
Logo aquando do lançamento de Katamari Damacy para a PlayStation 2 em 2004, que Katamari se transformou numa série de culto, com as suas músicas simultaneamente relaxantes e que nos fazem “abanar o capacete”, com o seu humor caótico e uma personalidade e estilo de jogos únicos.
A mecânica base dos jogos desta série é bastante simples. Controlam um princípe (Prince) de pequenas dimensões que deve rebolar uma bola irregular (o Katamari) e que ao fazê-lo vai enrolando e englobando mais e mais objetos no ambiente. Mas porquê enrolar tudo o que se encontra à nossa volta? Não será isso cruel?
O grande objetivo é restaurar o universo. O pai do príncipe, o rei do cosmos (King of the Cosmos), infelizmente “descuidou-se” (sim, em todos os jogos) e aniquilou todos os corpos celestes no firmamento da Terra. Como tal, cabe-nos a nós substituir as estrelas, planetas e satélites por novos corpos celestes, feitos de li- material terrestre. Como o nosso Katamari começa pequeno, devemos primeiro começar por enrolar objetos de pequenas dimensões, sendo posteriormente capazes de também “absorver” objetos de maiores dimensões. Como dissemos: tudo isto é bastante simples. Esta simplicidade, no entanto, é o que torna estes jogos tão viciantes. Há algo de incrivelmente divertido, relaxante e satisfatório em ver lentamente o nosso Katamari a crescer e crescer e a repararmos que objetos que outrora não eramos capazes de enrolar, agora somos capazes de “varrer” facilmente.

Esta análise é ao título mais recente da série, Once Upon A Katamari. Neste, a grande novidade é que, como o título levemente sugere, vamos explorando níveis de várias épocas históricas diferentes. Tal como anteriores títulos desta franquia, Once Upon A Katamari está dividido entre vários níveis, nos quais podem colecionar três coroas, um presente e resgatar um ou mais primos do príncipe (claro está, enrolando-os no Katamari). Estes níveis são agora divididos tematicamente a nível de cenários e objetos espalhados pelos mesmos entre diferentes períodos, tais como Grécia Antiga, período Edo no Japão ou período Jurássico. Embora a jogabilidade se mantenha constante, é bom ver esta variedade de níveis e é sempre agradável enrolar objetos diferentes e reparar nos cenários caricatos ao longo da história que Once Upon A Katamari preparou para nós. Por exemplo, achei especialmente engraçados os níveis em que tive de engordar nobres japoneses (em proporções francamente exageradas, não fosse este um jogo Katamari) para que os mesmos tivessem tamanho “suficiente” para caber nas suas armaduras.
Como sugerido no último parágrafo, esta variedade temática joga bem com a variedade de desafios que nos são apresentados ao longo do jogo. Em alguns níveis devemos tentar aumentar o Katamari o mais rápido possível (mas sem um limite de tempo estrito), ao passo que em outros níveis devemos tentar aumentar o Katamari o máximo possível dentro de um certo limite de tempo, e ainda noutros devemos recolher um certo número de materiais. Once Upon A Katamari prima pela forma como podemos quase desligar o nosso cérebro e simplesmente deslizar os manípulos de um lado para o outro enquanto aproveitamos a boa música do jogo e enrolamos mais e mais itens. Por conseguinte, nem seria necessária uma diversidade tão grande de missões para cumprir com este objetivo. Ainda assim, a mesma é de louvar.

Se, como eu, procuram nos jogos Katamari especialmente um período de tempo para relaxar, então por vezes as interações com o King of the Cosmos são um pouco massadoras e longas. O jogo parece compreender exatamente isto, sendo possível ignorá-lo já no início do nível (mas não antes nem depois, a não ser que passemos as suas falas à frente). Se Once Upon A Katamari fosse um jogo mais sério ou com uma campanha mais envolvente, tal seria aceitável. No entanto, com o seu estilo de humor nonsense, estas interações acabam por ser como convidados que passados três dias já cheiram mal.
Algo que me pareceu igualmente paradoxal é a forma de como o jogo parece ir contra a sua propensão a ser algo mais relaxante. Para além de a nossa prestação em todos os níveis ser avaliada com uma nota em letra de S a D, o que acho normal, apesar de idealmente essa funcionalidade ser opcional como em jogos como Astral Chain, a nossa prestação também é avaliada de forma mais expressiva no final pelo rei do cosmos. Estas falas são como aqueles quips quando nos deparamos com o ecrã de Game Over em jogos como Arkham City, em que os vilões nos provocam, exceto que acontecem mesmo que sucedamos, mas com um rank baixo.

Finalmente, Once Upon A Katamari mantém alguma da frustação associada à jogabilidade que mantém dos restantes títulos da série. De facto, Once Upon A Katamari até melhora as coisas, introduzindo um método de controlo simplificado em que podemos controlar a trajetória do princípe e do Katamari simplesmente com o manípulo esquerdo, e a câmara simultaneamente com o manípulo direito. Tal era impossível nos jogos anteriores, em que os dois manípulos eram necessários para controlar o Katamari. No entanto, uma das mecãnicas que se mantém basicamente inalterada neste título é que podemos usar o Katamari para subir algumas ladeiras ou escadas. Contudo, caso o Katamari tenha crescido de forma bastante irregular, e portanto se não se aproximar bem de um sólido esférico, tal pode mostrar-se impossível, levando a momentos frustrantes, especialmente caso queiram apanhar todas as coroas.
Opinião Final:
Once Upon A Katamari é o mais recente título da série Katamari. Contendo a jogabilidade e músicas clássicas da série, uma boa variedade de desafios e uma experiência muitas vezes relaxante e engraçada, este é um título que não temos problemas em recomendar. Ainda assim, alguns aspetos desta experiência conspiram para a tornar por vezes frustrante.
Do que gostamos:
- Jogabilidade clássica da série Katamari continua bastante divertida;
- Variedade temática nos níveis;
- Variedade de desafios;
- Músicas que nos fazem simultaneamente bater o pé e relaxar;
- Bom sentido de humor.
Do que não gostamos:
- Rei do Cosmos pode por vezes ser… demasiado;
- Por vezes subir ladeiras com Katamari é frustrante;
- Provocações ao jogador contrastam com o tema bem-disposto do mesmo.
Nota: 7,5/10
Análise efetuada com um código PlayStation 5 cedido gentilmente pela distribuidora.