Em junho deste ano tive a oportunidade de analisar Crash N. Sane Trilogy na sua versão para a Nintendo Switch, tendo sido essa também a primeira vez que pude experimentar os clássicos jogos protagonizados por Crash Bandicoot, a mascote da Sony na altura da sua primeira consola.
Passados cinco meses, foi agora a vez de deitar as mãos a Spyro: Reignited Trilogy, sendo esta também a primeira vez que tenho contacto com estes conhecidos jogos da Insomniac Games, estúdio de que me tornei fã desde Ratchet & Clank para a PlayStation 2. As aventuras do pequeno dragão chegaram-nos finalmente no passado dia 13 de novembro, permitindo-nos cuspir fogo, saltar e voar exatamente como antes, mas agora com cenários mais coloridos e com um aspeto a condizer bem com os nossos dias.
Felizmente, e ao contrário de Crash, Spyro envelheceu muito bem e posso dizer que tive um grande azar por não os ter jogado na infância. Não se notam picos de dificuldade injustos devidos a problemas com a câmara ou com controlos pouco precisos. De facto, os jogos são acessíveis e adaptam-se muito melhor a um público de todas as idades do que Crash, uma vez que consegue ao mesmo tempo apresentar algum desafio (especialmente em fases mais tardias do jogo, e nos desafios “escondidos” em que Spyro deve voar e destruir determinados objetos dentro de um limite de tempo), mas sem se tornar nunca frustrante ou demasiado exigente para os mais pequenos ou inexperientes. Os que não têm grande à vontade em manusear um comando poderão completar os três títulos, mas conseguir completar todos os níveis e obter o troféu de platina em cada um, vai ser mais complicado. Não me considero um mau jogador dentro do género de jogos de plataformas 3D, e apesar disso Tree Tops foi um desafio de se completar a 100%.
O foco desta análise, tal como aconteceu na análise a Crash N.Sane Trilogy, não será refletir sobre a qualidade dos títulos originais (que é indiscutível), mas pelo contrário averiguar se estes continuam divertidos hoje (que continuam, e bastante, como referi), e averiguar a qualidade da conversão e das alterações presentes no lançamento de Reignited Trilogy.
E aqui, infelizmente, há que apontar de novo alguns problemas. Apesar dos visuais desta trilogia estarem espantosos, a verdade é que um jogo não consiste apenas no seu aspeto, muito longe disso, e há muito mais que importa e no resto que compõe o jogo, podem existir alguns problemas. Nomeadamente a nível: da quebra na fluidez dos fotogramas em determinados momentos da ação; do motion blur; de alguns loading screens demasiado demorados; e da falta de legendas. Irei explorar estes pontos um-a-um, explicitando exatamente como surgem e dando a minha perspetiva sobre a sua importância.
Quanto à quebra de fluidez, a análise da Digital Foundry revela que o jogo se mantém constante nos 30 fotogramas por segundo. Contudo, em alguns momentos determinados fotogramas passam a ocupar mais tempo do que outros (que, para manter o ritmo estável de trinta por segundo, ficam com uma duração mais curta), o que resulta na aparência de o jogo ficar mais lento por uns instantes, ou inconstante. Este problema é raro, e notei mais durante os meus momentos iniciais a explorar o mundo de Artisans. Contudo são um pouco incomodativos, e não deveriam ocorrer em jogos simples como são os que compõem a trilogia Spyro.
Já o motion blur é um problema mais sério. Para muitos, a presença deste fator torna o jogo mais agradável por lhe conferir um aspeto mais cinematográfico, enquanto que para outros torna a experiencia menor, por tornar a imagem menos nítida. Não irei entrar nessa discussão. Trata-se de uma questão estritamente dependente das preferências de cada um (que podem até variar de género para género – alguém que, por exemplo, goste de motion blur num jogo focado na história e com pouca ação, e portanto que se aproxime de um filme, pode detestar a sua presença em jogos de ação/aventura). O que tenho a apontar é que este é de tal forma exagerado que me aconteceu algo de que já tivera relatos, mas de que nunca tinha sofrido com tanta intensidade: dores de cabeça e enjoos após uma sessão de jogo mais prolongada. Mesmo quando experimentei o PlayStation VR, não tive qualquer problema do género; e sou dos poucos que gostava imenso da funcionalidade 3D da 3DS e a usava sempre no máximo, constantemente, e durante várias horas (cheguei a estar cerca de 7/9 quase de seguida de volta de Ocarina of Time 3D e com o efeito ligado no máximo), e não me recordo de ter sentido a necessidade de desligar o jogo e repousar devido a estes efeitos. Com Reignited Trilogy, tal aconteceu após uma sessão mais longa, devido ao excesso de motion blur.
