Pode parecer que não, mas já foi há um pouco mais de 10 anos que The World Ends With You chegou às lojas em exclusivo para a revolucionária portátil da Nintendo de dois ecrãs: a Nintendo DS. Pelas mãos da Square Enix, e em particular produzido por Tetsuya Nomura e Shinji Hashimoto, criadores da aclamada série Kingdom Hearts, este RPG não alcançou a mesma fama que esta última franquia, mas apesar das suas vendas mais modestas, conquistou a sua base de fãs e continua a ser reconhecido como um dos melhores jogos da plataforma.
Passados dez anos, embora continue a não existir seguimento a este lançamento, chegou, no passado dia 12 de outubro, uma versão definitiva deste jogo, agora em exclusivo para a Nintendo Switch, The World Ends With You: Final Remix, que se baseia nas versões mobile (intituladas Solo Remix) disponibilizadas para os sistemas iOS e Android em 2012 e 2014, respetivamente. Contudo, e ao contrário do que aconteceu com as versões para mobile, o lançamento de Final Remix pode marcar um novo início para a série, que poderá passar finalmente a ter uma continuação, segundo sugerido pelo próprio Tetsuya Nomura.
Para tal, será importante que os fãs mostrem o seu apoio a esta versão para a Nintendo Switch. Mas como não se pode pedir um apoio cego e incondicional dos fãs a todas as versões lançadas, importa responder a uma série de questões: Depois de dez anos, e com as devidas melhorias, continua The World Ends With You a divertir, ou tornou-se obsoleto?; O que traz de novo esta Final Remix?; O jogo adequa-se à Switch?.
Quanto à primeira pergunta, a resposta é sem dúvida afirmativa, ou seja, The World Ends With You mantém-se como uma boa experiência. Mas sobre tal não me irei alongar. A apresentação do jogo está incrível, com uma banda sonora composta por várias peças que rapidamente ficarão no vosso ouvido, agora disponíveis em duas versões, a original e a remasterizada, personagens com os desenhos típicos de Nomura e um estilo único e bem-conseguido dos cenários citadinos de Shibuya, Tóquio. A história agarra-nos e leva-nos numa viagem de cerca de 15 horas (na verdade, cerca de 17 com a adição de A New Day, de que falarei mais à frente) com Neku (protagonista do jogo), uma viagem emocional em que é reforçado o papel da união e dos laços entre as pessoas, mas de uma forma que consegue escapar de certa forma a lugares-comuns e clichés. O jogo continua a oferecer uma experiência sólida a que os fãs dos RPGs da Square Enix deveriam dar uma hipótese.
O facto deste jogo continuar a oferecer horas de diversão de qualidade não é, contudo, suficiente para convencer quem já jogou o mesmo no seu smartphone ou na sua Nintendo DS/3DS a investir agora em Final Remix. E mesmo quem nunca o jogou, terá razões para, agora, optar pela versão Switch em detrimento das duas outras disponíveis? É por esta questão e este facto que me irei focar nas já mencionadas perguntas de o que traz esta versão de novo, e de se The World Ends With You se adapta à consola híbrida da Nintendo.
Como referi, esta é uma versão do original da Nintendo DS, pelo que não esperem grandes novidades. De facto, para além de melhorias ao nível dos visuais, alguns novos tipos de inimigos e versões remasterizadas das músicas, as novidades face a Solo Remix reduzem-se à possibilidade de explorarem a campanha com um amigo em multijogador local, e a um arco de história introduzido após o final do jogo: A New Day. Este traz consigo mais cerca de 2 horas de jogo e vem dar uma explicação mais cabal para o final secreto de Solo Remix. O que acaba por ser uma boa forma de atrair os fãs, pois é sempre bom ver mais desenvolvimentos da história de The World Ends With You. Contudo, acaba por saber a pouco, e talvez não seja o suficiente para o que em muitos casos seria um terceiro investimento.
