Antes de começar a análise propriamente dita, devo confessar que a minha experiência com farming-sims é praticamente nula, embora tenha tido sempre um bichinho por experimentar jogos neste género e constatar se sempre são tão viciantes como muitos dizem. Stranded Sails – Explorers of the Cursed Islands, como minha primeira experiência no género, tirando breves momentos com Story of Seasons ou joguinhos de Facebook em anos idos, deu-me uma resposta claramente afirmativa.
Gerir o que há a fazer durante um dia que vai passando rapidamente e com um objetivo global a alcançar gera um loop extremamente viciante em que nos apetece sempre passar mais um dia a explorar e a cuidar das nossas plantações. Desenganem-se, contudo, se vos fiz pensar que este se trata de nada mais do que um jogo em que cuidamos das nossas plantas. Tal como o título do jogo sugere, em Stranded Sails ficamos encalhados num arquipélago amaldiçoado, na nossa jornada de exploração marítima. Acordamos numa ilha deserta perto de um dos membros da tripulação, após nos despenharmos em resultado de uma repentina tempestade. Desempenhando o papel de filho/a do capitão (gravemente ferido no processo), fica rapidamente a nosso cargo encontrar suprimentos para todos, assim como garantir a segurança e uma melhor qualidade de vida para os restantes membros da tripulação. Embora parte desta missão seja realmente cultivar vegetais, cereais e tomates, temos ainda muitos outros afazeres: pescar; coletar madeira, pedaços de metal e outros materiais; explorar as ilhas em redor do nosso acampamento; cozinhar; construir tudo e mais alguma coisa, desde barracas para os tripulantes, a um barco, passando por pontes, atalhos, entre muitos outros; e ainda derrotar piratas fantasma e quebrar a maldição que nos prende a este arquipélago.
Entre todas as atividades, terão muito em que gastar o vosso tempo e energia ao jogar Stranded Sails. De facto, grande parte da diversão do jogo passa por manter um equilíbrio entre realizar as atividades (como correr, cortar lenha, partir caixas, regar, entre outras), e ter o que comer (cozinhando os vegetais, cereais e tomates) para repor as energias. Se deixarem que a barra de energia se esvazie completamente, a personagem desmaia. Uma forma gira que este título encontra de repor a energia da nossa personagem é através da mecânica de cozinhar um grande tacho de guisado de que todos poderão comer, aumentando o seu bem-estar. Este guisado fica disponível junto ao acampamento e dura um dia, podendo-nos alimentar do mesmo várias vezes, o que nos faz recuperar uma parte bastante substancial da nossa energia. Trata-se no fundo de uma forma de tornar agradável as passagens pelo acampamento, o qual ocupa uma posição central no mapa, de onde sempre partimos para explorar, e para o qual nos podemos teletransportar a qualquer momento a partir de qualquer parte do arquipélago.
Haveria aqui muito mais a descrever sobre os diversos sistemas presentes neste título de exploração e farming-sim, mas tal tornar-se-ia maçador e estragaria a surpresa, caso desejem dar-lhe uma hipótese. O que não deixa de ser impressionante é o facto de que, com tantas opções e elementos a gerir, o jogo se faça sentir tão natural e viciante, havendo uma grande harmonia entre os elementos que o compõem.
Mas, se por um lado em termos de jogabilidade Stranded Sails está bastante bem acabado, faz-se sentir sempre como nada mais do que um jogo, puro e duro. Mesmo divertindo e nos agarrando, não nos consegue imergir no seu mundo da mesma forma que outros jogos conhecidos do género, como Stardew Valley ou Animal Crossing, o fazem. Os diálogos entre as personagens são básicos e previsíveis, tal como é extremamente previsível e desinteressante o enredo que guia toda a campanha. O jogo vem com uma tradução para Português do Brasil pela qual não podemos não optar caso o nosso sistema esteja em língua portuguesa. Embora seja sempre bom ver jogos traduzidos para Português, não posso deixar de notar o quão má esta é. Grande parte das linhas de diálogo (e mesmo outras) não se sentem naturais e muitas vezes fica claro que se fez uma tradução literal do Inglês, ou pouco mais do que isso. Em certos detalhes, o jogo não está sequer traduzido e embora tenha escolhido a versão feminina da personagem principal, em vários momentos as restantes personagens referem-se-lhe no masculino. A má qualidade da tradução, aliada ao facto de que não é possível escolher o idioma, tornou os momentos já por si previsíveis e desinteressantes de diálogo e avanço na história em algo de simplesmente… mau.
