Análise – Blackwood Crossing

A PaperSeven é um estúdio independente com sede em Brighton, Inglaterra, que faz a sua estreia na indústria dos videojogos com Blackwood Crossing, um jogo que promete levar o jogador numa viagem emotiva e surrealista com uma história entre dois irmãos.

Esta aventura em primeira pessoa leva o jogador a assumir a pele de Scarlett, uma adolescente que viaja num comboio com o seu irmão mais novo. Toda a história tem como base a construção da relação entre ambos e a descoberta de acontecimentos do passado de ambos. Apesar de uma promessa claramente forte, os jogadores com o avançar da história vão perceber que não estão diante de um grande enredo, grandes personagens e muito menos de uma história assim tão profunda.

A história tem como inspiração a obra de Lewis Carroll, Alice no País das Maravilhas, com Finn, o irmão mais novo, a refugiar-se num mundo de imaginação para escapar aos seus problemas reais, causados por situações familiares. Enquanto Scarlett viaja por esse mágico e ao mesmo tempo sinistro universo, tenta compreender melhor a visão de mundo que o seu irmão tem. Mas claramente a narrativa poderia ter sido melhor explorada, com poucos momentos realmente marcantes e algumas situações até a parecer desconexas e forçadas ao extremo em busca de emoções do jogador, mas uma tentativa que resulta em total falha na prática.

Infelizmente, Blackwood Crossing acaba por querer voar muito próximo do sol. Há que reconhecer o mérito do estúdio que com recursos económicos limitados apostou numa premissa diferente daquilo a que estamos acostumados dentro do género, mas o jogo precisava de alguns meses a mais de desenvolvimento com as mecânicas a serem confusas, inconsistentes e com algumas falhas pontuais.

O jogo oferece puzzles a serem resolvidos, mas aquilo que deveria ser claramente um desafio mostra-se algo feito para uma criança, já que podem ser facilmente ultrapassados. Outro problema bastante constante é a falta de informações mais claras e possibilidades que o jogador tem à sua disposição, tendo a possibilidade de interagir e até armazenar vários objetos no inventário, o que muitas vezes não tem qualquer função prática, ocupando apenas um espaço desnecessário, além de nem sempre a interação com esses objetos funcionar muito bem.

Porém, nem tudo é tão negativo assim em Blackwood Crossing, apesar da história não ser a mais inovadora que vão viver, o jogo coloca o jogador na primeira fileira de assentos de um grande espectáculo de magia, e que o leva a contemplar a mente de uma criança cheia de problemas emocionais e afetada pela sua própria realidade.

A nível gráfico é onde este jogo mais se destaca, com um estilo semelhante às animações da Disney e Pixar. As expressões faciais transmitem as emoções pretendidas pelo estúdio, apesar de durante o gameplay isso nem sempre ser executado da melhor maneira. Todos os cenários mágicos e surrealistas fazem o jogador sentir-se dentro de um grande filme da Disney.

De certa maneira, é possível que Blackwood Crossing acabe por funcionar até melhor na cabeça do próprio jogador que nesses momentos pode voltar no tempo e reviver as suas próprias experiências e visões da vida, quando pequenos problemas pareciam monstros terríveis e os grandes problemas tornavam-se numa viagem mágica por um mundo misterioso e cheio de aventuras. Coisa que pouco a pouco vamos perdendo com o avançar do tempo, e toda a magia da infância dá lugar a toda a crueldade e dureza do mundo real, uma transição que para muitos é difícil.

O jogo também proporciona ao jogador que tenha essa experiência, uma visão e compreensão diferente da relação com o irmã(o), uma pessoa que muitas vezes parece um completo estranho, mas que também tem as suas dificuldades e complexidades na vida, e por mais que tente fugir a isso, às vezes a solução para um conflito de ideias passa simplesmente por um diálogo.

O jogo no PC (versão a qual foi analisada) possui uma resolução de 1080p e corre a 30fps, com algumas quedas pontuais. Porém, para os jogadores que não possuem uma maquina tão poderosa, este é o jogo ideal, já que os seus requisitos são bem acessíveis, com uma qualidade visual que não deixa nada a desejar a outros jogos do género.

Opinião final:

Blackwood Crossing tinha uma excelente promessa em cima da mesa, mas acabou por fazer uma execução cheia de falhas, talvez algo que seja possível compreensível em alguns momentos por ser o primeiro projeto do estúdio, ou pela falta de recursos, mas que numa análise não poderia deixar de ser citado. A história tem as suas falhas e muitas vezes acaba por se perder numa grandiosidade ausente, mas que acaba por ganhar um impulso adicional graças à própria experiência de quem vai jogar. Este é um jogo que vale a pena ser jogado pela experiência geral do projeto e com certeza é aconselhado a quem o queira viver com a família ao lado, seja pela sua linguagem acessível, beleza do seu universo ou mensagem a ser transmitida.

Do que gostamos:

  • A base para a narrativa, apesar das falhas, possui qualidades técnicas;
  • A imaginação de Finn produz um universo belo e ao mesmo tempo sinistro;
  • Um jogo que pode servir de ajuda para jovens liderem com situações difíceis ou famílias que estejam a enfrentar momentos difíceis com crianças.

Do que não gostamos:

  • Mecânicas de puzzle fracas;
  • Movimentação de Scarlett possui graves problemas, sendo o movimento lento e incómodo;
  • Gameplay que nem sempre traz a emoção pretendida pelo estúdio.

Nota: 6,5/10


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