Análise – God of War

Foi preciso esperar 5 anos por um novo God of War, mas eis que ele já chegou e talvez mais do que nunca, há muito o que dizer sobre o jogo. A série sempre se destacou pela sua brutalidade e momentos épicos capazes de nos ficar gravados na memória, e durante os anos sempre manteve a mesma fórmula. O último jogo da série, God of War: Ascension, que foi lançado em 2013, fez uma manobra mais arriscada, como terem apostado pela primeira vez num modo multiplayer. O problema é que focaram-se tanto nessa novidade, que comprometeram seriamente o principal, a campanha, que embora boa, simplesmente estava aquém dos anteriores. A Santa Monica Studio apercebeu-se disso e talvez por esse motivo é que tivemos que esperar tanto tempo por um novo God of War. Mas a espera compensou.

O estúdio não queria cometer o mesmo erro, sabia que tinha que fazer algo novo e não apostar na mesma fórmula, e embora isso fosse arriscado, tinham que ter a certeza que desta vez iriam acertar em cheio. Portanto, tendo o Kratos aniquilado todos os seus inimigos na mitologia grega, eis que tentou reformar-se, livrou-se das Blades of Chaos e quis ter uma vida pacata, criando família e mudando-se para a mitologia Nórdica. É, portanto, caso para dizer: novo God of War, nova mitologia, novas mecânicas, nova experiência e certamente uma nova vida para a série.

Em relação ao enredo não me irei adiantar muito, para evitar qualquer spoiler, no entanto Kratos tem agora um filho e irá tentar ensiná-lo a caçar, dando-lhe várias dicas ao longo do tempo. Não irá demorar muito até serem atacados e a sua vida calma acabar. Apesar disso, o objectivo inicial, e nobre, diga-se, mantém-se: chegar à montanha e cumprir uma “promessa”. De referir que o filho de Kratos, chamado de Atreus, admira imenso o seu Pai, e fará de tudo para aprender com ele e surpreende-lo. Não é só em cutscenes que há interacção e conversas entre ambos, é algo constante durante todo o jogo.

Por vezes é inevitável não pensar no The Last of Us e a respectiva relação entre Joel e Ellie, algo que pode ter servido de inspiração para a base do relacionamento entre Kratos e Atreus. No entanto God of War conseguiu o impensável: elevar a fasquia, ultrapassando a possível fonte de inspiração, o que é digno de menção, afinal de tudo o The Last of Us estava no topo nesse aspecto. No entanto não se pense que este God of War é só emocional, pois embora esse seja um aspecto diferencial em comparação com os anteriores jogos da série, a boa notícia é que o jogo continua brutal. Mas realço que é deveras impressionante todo o diálogo, todos os sentimentos e todas as atitudes de Kratos para Atreus e vice-versa, pois conhecendo o historial de Kratos e vendo o decorrer dos acontecimentos neste novo God of War, torna-se tudo ainda mais especial.

Nem sempre Kratos e Atreus se entendem, mas o relacionamento de ambos irá evoluir com o tempo.

No que concerne a um dos aspectos principais, a jogabilidade, God of War é um jogo completamente novo e não uma mera sequela de God of War 3 que reaproveita as mecânicas dos jogos anteriores. Não, a Santa Monica Studio pensou e tomou a arriscada decisão de descartar as mecânicas de God of War, de descartar a mitologia Grega no qual a franquia se destacou e decidiu não só apostar numa nova mitologia, a Nórdica, como criar de raiz novas mecânicas. A decisão foi de génio. Depois de God of: Ascension, sentia-se mesmo que a franquia necessitava de uma mudança e felizmente o estúdio também sentiu isso.

Agora em vez de termos as reconhecidas lâminas de Kratos, temos um machado designado de “Leviathan Axe”. Nova arma, novas investidas, e a nova arma do protagonista funciona de forma similar ao reconhecido martelo de Thor. É possível lançar o Leviathan Axe contra os inimigos e, na verdade, contra qualquer parte do cenário (inclusive criar estratégias como apontar para algo explosivo para afectar os inimigos ao redor, por exemplo) e depois chamá-lo de volta. Há os ataques fortes mas mais lentos e os ataques mais rápidos, mas que faz menos dano. Quando se lança o machado e não o chamamos de volta, é possível lutar com os inimigos ao murro e pontapé. O Kratos é conhecido por despertar a sua fúria, e com isso em mente há um sistema para esse efeito, onde o Kratos descarrega toda a sua raiva nos seus inimigos. Escusado será dizer que esse ataque especial faz muito dano. Também é possível dar ordens para o Atreus disparar flechas contra os inimigos e para o ajudar noutras tarefas. De referir que o jogo tem elementos de RPG simplificados que são fáceis de assimilar.

Contendo batalhas intensas, o grande destaque vai para as lutas contra criaturas enormes/bosses. De referir que o design dos diversos inimigos (e não só) estão impecáveis. O novo sistema de combate corpo-a-corpo também funciona muito bem contra os monstros de alta estatura, o que mais uma vez mostra a atenção dada às mecânicas, e à qualidade das mesmas, que funciona nas mais diversas situações.

Monstros como estes fazem mais dano e incentiva-nos a criar estratégias e ter um maior cuidado. São portanto desafiantes mas não frustrantes, o que significa que o prazer depois de os derrotar é maior.

Além de ser possível melhorar as armas de Kratos e Atreus, equipar runas e desbloquear novos combos, há estatísticas a ter em conta pois aumentam o nível de dano causado e pode diminuir o dano recebido. Falo das estatísticas como Força, Rúnico, Defesa, Vitalidade, Sorte e Tempo de Espera. E claro que, tendo elementos de um RPG, é possível aumentar o nível, embora a progressão disso seja lenta. Isso é feito com o propósito do jogo nunca se tornar fácil. Aliás, este God of War é um jogo mais difícil do que os outros da franquia, mas felizmente não é nenhum Dark Souls ou Bloodborne. É mais desafiante, mas ainda está na categoria de um jogo acessível. Não se torna frustrante e ainda bem, pois um jogo serve para divertir, e God of War cumpre perfeitamente com isso.

