Após 18 anos, Yoshi regressou às consolas domésticas da Nintendo como estrela da sua própria aventura em 2015, com Yoshi’s Woolly World para a Wii U. E a verdade é que o mundo adorável de Woolly World parece ter conquistado corações, juntamente com uma também extremamente enternecedora versão em lã de Yoshi. Tal constata-se tanto pela versão deste título posteriormente lançada para a 3DS (a qual, no entanto, consideramos (confiram aqui) – como parece ser consensual – ter perdido alguma da magia do lançamento original), como pelo lançamento, em março de 2019, de Yoshi’s Crafted World, o mais recente jogo protagonizado por Yoshi.
Apesar de a série não ter estado completamente apagada, o lançamento de Woolly World é um marco por trazer de volta Yoshi para as luzes da ribalta e atrair mais atenções, embora não necessariamente apenas pelo seu estilo. De facto, a Good-Feel, equipa responsável pelo desenvolvimento de Woolly World e Crafted World, já nos havia trazido anos antes Kirby’s Epic Yarn, um título, tal como o primeiro destes mais recentes jogos Yoshi, de plataformas 2D em que tudo é feito de lã.
Embora Crafted World não siga por completo esta tendência, faz parte de uma série de títulos (em que podemos incluir os mais recentes Paper Mario) em que todos os elementos do jogo são como que constituídos por materiais reais – ora lã, ou papel. Yoshi’s Crafted World pega neste conceito, mas não se deixa limitar a apenas um material. Nesta nova aventura de Yoshi, o tema é antes o artesanato (arts and crafts), sendo todo o mundo constituído por colagens, construções que nos fazem lembrar trabalhos manuais, esculturas com material reciclável… já perceberam a ideia.
Esta passagem de um mundo de lã para um mundo de objetos e vários materiais do dia a dia, tal como se fossemos transportados para uma oficina de trabalhos manuais, poderá levantar dúvidas sobre um dos grandes pontos atrativos de jogos como Woolly World e Epic Yarn: a forma como estes derretem os nossos corações com a sua apresentação artística. Poderão pensar que materiais como latas, cartão e fita adesiva não têm o mesmo charme que adoráveis modelos e cenários em lã. Desde o primeiro momento, Crafted World elimina qualquer dúvida deste tipo (basta ver qualquer trailer do mesmo ou jogar a demo para o verificarem). Na verdade, se existisse um problema relacionado com este aspeto, seria precisamente o oposto. Caso dediquem a este jogo a vossa atenção durante horas a fio numa mesma sessão de jogo poderão começar a ficar um pouco «enjoados» do seu constante tom adorável e feliz. Aqui é claro que o problema não é ser demasiado adorável, mas uma certa sensação de que falta algo de mais entusiasmante e que quebre a monotonia.
O estilo de Crafted World convida a que fiquemos de forma constante enternecidos pelo que ocorre no ecrã, o que confere à experiência de jogo uma dimensão fortemente contemplativa. É claro que não falamos aqui de uma experiência cinematográfica, Yoshi’s Crafted World é um jogo de plataformas sem muitas cinemáticas. Antes, são os próprios cenários, modelos das personagens e temas em que estão baseados que nos fazem parar para apreciar os vários níveis na sua totalidade, nomeadamente como estes elementos se conjugam e relacionam ao longo dos mesmos.
O maior problema de Yoshi’s Crafted World é precisamente que, embora seja extremamente bem-sucedido neste ponto… não vai mais além. Não há aqui nada de revolucionário – tendo visto os primeiros mundos, quase que conseguem adivinhar como serão os restantes. É claro que há sempre novos inimigos e obstáculos com que se irão deparar, assim como novos temas subjacentes aos vários mundos (um pouco como nos jogos Super Mario Bros. embora os temas aqui sejam mais criativos), mas nada que quebre um sentimento de que estamos a ver mais do mesmo.
Esta monotonia não é tão problemática caso desfrutem de Crafted World em sessões mais curtas de jogo, completando um ou dois níveis de cada vez. Mas mesmo que dividam a vossa jogatina em intervalos mais curtos, esta faz-se notar, algo que julgo dever-se essencialmente a dois fatores: a estória e a banda sonora. Não esperem encontrar aqui um enredo empolgante – este está presente simplesmente para dar alguma motivação à jornada de Yoshi. Kamek e Bowser Jr. tentam apoderar-se das Dream Gems, adoradas pela povoação de Yoshi. Resultado desta tentativa e da resistência dos Yoshi, as cinco jóias acabam por voar para longe, ficando espalhadas por vários mundos. Para chegar até elas, Yoshi tem de atravessar e completar muitos outros, cada um com uma média de 3 níveis. A partir deste ponto, não há grandes reviravoltas, o foco principal está mesmo nos níveis eles mesmos.
Já no que toca à música… este é porventura um dos maiores fatores que tornam Yoshi’s Crafted World num jogo que, no final do dia, é um pouco aborrecido. O tema principal de Crafted World conjuga-se na perfeição com a apresentação visual do jogo, transmitindo alegria e calma. A questão é que mesmo passando-se horas a jogar Crafted World, apenas este tema e porventura mais dois ou três parecem ficar na memória. E existe uma boa explicação para isto: o leit motif do tema principal apresenta-se de forma constante durante todo o jogo, com variações correspondentes a diferentes tipos de níveis. Embora tal não seja o caso, ficamos com a ideia de que estivemos sempre a ouvir a mesma música, vezes e vezes sem conta. O resultado final é de que eventualmente ficamos com a melodia na cabeça, e esta torna-se até irritante.
