Foi em julho de 2013 que os adoráveis Pikmin saltaram para os ecrãs das nossas televisões e dos nossos Wii U GamePads, trazendo consigo toda a sua vivacidade para uma terceira aventura no mundo inóspito para Koppaites (membros da civilização de que fazem parte as novas personagens, Alph, Brittany e Charlie) e Hocotatians (membros da civilização de que os já velhos conhecidos Olimar e Louie fazem parte), PNF-404.
No passado dia 30 de outubro, esta aventura juntou-se ao conjunto de títulos exclusivos da Wii U que migraram para a atual consola híbrida da Nintendo, sob a designação de Pikmin 3 Deluxe. Se há algo que temos vindo a descobrir ao longo dos últimos 3 anos, no entanto, é de que alguns destes ports são mais deluxe do que outros, com variações substanciais ao nível de novo conteúdo introduzido, assim como ao nível de alterações feitas ao material original. Aqui o que nos importará será sobretudo quão deluxe é esta nova edição, pelo que, apesar de se fazer aqui uma breve exposição do conteúdo base já presente na versão Wii U, o foco será no que há de novo. Tal irá mesmo refletir-se, como verão, na nota final.
Em Pikmin 3, a Nintendo apresentou-nos um jogo de estratégia em tempo real que, de forma semelhante às duas entradas anteriores, mas fugindo à norma do género, somos levados para um planeta rico em vida e cor, mas simultaneamente pós-apocalíptico, em que encontramos vários vestígios de atividade humana, o planeta PNF-404. As personagens que controlávamos no decorrer da campanha não são, contudo, habitantes do mesmo, sendo antes astronautas provindos do planeta Koppai com a missão de obter comida e recursos para alimentar a população em risco do seu planeta natal – é no que resulta a exploração de recursos sem limite e falta de planeamento a longo prazo.
Tal como nos anteriores jogos da franquia, controlamos seres híbridos entre planta e animal de minutas dimensões: os Pikmin. Para lá dos já conhecidos Pikmin vermelhos (fortes em combate e resistentes ao fogo), azuis (que podem nadar) e amarelos (resistentes à eletricidade), nesta terceira entrada ficámos a conhecer pela primeira vez os Pikmin rochosos (que partem gelo e vidro e causam grandes danos de uma acentada aos inimigos) e os Pikmin alados (que bem… voam, embora sejam fracos em combate). Com estas criaturas amigáveis e adoráveis devemos apanhar fruta, derrotar predadores e descobrir segredos, como artefactos da anterior civilização reinante de PNF-404 ou partes da nossa nave (que não nos proporcionou uma aterragem muito suave, digamos). Tal é feito durante expedições diárias, as quais nesta versão Deluxe têm uma duração em minutos diferente consoante o nível de dificuldade que escolherem (18 minutos na dificuldade Normal e 13 minutos na dificuldade Hard e Ultra Spicy). Com a fruta coletada poderão fazer sumo na nave, o qual irão guardar em frascos. Estes servem como mantimentos para a tripulação, que a cada dia que passa consome um destes frascos, o que origina mais um elemento de gestão num jogo em que devemos controlar o que fazer com os 3 astronautas (que podemos controlar em grupos diferentes, cada um ordenando aos Pikmin que realizem determinadas tarefas) a toda a hora.
Tendo descrito de uma forma geral em que consiste a experiência de jogar Pikmin 3, passemos a pontos negativos e positivos da mesma. Começando por considerar o que há de bom (e é bastante), notamos o quão viciante é o jogo e quão equilibrado é o ritmo, assim como a maneira como o jogo gere tanto o desejo natural dos jogadores de quererem explorar cada canto do mapa, e a vontade de ver mais um pequeno trecho do enredo no intervalo entre os dias (dependendo de a que tarefas se irão dedicar). Em segundo lugar, não há como deixar de mencionar a direção artística e a qualidade gráfica, ambas excelentes: embora algumas texturas e efeitos deixem claro que estamos a falar de um jogo de há 7 anos para uma consola já na altura não muito potente, este é um título que nos enche a vista de forma constante. Finalmente, os diálogos que as personagens mantêm entre si (com Alph e Charlie ambos claramente atraídos por Brittany, por exemplo), e o carisma de cada uma delas (incluindo os vários Pikmin, fazendo com que sintamos um aperto no coração sempre que um deles morre) ajudam a manter um tom relaxado e despreocupado quando estamos a lidar com um tema que poderia muito facilmente tornar-se muito sério e deprimente.
