Com a crescente popularidade da híbrida da Nintendo, a ansiedade dos fãs por um título de Pokémon para a Switch era cada vez maior. Apesar do desejo de um novo título da série, o sucesso de Pokémon Go acabou por invariavelmente ditar que o “novo” título tivesse alguma ligação ao jogo para telemóveis, chamando assim novos e antigos fãs.
Ao invés de um novo título na série, a The Pokémon Company decidiu antes lançar aquilo que é, na sua essência, uma espécie de remake de Pokémon Yellow, mas com toda uma máscara de Pokémon Go em cima, que resulta em várias mudanças, não conseguindo agradar a gregos e a troianos.
Sei que após uma afirmação destas, e estando a falar de um remake, é fácil achar que Let’s Go, Eevee! (ou Pikachu, dependendo da vossa preferência) não passa de um apelo nostálgico para levar os fãs a pagarem por um jogo que já saiu há umas décadas. Mas a verdade é que, através de algumas alterações que nunca acharíamos necessárias e da ligação a Pokémon Go, foi aqui criado um tipo diferente de Pokémon, que poderá muito bem dar o mote para futuros jogos da série.
Longe estão os gráficos do velhinho Game Boy. Na Switch têm a oportunidade de explorar Kanto em toda a sua glória e os gráficos não desiludem em nenhum momento. O nível de detalhe faz com que queiramos explorar todos os cantinhos, todas as casas e cavernas – basicamente não deixar um bocadinho que seja por descobrir. Para quem já conhece Kanto de trás para a frente, podem ficar descansados porque apesar de estarmos a falar de um remake, encontraram muitos detalhes que vos serão decerto familiares, assegurando que se sentirão perfeitamente em casa.
A grande mudança, e que faz com que esta seja uma nova experiência para velhos ou novos fãs, dá-se mesmo ao nível da jogabilidade. Esqueçam as inúmeras viagens até ao meio da relva para ver se era desta que apanhavam aquele Pokémon que vos faltava. Agora podem ver no cenário constantemente os Pokémon selvagens em toda a sua glória. Caso ainda não tenham um Psyduck, atirem-se a ele assim que o virem! E preparem-se para um combate muito diferente daquele a que estão habituados.
O combate contra os Pokémon selvagens é uma adaptação directa do combate de Pokémon Go, focando-se mais nas tentativas de captura com as PokéBolas do que propriamente em ataques. Quando estiverem frente-a-frente com um Pokémon, irão deparar-se com um círculo colorido (cuja cor irá graficamente ditar a dificuldade de captura) e terão de usar esse círculo como uma espécie de alvo, lançando a PokéBola no momento certo. Caso estejam a jogar em modo docked, podem usar os joycons ou o Poké Ball Plus (com cuidado, não os atirem contra a televisão!) para simular o movimento e assim adicionar um pouco de realismo à coisa. Pessoalmente, prefiro muito mais as mecânicas de captura em modo portátil, em que tudo parece mais fácil e mais preciso – o que é ainda mais importante quando estamos a tentar apanhar aquele elusivo Pokémon, pela enésima vez.
Os mais puristas irão decerto já torcer o nariz a esta grande mudança, mas não tenham medo, o combate à moda antiga mantém-se quando têm de enfrentar outros treinadores, quer no meio da rua, quer nos ginásios. De resto, no que toca a apanhar Pokémon selvagens, o mito é verdade. A dificuldade acaba por ser bastante reduzida mas também acaba por ser cortado todo um processo que tanto era divertido para alguns como desnecessário para outros. Para os mais coleccionistas, vão ver que é muito mais fácil completarem a vossa Pokédex, vendo exatamente no cenário que Pokémon podem tentar apanhar. No entanto, estas capturas geram pontos de experiência para os vossos Pokémon, pelo que eventualmente vão ver-se a braços com 15 Meowths, só porque sim. Os random encounters que poderiam ser vistos como mais um obstáculo e uma quebra de ritmo do jogo, quando só querem ir do ponto A ao ponto B, deixaram de existir.
