Opinião – Tate no Yuusha no Nariagari – Episódio 2: A Rapariga Escrava

Estúdios: Kinema Citrus e Kadokawa

Nome em original: 盾の勇者の成り上がり
Nome em inglês: The Rising of the Shield Hero
Exibição: 09 de Janeiro 2019 – ?
Temporada: Inverno 2019
Diretor: Takao Abo
Designers: Seira Minami, Anna Okamatsu, Masahiro Suwa
Autor Original: Aneko Yusagi
Género: Seinen; Ação e Aventura; Fantasia; Romance; Drama.
Inspiração: Light Novel

Depois de alguns contratempos, o segundo episódio de Tate no Yuusha no Nariagari foi absorvido com sucesso e dessa vez tivemos um episódio mais curto, e, ao contrário do da semana passada que teve 45 minutos (episódio duplo), o desta semana voltou ao habitual dos animes com pouco mais de 23 minutos (incluindo opening e ending).

Sei que o aviso que faço no próximo parágrafo pode parecer repetitivo por aparecer em todos artigos, mas é sempre necessário fazê-lo. O objetivo é atingir uma diversidade muito grande de leitores, desde aqueles que nunca viram anime e começaram apenas a ficar interessados agora, passando pelos que já acompanham este anime, até aqueles que acompanham o anime e a light novel, assim como aqueles que só vão ler os artigos de Tate no Yuusha no Nariagari. Então, se já têm por hábito ler os nossos artigos, basta saltarem diretamente para a “Descrição do Episódio”, ok?

Estes artigos de opinião sobre os episódios normalmente consistem num resumo breve do episódio, sinalizado como “Descrição do Episódio”, ao que se segue a expressão da minha opinião de maneira totalmente informal sobre o episódio como um todo, incluindo críticas técnicas, reação a algo em específico, etc., que está sinalizada como “Opinião Pessoal”. Além disso, é óbvio que irei tentar evitar spoilers sobre possíveis acontecimentos futuros, mas alguns spoilers do próprio episódio são inevitáveis, pelo que é sempre aconselhado que primeiro vejam o episódio e só depois leiam este artigo de opinião. Ok? Então vamos lá.

Descrição do Episódio

Este segundo episódio começa exatamente no momento em que parou o primeiro, com Iwatani Naofumi a comprar uma escrava e ter o primeiro contacto com Raphtalia, aquela que irá tornar-se a sua primeira e principal aliada nessa aventura. Ela é uma “demi-humana”, e embora não tenha sido totalmente detalhado no anime, trata-se de um híbrido de humano com algum animal – no caso dela um guaxinim.

Também somos apresentados com mais detalhes a todo o conceito de “escravo” nesse mundo. Ficamos a saber que através de um pacto de sangue o mestre pode ter total controlo sobre o seu escravo, não sendo possível ao mesmo contrariar nenhuma ordem do seu mestre, algo que para Naofumi é perfeito, já que continua visivelmente afetado pela traição sofrida assim que chegou a este universo.

E aqui vemos que a própria Raphtalia transporta consigo muitos traumas, como o próprio mercador trata logo de avisar o protagonista. Também não tem muita confiança nas pessoas, já que o seu anterior mestre a torturava, pelo que o próprio ato de Naofumi lhe questionar se tem fome já é para ela uma grande surpresa. E, nesta cena, também temos uma noção de como naquele universo se trata quem é diferente, já que logo na entrada de uma taverna existe um aviso de que é proibida a entrada a “demi-humanos”. Devido ao status de Naofumi este aviso é completamente ignorado – afinal, quem iria querer enfrentar ou discutir com o homem que “cometeu o maior e pior crime daquele reino, e apenas está solto porque precisam dele”?

Algo curioso que é apresentado através de um flashback, onde nos é mostrada uma Raphtalia ainda jovem e com os seus pais, é que realmente existe um ciclo de ameaças neste mundo, onde, a cada período de tempo, hordas de criaturas aparecem para destruir tudo. Os “Quatro Heróis Cardinais” são a cada vez invocados para proteger a população, e curiosamente o herói do escudo destaca-se sempre por tratar os demi-humanos de maneira especial, sendo que até então o sonho dela era um dia encontrar esse herói.