Já no que toca ao lado mais negativo de Pikmin 3, o único que sinto ser obrigatório mencionar é o facto de que apesar de conter diálogos interessantes e personagens carismáticas… o enredo é fraco e quase não-existente. Ao longo do jogo pensei sempre que um determinado objetivo que nos é proposto fosse apenas um primeiro goalpost que tivesse de alcançar para depois a estória seguir por um rumo mais interessante. E eis que me deparo com os créditos e a achar até mesmo ao segundo final que de certeza que deve haver algo mais… mas não havia. É precisamente por isto, que uma das adições de Pikmin 3 Deluxe é tão desapontante. Mas já lá vamos.
Passemos, então, ao que há de novo em Pikmin 3 Deluxe. Comecemos por algo de… ambíguo. Um dos pontos fortes do lançamento original para a Wii U era a variedade de controlos disponível, proporcionada pela presença tanto do Wii U GamePad e a possibilidade de se jogar em dois ecrãs em simultâneo, como da compatibilidade com os comandos Wii Mote, para muitos o comando ideal (dado o controlo por movimentos) para se jogar Pikmin com. Dadas as diferenças de hardware entre as duas plataformas, Deluxe não traz uma variedade tão grande de opções de controlo. Existe na mesma a hipótese de usar os Joy-Con para este efeito, mas dada a diferença em termos de precisão, a experiência está longe da suavidade da que vimos na Wii U. Estamos, assim, quase que restringidos a usar um método mais tradicional de controlos. Mas se por um lado estamos restringidos a este nível, por outro lado deram-se uma série de melhorias face à versão original a nível de acessibilidade. A navegação pelo mapa do cenário é agora muito mais intuitiva, é possível chamar os Pikmin todos para junto da nave ao final do dia, há um pequeno mini-mapa no canto do ecrã (o que simula em parte, a funcionalidade de ter sempre o mapa ao nosso dispor com o GamePad), entre outras adições ou alterações menores que tornam a experiência mais divertida e que acabam por fazer a diferença.
Ao contrário dos controlos e da acessibilidade, não podemos dar uma opinião sequer ambígua sobre a apresentação gráfica desta nova versão. Se é verdade que o jogo continua com um ótimo aspeto, é dececionante que a resolução não tenha sofrido qualquer melhoria, não passando dos 720p, mesmo em modo docked. Igualmente, em termos de performance não há aqui melhorias substanciais, tirando certos pontos em que a versão Wii U tinha mais dificuldades, como na animação de se espremer a fruta para fazer sumo. Tirando estes pequenos pontos, contudo, não havia aqui em primeiro lugar uma real necessidade de melhorias. Pedia-se mais a Pikmin 3 Deluxe, e a falta de sequer uma pequena melhoria em termos gráficos não deixa de ser dececionante.
Talvez a maior novidade seja a possibilidade de agora se jogar toda a campanha em modo cooperativo para dois jogadores. Infelizmente, apenas localmente numa única consola, pelo que precisarão também de comandos extra. Esta é uma boa adição, e, caso tenham alguém com quem partilhar a jogatina, tal pode ser uma boa razão para pensarem mais seriamente em apostar neste jogo agora na época natalícia. Pikmin 3 faz-nos andar a completar puzzles e a gerir 3 astronautas ao mesmo tempo em várias partes do jogo, sendo o jogo perfeito para adicionar um modo como este.
