-se da passagem de um jogo de uma plataforma para outra praticamente inalterado?
Esta questão poderá não ser, para muitos, importante. A Wii U vendeu pouco, e a Switch já a ultrapassou em número de unidades vendidas, pelo que para muitos esta é a primeira oportunidade de experienciar o último Super Mario em 2D antes do aparecimento de Super Mario Maker. No entanto, esta análise é para todos, incluindo aqueles para quem uma aposta em Deluxe seria regressar a esta jornada em 2D pelo Reino Cogumelo. Para além disso, pode não o parecer, mas já se passaram mais de 6 anos desde que New Super Mario Bros. U chegou ao mercado, sendo importante conferir se a experiência entretanto se tornou algo datada, e se Deluxe sofre por isso – o que interessa a qualquer potencial comprador.
As duas grandes novidades, que podem ver no breve trailer, são: a possibilidade de jogar com Toadette e Nabitt; e a Super Crown, um novo power-up a que apenas Toadette pode recorrer, transformando-se numa versão da princesa Peach, Peachette, e que criou uma onda de memes no final do ano passado.
Jogar com qualquer uma destas personagens torna o jogo mais fácil. Toadette não escorrega tanto no gelo, debaixo de água a sua movimentação é mais acessível (podem simplesmente empurrar o analógico esquerdo para onde desejam ir) e a Super Crown surge abundantemente, sendo idêntica à Super Acorn, que transforma as personagens num esquilo que pode flutuar e saltar uma vez no ar. Já Nabitt não sofre qualquer tipo de dano, sendo apenas possível morrer jogando com a personagem caso se caia para fora do nível. Os níveis que são completados com esta personagem, no entanto, irão permanecer no mapa sinalizados como ainda estando por concluir. Isto permite a jogadores menos experientes descobrir os restantes níveis do jogo mesmo que fiquem encalhados num desafio mais difícil, mas, ao mesmo tempo, saber quais os níveis que não conseguiram terminar a não ser com Nabitt e assim voltar atrás para tentar de novo.
Mas se Deluxe adiciona algo com o objetivo de que os que não são tão experientes se possam também divertir e concluir o jogo, o mesmo não podemos dizer de acrescentar algo que os mais experientes achem desafiante. Pessoalmente, não sou grande coisa nos jogos Super Mario 2D, e por isso New Super Luigi U e alguns níveis do jogo original base já representavam para mim um desafio. No entanto, para fãs mais dedicados da série, mesmo New Super Luigi U, embora mais desafiante, não o foi tanto assim. Neste jogo, infelizmente, esses mais fervorosos jogadores não irão encontrar novos e mais exigentes desafios, continuarão a ter simplesmente o jogo base (com o seu modo Desafios, que poderá aqui servir de algum conforto) e New Super Luigi U.
Depois do lançamento de Mario Kart 8 Deluxe, com o seu modo Batalha completamente revisto, e a inclusão de todas as DLCs, as quais acrescentavam bastante valor ao jogo base da Wii U, não deixamos de ficar um pouco desiludidos com a falta de novo conteúdo que justifique o «Deluxe» no nome deste jogo.
Referi que não era grande coisa em jogos Super Mario 2D, mas devo qualificar esta afirmação. Embora seja verdade que não sou extraordinário em jogos de plataformas, nem perto disso, New Super Mario Bros. U foi para mim um desafio em especial, e nunca o cheguei a completar na Wii U. Tal não se deveu a que o jogo fosse demasiado difícil, que decididamente que não o é, mas a um fator em que série precisa de melhorar: o tempo de espera até voltar ao jogo.
