Análise – Halo Wars 2

Já desde o seu lançamento pela mão da Ensemble Studios em 2009, para a Xbox 360, que Halo Wars conseguiu não só conquistar os fãs do universo Halo (tornando-se numa espécie de jogo de culto) como também demonstrar como é possível ter um jogo de estratégia em tempo real bem conseguido numa consola. É desde então que os muitos destes fãs têm vindo a suspirar por uma sequela. E eis que, oito anos depois, vemos os incansáveis pedidos finalmente satisfeitos com o lançamento de Halo Wars 2, desta vez por mão da 343 Industries e da Creative Assembly. Mas será que irá compensar o longo período de espera? Ou será que fica à sombra do primeiro título?

Halo Wars 2 é, tal como o primeiro, um jogo de estratégia em tempo real tal  e passa-se no ano de 2559, 28 anos após os eventos do original e apenas alguns anos após os eventos de Halo 5 . Neste jogo voltamos ainda a ter uma tripulação humana na nave Spirit of Fire, mas vemos também a ser introduzida uma nova espécie alienígena: os Banished. Ao iniciar a experiência, o jogador é aconselhado a passar pelos tutoriais, algo que também aconselho, pois além de se aprender certas nuances específicas da jogabilidade, desbloqueiam-se ainda pacotes de cartas para usar no modo Blitz, que explicarei mais abaixo.

Em certos modos multijogador temos variantes como “Defend the Base“.

Após  um sono criogénico de 28 anos, o Capitão James Cutter e a sua equipa acordam completamente ignorantes do que ocorreu durante esse mesmo período, tal como por exemplo a guerra entre a humanidade e os Covenant ter terminado e a Spirit of Fire ter sido dada como perdida. A nave encontra-se na órbita de Ark, uma gigantesca instalação que usada para criar os famosos anéis de Halo. E sim, como curiosidade, é exatamente o mesmo sítio por onde John Spartan – o Master Chief – passou durante as suas aventuras em Halo 3. Inclusivamente durante a campanha são mencionados esses eventos.

Após um sinal encriptado de pedido de ajuda, Cutter envia uma equipa de Spartans para a superfície –  que deverão investigar – acabando por encontrar Isabel, uma I.A. (tal como Cortana) que os avisa sobre um grande perigo iminente. Este perigo é justamente um formidável Brute chamado Atriox e a sua fação banida dos Covenant: os Banished. Cabe a Cutter e à sua equipa tratar de lidar com este novo perigo e impedir que este se propague.

Pouco mais quero revelar da história pois esta, em bom estilo de jogos Halo, está cheia de voltas e reviravoltas, surpresas e momentos emocionantes aos quais os fãs já estão habituados. Algo que também já estão habituados é a apresentação fantástica de todos os jogos, começando pelos menus iniciais que, mesmo que os panos de fundo cheios de ação não vos impressionem, têm pelo menos uma trilha sonora que não desilude. Tudo neste jogo grita “Halo“, e isso é logo notório assim que este carrega os menus iniciais, incluindo a mensagem do dia e tudo o mais. Em termos visuais de apresentação, o jogo está, de facto, um mimo. No entanto, mesmo com todas estas qualidades, poderão demorar até se adaptarem aos menus, especialmente à navegação.

Alguns visuais chegam mesmo a ser de “cortar a respiração”.

A campanha está repleta tanto de típica jogabilidade de jogos do género tais como construção e gestão de bases e unidades além da gestão de recursos e afins, porém com alguns furos abaixo da complexidade dos jogos deste género mais conhecidos. No entanto, a nível de missões e variedade destas o jogo não desilude pois ao longo da campanha somos brindados com missões com elementos diferentes como por exemplo uma em que temos de defender a nossa base como se de um Firefight se tratasse pois temos de fincar as nossas tropas e veículos no terrenos e aguentar com ondas sucessivas de inimigos. Tudo isto com cenas em CGI deveras impressionantes que só nos deixam a salivar por não serem em quantidade suficiente. Uma nota curiosa é para o facto de – alerta de ligeiros spoilers – ter ficado muito mais satisfeito com a progressão da estória durante a campanha do que propriamente a sua conclusão que acabou por me deixar com uma ligeira sensação de vazio, como se não tivesse sido atingido um final concreto, tal como no final de Halo 5 onde questões ficaram por serem respondidas.

