Paper Mario: The Origami King – Análise

   Se já tiveram contacto com a comunidade online de fãs da Nintendo, é provável que se tenham deparado com artigos ou comentários em que se fazem rasgados elogios aos primeiros dois títulos da série Paper Mario, e de entre estes em especial a The Thousand-Year Door, lançado em 2004 para a GameCube.

   Em contrapartida, o terceiro jogo da série, Super Paper Mario, já não é tão aclamado e representa uma viragem do género RPG para o de plataformas, que desiludiu alguns fãs. Mas, sobretudo, encontrarão por todo o lado uma desilusão com o lançamento seguinte: Paper Mario: Sticker Star. Esta desilusão estendeu-se logo ao seu sucessor, Color Splash, tendo o seu primeiro trailer nos canais de YouTube da Nintendo um rácio não muito positivo entre “Gosto” e “Não Gosto”. 

   À medida que o tempo foi passando e os ânimos acalmando, Color Splash foi sendo mais e mais reconhecido como um título que, apesar de trazer vários elementos de Sticker Star, representa uma melhoria face a este último a vários níveis: entre os quais escrita, estilo artístico e estória. Como grande senão, permaneceu o combate. Longe está Color Splash do sistema de combate dos dois títulos originais, apresentando por outro lado um sistema moroso que procura fazer uso do ecrã do Wii U GamePad, mas de uma forma que tornou, para muitos, os combates aborrecidos.

Sabe bem relaxar com The Origami King após um dia de trabalho.

   E eis que após dois lançamentos conturbados (não conto aqui com Mario & Luigi: Paper Jam), chegamos a 2020 e ao lançamento a 17 de julho de The Origami King para a Nintendo Switch. Dada as opiniões no mínimo divisivas em relação aos dois títulos que o precedem, a questão (e em muitos casos certeza) com que muitos fãs ficaram logo desde o seu anúncio é de se este não seria um «Sticker Star 3», isto é, uma continuação do que havíamos visto nos últimos dois lançamentos.

   Nesta análise não poderei dar uma resposta clara a esta questão, por dois motivos. O primeiro deles é que parti para The Origami King após apenas ter completado o jogo original da Nintendo 64 (o qual adorei e rapidamente ocupou um lugar na minha lista de jogos favoritos). Como tal, embora tenha jogado um pouco de The Thousand-Year Door, e tenha visto e lido bastante sobre Sticker Star e Color Splash, não os experienciei por mim própria. Não disponho, por isso, de uma base sólida para poder aqui dar uma resposta definitiva. O segundo motivo é de que parece que para diferentes fãs há diferentes elementos que fazem de um Paper Mario um título «como os primeiros dois» ou «como os dois últimos». Desta forma, dar uma única resposta torna-se desde logo impossível: teria de haver tantas respostas como conjuntos de elementos que diferentes fãs consideram relevantes.

   Embora não seja aqui possível responder de uma vez e para todos se The Origami King é um jogo mais como os primeiros como os últimos da franquia, é ainda assim possível reconhecer vários elementos comummente apresentados como sendo essenciais para os primeiros jogos, e constatar se The Origami King também os apresenta. Vários destes já se encontravam presentes no jogo original, pelo que aqui sim, existe uma base que me permite fazer uma comparação. Mas mais importante que esta última questão, é de se tudo isto importa. Têm os novos jogos Paper Mario realmente de ser como os primeiros?

Mario parece estar demasiado ocupado para se perguntar se «antigamente é que era bom».

   The Origami King não apresenta pontos de experiência ou subida de nível, de igual forma não tem também partners de maneira igual a como os originais tinham. O combate também não é como o dos originais, embora retenha o elemento de pressionar botões (neste caso, apenas o botão A) na altura certa para se obterem vantagens. Finalmente, tal como em Sticker Star e Color Splash, é neste jogo dada alguma ênfase a tudo ser feito de papel, com algumas linhas de diálogo e piadas sobre esse mesmo facto.

   Se forem fãs acérrimos dos originais que à partida não vão aceitar nada que se afaste demasiado da fórmula dos mesmos, podem fechar a análise no final deste parágrafo: The Origami King não será decididamente um jogo para vós. No entanto, se tiverem alguma abertura para pelo menos lhe dar uma hipótese, mesmo que seja algo de diferente, peço que a continuem a ler para ficarem a conhecer melhor aquele que se tornou num dos meus jogos favoritos na Nintendo Switch. Tive uma ótima e refrescante experiência com The Origami King, e não consigo dizer que me tenha divertido mais com o primeiro jogo da série do que com este. São ambos jogos excelentes e que, apesar de diferentes em vários aspetos, se sentem como jogos de uma mesma série, tendo igualmente muito em comum.

