Pokémon Shield: The Crown Tundra – Análise

Na análise à primeira parte da expansão para os mais recentes jogos Pokémon da série principal, The Isle of Armor, manifestei alguma surpresa e contentamento com as diversas melhorias face às versões base de Sword e Shield, tendo mesmo afirmado que este novo conteúdo era exatamente aquilo que esperava das mesmas (doravante apenas irei referir Pokémon Shield, dado ser essa a versão cujo conteúdo adicional tive oportunidade de jogar). Agora, contudo, trata-se de analisar a segunda parte da expansão e de chegar a uma conclusão sobre o Expansion Pass como um todo. Será que The Crown Tundra consegue manter ou até mesmo melhorar a experiência face à experiência pela Isle of Armor?

Se em junho, com o Verão prestes a começar, uma viagem para treinar num dojo numa ilha exótica e maioritariamente solarenga vinha mesmo a calhar, agora em outubro, em pleno Outono, é altura de andar com mais agasalhos, e, em alguns pontos do mundo, dar as boas-vindas às paisagens cobertas de branco típicas desta altura do ano. Por isso mesmo, de forma bastante adequada, o Expansion Pass de Pokémon Shield leva-nos agora com esta segunda expansão, The Crown Tundra, numa jornada de descoberta das lendas de uma região gelada no Sul de Galar.

Pokémon Sword/Shield: The Crown Tundra

Bem-vindos a uma nova zona de Galar!

Melhorando muitos pontos negativos ou menos positivos presentes no lançamento da nova geração, The Isle of Armor marcou uma viragem na minha perceção dos novos jogos Pokémon. Agora já podia ter mais esperanças nos títulos seguintes e recomendar sem receios a mais recente proposta da Game Freak. Mas se era verdade que muito me agradou – a redução de problemas de FPS; a variedade de ambientes a explorar na ilha; o regresso de alguns dos Pokémon mais queridos dos fãs… – alguns problemas persistiram. Aqui gostaria de salientar dois deles. O primeiro é de que durante a parte intermédia da campanha, me vi obrigada a fazer grind para poder prosseguir até às fases finais da mesma. Tal reduziu bastante o ritmo de uma campanha que de outra forma estava bem organizada. O segundo problema passava por, apesar das melhorias, se notarem quedas de FPS em certas partes da ilha, e em especial na transição para a Florest of Focus.

Estes dois pontos são aqui simplesmente salientados para notar que, felizmente, The Crown Tundra representa uma melhoria substancial em ambos os aspetos (um deles com um preço a pagar, como se verá). Durante as horas que passei a explorar as paisagens nevadas da nova expansão, deparei-me com apenas muito raras quedas de FPS em momentos em que mais Pokémon apareciam no ecrã. Continua a existir bastante pop-in, mas mesmo as quedas de FPS que restam são muito mais suaves. Fiquei bastante agradada com quão mais estável a experiência agora se apresenta com esta que será a última grande atualização em termos de conteúdo para Pokémon Shield. Já quanto à ausência de grind, teremos de dizer mais.

Como separar e reunir o Calyrex do Glastrier ou Spectrier na Crown Tundra do Pokémon Sword & Shield | Dot Esports Brasil

Muitos mistérios nos esperam na tundra.

Ao passo que em The Island of Armor nos era apresentada uma campanha (embora curta e nada do outro mundo), em The Crown Tundra custa-nos sequer dizer que temos um enredo a acompanhar a nossa jornada. Tudo é ainda menos linear do que era na primeira expansão e as poucas interações com personagens que há servem praticamente todas o propósito de nos dar o pano de fundo da nossa partida à descoberta de Pokémon lendários. Quando nos vários trailers e materiais promocionais a Game Freak dava destaque ao regresso de vários destes míticos Pokémon, tal não se tratava de um mero destaque entre outros: todo o conteúdo desta nova expansão gira em tornos dos mesmos, e todas as atividades do jogo envolvem tentar apanhá-los.

Mas vamos por partes. Como chegamos a um ponto em que temos tantos lendários por apanhar? Tal como em The Isle of Armor, começamos a nossa aventura ao receber um passe que nos permite aceder através das linhas de ferro a uma nova área de Galar. Ao chegarmos à mesma, damos de caras com uma paisagem toda coberta de neve  e com duas figuras bastante… peculiares: Peony, o irmão mais novo do infame chairman Rose,  e a sua filha, Peonia. Peony havia planeado toda uma adven-TOUR para os dois passarem tempo de qualidade juntos, mas a sua filha não é menina do papá e quer ir à sua vida, para participar em Max Raids. Como sempre acontece em videojogos, lá metemos o nariz em tudo o que seja chamativo à nossa volta, e acabamos por pactuar com Peonia, deixando-a partir sozinha para o Max Lair (já falaremos desta área), e tomando o seu lugar na adven-TOUR planeada por Peony.

