Ao longo dos anos, fomos tendo alguns lançamentos tanto com o nome Harvest Moon, como com o de Story of Seasons, mas a recepção era sempre mais ou menos a mesma – não era Friends of Mineral Town. O título originalmente lançado para o Game Boy Advance era considerado como uma espécie de gold standard da famosa série de jogos simuladores de agricultura (mesmo no meio de disputas de nomes e divisão de franchises), pelo que o facto de virmos a ter um remake para a Nintendo Switch prometia.
Dezassete anos se passaram desde o lançamento de Friends of Mineral Town e um remake acaba sempre por garantir que irão existir algumas diferenças face à experiência original, principalmente passado tanto tempo. Os fãs irão certamente ficar agradados com o facto de que o jogo se mantém muito similar à sua versão original (apesar de algumas alterações e melhorias, mas já lá vamos), chegando ao ponto de ser possível ainda utilizar guias do original sem grandes problemas.
A premissa é simples e é algo que já foi repetido inúmeras vezes, em diversas iterações: escolhemos a nossa personagem (feminina ou masculina), recebemos uma quinta pelas ruas da amargura e cabe-nos a nós melhorá-la e tirar o máximo partido da mesma, ao mesmo tempo que gerimos as relações com as personagens da cidade adjacente. Para quem nunca jogou um jogo do género, basicamente começam do zero e terão de gerir o vosso dia de modo a conseguirem plantar, regar, colher, tratar dos vossos animais de quinta, minar alguns recursos numa caverna e ainda fazer amigos (ou até encontrar o amor), tudo sem esgotarem a vossa energia e desmaiarem – ninguém gosta de visitas de surpresa à clínica.
Nada disto é atingível logo desde o início, e, nos primeiros dias, via o tempo a escapar-me por entre os dedos apenas por andar a regar a minha horta. A energia esgota-se rapidamente e as tarefas são extremamente repetitivas. É possível melhorar as ferramentas, em troco de algum minério específico e dinheiro, mas o facto de – por exemplo – poderem regar mais de um quadrado de horta de uma vez, faz com que a energia se esgote muito mais rapidamente. Podem sempre fazer uma pausa nas termas do sítio, para recuperar energia, mas quando se aperceberem, já o dia chegou ao fim e é hora de ir dormir. Adicionalmente, têm de se certificar de que as vossas galinhas, vacas e outros animais são alimentados todos os dias – ou pelo menos soltos, para se alimentarem no campo – bem como levarem algumas festinhas. Os bichinhos gostam de amor e carinho e recompensam o jogador através de melhor qualidade de ovos, leite e outros produtos.
No entanto, existe uma forma de contornar estas responsabilidades diárias e aproveitar o tempo livre. Escondidos numa cabana, estão os Nature Sprites, pequenos elfos que podem tornar-se vossos amigos – da mesma forma que o fazem com os restantes habitantes, conversando e oferecendo prendas. Quando o grau de amizade estiver suficientemente elevado, podem pedir-lhes para vos ajudar numa de três tarefas: regar a horta, colher frutas e legumes ou tratar dos animais. Os elfos, coitados, não têm muito jeito para estas tarefas, mas podem ser treinados através de mini-jogos específicos para cada tarefa. Estes mini-jogos perdem o factor novidade logo após a primeira vez que os jogam, obrigando a que os façam dezenas de vezes com cada elfo (e são sete pequenotes!) para que estes melhorem as suas habilidades. É difícil encarar este esforço como merecedor da recompensa, principalmente quando é a única hipótese de fugir às tarefas diárias e poder fazer outras coisas.
Quando finalmente conseguem por um pézinho fora da horta, podem sempre ir pescar ou até uma caverna trabalhar um bocadinho como mineiros. Mais uma vez, estas são tarefas que são necessárias para se poder progredir no jogo – principalmente para a obtenção de minério indispensável para a melhoria de ferramentas –, mas de novo estamos perante tarefas repetitivas, com pouca variedade e cuja recompensa parece nula face ao esforço feito dia após dia. Ao pescarem, obtêm vários tipos de peixe, mas que depois são apenas categorizados em pequenos, médios ou grandes (ficando aglomerados nestas categorias) e a progressão nas cavernas é quase impossível sem itens que vos permitam recuperar a energia, tornando a experiência facilmente infrutífera. O objectivo na caverna é não só quebrar rochas (e assim obter minério), mas também escavar o solo em busca de uma saída para um nível inferior. Infelizmente, não existem checkpoints nos vários níveis e se tiverem o azar de esgotarem a vossa energia à procura de uma saída, não tem outra alternativa se não começar tudo de novo.