Por falar em carradas de Meowths, e com o facto de que irão decerto acumular quantidades obscenas de Pokémon, devem-se estar a perguntar o que fazer com tanta bicharada. Para já, o jogo incentiva-vos a apanharem vários espécimes do mesmo Pokémon, criando uma espécie de cadeia. Esta irá fazer com que vão apanhando Pokémon com estatísticas cada vez melhores (acreditem que ao décimo Meowth já vão notar). O excesso de Pokémon podem e devem enviar para o Professor Oak, que por sua vez vos recompensa com Candy, os quais posteriormente podem usar para melhorar os vossos Pokémon, assegurando que conseguem dar uma abada a todo e qualquer treinador que encontrem pelo caminho.
Para vos ajudar, podem chamar um segundo jogador a qualquer momento, que muito pouco pode fazer para além de vos ajudar nas lutas contra outros treinadores. Ainda assim, todas estas mudanças e esta adição de um ligeiro modo cooperativo faz com que Let’s Go, Eevee! seja o título ideal para que os fãs de Pokémon de outrora introduzam a série às novas gerações. Mesmo que não sejam fãs de Go, é inegável que a experiência se torna muito mais fluida e muito menos propensa a cansaço por parte do jogador devido ao interminável grind que existia antes.
Por outro lado, a sensação de apego aos Pokémon sai bastante reduzida, à excepção de Eevee, que acompanha sempre o jogador em cima do seu chapéu. Eevee ou Pikachu são adoráveis e são uma verdadeira mascote, sendo possível dar-lhes festinhas, doces e até vestir-lhes roupas para andarem a condizer com a vossa personagem. No entanto, o resto dos Pokémon que vos acompanham acabam por ser relegados a um papel excessivamente secundário. Para além dos treinadores que vão encontrando, não existem oportunidades de irem treinando os vossos Pokémon e acompanharem arduamente o seu progresso. Não existem mundos perfeitos e ao removerem uma componente tão essencial do jogo base, melhoraram um aspecto, mas acabaram por potencialmente prejudicar outro.
Apesar de à primeira vista não o parecer, Let’s Go, Eeevee! mantém ainda muito daquilo que os jogadores de Pokémon conhecem. Continua a ser importante considerarem qual o melhor tipo de Pokémon a levar para uma batalha, bem como construir uma equipa forte, tendo sempre atenção às habilidades de cada um e respectivas estatísticas. Apesar de serem aspectos importantes que decerto não serão descurados pelos jogadores mais veteranos, os novatos têm amplas oportunidades de irem descobrindo estes detalhes por si mesmos e adaptando o seu estilo de jogo de acordo.
Para finalizar, não posso deixar de referir a grande ligação que este jogo tem a Pokémon Go. A captura dos Pokémon não se inspira somente no jogo para telemóveis, aliás a inserção deste detalhe não é à toa. Se tiverem uma conta de Pokémon Go, podem sincronizá-la com o vosso jogo e migrar os vossos bichinhos para a vossa Switch. É uma adição que pode perfeitamente passar-vos ao lado, mas para os jogadores mais inveterados de Go é sem dúvida um detalhe que acaba por misturar os dois mundos de um modo bastante engraçado. Finalmente é possível apanhar Pokémon na vida real e utilizá-los para ganhar os badges de todos os ginásios em Kanto. E isto decerto que é algo com que muitos de nós nem sequer sonhávamos alguma vez poder vir a fazer.
Opinião Final:
Apesar de ser defensora da máxima “em equipa que ganha não se mexe”, sou também daquelas pessoas que agradece o refrescamento que Pokémon levou neste Let’s Go, Eevee! Traduzindo-se numa experiência mais leve e que pode ser partilhada por todos, Let’s Go, Eevee! vale-se do saudosismo dos fãs e da febre de Pokémon Go em medidas iguais, resultando numa experiência de jogo coesa, adorável e, acima de tudo, bem divertida. Este não é bem o Pokémon a que estamos habituados, mas é uma mudança bem vinda que mostra que pode haver um equilíbrio entre a experiência mais da velha guarda, e uma febre que atingiu muita gente.
Do que gostamos:
- Pokémon Yellow nunca teve tão bom aspecto!;
- A ligação a Pokémon Go abre as portas a todo um novo mundo de fãs;
- O grind foi dramaticamente reduzido, resultando numa experiência mais fluida;
- Finalmente posso ver os Pokémon à solta!
Do que não gostamos:
- Limitação do combate apenas contra treinadores;
- A captura de 40 Pokémon iguais de seguida é um pouco sem sentido, mesmo com “combos” à mistura;
- A experiência está mais fluida, mas também bastante mais fácil.
Nota: 8,5/10