Análise – 1-2 Switch

Tal como a Wii e a Wii U, também a Nintendo Switch teve, no seu lançamento, um título desenvolvido especificamente para dar a conhecer as funcionalidades da consola e as diferentes maneiras de jogar que permite. No entanto, ao contrário do que se passava com os títulos correspondentes das suas antecessoras, 1-2 Switch não vinha incluído em qualquer bundle com a mesma. Terá feito bem a Nintendo em não o incluir num pacote com a consola? Esta foi a questão que muitos se colocaram logo assim que o jogo e a maneira como iria ser comercializado foram anunciados, em janeiro deste ano. Também nós nos questionamos se a Nintendo terá tomado uma boa decisão. No final desta análise apresentamos a nossa resposta.

Caso tenham jogado quer Wii Sports, quer Nintendo Land, sabem que estes títulos se diferenciam bastante um do outro, mas que, no fundo, são ambos coletâneas de minijogos bastante variados e com os quais podíamos interagir de maneiras bastante diferentes. Davam-nos, assim, uma visão alargada do que a consola que acabáramos de adquirir nos permitia fazer.

 Para tal, o número de minijogos não precisava de ser muito grande. Wii Sports continha 5 desportos, e o parque temático de Nintendo Land vinha com 6 atrações multijogador (3 competitivas e 3 cooperativas) e 6 a solo. Em ambos os casos, no entanto, os jogos eram bem trabalhados e eram apresentados de modo a que cada um deles valesse bem por si como uma experiência a que podíamos voltar mais tarde uma e outra vez, sem perderem a diversão que ofereciam. Perdi a conta às vezes em que joguei ténis sozinho ou bowling com a família no Wii Sports; ou às vezes em que parti em expedições com os Pikmin ou fugi dos Toads controlando Mario em Nintendo Land.

Com 1-2 Switch a situação não é exatamente a mesma. Desta vez temos uma maior quantidade de minijogos (28), mas que também são visivelmente mais simples. Outra diferença é que, enquanto em Wii Sports ou Nintendo Land tínhamos algo que unia os vários minijogos oferecidos (no primeiro caso, serem desportos, e no segundo, serem adaptações de séries da Nintendo), em 1-2 Switch os jogos são todos bastante diferentes uns dos outros, formando um conjunto bastante aleatório.

Estas mudanças na quantidade e temática dos jogos incluídos não surgem sem motivo. Tudo advém das diferenças no público-alvo dos sistemas, ou, melhor dizendo, na maneira como o esperam atrair. Com a Wii, o principal ponto de venda – responsável pelo seu enorme sucesso – era o de que esta se tratava de uma consola de sala para toda a família, uma consola em que todos podiam jogar devido à simplicidade com que se controlava o jogo com o Wii Mote. Já com a Wii U, o foco era mostrar as novas maneiras de jogar proporcionadas pelo segundo ecrã do Wii U Gamepad, e as famosas séries da Nintendo, em conjugação com os Mii, serviram perfeitamente para esse fim.

A Switch, no entanto, não é apenas uma consola de sala, mas pode a qualquer momento ser retirada da sua Dock e levada para todo o lado, “transformando-se” numa consola portátil. Esta característica, juntamente com o facto de os Joy-Con poderem ser retirados a qualquer momento da consola, funcionando como comandos independentes e permitindo que todos os que comprem a consola partilhem desde logo a experiência com outra pessoa, são o principal ponto de atração da nova consola.

É quando isto acontece que 1-2 Switch ganha a sua magia.

Esta liberdade de levar a experiência de uma consola doméstica para todo o lado, em conjugação com a possibilidade de partilhar a qualquer momento a experiência com um amigo através do modo de superfície estável, levou a Nintendo a investir numa campanha de marketing focada num público mais abrangente, mas com especial foco nos adolescentes e jovens adultos, e a possibilidade que estes têm de levar a consola para festas ou para a escola/emprego.

O jogo responsável por apresentar estas funcionalidades teria de estar em sintonia com esta mensagem, e é por isso que, muito mais que um jogo para um serão com a família, 1-2 Switch é o título indicado para animar festas ou encontros com amigos. É, em última instância, devido a ser este o fim para o qual foi desenhado, que 1-2 Switch apresenta esse conjunto de experiências bastante diferentes e caricatas, pois vão de encontro ao espírito desses ambientes.

Tal como referido na apresentação da Nintendo Switch, em janeiro deste ano, o jogo procura, para além de tudo isto, ajudar a “quebrar o gelo” e a aproximar as pessoas nestas mesmas festas e encontros. Com este objetivo, é pedido que não se olhe para o ecrã, mas sim diretamente para os olhos das outras pessoas. Parece intimidante, mas acaba por resultar. É hilariante estar a “ordenhar uma vaca” ou a “fazer a barba” enquanto olhamos de frente para um amigo ou mesmo uma pessoa que acabámos de conhecer. Infelizmente (ou pelo menos foi esta a experiência que tive), dado o hábito, muitas vezes o nosso “adversário” acaba por não nos olhar mesmo nos olhos, mas sim para o ecrã, o que desvaloriza bastante a experiência de jogo.