Para ser sincero, este final algo anti-climático acaba por ser recompensado pelas missões frenéticas e entusiasmantes durante toda a campanha que pode levar à volta de 10 horas para completar. Se forem minuciosos neste tipo de jogos como eu e levam o seu tempo a amealhar tropas e recursos e a explorar todos os cantos do mapa pode durar mais 2 ou 3. Quase parece no entanto que foram propositadamente “removidos” alguns capítulos para serem colocados em futuro DLC mas no seu todo temos uma campanha muito sólida cheia de momentos suficientes para nos deixar extremamente satisfeitos. Qualquer um pode iniciar logo pela campanha pois o jogo de início dá dicas suficientes para nos integrarmos no sistema de jogo apesar de, uma vez mais, recomendar-se vivamente passar pelos tutoriais.

Muitas explosões é o prato do dia em multijogador.

Basicamente, a partir da nossa base podemos construir unidades. Cada unidade tem um custo de produção tanto em energia como em mantimentos sendo que, além e estruturas que aumentam progressivamente a produção destas, também as podemos colher com as nossas unidades à medida que as vamos encontrando no campo de batalha. Algo muito interessante são os “Poderes de Líder” com os quais podemos, por vezes, alterar o desfecho das batalhas. Estas habilidades especiais são obtidas à medida que ganhamos pontos de líder e podem ser acedidas com o botão LT. Estes poderes podem ir desde simples drones que ajudam a restaurar vida às nossas unidades até a obtermos uma equipa de ODST, torres de disparo automático ou bombas devastadoras. Cada uso destes poderes tem de ser bem ponderado pois temos um certo tempo de espera até os podermos usar novamente. Obviamente, os poderes variam conforme os vários líderes disponíveis no jogo.

Sendo um jogo de estratégia numa consola existe sempre o “estigma” de ser jogado com comando e não da clássica dupla rato/teclado. Devo dizer que, tal como no jogo original, os comandos estão muito bem implementados com, por exemplo, atalhos para pontos de encontro ou para voltar à base ou para escolher equipas de unidades (ou as criar) implementados no D-Pad os botões LT e RT para acesso a esses atalhos rapidamente. Os sticks analógicos servem para o movimento e para rotação e zoom. Claro que, nunca chega a ser tão intuitivo ou rápido quanto usar rato e teclado porém no meu ver estamos perante um novo estandarte em termos de jogos de estratégia em consolas no que toca à jogabilidade devido à muito boa implementação de comandos para os botões que após não muito tempo torna-se bastante intuitiva.

Podemos criar e editar decks com um máximo de 12 cartas

Visualmente apresenta detalhes fantásticos que tornam um jogo bastante bonito de se admirar. Na consola atinge os 1080p/30 fps enquanto que em PC pode ir até os 4K/60fps. A nível ambiente contamos com visuais impressionantes cheios de efeitos de luz tanto no cenário como também quando causados pelas intensas batalhas neles ocorridas. Devo mencionar que apesar das muitas unidades e caos que esteja a acontecer muito raramente vi quebras no jogo salvo nas ocasiões em que este grava um checkpoint automaticamente. Em termos sonoros nota-se um trabalho notável tanto ao nível que efeitos sonoros bastante realistas como para a banda sonora fenomenal, algo que conseguimos nos aperceber desde logo no menu inicial. Devo até dizer que esta banda sonora está aos mesmos níveis de jogos anteriores do universo Halo, não desiludindo de forma alguma. A nível de vozes podemos contar, a nível geral, um bom trabalho, não excelente pois temos alguns personagens que parecem mesmo estar a ler os textos enquanto que outras fazem um muito bom trabalho. Um exemplo de trabalho menos bom é logo desde início um dos Spartans que ao falar não me parece muito convincente ou desprovido de alguma “vida”, ou melhor, de alguma personalidade que deveria ter sido melhor explorada num Spartan. É de facto estranho por vezes ouvir estes super-soldados proferirem expressões que mais depressa um comum marine diria.