Mas este novo episódio não é a única novidade de destaque, afinal, existe agora a possibilidade de jogar este magnífico JRPG com amigos. Certo? Pois bem, mesmo tal sendo verdade, se este modo poderá convencer a um segundo ou terceiro investimento, ou não, depende da resposta à questão de se este jogo é adequado à Switch. E em relação a se Final Remix se adequa à plataforma em que surge… a resposta não é tão simples como um mero “Sim” ou “Não”. É preciso em primeiro lugar recordar que The World Ends With You foi produzido e pensado com a Nintendo DS em mente, o que inclui as suas peculiaridades, como o segundo ecrã e o uso continuado do ecrã tátil. Mas a verdade é que o segundo ecrã não fazia tanta falta a este jogo, e por isso a versão mobile manteve a qualidade do original, devido aos controlos por toque. Já na Switch, a situação fica mais complicada, pois se é verdade que a consola em modo portátil permite controlos por toque, também o é que um dos grandes destaques da plataforma é a sua transversalidade, e em particular a capacidade de, num instante, passar a experiência do pequeno para o grande ecrã, e vice-versa, jogando com a consola acoplada ou não à Dock.
Querendo tirar partido desta funcionalidade, The World Ends With You: Final Remix traz opção de controlos por movimento com um Joy-Con. No entanto, o resultado é uma experiência frustrante de que irão rapidamente desistir, a não ser que, como eu, estejam a explorar o jogo para uma análise ou artigo. A diferença é um pouco como entre desenhar num ecrã tátil com os próprios dedos, ou desenhar no computador com um rato. E não há dúvidas de qual a melhor experiência. Apesar do esforço em evitar que The World Ends With You se tornasse em mais um jogo Switch que apenas se pode jogar em modo portátil, este acaba por não funcionar bem de qualquer outro modo. Com justiça, talvez não se possa criticar a equipa responsável por esta versão por ter feito um mau trabalho, pois talvez não fosse sequer possível fazer melhor. Simplesmente acontece que o jogo foi todo ele desenhado em volta do ecrã tátil, e removê-lo prejudica em muito a experiência de jogo.
Mas, perguntam-se: o que tem isto que ver com o modo cooperativo? Tudo. Este modo, como já poderão adivinhar, apenas está disponível jogando com a Switch na Dock e controlando cada pessoa a ação por controlos de movimento com o seu Joy-Con. O que tem como consequência que embora seja sempre divertido partilhar a experiência com alguém, os controlos por movimento nunca deixam realmente de ser algo que incomoda, pelo que mesmo o modo cooperativo é uma experiência que não se compara ao jogo em modo portátil com controlos por toque.
Neste jogo todo o combate é controlado através do ecrã tátil. Existem pins que se vão colecionando e que nos conferem poderes e ataques, sendo que para estes serem ativados tem de se perfazer um certo traço ou toque no ecrã tátil (ou movimento com o Joy-Con). Mesmo no ecrã tátil por vezes é difícil de controlar a ação, especialmente quando esta alcança níveis absurdos de caos no ecrã, pois podemos, por exemplo, controlar Neku em vez de realizar um ataque, ou usar um pin diferente daquele que pretendíamos. Passando a ação para o ecrã da TV e para os controlos por movimento, esta situação fica ainda pior, daí advindo a frustração inerente a este esquema de controlos.
Opinião Final:
Após quase onze anos desde o seu lançamento, The World Ends With You mantém-se como uma excelente experiência que nenhum fã de JRPGs quererá deixar passar ao lado. Com uma banda sonora fantástica, uma história envolvente e bastante forte emocionalmente, um sistema de combate que envelheceu bem, e um desenho único dos cenários e personagens, este não só foi um dos melhores jogos do género na Nintendo DS, como o é agora também na Switch. Só que, por favor, a não ser que queiram muito partilhar a experiência com alguém, não o joguem com os controlos por movimento!
Do que gostamos:
- Apresentação soberba com um estilo artístico único e uma banda sonora memorável;
- Mecânicas de jogo continuam a funcionar bem;
- Narrativa bem desenvolvida que nos leva numa viagem emocional;
- Novo episódio que traz [cerca de] duas horas extra de jogo: A New Day;
- Modo cooperativo permite agora partilhar a experiência com outra pessoa…
Do que não gostamos:
- … Mas sem escapar à frustração inerente aos controlos por movimento;
- Incapacidade de aproveitar as funcionalidades e modos de jogar únicos da Nintendo Switch.
Nota: 8/10