O conceito está, por isso, muito bem pensado e cumpre com o que pretende alcançar. Mas nem tudo é um mar de rosas em 1-2 Switch. Infelizmente, mesmo contendo 28 minijogos, o facto de estes serem mesmo muito simples (de outro modo não conseguiriam cumprir com o seu fim) faz com que rapidamente se esgote tudo o que este jogo tem a oferecer. Não há nenhuma experiência em particular que nos deixe com vontade de jogar uma e outra vez como acontecia nos títulos das consolas anteriores, mesmo entre as mais icónicas como Milk ou Quick Draw.

Ordenhar uma vaca enquanto encaramos um estranho? É esquisito, sim, mas também hilariante.

Sendo o objetivo de 1-2 Switch apresentar as funcionalidades da consola, o destaque não poderia ser dado a nada que não os Joy-Con. Estes novos comandos que funcionam independentemente não se tratam apenas de gamepads tradicionais, mas funcionam ainda como comandos por movimento, o Joy-Con R (ou seja o Joy-Con direito) tem um sensor de infravermelhos, o esquerdo um leitor NFC e ambos um sistema de vibração avançado, o HD Rumble. É principalmente em volta dos controlos por movimento e do HD Rumble que os minijogos orbitam.

Em (praticamente) todos os minijogos é dado a cada jogador um dos comandos, colocando-o frente-a-frente (literalmente) com outra pessoa, com o seu próprio Joy-Con. Os desafios depois variam imenso, dependendo do minijogo escolhido. Algumas das experiências cumprem melhor o seu propósito do que outras, mas no geral é nos dada uma boa amostra daquilo que poderemos esperar dos novos comandos. O seu grande pecado, como já referimos, é a sua excessiva simplicidade, que leva a um desgaste rápido dos vários minijogos incluídos.

Devido a esta simplicidade e consequente rápido desgaste, o preço pedido por 1-2 Switch nas lojas habituais e na Nintendo eShop (cerca de 49.99€) revela-se demasiado elevado para o que o jogo acaba por oferecer, o que poderá afastar muitos dos que gostariam de ficar a conhecer melhor todas as possibilidades que a sua nova Switch oferece.

Controlos por movimento, HD Rumble e até mesmo o sensor por movimentos. Todas as funcionalidades da Switch são exploradas neste jogo.

Finalmente, e respondendo à questão colocada inicialmente, parece-nos que a Nintendo tomou a decisão acertada ao não vender um bundle com o jogo e a Switch. Isto porque, tal como a Nintendo vem frisando, esta sua nova consola tem como principal objetivo oferecer um leque o mais variado possível de experiências aos jogadores, sejam estes mais casuais ou mais dedicados. Desta forma, e passando a consola a ser mais cara com a inclusão deste jogo, jogadores que procurassem apenas uma experiência tradicional (e que representam uma grande fatia do mercado), sem controlos por movimento ou extras fora do vulgar, como o sensor infravermelhos, seriam forçados a pagar mais por algo que não procuravam.

Colocando o jogo à venda à parte, é dada a escolha a quem quiser realmente perceber o que a consola tem a oferecer em termos de funcionalidades extra, sem impingir títulos a outros jogadores a quem estas inovações não interessam tanto. É de lamentar, no entanto, o preço pedido por esta alternativa, dada a falta de profundidade dos minijogos incluídos.

Opinião final:

1-2 Switch não é um mau jogo, mas entre os 3 jogos responsáveis por apresentar as últimas consolas de sala (conjunto a que a Switch também faz parte), é claramente o menos satisfatório. Embora contenha uma boa quantidade de experiências, estas são demasiado simples, o que leva a que rapidamente se perca o interesse pelos vários minijogos, mesmo os mais icónicos e divertidos. Assim, infelizmente 1-2 Switch é dos jogos que rapidamente colocamos na prateleira e que nunca mais revisitamos. Uma boa maneira de explorar as potencialidades da consola e dos seus comandos, mas não pelo preço pedido no momento em que esta análise é redigida.

Do que gostamos:

  • Jogar sem olhar para o ecrã acaba por ser bastante divertido;
  • Cumpre com o objetivo a que se propõe de animar festas e criar novas amizades;
  • Muitos minijogos disponíveis e variados.

Do que não gostamos:

  • Minijogos demasiado simples, não havendo nenhum que nos faça voltar para jogar uma e outra vez;
  • Ausência de mais modos de jogo;
  • Preço demasiado elevado para o conteúdo oferecido.

Nota: 7/10