Faz hoje, dia 19 de novembro, precisamente 2 meses desde que o serviço Nintendo Switch Online foi disponibilizado. Anunciado durante a apresentação da consola híbrida da Nintendo em janeiro do ano passado, a altura prevista para o seu começo seria o final de 2017. Assim, é um ano depois do previsto que a Nintendo põe em prática a sua intenção de instaurar um serviço por subscrição obrigatório para se jogar online.
Muitos fãs ficaram contentes com este adiamento de um ano da implementação do serviço, até porque este período eventualmente serviria para um melhor planeamento das ofertas do mesmo. A necessidade de se pagar um valor mensal para se poder usufruir de algo outrora gratuito não agrada, caso esta alteração não seja acompanhada de suficientes benefícios para os subscritores. E, por isso, tendo-se jogado bastante bem Splatoon 2 até setembro deste ano, e igualmente Mario Tennis Aces, Mario Kart 8 Deluxe e tantos outros jogos, os benefícios deste novo serviço teriam de ser suficientemente bons para compensar o surgimento desta paywall.
Iniciada pela Microsoft com o Xbox Live Gold, a prática de tornar o jogo online em consolas restrito aos assinantes de um serviço por subscrição vem a ser cada vez mais criticada, sendo para muitos a liberdade do online no PC um exemplo a seguir pelas empresas que dominam o mercado das consolas. Por isso, quando, no início de setembro, numa apresentação Nintendo Direct, a Nintendo apresentou as informações definitivas sobre Nintendo Switch Online, muitos estavam expectantes por ver se, mesmo com uma fasquia baixa proporcionada por um preço reduzido de 19.99€ por ano, a Nintendo conseguiria estar à altura.
Infelizmente, a proposta da Nintendo não conseguiu convencer os seus fãs, apesar do preço reduzido. O número de likes e dislikes no vídeo de apresentação da Nintendo no seu canal oficial no YouTube mostra, neste momento, uma proporção de um pouco mais de 6 dislikes por cada like. Um número que é bastante negativo e que destoa do feedback usual nos vídeos do canal da companhia. Igualmente, o número de assinantes do Nintendo Switch Online, apesar de o serviço ter tido um bom começo, parece estar longe do objetivo da Nintendo tendo o seu atual presidente – Shuntaro Furukawa – reagido a estes dados na última reunião com os investidores, no início deste mês, e afirmado que estão neste momento a fazer esforços para o tornar mais apelativo e para que alcance nos próximos um determinado número.
Exatamente dois meses depois do início do serviço, compreendemos agora melhor as ofertas que este traz e quais as suas limitações. São as reações negativas dos fãs justificadas? Ou podemos fazer uma boa defesa das políticas e filosofia por detrás deste serviço?
De novo infelizmente, julgamos que tal não é o caso. Apesar de ter duas empresas com serviços por subscrição há vários anos e com vários desenvolvimentos, a Nintendo não tirou lições suficientes destes e o seu serviço apresenta falhas que são indesculpáveis em 2018. Nomeadamente, falo da possibilidade de, com uma subscrição ativa, carregarmos os nossos dados de gravação para a cloud, assim não perdendo o nosso progresso caso aconteça algum acidente e percamos ou danifiquemos irreversivelmente a nossa Switch. Tal é uma funcionalidade bastante básica e que já se encontra também disponível através dos serviços das suas concorrentes. Contudo, e aqui surge o ponto incompreensível, enquanto que nos serviços da PlayStation ou Xbox é permitido que se carreguem para a nuvem os dados de todos os jogos, com Nintendo Switch Online esta funcionalidade não está disponível em jogos como Splatoon 2 ou Pokémon Let’s Go Eevee/ Let’s Go Pikachu.
A questão é: porquê esta limitação? Segundo a Nintendo, para evitar que exista batota e jogadores possam descarregar dados mais antigos em que, no caso de Splatoon 2, por exemplo, estavam em ranks mais elevados. Esta justificação, que parece compreensível e aceitável numa primeira análise, acaba por falhar redondamente quando temos em consideração que nos serviços das plataformas concorrentes mesmo em jogos online com ranking é possível carregar os dados para a nuvem, existindo medidas anti-cheating que impedem os jogadores de fazer batota. A solução não passa por restringir os jogos em que se pode carregar os dados para a nuvem; a solução passa, sim, por encontrar formas de impedir a batota recorrendo a este método, o que é responsabilidade das equipas técnicas da Nintendo.
Não existindo (o que também não se compreende facilmente), ao contrário do que acontecia na Wii U e em outras consolas, a possibilidade de criar backups dos dados guardados localmente através de um dispositivo de armazenamento de dados USB, ter a possibilidade de guardar os dados na nuvem é uma medida bastante importante, especialmente falando de uma consola híbrida que, por isso mesmo, se pode perder ou avariar mais facilmente, com quedas ou outro tipo de acidentes.
Com a restrição no online e a possibilidade de guardar dados na nuvem já tratados, o que nos resta em termos de funcionalidades/ofertas do Nintendo Switch Online? Restam-nos três: a possibilidade de fazer chamadas de voz através de uma app no nosso smartphone, comunicando com os nossos amigos enquanto jogamos online com eles; ofertas especiais que serão reveladas ao longo do tempo e que começam com a possibilidade de compra de comandos NES wireless; que serão usados para explorar o catálogo da funcionalidade de destaque deste serviço por subscrição – a aplicação Nintendo Entertainment System – Nintendo Switch Online.