   Começando por adereçar o elefante na sala: sem pontos de experiência e subida de nível, o combate não se tornará, como em Sticker Star e Color Splash, aborrecido e algo que é melhor evitar? A resposta aqui é de que em certa medida sim, mas nada que em qualquer momento chegue perto de estragar a experiência. Apesar de em alguns momentos tentar evitar combater inimigos, e em alguns deles ser apanhada e ficar um pouco desiludida por ter falhado no meu objetivo, nunca me senti frustrada por ter de combater mais uma vez. Tal deve-se à variedade de inimigos e mecânicas que The Origami King vai introduzindo, assim como ao facto de não existirem demasiados inimigos por enfrentar.

   Neste novo Paper Mario sempre que chocamos contra um inimigo ao explorar o mundo de jogo, somos levados até uma arena circular, com vários elos, Mario no centro e vários inimigos espalhados pela mesma. Podemos então no nosso turno rodar estes elos, e mover ainda secções da mesma para a frente e para trás. Desta forma, podemos alinhar os inimigos e, se o conseguirmos fazer de forma bem-sucedida (alinhando-os a todos), recebemos um bónus de ataque de 50%. Cada combate começa assim pela resolução de um puzzle, e o sistema está construído de tal forma que alinhar bem os inimigos pode evitar que sofram bastante dano. O tempo disponível para os resolver é limitado, mas também é possível gastar moedas para se ter mais tempo para pensar em como alinhar os inimigos.

   À medida que vamos resgatando Toads ao longo da nossa jornada, estes vão preenchendo bancadas que rodeiam a arena circular em que os combates decorrem: é como se Mario estivesse a protagonizar um espetáculo de demonstração da sua força. Gastando moedas, podemos ainda ativar o Cheer, levando a que os Toads nos ajudem, torcendo por nós, ora rodando os inimigos de forma a tornar o puzzle mais fácil (ou mesmo resolvendo-o completamente), ora atirando-lhes com objetos para lhes causar dano, ora finalmente atirando um coração a Mario, que lhe permite recuperar alguns dos seus pontos de vida.

   Já no que toca aos ataques, não temos aqui muito de novo que não tenhamos já visto nas séries Paper Mario e Mario & Luigi. Podemos saltar em cima das cabeças dos inimigos numa linha que atravessa uma das secções do círculo, atirar um martelo especial (os Hurlhammers) com o mesmo efeito, ou usar um martelo comum para atacar inimigos em duas secções, mas que estejam próximos de Mario. Como referido, caso controlem bem o momento em que carregam no botão A ganham bónus em termos de quantidade de dano infligida aos vossos adversários. Caso não consigam eliminar todos os inimigos numa mesma ronda, estes irão ripostar, e nessa fase também poderão carregar no botão A no momento certo para bloquear ataques e assim sofrer menos dano.

O mundo está repleto de buracos, alguns dos quais escondem segredos. Atirem-lhes com confetti e tapem-nos!

   Ao longo da aventura iremos ainda conseguindo armas (botas e martelos mais poderosos ou com efeitos, como por exemplo botas de metal que nos permitem causar dano a inimigos espinhosos) e acessórios, que têm vários efeitos dentro e fora de combate – tais como modificar o aspeto dos confetti que vamos usando para tapar buracos; dar-nos mais tempo para alinhar os inimigos ou maior defesa em combate. 

   Dada a variedade de inimigos, o tempo relativamente curto que se demora a terminar cada combate e o puzzle inicial em todos eles, não estamos aqui perante um sistema lento e aborrecido como, segundo muitos, Sticker Star e Color Splash contêm, com especial ênfase para este último. Ainda assim, senti que os puzzles durante os combates de The Origami King ou tinham uma solução bastante óbvia ou nada óbvia, levando a que fossem muito raras as vezes em que um puzzle me pareceu desafiante, mas satisfatório. Pelo contrário, quase sempre estes me pareceram ora de solução demasiado elusiva para o tempo disponível, ou de solução demasiado fácil. Em grande contraste com estes quebra-cabeças, aqueles que se vão encontrando ao longo da aventura fora dos combates pareceram-me estar «no ponto certo», sendo alguns mais simples, e outros mais complexos, mas sempre algo que foi divertido de completar.