Igualmente, alguns ecrãs de loading são um pouco longos para o que seria de esperar, principalmente quando selecionamos um nível. Tendo em mente que em vários lançamentos recentes e bastante mais exigentes os ecrãs de loading, ou não existem, ou são relativamente rápidos a passar, a duração destes nos jogos aparentemente mais simples que são os que compõem esta coletânea não deixa de ser uma surpresa desagradável.
Por fim, e como já deu alguma polémica (à qual a Activision-Blizzard não conseguiu dar resposta satisfatória), há que referir que embora as personagens falem, na sua maioria, de forma bastante clara, existe uma série de cinemáticas em que não existe opção de acrescentar legendas. Para muitos, dado que o jogo até tem áudio em PT-BR (infelizmente não existe em PT-PT), tal não fará diferença. E também é verdade que o enredo não é, de todo, o foco em séries como Spyro. Mas seria sempre bom haver legendas, que são agora tomadas quase que como um dado adquirido quando compramos um jogo lançado recentemente.
Estes pontos, em conjunto, não são demasiado fortes, e é possível ter uma experiência incrivelmente divertida com os três jogos Spyro ainda hoje, 20 anos após o lançamento de Spyro The Dragon. Para além disso, a coletânea compensa estas fraquezas com uma apresentação absolutamente incrível, e que não deixa nada a desejar (muito pelo contrário) face a muitos outros jogos do género lançados atualmente.
Spyro: Reignited Trilogy vem mesmo a tempo da quadra natalícia. E avaliando as ofertas já disponíveis, e as que em breve estarão, é sem dúvida uma das mais convidativas para toda a família, ajudando também o seu preço reduzido e bastante agradável, tendo em mente o que é oferecido, de 39.99€ (jogo disponível para a PlayStation 4 e Xbox One).
Opinião Final:
Spyro: Reignited Trilogy inclui os três primeiros jogos Spyro, produzidos pela Insomniac Games. E é ótimo dizer que passados 20 anos, continua a ser divertidíssimo explorar o mundo dos dragões com o pequeno, mas destemido Spyro. Apesar de alguns problemas técnicos que desejaríamos ver melhorados com uma atualização, Spyro: Reignited Trilogy oferece várias horas de grande diversão, adequada para toda a família. Desde jogadores mais dedicados, aos mais pequenos e àqueles que apenas agora começam a pegar num comando e a explorar o mundo dos videojogos, todos podem ter uma grande experiência com esta coleção. Se procuram algo com que todos se possam divertir na quadra natalícia, Spyro: Reignited Trilogy é uma ótima escolha, que recomendamos vivamente.
Do que gostamos:
- Os três jogos que compõem a coleção continuam a oferecer uma experiência de excelência no género, mesmo tendo-se passado já 20 anos;
- Várias horas de diversão, por um preço amigável;
- Apresentação visual e sonora simplesmente incríveis e plenamente capazes de rivalizar com os restantes jogos do género lançados atualmente;
- Adequado para jogadores de todas as idades e de vários níveis de habilidade.
Do que não gostamos:
- Motion blur exagerado e pontuais quebras na fluidez podem tornar a experiência um pouco incómoda, podendo os jogadores ficar com dores de cabeça ou enjoos após sessões mais longas com o mesmo;
- Falta de legendas em algumas cinemáticas e conversações com personagens;
- Ecrãs de loading são um pouco mais longos do que seria desejável.
Nota: 8/10
Análise redigida com base num código de jogo gentilmente cedido pela PlayStation Portugal.