Pokémon Shield: The Isle of Armor – Análise

Notas introdutórias

Desde que fora anunciado na E3 2017 que Pokémon iria de facto transitar para a consola híbrida da Nintendo, que os fãs desta longa e extremamente popular franquia ficaram bastante entusiasmados. E com razão para isso: Pokémon passaria, após mais de duas décadas, a ter um título da sua série principal de RPGs numa consola que permite gráficos em alta definição e que se pode conectar facilmente a uma televisão.

Apesar de pouco mais de um ano mais tarde, em novembro de 2018, a Switch ter recebido os seus primeiros títulos Pokémon, com Let’s Go Pikachu e Let’s Go Eevee, estes não eram exatamente os grandes novos títulos por que os fãs de longa data tanto ansiavam. Com a missão de introduzir novos jogadores – especialmente fãs de Pokémon Go –  à série de RPGs da mesma franquia, os jogos Let’s Go apresentaram-se como remakes dos títulos Pokémon da primeira geração, aos quais foram introduzidas várias mecânicas similares ao título mobile. Estes acabaram por introduzir algumas mudanças bem-vindas na série, como a possibilidade de ver os Pokémon a explorar o seu mundo, deixando para trás os confrontos aleatórios contra Pokémon invisíveis, mas mesmo assim foram recebidos por muitos como algo para entreter até à chegada dos grandes títulos de nova geração.

Esses mesmos jogos de nova geração chegaram um ano mais tarde, em novembro de 2019, em duas versões – Pokémon Sword e Pokémon Shield – e as expectativas estavam ao rubro… ou pelo menos estavam ao rubro até à E3 2019. Embora um pouco antes do grande evento uma Pokémon Direct tivesse anunciado vários novos Pokémon e funcionalidades que deixaram os fãs entusiasmados, um breve comentário durante a Nintendo Treehouse chocou muitos deles: Pokémon Sword e Shield não traziam consigo uma National Dex, sendo o primeiro título da série principal em que não seria possível, de uma forma ou de outra, obter todos os Pokémon existentes.

Zacian & Zamazenta Battles - Pokemon Sword and Shield

A ausência de National Dex começou uma longa guerra entre os fãs da série, em que pouco terá faltado para se chegar ao nível de Zamazenta.

Este simples facto precipitou uma onda de negatividade enorme que submergiu estes novos jogos durante meses, mesmo após o seu lançamento e até hoje. Explicações que a Game Freak dera para a ausência de Pokémon nos novos jogos foram postas em causa, e no geral houve um sentimento entre os fãs desapontados de que estas se tratavam de mentiras para “salvar a cara”. A controvérsia não se ficou pela National Dex, embora enumerar os vários eventos e reações nos levasse demasiado longe do propósito da presente análise. Um ponto importante a notar, contudo, é de que mais perto do lançamento, algumas informações do jogo parecem ter escapado e primeiras opiniões negativas começaram a surgir face a outras questões, tais como: a linearidade dos novos jogos; quedas de framerate na Wild Area (isto é, a área aberta à exploração e em que temos controlo da câmara nos novos jogos); a qualidade da apresentação visual; entre outros pontos, como a superficialidade do enredo. Tudo isto levou a que alguns fãs pedissem aos restantes que boicotassem o jogo, e a uma série de ameaças e comentários tóxicos dirigidos aos criadores do jogo nas redes sociais.

Embora pessoalmente não me importe de todo com a ausência da National Dex e continue a acreditar que houve um grande exagero em várias atitudes de muitos fãs, ao jogar Pokémon Shield, acabei por ficar desapontada e por confirmar várias das queixas mais razoáveis. A Wild Area pareceu-me completamente desconectada do resto do jogo e muito mal acabada; os novos Pokémon, personagens e cenários impressionaram-me… o que apenas tornou ainda mais decepcionante o quão desaproveitados foram; algumas das animações, incluindo em momentos cruciais do jogo, estavam péssimas… e a lista continua.

Pokémon Isle of Armor: how to get and evolve Kubfu, including how to become best friends • Eurogamer.net

Será que os punhos de Kubfu serão suficientes para afastar alguma desilusão com Pokémon Shield?

