Foram precisos 3000 anos para finalmente termos um Legend of Zelda protagonizado pela princesa que dá nome à série – ok ok, foram apenas precisos 38 anos e 29 títulos, coisa pouca. Mas a espera valeu a pena, e se valeu. O que aqui temos é um título original com vista top down, com tudo aquilo que caracteriza um Zelda clássico, desde a exploração, aos puzzles e as suas masmorras. Ainda que não se deva mexer em equipa que ganha, a Grezzo e a Nintendo deram aqui uma lufada de ar fresco, ao introduzir novas mecânicas e adaptando a jogabilidade à Princesa Zelda.
Como seria de esperar, a espada não é aqui o principal modo de ataque e The Legend of Zelda: Echoes of Wisdom obriga a uma abordagem muito mais criativa e que faça os jogadores pensar fora da caixa. Isto porque, ao invés de armas como Link, Zelda tem à sua disposição o Tri Rod, junto com a ajuda do seu parceiro Tri. Este permite-lhe gerar duplicações de vários/objetos criaturas espalhados por Hyrule, ou seja gerar Echoes que lhe vão permitir levar a sua missão a bom porto. Essencialmente, o jogo permite-nos “colecionar” ecos de quase tudo e mais alguma coisa. Derrotam um inimigo? Podem registar o eco do mesmo e depois utilizá-lo contra os seus comparsas, sendo possível emitir vários ecos, que é como quem diz chamar várias cópias do mesmo bicho, até um limite, claro – ainda que este possa ser aumentado.
O mesmo se passa com objetos, que podem ser usados para os mais variados fins. Enquanto joguei, usava amiúde camas para essencialmente dois fins – dormir e recuperar energia ou fazer escadas/pontes para ultrapassar obstáculos. Dito assim, parece até simplista mas a criatividade é mesmo fomentada no jogo, sendo possível usar os vários objetos e até combinações dos mesmos para os mais variados fins. Devo dizer que uma das minhas combinações favoritas era transformar uma cama num foguete através de um sapo tornado (chamado apropriadamente de Tornando) ou fazer pontes com cubos de água. O combate também é variado, sendo que podemos simplesmente chamar Moblins ou outros, ou atirar com criaturas com poderes elementais e simplesmente cometer crimes de guerra, como se estivessem a espalhar napalm. O céu é quase o limite, com 127 ecos para colecionar e utilizar a vosso bel-prazer.
Estes ecos ficam colecionados e disponíveis no vosso inventário que se resume a uma lista na horizontal, à qual terão de fazer scroll infinito caso queiram escolher um eco pouco utilizado. É certo que têm filtros, como listar por mais usados, recolhidos mais recentemente, etc, mas no final não existem categorias ou uma organização eficaz que me impeça de arrancar cabelos e dizer mal à minha vida sempre que tenho de andar à caça de um eco que sei que quero, sei que tenho, mas que está enfiado no meio de outros tantos. É a nódoa num pano que de outra forma é quase imaculado.
Em alternativa, podem usar o vosso Tri Rod como uma espécie de ferramenta telecinética, para movimentarem não só objetos, como criaturas e inimigos, levando à minha forma favorita de os derrotar – simplesmente largando-os de um penhasco abaixo. Mas como qualquer Zelda que se preze, não faltam bosses e não é a atirarem com calhaus (só) que os vão conseguir derrotar. E num aperto, vão bem dar graças à Swordfighter Form – uma transformação etérea que dá a possibilidade a Zelda de usar uma espada e um arco, durante um curto período – ditado por uma barra específica e que vos dá acesso, ainda que temporariamente, às habilidades de Link. Tanto os ataques como a utilização do Tri Rod para movimentar objetos são facilitados através de uma espécie de lock-on que é outra coisa que me tirou demasiadas vezes do sério. Em diversas alturas queria agarrar o objeto mais próximo de mim mas o lock-on tinha um achaque qualquer e decidia que ia definir-se no objeto mais longe. E não. O jogo não permite passar de objeto em objeto. Não se entende esta escolha de design, algo tão básico e que apenas causa frustração numa experiência de outro modo muito divertida.
A exploração não se resume a Hyrule, sendo que Zelda ainda irá explorar uma realidade alternativa, quase num papel de Herald of Andraste a la Dragon Age: Inquisition, a brincar aos rifts e a fechar os mesmos. Na verdade, esta é uma dimensão que se está a espalhar e a consumir Hyrule, chegando a substituir os seus habitantes por cópias maléficas. O objetivo de Zelda é fechar esta dimensão e descobrir o que se passa. A exploração leva-nos não só a fechar estes rifts principais, mas também os secundários que estão espalhados pelo mundo, aliando-se assim a outras side quests espalhadas, bem como variados colecionáveis e desafios.
A exploração e a aventura são melhoradas ainda mais pelo estilo artísticos, reminiscente do remake de Link’s Awakening e que atinge o equilíbrio entre encantador e adorável, mesmo com uma grande ameaça a pairar sobre a cabeça dos protagonistas. Quanto à performance, devo dizer que à data desta análise felizmente não tive grandes problemas (numa Switch Lite, devo dizer), sem quebras de framerate ou soluços que fossem prejudiciais para a experiência de jogo.
Apesar de pequeno (principalmente se formos comparar com os mais recentes mundos de Zelda), o mundo é cheio e rico de coisas para fazer, culminando numa experiência rica e variada, repleta de personagens encantadoras e que é bem-sucedido a entregar uma aventura Zelda bem clássica, mas com novidades suficientes para demonstrar que a série ainda tem muito para oferecer.
Opinião Final:
The Legend of Zelda: Echoes of Wisdom é um mimo absoluto, não só para os fãs da série, como para novos jogadores, representando um excelente regresso à fórmula clássica e revitalizando a mesma.
Do que gostamos:
- Finalmente um jogo com Zelda como protagonista!;
- A introdução da mecânica dos ecos traz toda uma nova dimensão à jogabilidade clássica;
- Mundo cheio, vivo e repleto de motivos para o explorar até ao último cantinho.
Do que não gostamos:
- Inventário confuso e tosco;
- Mecânica de lock-on mal conseguida.
Nota: 9,5/10
Análise efetuada com um código Nintendo Switch cedido gentilmente pela distribuidora.