Análise – Galaxy of Pen and Paper

Fundado em 2009 por Saulo Camarotti, o estúdio independente brasileiro Behold Studios, é um dos que mais tem tido oportunidade de crescer dentro do mercado indie, tanto a nível nacional como internacional, com jogos que na sua maioria optam pela simplicidade, aliada a combates por turnos e muito humor, como Knight of Pen and Paper e Chroma Squad. E eis que em julho de 2017, chega Galaxy of Pen and Paper.

Galaxy of Pen and Paper é um simulador de RPG de mesa por turnos que tem como tema principal o espaço. Por ser um jogo que vai de encontro às raízes do RPG, a ambientação é difícil de definir como algo único, já que, na prática, séria um simples quarto. Mas quando a imaginação entra em ação, nada é tão simples e um quarto comum transforma-se rapidamente numa nave espacial, numa instalação secreta num planeta desconhecido, etc.

Quem jogou Knight of Pen and Paper irá sentir-se em casa, já que a fórmula base não foi alterada. O jogador irá assumir o controlo do “Mestre” omnisciente de um RPG de mesa, e criar inicialmente um grupo com duas personagens jogáveis que podem ser personalizadas de acordo com a sua raça, classe, aparência e personalidade, o que irá afetar diretamente os seus atributos no jogo. No decorrer da jornada, será possível desbloquear mais dois lugares na mesa, totalizando assim quatro personagens, o que irá levar o jogador a um importante dilema: ter mais personagens e tornar os combates mais fáceis, ou ter menos jogadores e conseguir evoluí-los mais rapidamente, já que a experiência não vai precisar de ser dividida por quatro.

Galaxy of Pen and Paper vai buscar inspirações a vários elementos da cultura nerd e geek em geral, desde a personalização dos personagens com várias descrições que valem muito a pena serem lidas, até  à possibilidade de criar o maior inimigo da galáxia, Darth Vader, passando por vários elementos da história.

O jogo começa no planeta deserto de Tanton, onde os seus habitantes sonham em um dia obterem a liberdade. Com a ajuda de alguns NPCs, habilidades de combate e também alguma sorte, as personagens descobrem uma nave espacial abandonada e partem numa aventura pela galáxia…será que já vi isso em algum lugar?

Algo que desde já vale a pena ressaltar é que apesar de ser um estúdio indie, a Behold Studios, deixa bem claro que o jogador irá encontrar tudo aquilo de que precisa dentro do jogo que comprou, sem a necessidade de DLCs ou microtransações. Todas as compras necessárias, seja  a nível de conteúdo, personalização ou história serão feitas com moedas do jogo, ou seja, toda a progressão está unicamente dependente do próprio gameplay e decisão do jogador.

A nível gráfico o jogo mantém o mesmo estilo pixel art dos anteriores, e novamente com uma grande atenção aos detalhes. O jogo é dividido entre dois mundos, o mundo real, onde estamos num simples quarto do Mestre no ano de 1999, e o mundo do jogo, onde o jogador será levado a sistemas solares complexos, estações espaciais, asteróides e muito mais. Apesar da simplicidade do pixel art, os gráficos funcionam muito bem alimentando-se de personagens únicas, da própria imaginação do jogador e das experiências reais que já vivenciou.

Um excelente exemplo disso é o quarto do Mestre no mundo real. Este é o quarto que provavelmente muitos de nós tivemos ou sonhamos em ter, com uma consola de videojogos no chão, uma TV antiga, vários posters na parede e até um modelo da USS Enterprise e o modelo de um Star Destroyer pendurados. Um exemplo de que às vezes não é preciso gráficos incríveis ou ideias complexas para aproximar o jogador, basta muitas vezes trazer algo com o qual se identifique.

A banda sonora traz o jogador de volta aos anos 80, com sintetizadores, solos de guitarra elétrica intensos e sons abafados. E, mais uma vez, traz uma imersão sentimental ao jogador que viveu essa época e que devido ao estilo gráfico se adapta perfeitamente ao jogo.

Uma mudança muito bem-vinda em comparação a Knight of Pen and Paper é a visão do combate. Galaxy of Pen and Paper optou por uma visão lateral dos combates, permitindo assim uma maior variedade de animações das personagens, além de ser possível agora vê-las realmente a ter ações únicas durante os combates.

Sendo um jogo sci-fi, outra novidade interessante é a adição de um escudo aos personagens. Desta forma, durante os combates será necessário primeiro infligir um dano significativo ao escudo e só depois atingir diretamente o alvo. Isto permite um maior equilíbrio entre os personagens e os inimigos, já que os escudos se vão recuperando com o passar dos turnos, mas cuidado, isto não torna a vossa personagem invencível, e no espaço o caixão são as estrelas.

Apesar de ser um jogo que tem como base os combates constantes contra uma grande variedade de inimigos, o jogo não perde um elemento fundamental num RPG: atributos únicos a ter consequências no gameplay. Uma personagem que tenha uma maior inteligência no grupo, será responsável por tentar o diálogo e negociação durante os encontros com outras raças, enquanto que uma classe mais técnica, como engenheiro, permite ao jogador criar armadilhas, ao passo que personagens com foco em força têm uma grande hipótese de intimidar os NPCs. Isto, para além de trazer características únicas à vossa experiência de jogo, ainda incentiva o fator replay para descobrir o que aconteceria caso tivesse optado por uma outra abordagem numa mesma situação.

Até por ter sido desenvolvido por um estúdio brasileiro, o jogo está totalmente em português (PT-BR), o que permitirá uma total compreensão do jogo.

Opinião final:

Em resumo, Galaxy of Pen and Paper é um jogo obrigatório para quem quer reviver os grandes momentos que passou nos RPGs de mesa, sendo um jogo que irá oferecer uma diversão 100% garantida, diversão essa que, infelizmente, não será de grande duração, pois o jogo é curto. Se jogaram o primeiro Knight of Pen and Paper, podem aventurar-se sem medo nesta galáxia cheia de aventuras, combates e muito humor, e se ainda não experimentaram, vale a pena dar uma oportunidade, seja no PC ou nas plataformas móveis.

Do que gostamos:

  • História cheia de referências e humor;
  • Gráficos em pixel art que combinam na perfeição com a ideia e ambientação do jogo;
  • Elementos de RPG que aumentam o fator replay do jogo;
  • Sistema de criação e personalização com extrema qualidade.

Do que não gostamos:

  • Jogo não tem uma grande longevidade;
  • Interface nem sempre intuitiva.

Nota: 9/10