Lendo o último parágrafo, poderão pensar que detestei a minha experiência com Pokémon Shield. Tal, contudo, seria ir bem longe demais. No geral, Pokémon Shield conseguiu entreter-me e uma série de momentos e elementos foram bastante positivos. A título de exemplo: os Pokémon introduzidos nesta nova geração são os meus favoritos desde a quarta; as raids foram uma boa adição aos RPGs da série principal; as batalhas continuam divertidas; e a música do jogo agradou-me bastante. Assim sendo, o mais correto será dizer que a minha apreciação geral de Pokémon Shield é de que este consegue divertir, mas é um jogo com várias falhas, algumas delas graves.

O mais frustrante na altura em que completei Pokémon Shield foi a consciência, que acompanhou a experiência, de que não estamos aqui perante uma série obscura de JRPGs a que podemos perdoar muitas destas falhas, dado o orçamento e alcance limitado de novos lançamentos. Não estamos, por exemplo, perante um Ys VIII ou um Trails of Cold Steel III, em que animações mais robóticas e gráficos mais mauzinhos são facilmente perdoáveis por um bom desempenho noutros parâmetros. Estamos, sim, perante a série mediática que mais receitas gerou de sempre; com uma série de jogos de entre as mais vendidas de sempre também. Este facto, aliado à percepção de que a experiência de jogo poderia ter sido muito melhor se Pokémon Shield tivesse sido melhor trabalhado por mais uns meses ou um ano, foi o que me desiludiu especialmente com esta nova geração.

Pokémon Sword and Shield's Isle of Armor will release this month | VGC

Uma nova ilha, mais uma oportunidade de aprendizagem, desta vez num dojo, e uma oportunidade para os novos jogos Pokémon se redimirem perante muitos.

E eis então que chegamos ao anúncio do Expansion Pass de Pokémon Sword e Shield, em janeiro deste ano. A minha primeira reação foi positiva, e pareceu-me haver por parte da Game Freak um esforço genuíno em corrigir vários dos problemas do lançamento em novembro. Contudo, dada a desilusão com alguns elementos de Pokémon Shield, a minha atitude foi também de algum ceticismo: será que não estaria de novo a ser iludida pelos trailers e que a versão final acabaria por não estar a um nível desejável? A Nintendo Portugal facultou-nos um código para o Expansion Pass de Pokémon Shield (que agradecemos), e desta forma foi-me possível começar a tirar dúvidas sobre a sua qualidade, com o lançamento da primeira parte, The Isle of Armor, no passado mês de junho.

The Isle of Armor

Em breves palavras, The Isle of Armor é, em vários aspetos, exatamente aquilo que esperava de Pokémon Shield. Entre estes, há que dar destaque ao facto de, ao contrário do lançamento base, não termos apenas uma área aberta à exploração no geral pouco entusiasmante e rodeada por routes lineares, mas sim uma ilha toda ela explorável numa grande área aberta dividida em várias secções. Esta alteração poderia ser preocupante caso encontrássemos aqui de novo quedas no rácio de fotogramas por segundo (abreviado doravante por FPS), mas, felizmente, este ponto foi substancialmente melhorado face à primeira Wild Area. Já não terão de recear quedas brutais nos FPS quando se aproximam de um maior número de Pokémon na vossa bicicleta. Contudo, apesar de melhorar substancialmente o problema de queda nos FPS, The Isle of Armor retém ainda alguns momentos em que se nota uma grande queda. Estes são relativamente raros, mas consistentes: acontecem sempre que se passa de determinadas áreas para outras dentro da ilha (ou seja, a queda não se dá em todas as transições, mas apenas entre algumas das áreas, como ao entrar na Florest of Focus a partir das Soothing Wetlands).

Outro dos problemas que senti face à primeira Wild Area foi de que esta não era muito variada ou atraente. Sim, o tempo meteorológico ia mudando, e com ele novos Pokémon iam aparecendo, mas nada de muito entusiasmante. Em The Isle of Armor, as diferenças entre as várias partes da ilha são acentuadas, sendo-nos dado a explorar zonas ribeirinhas, praias, os próprios mares, cavernas, florestas e ainda uma zona mais montanhosa e inóspita. 

