V-Rally 4 – Análise

Tinha precisamente 10 anos quando o último jogo desta aclamada série foi lançado para a PlayStation 2Game Boy Advance, Xbox e Nintendo GameCube. Sim, é isso mesmo, estamos a falar de uma paragem de 16 anos num nome que me lembro perfeitamente ser deveras mediático entre a comunidade de fãs dos desportos motorizados.

Mais de uma década e meia depois, todos fomos surpreendidos com o anúncio de V-Rally 4, o novo jogo numa série que ainda hoje faz ressoar a memória de muitos jogadores, e ficámos interessados em saber mais sobre o que viria a sair deste projeto. O estúdio responsável por V-Rally 4 foi o Kylotonn, estúdio sediado em Paris que trabalhou em parecia com o mais reconhecido BigBen Interactive, que, por sua vez, é o publisher. Além deste V-Rally 4, o estúdio Francês trabalhou em outros jogos sonantes como WRC 7 e FlatOut 4: Total Insanity.

V-Rally 4 assume-se de forma clara e vistosa como um jogo de arcade. A condução é muito confortável e nas primeiras vezes que o jogámos, sentimos uma comodidade e adaptação muito boas pela qualidade que a condução nos oferece, apesar do objetivo do jogo não ser o de transparecer a sensação de realidade mas sim sobretudo divertir enquanto estamos sobre este tapete mágico que é a estrada. Existem bastantes modos de jogo que claramente impulsionam o valor do mesmo tornando-o mais completo, embora que com o passar do tempo tanto a condução como as diferentes disciplinas se tornem mais aborrecidas, porque apesar de termos uma boa experiência ao volante, ficamos com uma sensação de que muitos dos carros nos proporcionam impressões bastante idênticas em pista.

Será que Newton aprovaria a física que V-Rally 4 apresenta? Pois bem, ao nível das física, o jogo apresenta-se bem trabalhado de uma forma geral. Os carros respondem de forma positiva ao manejo dos jogadores, tanto nas subidas como nas decidas e também enquanto curvamos. O maior problema que podemos encontrar aqui são as lombas, os socalcos que se situam nas bermas das estradas assim como os saltos. Quando um destes três desafios se intromete no nosso percurso, a física do jogo torna-se um pouco aleatória e tudo pode acontecer. O carro tremer um pouco e continuar o seu percurso é o que toda a gente prefere, mas muitas das vezes também perdemos o controlo de forma nada credível, o que faz com que demoremos a tomar-lhe as rédeas e que fiquemos uns segundos atrás dos nossos adversários. Para conseguir uma maior sensação de liberdade, foram implementadas algumas opções que nos permitem obter estilos de condução diferentes, como o ABS, que nos concede uma maior maneabilidade de travagem, e o ARS que permite que ganhemos aderência, abdicando um pouco da tração.

Durante as provas temos de ter algum cuidado para que o nosso carro não sofra demasiados danos, pois estes influenciam diretamente a nossa performance, e por sua vez os resultados que queremos obter. As viaturas podem sofrer danos em diversos locais, podendo estes ser de diferentes graus. Na teoria, tudo isto acrescentaria muito ao jogo, pois coloca-nos um desafio extra além das próprias corridas. Contudo, na prática reparamos que muitos dos danos não afetam de forma clara o desempenho dos veículos, causando apenas uma ligeira alteração a nível de travagem ou de direção, mas nada que credivelmente traduza os acidentes que de facto ocorrem, ou que nos faça pensar de imediato que as etapas seguintes estão comprometidas.

As disciplinas incorporadas neste novo jogo do clássico de rallies não se reduzem apenas à corrente normal do rally, que é a de conseguir um melhor tempo, que vai sendo atualizado à medida que passamos pelos troços definidos do trajeto. Foram incorporados modos como o Rally Cross que nos coloca um princípio diferente: o de chegar em primeiro lugar. Nestas corridas vemos os nossos cinco adversários fisicamente e temos de nos preparar para os seus impactos e concorrência direta durante todo o circuito. Por sua vez, o modo Buggy coloca-nos exatamente na mesma situação com o acréscimo de curvas de caráter impossível e saltos quase infinitos, que nos fazem dançar durante grande parte da prova, correndo demasiadas vezes mal e obrigando-nos a repetir, repetir e repetir.

Na busca de uma abordagem mais técnica, encontramos o modo HillClimb, que nos coloca perante trajetos bastante mais longos, e essencialmente constituídos de asfalto. O nosso objetivo é conseguir o melhor tempo através de estradas feitas para atingir velocidades medonhas, mas com curvas a fazerem-nos lembrar que os travões também são para ser usados, chegando a testar várias vezes os nossos reflexos. Por fim, temos o Extreme-Khan, onde o contorno de obstáculos e das próprias curvas reinam. É uma espécie de modo drift contando no fim o tempo obtido.

