Until Dawn Remake – Análise

Li algures que esta geração sofre de uma escassez criativa: com mais remasterizações do que títulos originais. O advogado do diabo em mim entende que os jogos têm ciclos de produção cada vez maiores, com custos financeiros e humanos exagerados. Saem pejados de microtransações e de outras manhas predatórias para recuperarem estes custos e não falharem junto dos investidores. Uma das soluções?, lançar assim uns jogos pelo meio com uma nova camada de tinta e uns toques modernos para o pessoal se entreter. E se conseguimos engolir isto para títulos a que não podemos aceder facilmente nas consolas actuais, torna-se mais difícil quando anunciam o mesmo tratamento a jogos que nem uma década de vida têm.

Podíamos estar a falar dos The Last of Us, do Horizon, mas o texto de hoje é sobre o Until Dawn. Há muito de engraçado aqui, o facto de o jogo ser uma homenagem descarada ao género dos teen slasher; uma remasterização escusada e trapalhona e com um preço bizarro que não faz favores a ninguém, principalmente se já jogaram a versão original que, diga-se de passagem, tem um desempenho bem melhor.

Sim amigo, nós também estamos aterrorizados. Mas com o preço.

Enfim. Until Dawn é aquela fase das nossas vidas em que finalmente podemos passar férias com os amigos, longe da família! Só que a primeira vez não correu assim tão bem e uma partida tola, levou à morte de duas irmãs de forma trágica. Vai daí, regressamos no próximo ano para homenagear as nossas duas amigas, como se a culpa nem tivesse sido nossa. Ei, por que não? Mas o que devia ser uma estadia contemplativa para uns e hormonal para outros, torna-se numa noite de terror, quando o grupo começa a ser perseguido por algo ou alguém.

O algo ou alguém vai ser desvendado consoante as nossas escolhas ao longo deste curto serão de oito horas — perfeito para várias repetições em grupo, já que o jogo puxa a isso. Apesar de Until Dawn se aproximar mais de uma experiência, continua a ser um jogo, onde controlamos o elenco de forma lenta e exasperante, tomamos decisões sobre os seus destinos e martelamos os botões em eventos ansiosos. Só que fica um nada aquém no que diz respeito à interacção porque não conhece mais combinações de botões para além do R2 e analógico. É uma queixa de barriga cheia porque o sumo está em fazer as personagens sofrer de tão irritantes que são. Afinal, o cliché deste género do terror é torcer para que morram das formas mais grotescas!, e o jogo cumpre. Talvez noutras voltas, consigamos sentir alguma empatia.

O drama, o horror, a tragédia.

E voltamos a este novo tratamento. Apesar de esta versão de Until Dawn expandir o fatídico prólogo, retira músicas, retira outros momentos de história, mas adiciona mais detalhe gráfico e uma miríade de bugs e problemas de desempenho. Se a luz adiciona um outro nível de realismo e de terror, os visuais mais realistas tornam as personagens mais estranhas e desproporcionais, como se fossem marionetas sobre esqueletos que não se sabem mexer, o movimento das bocas e dos olhos faz lembrar ilustrações de IA sem qualquer expressão ou vida. As personagens andam como se fossem tanques de guerra e sem qualquer urgência ou tensão, o que acaba com qualquer vontade de explorar. A nova câmara quando decide atrofiar, não nos deixa andar ou ver o cenário, mas nada bate os bugs que nos fizeram reiniciar a consola ou quase reiniciar o jogo porque a acção congelou. Ei, apropriado porque estamos na neve.

A ironia é que a versão PS4 a correr na PS5 tem um melhor desempenho do que esta versão mais cara. Guardem as vossas cópias, é para isso que serve o físico. Podem perder alguns detalhes da Hayden Panettiere, mas a vida é feita de escolhas.

Sendo assim, não consigo recomendar esta versão. No entanto, consigo e quero recomendar Until Dawn porque continua a ser uma experiência do catano. A sua curta duração são alguns filmes de terror e estamos mesmo na temporada! É uma experiência ansiar aqueles segundos em que decidimos fazer alguém sofrer para depois engolirmos em seco. E eu sempre tive um fraco por estes jogos!, seja os da Don’t Nod, da Telltale ou da Quantic Dream. E ainda tenho o restante reportório da Supermassive para explorar. São jogos, ou experiências, que me saciam como jogador e cinéfilo, enquanto me elevam para decidir os destinos daquele mundo e fazer sofrer.

Opinião Final:

Until Dawn continua um bom jogo, especialmente para Outubro, mas este era um remake totalmente escusado que pouco de novo traz à experiência, acabando por funcionar até de pior forma que o original em certos aspetos. É difícil recomendá-lo quando a experiência original ainda é a melhor forma de viver o jogo.

Do que gostamos:

  • História;
  • Elenco de personagens irritantes que podemos fazer sofrer;

Do que não gostamos:

  • Desempenho;
  • Preço descarado desta versão, que pouco de novo oferece.

Nota: 6/10

Análise efetuada com um código PlayStation 5 cedido gentilmente pela distribuidora.