
As gerações mais velhas de jogadores saberão certamente o que é o termo dificuldade NES. Não é algo que seja exclusivo daquela consola em específico, mas apenas pelo facto de que é um grau de dificuldade geralmente encontrados nos jogos daquela geração. Nesse sentido, um dos jogos que aparece sempre nos primeiros lugares das listas de jogos com dificuldade NES é o famoso Ninja Gaiden. A história de Ryu Hayabusa, líder do clã de Ninjas Hayabusa e a sua saga para impedir a vitória do Archdemon marcou o mundo dos videojogos e de que maneira. O estúdio Team Ninja marcou pela jogabilidade viciante (mas muito, muito difícil e por vezes até mesmo injusta), gráficos 8bit, cenas cinemáticas e música memorável, brindando-nos desde 1988 com vários títulos de uma franquia que hoje só pode ser considerada como absolutamente clássica.
Embora esta franquia tenha estado sempre presente durante a história do nosso hobby, Ninja Gaiden volta à ribalta com o lançamento de Ninja Gaiden para a Xbox em 2004, um jogo de ação 3D que rapidamente se tornou conhecido tanto pela rapidez dos combates como pela sua dificuldade. Após uma sequela para a Xbox 360 – Ninja Gaiden II – e uma sequela para a Wii U – Ninja Gaiden 3 – assim como versões para a PlayStation apelidadas de Sigma e relançamentos em alta-definição para Xbox apelidadas de Black, chegamos finalmente a Ninja Gaiden 4, lançado este dia 21 de outubro pela já conhecida Team Ninja e pela Platinum Games.
A história de Ninja Gaiden 4 começa no seguimento do final de Ninja Gaiden 3. Ryu Hayabusa derrota o Dragão Negro mas não o consegue destruir, o que resulta numa Tóquio permanentemente sitiada e cheia de chuvas amaldiçoadas. Neste contexto, surge Yakumo, um ninja do clã dos corvos e novo protagonista, que atua na sombra do clã Hayabusa e que terá que trabalhar com o veterano Ryu Hayabusa, para conseguir purificar e destruir de vez o Dragão Negro, salvando Tóquio do seu destino sombrio.
Mas é a nível da jogabilidade que Ninja Gaiden IV brilha, pois a parceria entre os dois estúdios resultou num híbrido entre a precisão tática da Team Ninja e a fluidez quase coreográfica da Platinum Games. Alternando entre Ryu Hayabusa e Yakumo somos recebidos com muitos combates frenéticos e difíceis já conhecidas da franquia, com várias inovações através das mecánicas próprias de Yakumo. Como este faz parte no clã dos corvos, Yakumo consegue aceder a poderes exclusivos Bloodraven, usando o sangue que a sua arma vai acumulando durante os combates para lançar ataques devastadores sobre os seus inimigos.
Executa ataques com precisão incrível!
Este sistema de combate é, sem margem de dúvida, o ponto forte de Ninja Gaiden 4. Fora estas novidades, os comandos mantêm a estrutura clássica: ataques leves e fortes, bloqueios, contra-ataques, projeteis e magias especiais. O combate é exigente, sobretudo nas dificuldades superiores, mantendo o ADN da franquia – o jogador é punido pelos erros e recompensado pela disciplina e dedicação.
As arenas variam entre vilas japonesas sob chuva, laboratórios de biotecnologia, templos flutuantes e metrópoles iluminadas por néons — um conjunto diversificado e visualmente estimulante. Há, no entanto, alguma inconsistência técnica entre níveis: certas zonas parecem polidas ao detalhe, enquanto outras mostram texturas menos refinadas e aliasing perceptível. É também notória uma ligeira instabilidade de desempenho em secções particularmente densas em partículas.
Além disso, a camara volta a ser um problema, de difícil controlo e posicionamento, parece que por vezes é um inimigo extra com que Ryu e Yakumo têm de lutar.
Visualmente, Ninja Gaiden 4 é um salto geracional significativo. Contruído sobre uma versão atualizada do motor gráfico utilizado nos jogos anteriores, Ninja Gaiden 4 apresenta ambientes detalhados e bem iluminados com efeitos de partículas impressionantes e animações extremamente fluidas. O design dos inimigos mistura as já conhecidas influências japonesas tradicionais, agora com novos elementos cyberpunk.
Os efeitos de partículas são algo do outro mundo!
Analisamos o jogo com base num código Steam que nos foi gentilmente cedido pela distribuidora e podemos dizer que na Steam Deck da Valve o jogo corre bem, embora com bastantes adaptações gráficas. Embora o jogo seja Steam Deck Verified, esta verificação implica uma série de compromissos. É perfeitamente jogável e visualmente aceitável, mas muito longe da fluidez desejada num título deste género. Tentar forçar os 45 ou 60 fps (num jogo que naturalmente corre a 60fps nas consolas) irá causar aquecimento, flutuações da GPU e até mesmo pequenos freezes na ação.
Em compensação, o controlo na Deck é intuitivo e responsivo, com mapeamento bem pensado e suporte total para os botões traseiros. O jogo é perfeitamente funcional em modo portátil, embora sessões longas possam esgotar a bateria em cerca de duas horas. Em suma, Ninja Gaiden 4 é um dos jogos AAA recentes mais bem-comportados na Steam Deck, mas ainda assim exige expectativas realistas: 30 fps estáveis, qualidade média e algumas quedas ocasionais são o preço da portabilidade.
O jogo corre muito bem na Steam Deck, embora com alguns sacrifícios de fidelidade gráfica.
A banda sonora de Ninja Gaiden 4, dirigida por Masahiro Miyauchi e com contributos de vários compositores da Team NINJA e da PlatinumGames, é um dos aspetos mais cuidados da produção. O jogo aposta numa fusão entre sintetizadores modernos e instrumentos tradicionais japoneses, criando um ambiente sonoro que acompanha a intensidade do combate sem se sobrepor à acção. As faixas variam entre temas atmosféricos durante a exploração e composições rápidas e agressivas nas batalhas, com destaque para a forma como a música reage dinamicamente ao ritmo dos confrontos. Ainda assim, apesar da sua eficácia técnica, a banda sonora carece de identidade marcante: poucas composições se tornam verdadeiramente memoráveis, e a diversidade de estilos entre secções de Ryu e Yakumo dá origem a uma certa falta de coesão tonal. O resultado é um trabalho sólido e funcional, que reforça a imersão e o impacto audiovisual, mas que dificilmente ficará na memória dos jogadores como um dos elementos icónicos da série.
Opinião Final:
Ninja Gaiden 4 é um regresso competente e visualmente arrebatador, com um sistema de combate que continua a ser referência no género. Falha, contudo, em alguns aspetos estruturais e na consistência da sua direção criativa. É uma experiência desafiante e recompensadora, mas não revolucionária.
Do que gostamos:
- Combate profundo, técnico e visceral;
- Fluidez de animações e qualidade de produção;
- A narrativa de Ninja Gaiden avança com novas personagens e novos horizontes.
Do que não gostamos:
- Câmara ainda problemática em combates intensos;
- Desempenho variável em cenários densos.
Nota: 8/10
Análise efetuada com um código Steam cedido gentilmente pela distribuidora.