Sempre que se morre em New Super Mario Bros. U (e nesta versão Deluxe), temos de esperar vários segundos até que possamos voltar ao nível, o que muitas vezes significa voltar a uma fase do mesmo bastante anterior àquela em que estávamos. Aliando-se a isto uma fase mais complicada em que morremos várias vezes, e torna-se bastante entediante continuar a experiência. Vi-me muitas vezes forçado a continuar a jogar e, por causa desta demora, não sendo a experiência de todo divertida. É claro que a qualquer momento poderia ter recorrido a Nabitt ou ao Superguia Luigi (um CPU que podem ativar e que passa o nível por vós, mostrando-vos como o fazer), mas estes eliminam o sentimento de superação e recompensa que são essenciais em jogos como este. A sensação de conquistar um nível mais difícil é o que torna jogos como este tão viciantes, mas quando o tempo que levamos até chegar ao ponto que queremos superar é tão longo, esse efeito dissipa-se.
Este problema é facilmente ultrapassado em jogos como Celeste, consistindo em parte a sua magia (imaginem jogar Celeste e esperar 30 segundos ou mais até conseguirem de novo tentar ultrapassar o obstáculo que vos está a impedir de progredir). E mesmo em Super Mario Maker somos transportados rapidamente até ao último checkpoint, o que diminui drasticamente o tempo de espera face a New Super Mario Bros. U (Deluxe). Uma opção para voltar automaticamente ao último checkpoint seria mais que bem-vinda e tornaria a experiência muito mais divertida e viciante.
Em termos de apresentação, não há nada a apontar. Este que foi o primeiro jogo Super Mario em alta definição continua bastante capaz a nível gráfico e sonoro, sendo mágico ver a variedade de paisagens do jogo, a vivacidade do mapa-mundo, e engraçado ver os inimigos a parar e dançar ao som da música ambiente. Contudo, se em 2012 a chegada de Mario à alta definição era um grande ponto atrativo, em 2019 ver a personagem em alta definição é um dado adquirido. E, em parte, parece que alguns dos pontos negativos de New Super Mario Bros. U ficaram esquecidos pela comunidade na altura do lançamento da Wii U devido à excitação de ver Super Mario pela primeira vez em 1080p. Agora, com Deluxe, estando esta animação face à transição das grandes séries da Nintendo para o HD ausente (tirando algumas que se mantiveram nas portáteis, como Pokémon), as falhas deste jogo de plataformas tornam-se mais evidentes.
Opinião Final:
New Super Mario Bros. U Deluxe oferece em conjunto New Super Mario Bros. U e a sua expansão New Super Luigi U, trazendo ainda personagens jogáveis novas que serão ótimas para os menos experientes. Contudo, não traz suficientes novidades para quem jogou e ainda tem acesso ao original na Wii U. Simultaneamente, face a jogos mais recentes do género, falha pelo tempo excessivo que se demora a voltar «à ação», o que torna a experiência entediante em certos momentos. Não é, no entanto, um mau jogo, ou sequer um jogo medíocre, longe disso. Especialmente se juntarem amigos ou familiares no vosso sofá, New Super Mario Bros. U Deluxe irá certamente divertir. Com muitos, variados e divertidos níveis para jogar, e ainda desafios e a possibilidade de jogar num modo “cooperativo” local (coloco «cooperativo» entre aspas pois todos sabemos quão caótica e não-cooperativa a experiência de jogar um Super Mario 2D se pode tornar), este continua a ser uma boa aposta para este início do ano, sendo uma boa forma de ocupar o tempo antes dos grandes lançamentos deste ano para a Switch.
Do que gostamos:
- Apresentação continua bastante competente, mesmo passados mais de 6 anos;
- Vários níveis bastante divertidos, especialmente em multijogador local;
- Novas personagens jogáveis tornam a experiência mais inclusiva;
- Bastante conteúdo, com a inclusão da expansão New Super Luigi U.
Do que não gostamos:
- Falta de conteúdo novo suficiente para justificar uma segunda compra para quem jogou New Super Mario Bros. U na Wii U;
- Tempo de espera desde cada morte no jogo, até se poder voltar à ação;
- Não existem novos incentivos para os jogadores mais experientes e que procuram um desafio;
- A ausência da integração do Miiverse leva consigo um pouco da alma da versão original;
Nota: 7/10