Freezington será como que o hub desta nova expansão.

Somos então levados até uma aldeiazinha isolada no meio da tundra – adequadamente chamada Freezington – onde se situa a base de operações da nossa “equipa” de exploração. E aqui digo “equipa” pois ao chegarmos a Freezington e falando com Peony descobrimos que: i) não vamos contar com a sua participação ativa na exploração, afinal de contas não somos a sua filha; ii) temos direito a uma farda de exploração toda catita; e iii) as atividades que este tinha planeado fazer com a sua filha consistiam em nada mais, nada menos do que partir à descoberta das lendas desta região remota.

Toda a apresentação e momentos de diálogo com Peony são hilariantes, e esta é sem dúvida uma das mais carismáticas (e já agora, uma das minhas favoritas) personagens de todo o jogo. Aqui The Crown Tundra brilha em relação a The Isle of Armor: as personagens sentem-se mais vivas e são no geral mais interessentes de conhecer e de manter diálogos com. Infelizmente, aqui voltamos, embora de forma bastante mais ligeira, a um problema que senti ao percorrer a campanha do jogo base: as personagens e cenários eram bastante interessantes, mas também eram imensamente desaproveitados. Nomeadamente, pedia-se aqui um pouco mais de enredo, ou algo de mais interessante que não quase que apenas uma justificação para partirmos à caça de Pokémon lendários de nova e velha ordem. Personagens como Peony e Peonia mereciam ser melhor aproveitadas, embora nos façam rir bastante e facilmente criemos uma ligação com elas.

Análise: Pokémon Sword/Shield - Crown Tundra | Hyped

Quem é o melhor pai do mundo? Quem é?

Pondo as coisas sob outra perspetiva: tal como muitas vezes ao assistirmos a apresentações, alguns efeitos visuais e piadas bem colocados nos distraiam de falta de conteúdo substancial, também em The Crown Tundra termos personagens e uma apresentação que não se leva a sério poderá baixar os nossos padrões relativamente a o que um enredo deve cumprir. Como referido anteriormente, não nos deparamos aqui com um sentimento de fastio devido a termos de fazer grind para avançar na campanha. Mas a forma de como este problema foi eliminado passa por uma falta de linearidade que, sendo positiva, acaba por se revelar um quanto insatisfatória quando consideramos que não há grande motivação para explorar a nova Wild Area a não ser procurar Pokémon lendários.

Quanto à adven-TOUR propriamente dita, não irei dizer muito para não estragar a surpresa, mas essencialmente terão de decifrar pistas de forma a descobrir alguns lendários já conhecidos, assim como versões novas dos mesmos e ainda o rei da tundra, que vem pôr a coroa em The Crown Tundra. O novo lendário, Calyrex, tem a sua própria estória e uma relação bastante íntima com a povoação de Freezington. E aqui reside a parte mais interessante de toda a “campanha” – ficar a saber mais sobre as lendas de Galar (fortemente inspiradas pelos mitos mais antigos dos povos que habitaram o atual Reino Unido) é sempre interessante. Posso ainda dizer-vos que apanhar lendários não será sempre pêra doce, requerendo alguma paciência e persistência. Se fazem parte daquele conjunto de jogadores que acharam toda a experiência até agora com Pokémon Shield demasiado acessível, esta pode ser uma boa lufada de ar fresco, muito embora o desafio associado a esta expedição seja muito mais um teste à vossa paciência do que algo de propriamente difícil de levar a cabo.

Crown Tundra' footprints: How to find Iron Will, Grassland, Cavern Pokémon

O entusiasmo de Sonia é contagiante.

Estando nós a falar de exploração, é claro que não podia deixar de aparecer de algum modo Sonia, a neta da professora Magnolia que se ocupa a investigar profundamente o fenómeno Dynamax (em que os Pokémon assumem uma forma gigantesca). Em The Crown Tundra o seu papel é praticamente nulo, mas dá-nos a justificação para nos entretermos a fazer uma atividade que lembra os Diglett em The Isle of Armor, ou os Koroks em The Legend of Zelda: Breath of the Wild. Três Pokémon lendários andam por certas áreas da tundra, e queremos encontrá-los e capturá-los. Para isso, no entanto, devemos coletar evidência suficiente para os localizar, o que iremos fazer descobrindo pegadas espalhadas pela Wild Area. Ao contrário dos outros dois exemplos, contudo, aqui as pegadas são em número maior do que aquele necessário para conseguir localizar o alvo, o que ajudará a que não se fartem de andar à procura e desistam de apanhar algum destes Pokémon. Apesar deste facilitismo, há algo aqui que continua a ser bastante viciante. Diverti-me muito durante o tempo em que andei à procura das pegadas (embora não tanto com a parte de capturar os Pokémon em si), e espero que esta funcionalidade continue a figurar, de uma forma não-invasiva (como até agora), em futuros jogos da Nintendo.