A familiaridade com o género RPG continua também bem forte neste episódio, com Naofumi a precisar de evoluir não apenas as suas estatísticas, como o seu próprio conhecimento para entregar materiais ainda mais complexos e assim conseguir algum dinheiro. Também vemos que as suas habilidades com o escudo pouco a pouco começam a evoluir, com novas habilidades a serem “desbloqueadas” na sua árvore de habilidades, incluindo um “Escudo de Cordas”, que inclusive possui uma curiosidade interessante, irei mencionar na “Opinião Pessoal”.

É justamente no final do episódio que tudo aquilo que nos foi apresentado durante o mesmo culmina, já que NaofumiRaphtalia decidem explorar uma mina à procura de recursos que podem ser vendidos por um bom preço. Porém, já haviam sido avisados de que havia um monstro a atacar todos os que ousassem aproximar-se do local. E é óbvio que eles encontram a criatura, que é semelhante a um cerberos, só que apenas com duas cabeças.

Mas enquanto que para Naofumi esta é apenas uma criatura extremamente poderosa, para Raphtalia é uma criatura muito parecida com aquela que matou os seus pais e dizimou a sua aldeia, então a pobre rapariga fica totalmente paralisada, mesmo quando Naofumi é atacado. E é nesse momento que vemos o primeiro sinal de mudança do herói, já que ele inicialmente até dá uma ordem para ela atacar a criatura, mas, percebendo quanto a morte dos pais foi traumatizante para ela, Naofumi volta atrás e decide libertá-la da ordem e conter a criatura o máximo tempo que puder, para que Raphtalia possa fugir. Óbvio que vendo o seu mestre a morrer e estando prestes a perder mais uma pessoa que a tratou como “alguém especial”, reúne todas as suas forças e ataca a criatura, com o episódio a finalizar com Naofumi a prometer que enquanto ela atacar e ele defender, não irá morrer.

Opinião Pessoal

Obviamente que ainda é muito cedo para afirmar com toda a certeza que Tate no Yuusha no Nariagari é o melhor anime da temporada para mim, afinal ainda estamos no segundo episódio. Mas assim como aconteceu na temporada passada com Seishun Buta Yarou wa Bunny Girl Senpai no Yume wo Minai, este anime está cada vez mais próximo de alcançar esse posto para mim.

Um amigo e membro aqui da equipa chamou-me à atenção para o facto de as minhas escolhas de animes sobre os quais escrever uma opinião (Dororo, Tate no Yuusha no Nariagari e Yakusoku no Neverland) não serem propriamente animes felizes e alegres. E penso que Tate no Yuusha no Nariagari está-me a conquistar justamente por isso: não é o anime mais tenso e frio de entre os três (Dororo) e nem o anime mais chocante (Yakusoku no Neverland), mas tem-se mostrado o anime que traz, sim, temas sensíveis e um peso dramático, mas que também tem os seus momentos “kawaii”, como a cena da fogueira ou do restaurante. Não é aquele anime que deixa constantemente o espectador desconfortável, ao mesmo tempo que não é um anime que se irá assistir com uma criança ao lado, algo de que definitivamente fujo muito.

Sobre o episódio em si…  continua a ser um capítulo de construção do universo, desta vez apresentando Raphtalia e uma nova região daquele mundo, com outros recursos e desafios, algo que mostra bem o aspeto de RPG do anime. Desta vez, contudo, com uma sensação de urgência um pouco maior já que o episódio, comparando com o anterior, estava reduzido a metade na sua duração. Apesar deste corte, o episódio não deixa um sabor amargo, como muitos animes, pela impressão de que estariam a cortar partes importantes e essenciais. Simplesmente apenas apresentam tudo o que era importante sem perder tanto tempo a aprofundar os detalhes, algo que pode ser muito bem explorado em momentos pontuais em outros episódios.

Um bom exemplo de construção inteligente de acontecimentos e informações é o próprio final. Além de apresentar visualmente um dos grandes traumas de Raphtalia, também deu sentido à cena em que Naofumi descobre o tal “Escudo de Cordas”. Em determinado momento do episódio aparece a descrição dos efeitos do escudo e surge a informação de que este pode ser utilizado de maneira rápida, encurtando a pronúncia da sua invocação, ou utilizando cristais… e o que foram as personagens fazer na mina? Justamente coletar cristais. Então sem perder um tempo exagerado com diálogos expositivos ou soluções mirabolantes (Sim, Slime estou a falar de ti e do episódio 6), o episódio nos apresentou um efeito e logo a seguir em ação nos apresentou a utilização desse efeito, quando Naofumi utiliza o escudo nos dois momentos da luta, tanto para subir para uma pedra, como para proteger Raphtalia, e tudo isso de maneira rápida.