Outro ponto em que Stranded Sails falha em apresentar um mundo convincente e que agarre o jogador é na repetição de certos objetivos e padrões. Tal, por mais estranho que possa parecer, nem se prende com as várias atividades a realizar diariamente, como cuidar da plantação no acampamento, ou coletar materiais de construção, mas antes com as missões de exploração e progressão na história. Embora contenha várias ilhas peculiares e interessantes de explorar, Stranded Sails não toma partido das mesmas. Tive de me dirigir vezes sem conta aos “bancos de areia a Norte do acampamento” para ir buscar certas partes do navio (que a tripulação se ocupa a reconstruir), quando as mesmas poderiam muito bem ter sido colocadas noutra parte do mapa, de maneira a tornar estas missões menos desinteressantes (temos simplesmente de andar um pouco com o barco para Norte, investigar os vários bancos de areia e regressar). Similarmente, iremos desbloqueando novos planos que nos são dados pela ferreira, e que nos permitem construir novos objetos. No entanto, rapidamente descobri que a cada novo plano desbloqueava um novo objetivo (de entre um total de três iguais), sendo que deveria ir sempre a uma certa parte específica da ilha coletar a matéria prima necessária para os mesmos. Dada a multiplicidade de ilhas, é uma pena que estes sejam apenas dois exemplos de como Stranded Sails nos coloca em ciclos que não o de dia-e-noite, e que poderiam muito bem ter sido evitados. Tal como se nos apresentam, estes objetivos fazem-nos recordar de forma clara durante o jogo de que estamos a jogar um jogo, deixando-nos por exemplo entrever facilmente as barreiras que foram propositadamente colocadas pelos criadores do mesmo, ao passo que estas se deviam sentir naturais no decorrer da jornada.
Como último ponto de insatisfação, noto apenas ao de leve como o final do jogo… sabe a pouco. Não há nenhuma animação especial ou algo que nos recompense pela sua conclusão. Simplesmente dão-se alguns diálogos finais, o ecrã fica preto e somos levados de seguida até aos créditos.
Opinião Final:
Apesar de lhe poder apresentar várias críticas, especialmente ligadas à progressão na história, diálogos, alguns objetivos e à tradução para Português do Brasil, Stranded Sails – Explorers of the Cursed Islands é uma experiência que consegue divertir bastante e pode ser mesmo viciante. Com um nível de dificuldade baixo e um sistema de combate muito simples, este é um jogo especialmente recomendado para jogadores mais casuais, que se estejam a adentrar pelo mundo dos videojogos, ou mais especificamente por este género de jogos em específico. Contendo vários elementos de exploração e de farming-sim, este é um título que oferece bastantes sistemas diferentes interligados, mas que resultam bem em conjunto e perfazem uma experiência agradável, que merecia uma melhor história e diálogos a acompanhar.
Do que gostamos:
- Sistemas de exploração e farming-sim bem trabalhados e interligados;
- Muito a fazer e a descobrir nas várias ilhas;
- Ritmo de jogo e ciclo dia-e-noite fazem-nos querer jogar sempre “só mais um dia”;
- Mecânica de fazer um guisado para toda a tripulação é uma forma interessante de gerir as nossas energias.
Do que não gostamos:
- Repetição desnecessária de objetivos e padrões;
- Enredo e diálogos básicos e desinteressantes;
- Péssima tradução para o Português do Brasil;
- Final do jogo sabe a pouco.
Nota: 7/10