   Nas batalhas contra bosses a situação inverte-se face aos combates contra inimigos comuns. Mario fica do lado de fora da arena e deve aproximar-se do centro, em que se encontra o seu adversário de grande porte. Para o fazer, deve seguir setas, podendo pelo caminho encontrar um envelope com uma dica, um baú com itens úteis que se espalham pela arena e corações para recuperar vida, até que encontre uma divisão com uma tile de ataque. Ao longo do jogo irão descobrir outras tiles que permitirão a Mario realizar ataques especiais, mas tal é melhor constatarem jogando-o. Os confrontos com bosses são os mais épicos e divertidos do jogo, sendo que à medida que vão progredindo na aventura, estes vão ficando ligeiramente mais complexos, mas sobretudo mais espetaculares e vibrantes.

Todos a bordo? Uma nova aventura está prestes a começar!

   Espetacular e vibrante é também a jornada de Mario, mas esses são apenas dois dos adjetivos que se lhe podem atribuir. Acompanhado por personagens muito bem desenhadas e construídas, incluindo personagens habituais que aqui se encontram apresentadas sob outra luz, Mario viverá vários momentos que nos transmitem uma vasta panóplia de emoções. Nunca esperei que um jogo Mario tivesse alguns dos momentos com que The Origami King me brindou, e tal é algo que posso afirmar mesmo após o lançamento de Super Mario Odyssey, com toda a sua loucura experimental em várias secções. The Origami King é maioritariamente leve e divertido, mas em certos momentos torna-se épico, comovente, sombrio e mesmo brutal. Ao passo que outros jogos Mario me foram transmitido uma constante sensação de alegria e boa-disposição, foi com grande surpresa e gosto que me vi afetada por várias outras enquanto avançava pela estória deste Paper Mario.

   A aventura começa quando Olly, um rei origami de origem misteriosa, dá início ao seu plano de transformar tudo e todos em origami (dado que tudo é feito de papel, imaginem a trabalheira e o número de dobragens). Convidados para se dirigirem até ao castelo, Mario e Luigi acabam por se separar, e o primeiro depara-se com Peach dobrada e revelando uma personalidade e crenças que em nada condizem com a princesa. Mario é então aprisionado e depara-se com uma companheira de cela que será também sua parceira durante toda a aventura: Olivia, uma origami que é também irmã de Olly. Juntos, acabam por escapar do castelo com Bowser e um dos seus minions. Enquanto isso, Olly prende cinco fitas em volta do castelo, conectadas a cinco pontos diferentes do reino cogumelo, eleva o castelo até ao topo de um vulcão… e já se está a ver no que isto vai dar.

O castelo de Peach a ser atacado? No início de um jogo Super Mario? Não posso crer!

   O enredo geral é muito simples: há que destruir as cinco fitas que rodeiam o castelo e finalmente derrotar Olly antes que este leve a sua avante. No entanto, a presença de personagens como Olivia, os eventos que vão decorrendo nos vários momentos da jornada e a excelente qualidade da escrita dos diálogos, com inúmeras piadas (que nunca se sentem forçadas), fazem de cada caminho até às várias fitas algo de inesperado, refrescante e repleto de emoções. Seria fácil, pela introdução, colocar The Origami King entre jogos com um enredo básico ou quase-inexistente como Yoshi’s Crafted World ou os jogos New Super Mario Bros..Tal, no entanto, seria fazer-lhe uma grande injustiça. Cada uma das fitas funciona como um arco do enredo, com novas personagens, cenários e objetivos específicos.

   Importa aqui salientar as diferenças entre os criativos e bastante distintivos partes do mundo e momentos do jogo. Desertos e mares abertos talvez não sejam cenários muito out there em jogos Super Mario, mas os elementos apresentados nos mesmos e o próprio humor do jogo, manifesto nas falas entre as personagens, tornam-nos únicos. O deserto de The Origami King não é apenas um mapa com areia e inimigos típicos do segundo mundo de um New Super Mario Bros.. É uma localização em que os Sniffits ocuparam uma cidade previamente habitada por Toads; onde se esconde um templo de tempos imemoriais; e… onde acabamos por ter uma dance jam épica num clube de disco. The Origami King é um jogo de uma criatividade enorme e há diversos momentos em que ficamos sem saber o que irá acontecer a seguir, mas em que continuamos com a certeza de que nos divertiremos imenso.