Um outro exemplo de utilização do que ocorre numa cena para dar informações importantes ao público vem logo a seguir a Naofumi contratar Raphtalia e esta matar o primeiro monstro. O público pode ficar com uma leve raiva do protagonista, afinal ele está a trata-la como uma escrava realmente. Contudo, vemos um homem a utilizar um chicote enquanto obriga escravos ainda bem jovens a carregar materiais para ele, e aí vemos que a relação de Naofumi e Raphtalia não é bem uma relação de mestre-escravo, e sim quase que uma relação de um pai mais rígido nas suas ordens, a ensinar a filha coisas de que ela vai precisar para sobreviver, pois não há tempo para uma abordagem mais doce, pois se ela não for capaz de realizar aquelas tarefas vão morrer, nem que seja morrer à fome já que não terão dinheiro para mais nada. Este é um recurso que muitas vezes é utilizado em animes de maneira até cansativa em diálogos longos e expositivos e que Tate no Yuusha no Nariagari conseguiu entregar numa cena que durou exatamente 10 segundos.

Óbvio que se comparado à light novel ainda há certos cortes, como por exemplo a explicação do porquê de ela ter tanto receio em demonstrar até fome ou inveja por não poder brincar com uma bola. Nesse caso específico acredito que poderia ter sido explicado, afinal é algo relativamente simples e rápido:[Spoiler] Raphtalia é assombrada por estes receios porque o seu dono anterior a punia com agressões sempre que esta demonstrava vontade de algo, numa tentativa de suprimir a sua humanidade, uma vez que a via apenas como um objeto que pode usar para satisfazer as suas necessidades [Fim do Spoiler]. Contudo, como mencionei em cima, é muito provável que pequenos detalhes como este sejam explorados ao longo do anime, inclusive por isso deixei o aviso de spoiler.

Outro elemento a destacar neste episódio é a sua abertura (opening) e encerramento (ending). A abertura, eu mesmo tinha deixado aqui o que achei no artigo de opinião sobre o primeiro episódio, e mais uma vez foi a que mais se destacou para mim entre os três animes sobre os quais estes artigos incidem. Mas foi o encerramento que me apanhou ali no lado sentimental. Eu não costumo ver encerramentos, porque poucos me chamam à atenção (justamente Seishun Buta Yarou wa Bunny Girl Senpai no Yume wo Minai é a exceção mais recente). No entanto, o simbolismo deste ending é incrível, já que vemos o protagonista a percorrer um caminho onde ao fundo está tudo escuro e sombrio, numa referência clara aos sentimentos dele após a traição, e logo a seguir surge Raphtalia a correr na sua direção e a iluminar toda essa escuridão, algo que representa bem a importância dela para o protagonista, não sendo apenas uma escrava ou uma ferramenta que irá atacar os monstros, mas também alguém que irá “curar as feridas da sua alma”, causadas pela traição.

Por falar na abertura, por enquanto é apenas ela mesmo que nos está a trazer uma melhor noção do que esperar da animação ao nível de ação, já que apesar de haver um combate no final do episódio, ainda não foi algo realmente intenso para ser possível tirar conclusões mais complexas ao nível da animação. Mas, como um todo, é uma animação até ao momento pelo menos bastante consistente e sem falhas visíveis, então definitivamente a qualidade desta não será algo que vai incomodar os fãs mais preocupados com os aspetos técnicos.

Confesso estar bem curioso para continuar a acompanhar esse anime e o desenrolar da historia e a aventura de NaofumiRaphtalia, assim como também perceber onde estão e como será a relação do protagonista com os outros heróis e os seus aliados, principalmente com a mulher que o traiu e está agora ao lado do “Guerreiro da Espada“. Mesmo pelo titulo, o proximo episodio deverá trazer o primeiro combate mais intenso do anime.