No entanto God of War não se limita a isso no que toca a jogabilidade. O novo jogo deixou de ser linear para se tornar algo mais do que isso. Há caminhos alternativos, há missões secundárias (não tem a complexidade de um The Witcher 3 ou Assassin’s Creed Origins, mas tem qualidade e são uma boa novidade na série), é possível utilizar o barco e explorar o que o mundo de jogo tem a oferece, procurar baús (não são todos iguais e alguns podem levar tempo para se conseguir abrir) e tentar saber mais sobre a novíssima mitologia e respectiva história. É, portanto, um jogo muito maior que qualquer outro God of War, em todos os sentidos, inclusive a longevidade (pode muito bem ultrapassar as 40 horas para terminar o jogo a 100%).

Para quem gosta de puzzles, irá gostar de saber que os há em God of War. Uns são simples, e outros um bocado mais complexos, mas a verdade é que estão inseridos no jogo de uma forma suave e não se sente que foram postos no jogo para dar uma quebra forçada no ritmo do jogo, e isso é sempre bom. Como o jogo foi desenhado para o podermos explorar e há áreas que será impossível aceder numa certa altura, será possível voltar atrás mais tarde (sim, é possível fazer as “viagens rápidas” e o jogo diz-nos o que já descobrimos e o que está em falta), e ao fazer isso iremos encontrar não só alguns puzzles, como outras coisas que nos escapou.

Podemos explorar o mundo de jogo, completando side-quests, procurar baús e descobrir mais sobre a história da mitologia Nórdica, por exemplo.

Portanto, ao contrário de God of War: Ascension, não há modos multiplayer, e ainda bem que assim é. A série God of War sempre se destacou pela sua campanha épica e não há qualquer necessidade de acrescentar esse modo num jogo em que não ganha nada com isso, bem pelo contrário, como o God of War nos provou. É bom saber que ainda há estúdios que deixam de lado certas modas da atualidade e avançam com as suas ideologias, apostando em jogos fantásticos só com Single Player, como este novo God of War. Nós jogadores só temos a agradecer, pois há espaço para vários tipos de jogos. Não têm que nos enfiar o multiplayer pela goela abaixo só porque esse modo é quase obrigatório hoje em dia devido à sua popularidade.

No que toca à qualidade gráfica do jogo, há muito a dizer. Tendo uma televisão 4K, é uma pena não ter uma PlayStation 4 Pro para poder correr o jogo da forma que deveria ser jogado, no entanto posso garantir que na PS4 normal o jogo tem uma excelente qualidade visual, principalmente se o correrem com HDR. O novo God of War tem cenários para todos os gostos e feitios, uns em sítios mais escuros (mas não demasiado) e outros em espaços mais abertos, com excelentes paisagens e uma grande palete de cores que os outros jogos da franquia não tinham. A atenção ao pormenor que o estúdio teve é de louvar, pois além de ser o maior God of War de sempre, o detalhe é incrível e surpreende. No que toca ao desempenho, não há nada a apontar. O jogo corre sempre de forma fluída. Claro que na PlayStation 4 Pro, o God of War deverá correr com um maior frame-rate e com um grafismo ainda melhor, sendo certamente a versão definitiva. E não me deparei com qualquer bug ou qualquer outro problema técnico. Em relação à banda sonora, embora não seja propriamente marcante, é eficaz e cumpre com o seu propósito, adequando-se bem a cada situação.

 

Opinião Final:

God of War atingiu um novo patamar, não só dentro da série, como dentro do género. O jogo foi totalmente reinventado para se tornar algo diferente, indo muito além de um God of War tradicional de forma a oferecer uma experiência completamente nova, mas ter na mesma o feeling de um God of War. De certeza que foi difícil conciliar esses dois aspectos, mas foi um objectivo extremamente bem sucedido e que compensou. Foi arriscado, sim, mas a série precisava de uma mudança e eis que temos aqui um jogo de grande qualidade, que irá perdurar na mente daqueles que o jogarem por muito, muito tempo. A relação entre Kratos e Atreus é, diria eu, o melhor relacionamento entre duas personagens no mundo dos videojogos. É um jogo brutal, desafiante, emocionante, divertido e marcante. É um dos melhores jogos desta geração.

Do que gostamos:

  • Excelente uso da mitologia Nórdica;
  • O enredo é extremamente interessante e consistente;
  • As novas mecânicas foram bem idealizadas e implementadas;
  • Os elementos de RPG são simples/acessíveis;
  • Bastante divertido, com uma boa dose de desafio;
  • Relação entre Kratos e Atreus é do melhor que já se fez nesta indústria;
  • A exploração e respectiva recompensa é motivadora;
  • Excelente qualidade gráfica e um grande desempenho;
  • Boa diversidade de criaturas;
  • Momentos épicos que irão ficar na memória;
  • O maior jogo da série, que pode ultrapassar as 40 horas;
  • Ser diferente dos jogos anteriores é o que o torna tão especial.

Do que não gostamos:

  • Nada a apontar.

Nota: 10/10

 

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Informações adicionais:                                                           Versão analisada: PlayStation 4 (Normal)

Produtora: Santa Monica Studio

Editora: Sony Interactive Entertainment

Data de lançamento: 20 de Abril

Preço do jogo base: 69.99€

Página do jogo na PlayStation Store

 

Video Gameplay:

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