Já me referi ao Max Lair, e poderão continuar com a pulga atrás da orelha quanto a o que isso seja. De facto, passamos pelo mesmo antes de chegar sequer a Freezington, sendo que explorá-lo é a primeira coisa que fazemos ao começar a nossa experiência com The Crown Tundra (bem… tirando ter de lidar com Peony e Peonia). Tal como o nome vos poderá ter sugerido, e como aludi acima, lidamos aqui com um sítio especial – uma espécie de gruta com vários caminhos – em que podemos participar em Max Raids de um tipo diferente, chamadas Dynamax Adventures. Sem entrar em longas descrições, essencialmente contamos aqui com um conjunto ordenado de confrontos com Pokémon em forma Dynamax, como de costume, sendo que podemos ir escolhendo qual o tipo de Pokémon (de entre um número limitado pelos vários caminhos que podemos seguir na gruta) com que nos iremos defrontar. No final da aventura, iremos invariavelmente deparar-nos com um Pokémon lendário, o qual podemos capturar caso derrotemos a sua forma gigante.

Dynamax Adventure

Que lendário vos aguardará no final?

Tal como as restants Max Raids, também as Dynamax Adventures podem ser completadas individualmente ou com amigos. Tal tornou esta uma boa forma de jogar um pouco de Pokémon com amigos, e a presença certa de um lendário no final da partida (embora só fiquemos a saber qual o lendário no momento do confronto com o mesmo) torna estas aventuras muito mais atrativas. Tal como as restantes raids, no entanto, poderão tornar-se um pouco fastidiosas em períodos mais longo de tempo. Tal não quer dizer que sejam aborrecidas ou de baixa qualidade, mas simplesmente de que são algo de divertido para períodos relativamente mais breves de tempo (um par de horas em vez de uma tarde).

Tendo descrito de uma forma breve vários dos elementos desta nova expansão, poderão ter notado quão constante é a presença de Pokémon lendários. Tal poderá levantar a questão legítima de se em The Crown Tundra não há uma trivialização do que significa apanhar um Pokémon lendário. Mesmo na quarta geração, em que havia uma grande quantidade de novos lendários e preocupações começaram a surgir quanto a esse ponto, cada vez que apanhava um dos de maior destaque, tal sentia-se como algo único e épico. Infelizmente, acho que a presença de tantos Pokémon lendários e o foco constante nos mesmos, torna estes momentos um pouco menos únicos, em especial no Max Lair. Tal deve-se especialmente ao facto de a Game Freak ao adicionar Pokémon de jogos anteriores à PokéDex de Pokémon Shield, querer dar-lhes alguma presença no jogo que não se reduza à possibilidade de os transferir a partir da aplicação Pokémon Home.

Legendaries returning to Pokémon Sword and Shield.

Estão todos de volta!

Como referi na análise a The Isle of Armor, a ausência de uma National Dex que contenha todos os Pokémon nunca me causou transtorno. De facto, agora olhando para trás, julgo que esta nova aproximação da Game Freak à introdução de Pokémon de gerações anteriores foi bastante positiva. Contando versões Alolan e Galarian de alguns destes monstros de bolso, o número total de Pokémon começa a aproximar-se bastante dos 1000. É muito Pokémon! Especialmente para novos fãs ou de velha guarda que tenham estado afastados e agora queiram voltar, a presença de demasiados destes Pokémon pode-se tornar facilmente assoberbante. Assim, espero que em futuros jogos de novo seja dado destaque durante a campanha aos novos Pokémon, e que sejam introduzidos outros de forma gradual, seja mais tarde com atualizações, ou no endgame, em novas áreas para explorar. Espero igualmente, contudo, que não seja dado um passo atrás e que seja possível desde logo transferir todos os Pokémon a partir da aplicação Pokémon Home, assim como espero que a Game Freak e a The Pokémon Company comuniquem de uma forma muito mais clara e positiva com os fãs. A comoção que existiu em torno do lançamento dos novos jogos Pokémon foi lamentável, e de certa forma prejudicou a experiência de alguns dos jogadores que visitam sites de videojogos e leem comentários pela internet afora. Em parte tal deveu-se a algumas reações exageradas por parte de comunidades online, mas em parte tal também se deveu a uma falta de cuidado e de comunicação clara por parte dos responsáveis por Pokémon Sword e Shield.  Pessoalmente a forma como espero que este conflito seja resolvido passa por continuar a ter uma campanha sem demasiados Pokémon diferentes, mas com a possibilidade logo à partida de trazer connosco para uma nova geração de jogos Pokémon os nossos amigos de longa data. Anima-me que seja nessa direção que Pokémon parece estar a evoluir.