É isso que acontece quando você encontra todos os 150 Diglett de Alola na expansão Isle of Armor de Pokémon Sword & Shield | Dot Esports Brasil

Os Diglett espalhados pela Isle of Armor tornam a experiência mais longa e convidam a uma exploração mais compreensiva dos vários cenários.

A ajudar às diferenças temos um elemento que torna muito mais divertido explorá-las, em tudo semelhante às luas de Super Mario Odyssey ou aos Korok de The Legend of Zelda: Breath of the WildDiglett escondidos pelo mundo de jogo à espera de serem descobertos. Um treinador provindo de Alola (região da sétima geração de jogos Pokémon) perdeu os seus Diglett, que se espalharam por toda a ilha, e cabe-nos encontrar os 151, fazendo-os regressar ao seu treinador. É difícil de explicar o que há de tão divertido em procurar estes pequenos Pokémon pelo cenário, mas o que é certo é que acabei por dar por mim a perder bastante tempo à procura deles. Ao descobrirem cada vez mais Diglett, o treinador de Alola irá dar-vos Pokémon, incluindo alguns na sua forma de Alola, como Meowth.

E eis aqui um outro ponto importante de The Isle of Armor: a introdução de vários Pokémon dos jogos anteriores, de forma a apaziguar um pouco as queixas dos que se sentiram afetados pela ausência da National Dex. Pokémon destacados e adorados por muitos como Bulbasaur, Squirtle e respetivas evoluções estão agora disponíveis, podendo ser capturados na nova expansão sem o Pokémon Home. Caso a presença de absolutamente todos os Pokémon seja para vós fulcral, The Isle of Armor representará pouco mais do que um pequeno passo na direção certa, que deverá ser continuado por The Crown Tundra, quando for lançado mais tarde este ano. Infelizmente, direi que é improvável que em algum momento Sword e Shield passem a conter uma National Dex completa em semelhança aos jogos anteriores. Por outro lado, se, como eu, não se importarem com algumas ausências, ficarão sem dúvida contentes por ver uma série de caras conhecidas a popular a Isle of Armor que não poderiam encontrar na versão base.

Ainda sobre estas adições, como ponto negativo, julgo que é aqui de apontar que embora seja bom ver mais Pokémon, incluindo novos Pokémon com formas Gigantamax, é um pouco desapontante que seja necessário ter a expansão para ter na nossa equipa as formas Gigantamax dos starters (ou seja, dos três Pokémon de entre os quais temos de escolher um para começarmos a nossa jornada). Por outro lado, um ponto positivo positivo é de que embora seja preciso ter a expansão para conseguir diretamente os novos Pokémon, mesmo quem não tem a expansão pode obter estes Pokémon e assim adicioná-los à sua PokéDex (ora trocando-os, ora fazendo uso da aplicação Pokémon Home, ora participando em raids).

Entre os Pokémon na nova PokéDex, encontrarão um com uma forma Galar que vos surpreenderá pelo seu dinamismo.

Em termos de apresentação audiovisual, The Isle of Armor está ao nível da versão base, com visuais algo inconsistentes e uma banda sonora interessante. Não esperem encontrar nesta expansão melhorias significativas em qualquer um destes quesitos: estes satisfazem e em alguns pontos estão perfeitamente adequados, mas em outros momentos deixam um pouco a desejar. De nota aqui é o retorno da funcionalidade de termos um Pokémon a seguir-nos enquanto exploramos o mundo Pokémon. É sempre agradável ver que temos a companhia de um dos nossos queridos monstros de bolso, mas por outro lado as animações por vezes não resultam tão bem e dá-se uma quebra de imersão.

Passando ao enredo, este continua muito simples – estamos perante um jogo Pokémon, afinal de contas, nunca teríamos aqui nada do outro mundo em termos de narrativa. Por um engano, somos levados até à Isle of Armor e confundidos com um recém-chegado membro do dojo da ilha. Sem conseguirmos desfazer o mal-entendido até chegarmos ao próprio dojo, acabamos por ser aceites ainda assim como aprendiz. Aqui devemos completar várias fases do nosso treino em artes marciais com os restantes alunos, até ao ponto em que conseguimos o nosso próprio Kubfu, o novo Pokémon lendário, também ele inspirado nestas artes.