A par da adição do modo cooperativo, a grande novidade de Deluxe é sem dúvida o Prólogo e Epílogo em que controlamos Olimar e o seu companheiro esfomeado e um pouco desmiolado, Louie. Esta é, contudo, de longe a novidade mais desapontante deste port, e em especial pela maneira como foi anunciada. Esperávamos aqui um pouco mais, algo como dois novos capítulos interessantes que viessem acrescentar algo de significativo ao enredo. Em especial, dado um final que se sente deveras incompleto e com “sabor a pouco” no jogo base, esperávamos aqui encontrar algo de mais substancial no epílogo. O que encontramos, no entanto, é algo com ainda menos interesse: simplesmente um conjunto de novas missões em que controlamos Olimar e Louie, as quais têm por base um “enredo” que para pouco mais serve do que para lhes dar um mínimo de união e justificação do modo mais básico possível. É difícil sequer chamar a estas novas missões de desafio um prólogo e epílogo, respetivamente, dada a quase total ausência de conteúdo em termos narrativos.
Considerando tudo o que há de novo aqui, temos de ser francos: Pikmin 3 Deluxe não trás conteúdo novo suficiente para justificar um investimento de 59.99€, especialmente quando temos em consideração o facto de o original da Wii U já ter sete anos e estar disponível há anos por 19.99€ através da linha Nintendo Selects. É raro ver a Nintendo a desvalorizar os seus jogos ao longo do tempo, como é padrão para praticamente todas as restantes companhias na indústria, mas Pikmin 3 pertencia a uma coleção de jogos da Nintendo que ficaram bastante mais acessíveis, tornando este preço mais difícil de engolir. É verdade que aqui encontramos num único pacote o jogo base, com todos os conteúdos extra descarregáveis (nomeadamente missões de desafio que foram sendo lançadas), assim como novos modos de dificuldade, novas missões e a possibilidade de jogar a campanha em modo cooperativo. Mas, ainda assim, faz-se sentir de forma bastante presente a falta de… algo mais.
Opinião Final:
Pikmin 3 Deluxe é sem dúvida a melhor forma de experienciar este adorável jogo de estratégia em tempo real. Apesar dos seus sete anos, continua a ser tão relaxante, viciante e em geral divertido como sempre fora. Com uma apresentação que deixa em pontos algo a desejar, mas que continua no geral bastante agradável, mapas vastos que abrem o apetite à exploração e várias situações cómicas e de boa-disposição, a parte correspondente ao jogo base mantém-se sólida.
Caso esta fosse uma análise a Pikmin 3, ficaríamos por aqui, e facilmente lhe atribuiríamos um 8/10. Estamos, no entanto, a analisar a versão mais recente deste título, para a Switch, e, tal como no caso de outros ports de jogos anteriormente exclusivos da Wii U, temos de considerar o quão deluxe é realmente a mesma. E sobre esta versão podemos dizer algumas coisas positivas, como ter tornado a experiência mais aprazível e acessível e incluir a possibilidade de jogar a campanha em modo cooperativo, mas infelizmente pouco mais do que isso. Com um prólogo e epílogo desapontantes, uma apresentação audiovisual praticamente idêntica à do original, e a limitação do modo multijogador a uma experiência local, sentimos que muito mais poderia ter sido feito na transição deste título para a Switch. Pikmin 3 Deluxe chega-nos assim como um port algo desapontante de um jogo bastante memorável dos tempos da Wii U e que já vem merecendo uma sequela.
Do que gostamos:
- Experiência original Pikmin 3 está cá toda, com tudo o que tem de bom: tom relaxado, cenários de encher a vista, mapas vastos que nos deixam curiosos por explorar mais e mais, etc.;
- Novo modo cooperativo local é ideal para um jogo como este;
- Integração silenciosa, mas eficaz, do HD Rumble;
- Diferentes modos de dificuldade permitem-nos ter uma experiência mais à nossa medida;
- Várias melhorias na interface e controlos que tornam o jogo mais acessível e divertido;
- Todo o conteúdo extra está aqui incluído, assim como um novo prólogo e epílogo.
Do que não gostamos:
- Aquilo que há de negativo em Pikmin 3 também se mantém, nomeadamente o desaproveitar daquela que poderia ter sido uma narrativa interessante e uma conclusão insatisfatória;
- O prólogo e o epílogo são enormemente desapontantes, não adicionando nada à narrativa;
- Não houve um esforço em melhorar a resolução, que se mantém nos 720p;
- Passagem para a Nintendo Switch limita ligeiramente as opções de controlo.
Nota: 7/10