Sobre a aplicação para smartphones, não me irei alongar. Desde o anúncio da consola que o facto de as chamadas por voz terem de ser feitas através de um smartphone e não através da consola tem gerado bastantes críticas. A Nintendo, contudo, não voltou atrás e vai mesmo continuar a ser impossível fazer chamadas de voz para a maior parte dos jogos (Fortnite aqui é uma notável excepção, com voice-chat in-game) através da própria consola, tendo-se de recorrer à aplicação para smartphone. Muitos reagem a esta necessidade perguntando-se sobre o porquê de usarem sequer essa aplicação quando outras já disponíveis em várias plataformas, como o Discord, poderiam funcionar igualmente bem. E a verdade é que tirando o contacto com alguns jogos, por exemplo através da Splatnet 2, esta aplicação não traz muito que convença a trocar de aplicação, se já usavam o Discord para comunicar com os vossos amigos para partidas online na Switch.
Quanto às ofertas especiais, por enquanto não podemos dizer muito. Até ao momento, e já se tendo passado dois meses, apenas foi anunciada a possibilidade de reservar comandos wireless que imitam os comandos da NES e que servirão, como já referido, para jogar os títulos clássicos da consola na Switch.
Esta oferta especial, no entanto, é apenas a possibilidade de se comprar um produto, sendo na verdade mais uma restrição para os que não subscrevem o serviço do que uma verdadeira oferta para os que o fazem. Esta é, contudo, uma restrição compreensível, pois apenas quem subscreve o serviço e tem a aplicação para jogar os títulos NES poderá usufruir dos comandos.
Fica, então, em aberto que tipo de ofertas serão estas, pelo que teremos de esperar para ver o que vem em seguida. Serão todas no formato de permitir a compra de acessórios/comandos? Ou veremos algo mais interessante como promoções exclusivas, ou mesmo jogos feitos de origem a pensar na Switch, mesmo que pequenos títulos indie? Tudo permanece misterioso. Pode ser que durante a Black Friday tenhamos uma resposta mais definida. Vemos, no entanto, estas ofertas especiais como uma das potenciais maneiras de como a Nintendo irá conseguir tornar mais atrativo este seu serviço.
Por fim, e como grande destaque, passamos a discutir a já mencionada aplicação Nintendo Entertainment System – Nintendo Switch Online. Esta começou com um catálogo de 20 jogos, mas todos os meses são introduzidos novos títulos, assim como versões especiais de alguns dos já disponíveis. Na última atualização do serviço, o destaque foi para Metroid, ao passo que no catálogo original, jogos como Super Mario Bros., The Legend of Zelda, Balloon Fight ou Ice Climbers foram o foco das atenções.
A NES foi uma consola revolucionária, e tem um catálogo de jogos que não só traz uma lágrima ao canto do olho dos fãs mais velhos da marca e que passaram grandes momentos com os mesmos, mas também diverte mesmo quem, como eu, nunca os tinha jogado na infância. The Legend of Zelda é dos jogos mais divertidos que joguei, e no entanto é bem mais velho que eu. Contudo, sente-se a falta de algo mais. A Virtual Console era para muitos fãs a forma de interagir com estes jogos mais antigos, e depois de os jogos não ficarem associados à sua conta Nintendo, mas aos seus sistemas, e por isso terem de comprar os jogos de novo nas suas novas consolas, os fãs esperavam que agora na Switch fosse possível ter os seus vários jogos clássicos todos no mesmo lugar, e sem ter de voltar a comprar os mesmos.
A Nintendo não tem partilhado muitas informações a respeito destas oportunidades e de se, apesar de deixar de existir a Virtual Console, haverá possibilidade de jogar os seus clássicos. E esta falta de certezas, depois de ter sido anunciado que, na Wii U, jogos GameCube iriam chegar à Virtual Console (o que acabou por não acontecer), deixa desiludidos fãs que estavam ansiosos para finalmente poderem voltar a jogar pérolas como Super Mario Sunshine, Animal Crossing ou Super Smash Bros. Melee.
Se este serviço online é o sucessor da Virtual Console, espera-se que no futuro pelo menos títulos SNES , Nintendo 64, GameBoy e GameBoy Colour, GameBoy Advance e Nintendo DS sejam integrados no catálogo. Por isso, apesar da boa coletânea de jogos, com um aspeto muito bom, com a possibilidade de criar save states e com funcionalidades online, pede-se mais. Especialmente se esta for a única forma de ter acesso, na Switch, aos clássicos da Big N.
Em modos de conclusão, resta-nos dizer que embora o Nintendo Switch Online não seja bom, mesmo para o reduzido preço que é pedido, não é um desastre completo e poderá tornar-se mais atrativo caso algumas decisões sejam tomadas. Encontrar medidas para impedir as batotas sem restringir a possibilidade de transferir os dados de jogo para a nuvem; expandir o catálogo de jogos retro para abarcar títulos de outras consolas da Nintendo; implementar a conversação por voz na própria consola, sem necessidade de recorrer a um smartphone; e clarificar e tornar mais interessantes as ofertas exclusivas para os assinantes são medidas que sem dúvida tornariam bem melhor este serviço.
Apesar de neste artigo terem sido apontadas críticas duras a Nintendo Switch Online, estas não vêm de uma posição de ódio de qualquer tipo, ou de ressentimento. Muito pelo contrário, gostamos muito da Switch, da Nintendo e das suas franquias e jogos, que nos acompanharam durante as nossas vidas, desde a infância. E precisamente por isso, lamentamos e tentamos criticar construtivamente quando vemos a Big N a falhar e a mostrar-se tão desconexa da sua fanbase.
Assim, é com alguma desilusão, mas também com algum otimismo que acabamos este artigo. Talvez a Nintendo esteja atenta a todo o feedback (maioritariamente negativo) em volta do serviço, e o melhore. Da nossa parte fica a esperança de que pelo menos alguns dos problemas que identificámos sejam resolvidos, e este se torne um bom e convidativo serviço.