Ravenswatch – Análise

Após mais de um ano em Early Access, Ravenswatch finalmente chegou na sua versão 1.0 ao PC em setembro de 2024 e um par de meses mais tarde às consolas, em novembro de 2024. Das mãos dos criadores de Curse of the Dead Gods, este é, como poderão esperar, mais um roguelike impiedoso que colocará a vossa habilidade (e potencialmente também a dos vossos amigos) à prova.

Roguelikes com um nível de dificuldade elevado podem ser pouco convidativos para jogadores que não apreciem particularmente repetir vezes sem conta o mesmo desafio, e ir melhorando lentamente de tentativa em tentativa até que se finalmente consiga ultrapassar aquele obstáculo chato em que sucessivas tentativas viram o seu fim. Se se enquadram neste grupo, lamento dizer que este não é, de todo, um jogo para vocês. Ravenswatch é um título completamente focado na jogabilidade e esta é bastante próxima daquilo a que o género já nos vem habituando.

Algo de interessante que o jogo faz de diferente é apresentar-nos com cinco Raven Feathers que efetivamente servem para reviver a nossa personagem se a mesma morrer. Tal introduz mais um elemento de tensão, pois dá azo a que Ravenswatch seja mais desafiante (uma vez que podemos sempre reviver), mas obriga-nos também a gerir muito bem a quantidade de vezes que morremos. Se jogarmos com amigos, esta tensão aumenta, uma vez que o número de inimigos aumenta, mas as Raven Feathers são partilhadas entre todos. O jogo está dividido em três capítulos e vamos mesmo precisar das Raven Feathers o mais tarde possível, especialmente nos confrontos com os Nightmares.

Falando nos Nightmares, tal permite-me mencionar a narrativa de Ravenswatch. Tal como mencionado anteriormente, este é um jogo completamente focado na jogabilidade, pelo que a narrativa é mesmo muito, muito simples. Numa frase: o mundo fantasioso de Reverie está a ser invadido por criaturas eldritch e os seus habitantes pediram ajuda à Ravenswatch (que dá o título a este jogo), cuja responsabilidade é exatamente parar estas criaturas. Ao longo do jogo controlamos exatamente os membros desta vigía. Estes são reinterpretações em estilo dark fantasy de personagens adoradas de estórias de fantasia, como Capuchinho Vermelho (que agora se torna em Lobo Mau durante a noite) ou o Flautista de Hamelin (que controla os seus ratos para atacar os seus inimigos). No início contamos com 4 heróis, mas podemos ir desbloqueando mais ao longo do jogo, num total de nove.

O elenco de heróis da Ravenswatch é de sonho.

Cada herói traz consigo um estilo de jogabilidade único. Por exemplo, a Capuchinho Vermelho é mais tank-y, lenta mas devastadora durante a noite na sua forma de Lobo Mau, ao passo que é mais móvel e com ataques com médio-alcance durante o dia, atirando bombas, por exemplo. Por sua vez, o Flautista de Hamelin é especialmente bom em combate de longo alcance, disparando com a sua flauta e atiçando os ratos aos inimigos. No entanto, para compensar o facto de os inimigos terem dificuldade a atingi-lo, tem muito menos pontos de vida do que, por exemplo, Capuchinho Vermelho. No geral, estes encontram-se muito bem equilibrados e são bem variados, dando-nos vontade de experimentar todos, até porque jogar com cada um deles os permite evoluir e desbloquear novas habilidades, tornando mais provável que consigamos terminar de forma bem-sucedida a nossa campanha. Para além disso, o jogo também nos encoraja a experimentar jogar com todos várias vezes uma vez que acabar capítulos com cada um deles nos permite desbloquear os restantes heróis.

Algo que não está tão equilibrado é a forma de como Ravenswatch recebe jogadores menos experientes, o que se nota principalmente nos confrontos com os Nightmares. Estes são confrontos realmente muito punitivos e que podem arruinar uma run que outrora parecia promissora. Igualmente, poderão sentir-se assoberbados nos momentos iniciais deste jogo caso nunca tenham jogado um roguelike, sentindo que as mortes são arbitrárias e o desafio impossível de completar. De facto, este título podia explicar um pouco melhor os seus sistemas, em vez de relegar tudo a um submenu que pode ser consultado antes de se começar a campanha. O meu primeiro erro foi precisamente começar uma tentativa sem ter reparado neste menu e não ter percebido o que significavam os vários símbolos no mapa. Teria sido bom que o jogo me tivesse apresentado este menu diretamente. Colocando o ponto sucintamente: Ravenswatch pode ser algo impenetrável, mesmo para os padrões de um roguelike.

Não é só em Black Myth: Wukong que podem jogar com Sun Wukong.

Finalmente, não podia deixar de mencionar o estilo artístico de Ravenswatch: argumentavelmente o ponto onde o mesmo brilha mais fortemente. Fazendo lembrar títulos como Hades, e o anterior título da Passtech GamesCurse of the Dead Gods, Ravenswatch traz consigo um estilo artístico cartoonesco bastante aprimorado e que perfeitamente nos transporta para Reverie, este negro mundo de fantasia assolado por criaturas eldritch.

Opinião Final:

Ravenswatch é o novo título roguelike dos criadores do impiedoso Curse of the Dead Gods. Igualmente impiedosa, esta experiência será perfeita para veteranos do género e que não querem saber muito de grandes narrativas. Infelizmente, não é convidativo para aqueles que não pertencem a esse nicho, e por isso não será bem-sucedido a conquistar outros jogadores.

Do que gostamos:

  • Uma experiência perfeita para veteranos dos roguelikes;
  • Jogabilidade muito bem concebida;
  • Estilo artístico inspirado e que cumpre perfeitamente o seu papel;
  • Heróis de mundos de fantasia juntam-se para esta aventura.

Do que não gostamos:

  • Falta de uma narrativa que nos entusiasme a explorar mais;
  • Experiência não é convidativa para novos jogadores;
  • Alguns problemas com o equilíbrio de dificuldade ao longo do jogo.

Nota: 7/10

Análise efetuada com um código PlayStation 5 cedido gentilmente pela Upload.