Tormented Souls 2 – Análise

Clássicos são clássicos por um motivo e apesar de estarmos a viver uma ressurgência de várias franchises de survival horror, para os fãs dos clássicos existe sempre aquele bichinho de querer replicar uma experiência que largamente se perdeu – devido à evolução tanto tecnológica como de design dos videojogos. Longe vão os tempos dos tank controls e dos ângulos de câmara fixos, mas não há como negar a eficácia destes numa experiência de survival horror, manipulando e criando uma experiência extremamente curada para o jogador, ainda que estas características advenham de limitações técnicas da década de 90.

Volta e meia, como em qualquer género de videojogos, assistimos a uma espécie de revivalismo, quer seja a nível gráfico como mecânico e o género de survival horror não é excepção, ainda que algumas das experiências acabem por não ser as mais bem sucedidas.

Ainda que não tenha jogado o primeiro Tormented Souls, folgo em dizer que este franchise não é uma dessas experiências, conseguindo ser bem sucedido naquilo a que se propõe – oferecer uma experiência de survival horror clássica, que poderia muito bem ter saído na época dos tempos áureos do género, como todos os seus “quês” bem típicos deste tipo de jogos.

Algo me diz que este senhor não está muito satisfeito com a invasão…

Tormented Souls 2 é uma continuação direta do primeiro jogo mas que podem perfeitamente pegar e jogar sem terem terminado o primeiro (ainda que seja uma experiência mais prazerosa se o tiverem feito). A personagem principal Caroline Walker é a perfeita protagonista de um jogo deste género, resiliente e com a coragem necessária para salvar a sua irmã Anna, raptada num convento, dando aqui o mote para mais uma aventura aterrorizadora. O jogo começa exatamente assim, sem cerimónias e largando-nos num cenário sombrio e onde a pouco e pouco descobrimos os horrores que aí ocorreram.

Como em qualquer survival horror clássico, a exploração é necessária e parte integrante do jogo, levando-nos tanto por corredores estreitos, como caves sinistras e até os ambientes mais abertos, quando finalmente saímos para outros cenários, dão a sensação de que vamos ser atacados a qualquer momento. Existem aqui inúmeros detalhes que já são bem familiares aos fãs do género, como a gestão de inventário e combinação de itens para puzzles, obter itens e até abrir portas, bem como a necessidade de gerir as munições disponíveis, para que nunca sejamos apanhados de surpresa.

Não há nada como ter de recorrer a fitas para salvar o jogo.

E aqui chegamos ao que menos gostei em Tormented Souls 2 – o combate. Não me interpretem mal, o que temos aqui é absolutamente típico de um qualquer survival horror clássico, mas por qualquer motivo, Tormented Souls 2 decidiu colocar um volume absurdo de inimigos em locais estreitos, onde não só é difícil combater os mesmos, como evitá-los, numa tentativa de conservar munições. Não ajuda que os inimigos sejam absolutas esponjas, passando parte do meu tempo já a contar os tiros que lhes dava, para depois os acabar com um martelo Considerando que logo durante toda a secção do convento temos acesso parco a armas, sendo uma delas uma nail gun, temos logo aqui uma experiência inicial que pode rapidamente se tornar frustrante, principalmente quando só queremos ir para o outro lado do mapa, para explorar um local anteriormente inacessível – gastando rapidamente munições e itens de cura, sem necessidade. É uma dificuldade artificial, que em nada acresce à experiência, tendo-me obrigado a reduzir a dificuldade se queria avançar sem mandar a Caroline ir dar uma volta ao bilhar grande.

E é uma pena porque a exploração é um dos pontos fortes do jogo, principalmente devido aos cenários e ao design estético do mesmo – com a iluminação a funcionar de modo estratégico, não só para obscurecer o cenário e limitar o acesso a Caroline (se ficarmos muito tempo na escuridão, a mesma acaba por nos matar) mas também para criar um ambiente pesado, próprio do terror a que se propõe. Os puzzles também são variados, com diversos graus de complexidade, mas que em nenhum momento me deixaram a pensar que quem os criou tinha batido com a cabeça na parede. A lógica existe e é sempre divertido e recompensador quando chegamos àquele momento ah-ah!

Tormented Souls 2 está repleto de gentalha duvidosa.

Apesar de não ter grandes problemas com os ângulos de câmara fixos e os controlos, admito que podem também ser frustrantes para alguns jogadores, principalmente quando estamos a meio de um boss e o nosso movimento muda de repente, levando a apanharmos uma paulada que não queríamos. A meu ver, faz parte do ADN do género e acaba por ser uma dor associada à escolha de criar um género com as convenções de survival horror clássicos.

Apesar de tudo, Tormented Souls 2 é sem dúvida alguma uma carta de amor a um tipo de jogo que facilmente poderia ter ficado esquecido. É certo que com os novos lançamentos de Silent Hill e Resident Evil, é bom vermos que o género de survival horror está vivo e recomenda-se, como toda as melhorias de quality of life que temos vindo a ver com os mais recentes títulos. No entanto, é impossível não negar o prazer nostálgico que é vermos um jogo como Tormented Souls 2, que não só não deixa esquecer as origens do género, como também se apresenta como uma proposta q.b. moderna – ainda que com muitas raízes no passado. No entanto, não podemos negar que precisava de algum polimento, principalmente no equilíbrio do seu combate e por conseguinte, da sua dificuldade. Quando o jogo é difícil porque decide tornar a sua dificuldade artificial através de inimigos esponjas… a experiência deixa de ser divertida.

Opinião Final:

Tormented Souls 2 é um título coeso e que se consegue destacar da miríade de jogos que visam evocar os tempos de glória dos survival horrors na PSX e PS2. Ainda que sofra de alguns desequilíbrios ao nível do combate, a experiência global prova que a Dual Effect Games sabe o que está a fazer e honestamente, estou entusiasmada para ver o que mais têm para oferecer.

Do que gostamos:

  • Experiência clássica de survival horror, com foco em puzzles e exploração;
  • Design e iluminação resultam num ambiente bem propício e com bom environmental storytelling.

Do que não gostamos:

  • Combate cai na armadilha de criar dificuldade através de vagas de inimigos esponja em locais apertados, algo contraditório ao foco na exploração de mapas complexos, bem à moda antiga.

Nota: 7,5/10

Análise efetuada com um código PlayStation 5 cedido gentilmente pela distribuidora.