Ah, esqueci-me de referir? A dance jam é acompanhada por quarenta Toads sem cara!

   A apresentação audiovisual do jogo está também irrepreensível, e ajuda em muito a tornar esta jornada tão entusiasmante e refrescante como é. Cada parte do mundo de jogo tem uma música a acompanhar que se adequa na perfeição ao que ocorre no ecrã, havendo ainda várias peças soberbas para momentos específicos na trama, para certas personagens e ainda música revigorante para as batalhas. Já em termos visuais, como referido tudo é feito de papel, e tal como em Color Splash a direção artística é aqui fantástica, o mundo é vibrante, cheio de cor e o jogo de luzes está muito bem aplicado (aqui chamo a atenção para o interior do castelo, com um ambiente sombrio e iluminação por velas). Uma das queixas de alguns fãs face aos novos títulos é de que nos originais nem tudo era feito de papel e o foco era dado ao facto de se tratarem de histórias contadas num livro. Contudo, tendo jogado o original e agora The Origami King, julgo que esta abordagem estilística em nada prejudica a série. Pelo contrário, falho em ver como a Nintendo possa vir a melhorar em relação à direção aqui seguida. No máximo, imagino que futuras consolas poderão tornar a imagem mais nítida e permitir mundos ainda mais extensos e com novas ideias. O estilo artístico atual assenta que nem uma luva na série Paper Mario.

   Destaquei brevemente Olivia num dos parágrafos anteriores, e gostava de terminar aqui a análise dedicando-lhe de novo umas breves palavras. Olivia é das personagens secundárias mais interessantes que tive oportunidade de conhecer no meu percurso enquanto jogadora. De facto, talvez chamar-lhe uma personagem secundária seja já um abuso. Embora seja, no fundo, uma acompanhante de Mario, tem um papel muito ativo, dentro e fora dos combates, com várias falas (nos momentos iniciais do jogo, talvez até um pouco demais) e com poderes que serão essenciais para que a aventura chegue a bom porto (e que são bastante impressionantes, diga-se). Olivia está repleta de energia positiva, é um pouco tontinha nas suas piadas, é péssima a decorar nomes, mas pode também ficar mais ansiosa e menos confiante no seu sucesso. É uma personagem que se sente viva, à falta de melhor expressão, e que torna, por si própria, The Origami King num jogo muito melhor.

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Opinião Final:

   Tendo apenas ainda jogado o Paper Mario original da Nintendo 64 e este último, não tenho total compreensão da fase mais negra da série a respeito da qual muitos fãs se lamentam. Contudo, posso afirmar sem dúvidas que mesmo assumindo que os últimos lançamentos merecem tantas críticas como se viu nos últimos anos, The Origami King é um jogo fantástico que em nada fica atrás do primeiro título da série. Com uma apresentação audiovisual fenomenal, personagens carismáticas e que se sentem reais, com claro destaque para Olivia, um sistema de combate melhorado e com puzzles divertidos, escrita excelente e diálogos naturais e engraçados, e em geral bastante polido, The Origami King é dos melhores jogos que já tive oportunidade de jogar na Nintendo Switch. Fiquei bastante indecisa quanto a que nota colocar no final da análise e facilmente lhe poderia ter adicionado meio valor. Independentemente da mesma, este trata-se de um jogo obrigatório para qualquer detentor de uma Nintendo Switch.

Do que gostamos:

  • Apresentação audiovisual soberba;
  • Excelentes diálogos e escrita em geral, com um humor «no ponto»;
  • Personagens carismáticas e«vivas», com claro destaque para Olivia;
  • Um dos jogos Mario mais emocionalmente profundos e diversos;
  • Sentimento geral de estar sempre a acontecer algo de inesperado e diferente de tudo o que vimos anteriormente;
  • Sistema de combate divertido…

Do que não gostamos:

  • mas que ainda assim nos deixa, a um nível muito reduzido, com algum desejo de evitar certos confrontos;
  • Puzzles dos combates falham muitas vezes em encontrar um ponto em que as suas soluções não sejam nem demasiado óbvias, nem demasiado elusivas;
  • Olivia poderá falar e ajudar-nos em demasia no início do jogo, lembrando-nos de outras infames personagens coadjuvantes em jogos Nintendo.

Nota: 9/10