Mas, voltando à questão de como são os momentos em que apanhamos lendários, sejam estes ligeiramente menos únicos ou não, a verdade é que continua a ser bastante entusiasmante andar à caça de tantos Pokémon tão admirados e reconhecidos como pesos pesados para qualquer equipa. O meu coração dá sempre um pequeno saltinho quando vejo um lendário de que sempre gostei a aparecer à minha frente no final de uma Dynamax Adventure. Igualmente, foi bastante interessante andar a explorar uma parte de Galar em que mitos e realidade se entrelaçam.

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Prontos para voltar às luzes da ribalta?

Infelizmente contudo, e acho que este sim é um ponto de crítica mais substancial, esta expansão, em semelhança ao restante conteúdo disponível, dá-nos uma sensação geral de “então… e agora?”. Passo a explicar. Tendo apanhado tantos Pokémon lendários, e mesmo que o fazer seja já por si algo de bastante aprazível, ficamos com vontade de fazer algo com eles. Mas não há assim muito por onde escolher: podemos batalhar com amigos em linha, participar em Max Raids, e pouco mais. Apesar de uma caça aos Pokémon das lendas seja um bom tema para o conteúdo final desta geração, ficamos com um sentimento de falta de mais endgame, algo que já se notava no final do jogo base. Para ser justa, houve aqui a adição de um novo torneio que pode ser disputado em Wyndon, o Galarian Star Tournament, desbloqueado após completarem as missões principais de ambas as expansões. Contudo, este não se trata de mais do que um simples torneio em que iremos defrontar líderes de ginásio e treinadores destacados que fomos encontrando ao longo da campanha, escolhendo trabalhar em conjunto com um deles (eu escolhi Marnie para a primeira vez) em batalhas de 2 contra 2. Não é nada de especial, e após duas expansões mais entusiasmantes, este torneio sentiu-se um pouco anti-climático como derradeiro final da nossa aventura por Galar, muito embora tenha sido bom voltar a ver tantas caras conhecidas.

Finalmente, cumpre mencionar pontos mais gerais, que se mantêm relativamente idênticos à expansão anterior. A apresentação audiovisual continua competente, ainda que algo inconsistente. Em modo portátil não brilha, mas em alguns momentos a Switch produz efeitos visuais bastante agradáveis em modo TV. Já quanto à longevidade, esta parece estar mais ou menos em linha com a de The Isle of Armor, com a exceção de que Max Lair confere a The Crown Tundra uma muito maior longevidade.

Opinião Final:

Pokémon Sword e Shield não tiveram um lançamento muito famoso. Com a sua primeira expansão, contudo, vários dos problemas que o afligiam começaram a ser resolvidos. Será que The Crown Tundra segue essa tendência? Felizmente, podemos afirmar sem receios que sim, e em alguns deles, como no rácio de fotogramas por segundo, de uma forma substancial. De igual forma, aquilo que há aqui de novo, como a caça a novos Pokémon lendários e outros de velha guarda é no geral bastante positivo. Mesmo que tenham ficado desapontados com o jogo base, The Isle of Armor e agora The Crown Tundra vieram mostrar que é possível melhorar bastante sobre a sua fórmula, transformando-a numa boa experiência. Assim sendo, e embora retenha alguns pontos mais negativos, como não apresentar muitas atividades entusiasmantes para realizar após se completar o jogo, The Crown Tundra representa mais um passo na direção certa, um passo que nos dá esperança de que a próxima geração irá ser muito mais positiva e bem recebida do que os títulos da oitava geração. Tendo explorado ambas as expansões, podemos recomendar sem receios o Expansion Pass de Pokémon Shield, muito embora haja ainda bastante por onde melhorar em preparação para os títulos vindouros.

Do que gostamos:

  • Melhoria substancial na estabilidade do jogo;
  • Novas personagens bastante carismáticas;
  • Apresentação leve e divertida que não se leva demasiado a sério;
  • Regresso de vários Pokémon, incluindo todos os Pokémon lendários das passadas gerações;
  • Dynamax Adventures são uma boa adição, especialmente se puderem jogar com amigos;
  • Regresso da viciante mecânica similar aos Diglett em The Isle of Armor;
  • Partir numa jornada à procura das lendas desta região de Galar é simplesmente bastante emocionante.

Do que não gostamos:

  • Falta de mais de estrutura e enredo;
  • Ausência de atividades interessantes nas quais pôr os nossos recém-apanhados lendários em uso;
  • Ligeira trivialização de o que significa apanhar um Pokémon lendário;
  • Efeitos visuais permanecem um quanto inconsistentes, especialmente em modo portátil.

Nota: 7,5/10