Syberia Remastered – Análise

Syberia Remastered deixa de ser apenas uma melhoria técnica para assumir contornos de verdadeiro “remake”. O trabalho realizado na reconstrução visual é evidente desde o primeiro momento: cenários que eram já fascinantes no original tornaram-se agora autênticas obras de detalhe, com texturas e iluminação modernas a criar ambientes mais vivos e atmosfericamente densos. As personagens também foram re-trabalhadas e apresentam-se muito mais expressivas, resultando numa experiência imersiva, onde cada ambiente conta realmente uma história por si só, e onde é impossível não destacar a beleza das paisagens e espaços que vamos explorando. É um remaster que eleva o patamar gráfico e artístico, aproximando-o do que se espera atualmente de uma grande aventura narrativa.

Há um mistério e uma aura de descoberta constantes, alimentados por uma narrativa interessante que mantém o jogador curioso pelo desenrolar da viagem de Kate Walker. A forma como os acontecimentos se desenrolam, acompanhada de uma escrita sóbria e, em muitos momentos, até poética, reforça a ideia de estarmos perante uma aventura clássica modernizada com respeito pelo seu ADN. O enredo agarra, não só pela promessa de um destino longínquo mas, principalmente, pela riqueza das personagens que vamos conhecendo e pelo modo como o mistério é gerido ao longo do tempo.

A jogabilidade do Syberia Remastered mantém a essência clássica do “point-and-click”, mas agora com uma interface mais moderna, navegação em 3D mais fluída e uma sensação renovada de exploração. Uma viagem repleta de enigmas mecânicas e puzzles criativos, que foram redesenhados para serem mais intuitivos, sem perder o desafio e a profundidade que caracterizam a experiência original. Os puzzles estão elegantemente integrados na narrativa e no ambiente, requerendo atenção aos detalhes visuais e uma boa dose de lógica, o que proporciona um equilíbrio entre momentos de contemplação e outros de avanço narrativo. Apesar disso, pode haver quem sinta que, por vezes, o ritmo abranda devido à repetição de mecânicas ou à necessidade constante de explorar cenários extensos à procura de pequenas pistas, algo que já era sentido no original e permanece nesta versão remasterizada. Os puzzles são sempre uma faca de dois gumes: se adicionado de forma suave, não frequente, e for acessível, traz diversidade e ajuda a uma melhor experiência, no entanto se for adicionado de forma a que seja constante, dificil, acaba por ser cansativo e pode levar ao “drop”, principalmente para quem não é muito fã de puzzles e apenas quer jogar para descontrair e avançar na narrativa sem estar constantemente parado a pensar “e agora, o que tenho que fazer?”. Infelizmente este é mesmo um jogo que usa e abusa dos puzzles, o que afetou a minha diversão com o mesmo.

A diferença a nível gráfico e artístico é abismal.

Portanto o Syberia Remaster não está isento de falhas próprias tanto de origem como do seu novo formato. O mundo continua a sofrer de um certo vazio: apesar dos cenários belíssimos, nota-se uma escassez de vida em muitos desses espaços, o que pode dar uma sensação de isolamento e monotonia, especialmente em secções prolongadas ou durante explorações menos guiadas. Esta sensação de vazio é ainda agravada por paredes invisíveis que limitam a liberdade do jogador, um aspeto que afeta negativamente a naturalidade do percurso e, por vezes, quebra a imersão criada pelo novo visual.

Outro ponto a lamentar é a repetição de situações devido à própria estrutura de “trigger” de eventos e diálogos: é possível voltar a ativar sequências já experienciadas, como pedir novamente para levar a bagagem para o quarto ou iniciar uma conversa que já deveria estar ultrapassada, incluindo casos em que personagens reagem ou falam para outros intervenientes que já não estão presentes no cenário. Isto revela limitações na atualização dos estados de jogo e compromete a credibilidade do universo apresentado. Em alguns momentos, a aventura pode tornar-se algo monótona, especialmente quando os puzzles surgem em cadeia ou quando a progressão depende de ações muito similares, o que afeta o ritmo global.

Apesar de se celebrar o tom artístico do diário que acompanha a aventura, a decisão de o apresentar com “escrita à mão” acaba por dificultar a leitura, tirando alguma fluidez ao seguimento da história, sobretudo para quem prefere apoio visual simples e directo.

Podem ver acima  um  gameplay do jogo Syberia Remastered. Aproveita e subscreve o canal para não perderes nenhuma novidade!

Opinião Final:

Em resumo, Syberia Remastered posiciona-se entre uma carta de amor ao original e um esforço sério de adaptação à nova geração. Apresenta melhorias técnicas e visuais que transformam a aventura numa boa experiência para os dias atuais, respeita o mistério e o dramatismo do enredo e eleva o charme dos cenários. No entanto, tropeça em pormenores de design que já se esperariam ultrapassados num projecto desta natureza, como a repetição de situações interativas, paredes invisíveis e um certo vazio ambiental. Não deixa de ser, porém, uma proposta recomendada para fãs do clássico e para quem procura uma aventura gráfica bela e envolvente, mesmo apesar das suas limitações.

Do que gostamos:

  • Enorme melhoria gráfica, com cenários lindos, detalhados e personagens re-trabalhadas que elevam a experiência visual;
  • Mistério bem gerido, narrativa interessante e envolvente que mantém o jogador curioso do início ao fim;
  • Banda sonora inspirada que reforça a atmosfera e o tom emocional de cada momento;
  • Jogabilidade “point-and-click” intuitiva, com uma interface mais moderna e navegação fluída.
  • Um remaster que se sente em muitas situações um remake.

Do que não gostamos:

  • Presença de paredes invisíveis que limitam a exploração e quebram a imersão;
  • Possibilidade de repetir situações ou diálogos já resolvidos, devido ao sistema de “trigger” pouco atualizado;
  • Mundo algo vazio e sem vida em muitos momentos;
  • Diário de escrita à mão, visualmente bonito mas pouco prático e difícil de ler rapidamente;
  • Alguns momentos tornam-se monótonos ou repetitivos, por vezes até chatos, sobretudo nas secções de puzzles.

Nota: 7/10

Análise efetuada com um código PlayStation 5 cedido gentilmente pela distribuidora.