Lançado numa altura em que o tema “mortos-vivos” estava no auge dos seus inícios, no ano de 2013, especialmente com a crescente popularidade da série de TV “The Walking Dead“, State of Decay surpeendeu o mundo dos videojogos com algo original, afastando-se um pouco do comum e introduzindo o conceito de “mundo aberto”, misturado com ação, aventura e simulação (com a introdução de gestão de bases e postos de vigia). O jogo, apesar de com alguns aspectos um pouco rudimentares e problemas de motor gráfico, teve uma boa receção por parte da crítica e público em geral, ganhando assim muitos fãs e uma comunidade de jogadores dedicada. O jogo oferecia algo de único e permanece até hoje como muito acarinhado pelos fãs.
Apesar do lançamento de dois capítulos extra que introduziram alguma ou outra mecânica em termos de novidades, como modo sandbox ou de defesa de base, os jogadores sempre questionaram o estúdio (Undead Labs) sobre a possibilidade de jogar cooperativamente com os seus amigos, algo que nunca foi introduzido. Eis que cinco anos depois é lançada finalmente a sequela que, além de outras novidades, traz com ela essa mesma possibilidade, de poder aventurar-se com amigos no mundo apocalíptico criado justamente para o mesmo. Será que esta sequela muda o suficiente para ser considerada como tal? Ou será que trata-se simplesmente de um “upgrade” ao original? Preparem as vossas mochilas, porque vamos uma vez mais colocar o nosso instinto de sobrevivência à prova.
Passados alguns anos depois do final do primeiro jogo, em State of Decay 2 o mundo continua, sem muitas surpresas, na beira da extinção da espécie humana. Muito similarmente, também, ao original começámos – depois de escolher o par de sobreviventes que queremos – por encontrar algumas pessoas, e com estas encontrar um sítio para ficar. Uma “base de operações”. Algo que acaba por se tornar um pouco desapontante pelos menos inicialmente é esta sensação de que o jogo mais parece um simples “remaster” do primeiro e não uma sequela. Isso é mais notório especialmente nas animações, tanto dos personagens como dos zombies, que são totalmente reconhecíveis. Felizmente a perseverança compensa e não muito tempo depois das horas iniciais do jogo começamos a nos aperceber que realmente existem novidades o suficientemente significativas para justificar o dígito “2” no final do nome do jogo.
Os fundamentais-base do primeiro jogo mantêm-se: manutenção e gestão de base e da comunidade que nela vive, procura de mantimentos variados para que a comunidade prospere (ou sobreviva), cumprir missões, ajudar ou enfrentar outros sobreviventes e… tentar não morrer pois de volta está a “permadeath“, ou seja, se algum personagem morre este não volta mais. Com esta base firme de funcionalidades a Undead Labs aprofundou e melhorou em praticamente todos os aspectos. O progresso dos personagens, medido por habilidades que com estrelas podem ser melhoradas ou até adicionadas novas, o próprio combate corpo-a-corpo e com armas está melhor implementado (mesmo mantendo uma certa rudeza do primeiro jogo), a gestão da base que introduz muitos elementos novos tais como poder adicionar modificações (geradores, antenas entre outros) ou iniciar certas ações ou gerir e racionar elementos que influenciam na vivência das personagens, e, claro, a introdução de multijogador.
A nível visual o jogo definitivamente não se trata de algo deslumbrante. De notar que o jogo não é péssimo de se olhar, tendo momentos por vezes até brilhantes de efeitos de luz e de cenários. Porém é notório que os níveis de produção não foram de um jogo chamado de “AAA”. Além do mais, notam-se ás vezes algumas quebras na suavidade certamente para abaixo dos 30fps inclusivé, e também “clipping” nos gráficos, como riscos a aparecer ou até de objetos que sabemos que estão lá mas estão invisíveis. Isto é um pouco estranho, especialmente na versão Xbox One X, que apesar dos 4K nativos esperava-se talvez um pouco mais de brilhantismo visual. No entanto, como já mencionado, não deixa de por vezes impressionar com os fantásticos efeitos de luz, tais como raios de sol, luz da lua, sombras em movimento e luzes artificiais.