Ao contrário de outros Pokémon lendários, Kubfu pode evoluir. Após nos tornarmos melhores amigos com este adorável monstrinho, devemos explorar a Isle of Armor e evoluí-lo, sendo tal uma parte do nosso treino como aprendizes do dojo. Assim que Kubfu estiver num nível suficientemente alto, poderão tentar completar o desafio de uma de duas torres  na ilha: Water e Dark. Estas terão de ser percorridas apenas com o vosso Kubfu na equipa, e dependendo de qual escolherem, a outra fechar-se-á para sempre e ficarão com a evolução de Kubfu, Urshifu, correspondente: ou seja, tipo Dark ou Water. Dependendo de qual torre e tipo escolherem, Urshifu ficará com a sua forma Single Strike (Dark), em que investe tudo em ataques bastante poderosos; ou com a forma Rapid Strike (Water), em que apresenta uma grande agilidade em combate.

Ao completar o desafio nas torres, trocamos um Kubfu adorável por um Urshifu cheio de estilo.

Apesar de o desafio final numa das torres ser divertido (além de ser interessante ter um Pokémon lendário com uma linha evolutiva tão única como Kubfu), caso queiram completar The Isle of Armor sem perderem muito tempo ou fazendo desvios pela ilha principal de Galar (a região da nova geração), darão convosco a perder muito tempo a fazer grind até que Kubfu esteja num nível suficientemente alto para completarem uma das torres, o que, apesar da ilha ser ampla e agradável de explorar, se acabará por tornar numa tarefa bastante repetitiva. Seria bom termos visto mais alguns objetivos opcionais (ou diferentes) para que a expansão se mantivesse entusiasmante durante esta fase intermédia. Embora globalmente divertida, The Isle of Armor trás consigo esta fase não tão estimulante antes do seu final. 

Em termos de longevidade, julgo que estamos aqui perante uma boa oferta em termos de conteúdo oferecido e o preço a que esta expansão se encontra disponível. Mesmo que apenas se foquem em completar a pequena campanha (se lhe podemos chamar isso) de The Isle of Armor, acabarão por ter de despender uma boa quantidade de horas, e se, como eu, explorarem ainda um pouco mais da ilha, acabarão com cerca de 7 horas e meia, mas ainda com muito por ver. Tal como todos os títulos Pokémon, há aqui muito por onde pegar e caso queiram experienciar tudo o que esta expansão tem a oferecer, terão aqui bastantes horas pela frente. Infelizmente, uma boa parte delas poderá girar em volta da repetição de um padrão que pode levar ao fastio em sessões mais longas de jogo.

Opinião Final:

Após uma experiência algo desapontante com Pokémon Shield, The Isle of Armor deixou uma boa primeira impressão do Expansion Pass em que se insere. Com uma nova Wild Area que se sente maior e mais agradável de explorar, em geral uma boa fluidez entre os vários momentos do jogo, e novos Pokémon (incluindo o regresso de muitos dos que nos deixam mais nostálgicos),  esta primeiro conteúdo adicional ajuda a melhorar a versão base do jogo e a expandi-la em aspetos importantes. Infelizmente, continua longe de estar perfeito, com algumas quedas de FPS e uma apresentação audiovisual que não se encontra ainda exatamente onde seria desejável.

Do que gostamos:

  • A nova Wild Area é muito variada, mais consistente, divertida e traz bastante por onde explorar;
  • Nova PokéDex com novos Pokémon e em que regressam vários amigos de longa data, como Squirtle e Bulbasaur;
  • Ambientação, personagens e momentos com o nosso compincha Kubfu;
  • Encontrar Diglett pela Isle of Armor é estranhamente viciante;
  • Possibilidade de quem não adquiriu o Expansion Pass obter ainda assim os novos Pokémon.

Do que não gostamos:

  • Quedas acentuadas no rácio de fotogramas por segundo, na transição entre certas áreas;
  • Exclusividade das formas Gigantamax das evoluções finais dos starters de Galar;
  • Perde um pouco o fôlego na parte intermédia da campanha;
  • Apresentação audiovisual algo inconsistente.

Nota: 7,5/10