Se tiverem um tempinho livre, podem sempre dar um salto à cidade, ver as lojas, desfrutar da praia e conhecer os locais. Ao deambularem pela cidade e seus edifícios ou pela floresta circundante, poderão deparar-se com algumas cenas de história, que ajudam a conhecer um pouco mais de algumas personagens. Como já é usual neste tipo de jogos, podem escolher a vossa personagem favorita e melhorar a vossa relação, de modo a poderem casar com a mesma. Neste remake, foi adicionada a possibilidade de casarem com uma personagem do mesmo género – apesar de tal ser apenas explícito desta forma na versão ocidental. Mesmo que o vosso objectivo seja apenas a amizade, as relações são melhoradas falando todos os dias com as personagens e oferecendo prendas, que podem muito bem ser produtos da vossa quinta. Cada personagem tem gostos bem definidos, pelo que um passo (ou prenda) em falso pode significar um retrocesso na amizade.
Visualmente, foi adoptado um estilo chibi 3D, que por vezes me lembrava demasiado de um jogo mobile. Apesar de não ser a maior fã do mesmo, não posso negar que o design de certos elementos – como por exemplo, dos animais da quinta – é bem fofo. Ainda assim, a personalidade do jogo acaba por ficar com as personagens. O mapa é pequeno e, à excepção da cidade, com pouco para fazer. A quinta é pouco personalizável, não permitindo mudar os edifícios (como o galinheiro) de sítio e mesmo as árvores de fruto que podem ser adquiridas são automaticamente plantadas em locais pré-definidos. Apesar de existir uma floresta, não é possível derrubar nenhuma árvore para obter lenha – sendo apenas possível usar o machado em alguns troncos que fazem respawn. É certo que a profundidade de um farming sim é discutível, mas isto apenas faz com que estejamos a jogar num cenário engraçado mas com pouca vida. Até os vários eventos que são realizados anualmente parecem estéreis e pouco reflectivos na vida da cidade.
Poderá não ser muito justo efectuar certas comparações, mas é impossível não o fazer, principalmente quando temos títulos como Stardew Valley, que pegaram no conceito e o expandiram tanto e de forma tão melhor. Apesar de ter algumas melhorias ao nível da qualidade de vida e jogabilidade, Story of Seasons: Friends of Mineral Town acaba por cansar o jogador, ao invés de o puxar para querer ver mais e mais. As tarefas são repetitivas e superficiais, não conseguindo motivar o jogador a aguentar até conseguir ter algumas melhorias na sua quinta. Apesar de conter o conteúdo original e ainda algum adicional, é impossível não olhar para o jogo e sentir que falta tanta coisa, que não pode ser colmatada pela mera introdução de pinguins nos animais de quinta. Passados dezassete anos, já foi feita muita coisa e, apesar de ser um remake, Story of Seasons: Friends of Mineral Town faz-se sentir dolorosamente como um produto do seu tempo, preso na sombra de outros jogos que se inspiraram em si e conseguiram fazer mais e melhor.
Opinião Final:
Story of Seasons: Friends of Mineral Town é um remake de um jogo muito adorado, mas que se deixou ficar perdido na sua época de lançamento. Perdendo a oportunidade para expandir sobre a sua excelente base, acaba por se valer apenas da nostalgia dos fãs, oferecendo poucos motivos para cativar novos jogadores – principalmente quando a sua competição é Stardew Valley.
Do que gostamos:
- Remake mais do que tardio de um clássico do GBA;
- Introdução da possibilidade de romancear personagens de qualquer género;
- Estilo gráfico é muito típico de jogos mobile mas acaba por ter o seu encanto;
- Introdução de algum novo conteúdo…
Do que não gostamos:
- …mas que é tão superficial, que acaba por não influenciar muito a experiência global;
- Pouca personalização e mapa pequeno;
- Sensação constante de tarefas repetitivas e de pouco conteúdo que motive a fazermos as mesmas.
Nota: 7,5/10