Ao nível de multijogador o jogo brilha. Pura e simplesmente. Desde logo temos modo Deathmatch, com o qual podemos contar com um estilo clássico de construir e gerir bases e unidades contra outros oponentes incluindo possibilidades de 1 contra 1 ou, ainda melhor, 2 para 2 ou até 3 para 3. Dentro deste temos Strongholds onde temos de capturar mais bases que os oponentes e Domination, onde os jogadores podem controlar vários pontos no mapa até obter supremacia. Estes modos podem ser acedidos a partir do menu principal para online, privado ou em modos “de treino” contra oponentes controlados pelo jogo. Estes modos de jogo exigem algum tempo pois um bom desempenho depende da gestão dos nossos recursos ou unidades. Posso dizer até que só para instalar a nossa base e fazer os preparativos podemos levar até 30 minutos se queremos ter alguma chance contra outras pessoas. Também existem as já habituais skulls que alteram certos aspectos do jogo podem ser ativadas conforme a nossa disposição. De nota é que apesar de Halo Wars 2 ser um jogo Xbox Play Anywhere, ou seja, sendo comprada a versão Xbox temos direito à versão PC, não há forma de jogar com ou contra pessoas usando a versão PC e vice-versa. O jogo pode, no entanto, ser jogado na consola e depois é possível o continuar no PC usando a gravação na cloud.

Blitz em plena ação com 4 cartas disponíveis para serem usadas a qualquer instante.

O novo modo apresentado é Blitz. Este modo de jogo parece ter sido feito de tal forma que seja consideravelmente mais apelativo para novatos na série apesar de, com certeza, fazer as delícias aos veteranos que não se importem de experimentar algo novo. Realmente novo é, definitivamente, e muito bem-vindo pois injeta brilhantismo na já excelente jogabilidade e variedade de modos existentes. Este modo é uma espécie de mistura de estratégia com jogos de cartas no qual depois de escolher um líder vamos para o campo de batalha para tentar capturar zonas. Ao ganhar pontos e ao colecionar recursos com as unidades ganhamos pontos. Pontos esses que depois podem ser usados para ativar cartas que podem dar unidades mais fortes ou algum ataque especial, por exemplo. Este modo é especialmente frenético e não é pouco usual os jogos serem bastante disputados e equilibrados. Há a estratégia de escolher quais as 12 cartas que queremos levar no baralho para a batalha por isso não é apenas uma questão de adicionar ao calhas. Quanto mais poderosas ou raras as cartas (que podem ser ganhas ao subir de nível, a jogar a campanha ou compradas), mais energia irão precisar para serem ativadas, porém uma estratégia bem delineada pode levar à utilização de uma carta que mude o curso da batalha completamente. Este modo pode também ser jogado cooperativamente com amigos em modo Firefight onde defendemos contra ondas de inimigos de crescente dificuldade. De salientar que lamentavelmente, pelo menos por enquanto, este modo ainda só pode ser jogado num mapa apenas ao contrário dos 12 disponíveis para os modos mais clássicos.

Opinião final:

Halo Wars 2 tem um pouco para todos. Uma boa campanha cheia de momentos emocionantes, visuais fantásticos, banda sonora incrível e jogabilidade simples e intuitiva o suficiente para receber novatos de braços abertos. Tem vários modos multijogador que tanto satisfazem os fãs mais veteranos como também quem esteja a aventurar-se pela primeira vez e inclui ainda um novo modo muito original que com certeza será o preferido de muitos. Tem aquele feel distinto que só um jogo de Halo consegue. E tem a capacidade de inovar equilibrando quase na perfeição uma jogabilidade de um género de jogo normalmente mais associado aos PC do que a consolas com novos modos extremamente interessantes e viciantes como o modo Blitz onde podemos coleccionar cartas e as usar durante os jogos. Também de salientar que a campanha pode ser jogada cooperativamente a dois através do Xbox Live. Muito divertido, especialmente para fãs de RTS e do rico universo Halo. Uma bela adição de facto ao já vasto pedigree desta marcante série e uma que impõe uma fasquia e padrão bem altos. É, apesar de alguma inconsistência no final da estória, da ausência de mais mapas para o modo Blitz e algum trabalho de voz não tão brilhante, um título de grande qualidade que merece ser jogado por muitos e por durante muito tempo.

Do que gostamos:

  • Trabalho audiovisual fantástico, é um belo jogo de se ver e ouvir;
  • O modo multijogador Blitz é original e frenético;
  • Campanha com enredo muito interessante e fácil de seguir;
  • Jogabilidade intuitiva muito bem conseguida com o comando da Xbox;
  • É um título Xbox Play Anywhere: compra para Xbox e joga grátis em PC;
  • O novo antagonista, Atriox, está fantástico.

Do que não gostamos:

  • A campanha no final pode deixar-nos um pouco ansiosos e insatisfeitos por não ter um desfecho completo;
  • Trabalho de voz em alguns personagens está um pouco aquém do que se espera;
  • Alguns poderiam esperar uma duração um pouco superior na campanha;
  • Tem micro-transações para comprar cartas.

Nota: 9/10