O modo principal no qual são reunidas todas estas disciplinas é o modo Carreira, onde de uma forma um pouco primordial encontramos carros para compra, propostas de empresas para se tornarem nossos sponsers e ainda com o acréscimo de podermos contratar pessoal para a nossa equipa, como mecânicos, por exemplo, que exigem parte do nosso orçamento em troca de um melhor desempenho da nossa coleção de carros. Quanto mais qualificados forem os nossos colaboradores, mais caros são os salários que estes exigem, e portanto é necessário fazer um balanço financeiro entre a compra de carros e os salários semanais a serem pagos. Além destas possibilidades, vamos encontrar ainda desafios online que estão facilmente acessíveis e que vos darão numa boa quantidade de dinheiro, que vai fazer com que possamos comprar carros melhores, e, por sua vez, a inclusão de participar em desafios mais exigentes. De facto, o modo carreira é muito divertido e sem dúvida um ponto mais de V-Rally 4. Peca apenas pela sua falta de profundidade nos pequenos detalhes, que geralmente ditam o sucesso dos jogos.

A partida rápida é outro dos modos de jogo disponíveis, onde podemos selecionar o carro que pretendemos, assim como a pista onde de seguida nos resta apenas apreciar a nossa escolha. Este pode ser jogado em modo ecrã dividido e que na nossa opinião é uma excelente adição, porque os jogos de carros sempre foram dos mais concorridos para disputas de sofá entre amigos. Já o multiplayer peca no seu mau funcionamento. Não consegui juntar-me a uma partida rápida desde que tenho o jogo, sendo apenas possível criar um lobby e esperar que alguém se junte, o que acabou por não acontecer.

No que toca a pistas e cenários, V-Rally 4 porta-se muito bem, oferecendo-nos várias localizações, entre elas: Estados Unidos, Japão, Bolívia, Quênia, Inglaterra, Rússia ou Romênia. Em todos estes países podemos encontrar diferentes tipos de piso, como terra, neve, asfalto, areia e, se a sorte não for das melhores, um piso molhado devido à ocorrência de chuva.

O catálogo de carros é composto por mais de 50 veículos de marcas bem conhecidas, como Ford, Honda, Porsche ou BMW. Cada carro é especializado em uma das cinco disciplinas, podendo ser submetido a ligeiras melhorias para ter uma maior durabilidade. A quantidade de veículos apresentados em V-Rally 4 é bastante alta e a oferta bastante diversificada, mas nem por isso a qualidade do seu design saiu prejudicada. Grande parte deles apresenta características que podem ser vistas nos carros do nosso quotidiano. Se é um ponto importante o facto de um jogo deter licenças oficiais, também o é a sua representação e estética enquanto modelos 3D, e V-Rally 4 sucede neste ponto, embora os acabamentos de interiores estejam longe do esperado, com falhas básicas de texturas e com resoluções bastante reduzidas e até arcaicas. O som dos motores está bom e de uma forma abrangente o resultado está bem acima da média.

Juntando todos os elementos, podemos concluir que visualmente o jogo está muito bom, com excelentes paisagens, excelente variedade de cenários bastante bem conseguidos que nos chega a dar vontade de sair da pista e percorrer tudo o resto que a envolve. A parte gráfica do jogo aplica-se de forma perfeita a esta geração, apesar de não ser um jogo de grande orçamento como muitos outros que circulam no mercado. No que à performance toca, a melhor versão é mesmo a do PC, sendo esta a única plataforma onde o jogo se apresenta nuns fixos 60 FPS.

Opinião Final:

V-Rally 4 não é perfeito, nem para todos. Contudo, continua a ser um ótimo jogo e com uma experiência bastante compensatória. Depois de uma paragem muito grande na franquia, vemos agora algo refrescante que parece querer retomar o nome “V-Rally”, mas de uma forma gradual e cautelosa. De uma maneira geral o jogo apresenta todas as características que um fã de arcade procura: boa condução, velocidade, curvas apertadas e muita diversão, assim como uma enorme variedade de cenários e veículos. O preço de lançamento talvez seja um dos maiores entraves para o seu sucesso, mas continua um excelente jogo para aproveitar numa promoção (pelo menos).

Do que gostamos:

  • Variedade de veículos e cenários;
  • Boa sensação de condução;
  • Modo Carreira.

Do que não gostamos: 

  • Mau funcionamento do modo online;
  • Acabamento de interiores dos veículos;
  • Preço.

Nota: 7/10