O jogo benificia enormemente da quase completa ausência de linearidade, o que é fantástico. Por vezes certos personagens têm as suas missões específicas a cumprir, isso é certo, mas não passa muito mais além disso. Desde a escolha inicial das nossas personagens “principais” o jogo pode ser completamente diferente para cada jogador. Junta-se a isso as 3 vastas áreas a explorar (tornando-se um jogo muito maior que o primeiro) onde podemos ir até onde quisermos e as variadíssimas missões secundárias que podemos optar por participar ou não – mesmo assim optando por não participar pode causar consequências futuras, como por exemplo: estava eu a meio de uma simples missão de encontrar mais munições e recebi um pedido de ajuda pelo rádio, ao não ligar nenhuma porque precisava muito dessas munições minutos depois simplesmente recebi um aviso a agradecer a minha ajuda com um tom sarcástico, mais tarde acabei por encontrar essa pessoa que recusou-se a me ajudar também a dar dicas para encontrar uns ladrões de provisões que me tinham atacado a base. Consequências.
Umas das principais novidades é que tudo isto não precisa ser feito solitariamente. Exato, podemos jogar com mais um, dois ou três amigos (ou desconhecidos) que podem juntar-se a nós ou podemos optar por ir dar uma ajuda levando uma das nossas personagens. Atenção pois mesmo assim a morte de qualquer personagens é permanente também, por isso nada de heroísmo. Aqui, neste modo, contam-se histórias e ganham-se experiências, adicionam-se entre-ajuda, sorrisos e gargalhadas. O perigo espreita na mesma e enquanto em certos momentos podemos estar a dar um passeio de carro, em outros podemos estar freneticamente todos a sair do veículo para lançar-se entre a podridão de uma horda de zombies, lutando pela nossa vida, ou dos nossos amigos. De mencionar que, quanto mais tempo passamos em jogos de outros a ajudar, mais recompensas recebemos para o nosso jogo a solo. Alguns problemas de ligação foram bastante notórios aquando do lançamento do jogo que entretanto foram quase todos resolvidos com a mais recente atualização.
Opinião Final:
State of Decay 2 não se trata de um colosso, de um jogo perfeito, por assim dizer. Longe disso. Infelizmente consegue reter alguns dos problemas do primeiro jogo com alguma rudeza nos movimentos dos personagens, erros gráficos esporádicos, motor gráfico com alguma rudimentaridade e ligação online sem servidores dedicados (o que é bastante surpreendente, tendo em conta que é um jogo da Microsoft). No entanto, e felizmente, consegue também reter as virtudes que tornara o primeiro num jogo quase de culto e aprimoraram-nas a tal ponto que o jogo tornou-se muito mais dinâmico, aprofundado, dramático e entusiasmante que o seu predecessor. As possibilidades de progressão de um dado jogo são imensas com a multitude de situações que podem alterar de um momento para outro (ou a longo prazo) a nossa progressão, tais como as escolhas morais de atacar ou tentar chamar á razão, as transações, a gestão da base e até dos próprios conflitos pessoais entre os membros desta, entre outras situações aleatórias muito bem conseguidas. Todos estes factores, na minha opinião pessoal, acabam por relegar um pouco para segundo plano os problemas já mencionados. E sendo assim, não vejo como não ficar “infectado” por este belo jogo que acaba por ser uma das melhores “simulações” de um mundo pós-apocalíptico zombie actualmente e que nos agarra e faz-nos querer morder por mais.
Do que gostamos:
- Muito divertido;
- Sistema de gestão e estratégia de base complexo;
- 3 mapas extensos por explorar;
- Nunca foi tão divertido viver o apocalipse zombie com mais 3 amigos online.
Do que não gostamos:
- Número considerável de bugs;
- Qualidade visual, apesar de melhorada, desaponta um pouco;
- Sistema online sem servidores dedicados;
- Várias arestas ainda por limar.
Nota: 8/10