Um ponto que joga a favor de Crafted World é a presença de ocasionais minijogos entre os níveis regulares. Tanto nos primeiros como nos últimos temos como objetivo chegar a uma meta, mas ao passo que nos níveis normais encontramos a típica jogabilidade da série Yoshi, os minijogos apresentam uma grande e refrescante variedade, que vai desde controlar um mecha Yoshi a uma corrida de carros improvisados com materiais recicláveis e movidos a energia solar.
Por outro lado, contudo, há ainda um último ponto em que Crafted World volta a sofrer por apostar na reutilização de conteúdos. A campanha não é muito longa, conseguirão acabá-la facilmente em menos de dez horas caso não pretendam explorar mais do jogo. A maneira que Yoshi’s Crafted World encontra para estender o número de horas de jogo consiste em convidar o jogador a repetir os níveis previamente completados. Nomeadamente, com o objetivo de encontrar colecionáveis deixados para trás: todos os níveis incluem um determinado número de Smiley Flowers, as quais podem apanhar ao longo do mesmo. Para se avançar entre mundos tem de se dar uma série destas flores a robots que bloqueiam o caminho por falta de energia, pelo que desta forma o jogo motiva alguma exploração. Para além das Smiley Flowers que encontram explorando os níveis, no final de cada um podem conseguir ainda três extra, correspondendo a três desafios opcionais: concluir o nível com a vida toda; tendo apanhado todas as vinte moedas vermelhas (moedas mais escondidas, de difícil acesso e que aparentam ser moedas regulares); e tendo apanhado mais do que um certo número de moedas (habitualmente cem). O robot de cada mundo pedir-vos-à ainda para repetir os níveis já completados para lhes trazerem souvenirs, os quais estão escondidos algures no cenário e aos quais devem atirar um ovo para os apanharem e levarem ao robot.
Finalmente, Crafted World prolonga ainda a sua longevidade de uma última forma, a qual mereceu grande destaque em material promocional para o jogo. Cada nível é na verdade dois. Após terem concluído qualquer nível (que não batalhas contra bosses), podem repeti-lo, desta vez andando da meta até ao início: ou melhor, aquela que antes era a posição inicial, é agora a meta, e vice-versa. Jogando o nível ao contrário, a perspetiva também muda, e é bastante divertido ver as diferenças entre as mesmas – por exemplo, vemos vários objetos que ignorávamos totalmente, e ficamos a saber o que causa certas sombras e presença de objetos no caminho que anteriormente seguíamos. A coerência entre estas duas formas alternativas do nível impressiona e o destaque que recebeu é merecido, muito embora certos níveis sejam muito mais espantosos neste aspeto do que outros. O objetivo de percorrer níveis já completados mais uma vez passa sempre por apanhar os filhotes de Poochy, o adorável amigo canino de Yoshi introduzido em Yoshi’s Woolly World e que logo nos conquistou.
Apesar destes desafios extra serem uma forma perfeitamente legítima de expandir a experiência, a monotonia a que se aludiu, especialmente pela banda sonora que se repete, torna-se aqui ainda mais presente. Como tal, para que o jogo não se torne enfadonho é aconselhável a que revisitem alguns níveis passado algum tempo desde que os completaram.
Em termos de jogabilidade, Yoshi’s Crafted World mantém o estilo que vimos em Woolly World, derivado dos jogos Yoshi’s Island. Yoshi salta e permanece no ar com um pequeno impulso para cima se mantiverem o respetivo botão premido, esperneando-se; este pode ainda engolir inimigos, transformando-os em ovos e atirando-os contra objetos no cenário ou nuvens que proporcionam bónus ou desafios. Apesar de familiar, esta jogabilidade permanece bastante divertida, e em especial, explorar os níveis é bastante agradável. A Nintendo tem uma longa experiência na criação de jogos de plataformas e tal nota-se com este novo jogo, servindo em muito para combater o aborrecimento que outros elementos ditam e, no final, para que nos possamos divertir, apesar de tudo, com o mesmo.
Opinião Final:
Yoshi’s Crafted World é exatamente o que poderiam esperar de um novo jogo Yoshi e de um novo título pelas mãos da Good-Feel. Com um estilo artístico extremamente enternecedor e uma jogabilidade aperfeiçoada ao longo do tempo, este jogo irá pôr um sorriso na vossa cara e derreter-vos com tanta fofura. Infelizmente, também noutros pontos Crafted World corresponde ao que seria de esperar: não há aqui nada de novo ou muito entusiasmante, o enredo permanece não-existente e em especial a banda sonora é muito limitada, criando uma sensação de fastio em sessões mais longas de jogo, que ainda assim se faz sentir em sessões mais curtas. Temos aqui uma experiência divertida, com vários momentos engraçados, extremamente adorável, mas pouco ambiciosa e à qual terão de ter uma aproximação específica para não se aborrecerem.
Do que gostamos:
- Jogabilidade tradicional da série Yoshi continua bastante agradável;
- Diálogos engraçados entre Kamek e Bowser Jr.;
- Apresentação enternecedora;
- Exploração dos níveis bastante divertida.
Do que não gostamos:
- Jogo cai numa certa monotonia;
- Banda sonora muito limitada;
- Falta de uma maior ambição e inovação.
Nota: 7.5/10