Análise – Impact Winter

Inaugurado em 2011, o estúdio britânico Mojo Bones estava acostumado a desenvolver jogos indies para plataformas móveis e consolas portáteis. Tudo isto, no entanto, mudou quando anunciou, juntamente com a Bandai Namco, o desenvolvimento de Impact Winter, um jogo de sobrevivência num ambiente gélido.

Impact Winter tem início oito anos após uma catástrofe, em que um asteroide caiu na Terra e dizimou grande parte da população, mergulhando o planeta numa nova Idade do Gelo, com temperaturas reduzidas e constante queda de neve.

O jogador vai assumir então o controlo do Jacob Salomon, um homem que perdeu a sua esposa e filha no desastre e tornou-se no líder de um grupo de outros quatro sobreviventes, que estão refugiados no interior de uma igreja. Estes, já sem muitas esperanças, encontram BD-750, um robô de reparação que posteriormente batizam com o nome de Ako-Light. Um dia, Ako-Light interceta uma transmissão de rádio misteriosa, através da qual descobrem que em 30 dias serão resgatados, e a partir daqui é que começa a aventura de sobrevivência para recolher recursos e manter todos vivos até que essa ajuda chegue.

A igreja vai servir como uma base de operações e local de segurança dos perigos exteriores e cabe ao jogador utilizar as habilidades únicas de cada um dos seus companheiros e do protagonista para garantir a sua sobrevivência durante esses trinta dias. Para quem espera um jogo acessível, Impact Winter talvez não seja a escolha mais indicada, já que se trata de uma experiência muito exigente, onde dificilmente irão conseguir cumprir o objetivo logo na primeira partida. Cada membro terá que executar várias tarefas básicas para manter todos em segurança, ou seja, será importante gerir a alimentação, hidratação, sanidade, bem-estar, e felicidade de todos, e isso irá depender diretamente daquilo que o jogador irá fazer com Jacob, que também tem as suas próprias habilidades.

Para isso Jacob terá de abandonar temporariamente a segurança da igreja para explorar “O Vazio”, nome dado aos locais exteriores que foram completamente enterrados pela neve. Por isso, ver-se-ão na necessidade de investigar muito bem os vários locais para assim recolherem os itens necessários para melhorarem as condições de sobrevivência da igreja, sendo possível que os quatro outros sobreviventes venham mesmo a falecer sem as condições mínimas de sobrevivência. Jacob também é capaz de morrer, no entanto, o jogo permite regressar até ao último ponto de controlo, que foi o local onde ele dormiu pela última vez, o que já indica que os sobreviventes são o ponto mais importante do jogo.

O jogador terá sempre de se manter dividido entre a exploração e os cuidados com os sobreviventes, já que de nada adianta ter todos os materiais necessários se já não houver ninguém na igreja para fazer uso deles. Será por isso bastante importante gerir o estado dos sobreviventes enquanto Jacob está fora, a garantir que tenham o necessário para sobreviver.  Para isto, podemos  atribuir-lhes várias tarefas e pontos, que vão sendo desbloqueados ao alcançar um novo nível e que permitem evitar doenças, prolongar o tempo de descanso, melhorar a habilidade de reparação, etc.

Cada personagem em Impact Winter terá necessidades que vão muito além do padrão básico. O estúdio integrou um sistema de missão no qual os jogadores vão ter objetivos a cumprir para aumentar a moral de cada personagem, afinal, uma personagem que apenas fica parada à espera dos outros, começa a ficar deprimida e a sua sanidade a ficar muito afetada, sendo inclusive possível que comece a ter alucinações e fuja da igreja, o que irá com toda a certeza resultar na sua morte. Ao cumprir esses objetivos, as personagens recebem pontos de experiência que servirão para aumentar o seu nível, sendo que essas missões serão essenciais para acelerar a chegada da ajuda.

Como mencionado, a nossa missão principal em Impact Winter é sobreviver trinta longos e frios dias. No entanto, o estudio utiliza uma medição bem peculiar do tempo. Cada minuto dentro do jogo, equivale a um segundo na vida real. Ou seja, esperar esse tempo seria impossível para qualquer jogador, e realmente não é necessário, já que ao completar objetivos e eventos durante o jogo, este tempo é reduzido. Isso vai forçar os jogadores a realmente estarem atentos às necessidades dos aliados e à exploração do universo do jogo, sendo a dar prioridade os desafios que permitem acelerar o tempo.

Enquanto estiverem a explorar, serão sempre acompanhados por Ako-Light, que, assim como qualquer outra personagem, também tem as suas necessidades, sendo que no caso dele estas são as baterias. A energia dele durante a exploração será consumida e só pode ser recarregada novamente na igreja. Ako Light será essencial para a exploração, já que é o responsável por saberem a localização da vossa personagem, é capaz de lançar um pulso de energia que é utilizado para detetar pontos de interesses próximos, pode escavar, e até mesmo levar objetos de volta para a igreja. Durante a jornada, é ainda possível atualizar o seu firmware, o que melhora as suas habilidades no terreno.

Tudo isto compõe a experiência jogável que é Impact Winter, transformando um simples jogo de sobrevivência num desafio bem exigente até para jogadores mais experientes no género.

A nível gráfico, Impact Winter não dececiona e nem deslumbra o jogador, pois por ser um jogo indie e simples, em nenhum momento a intenção do estúdio era oferecer gráficos realistas ou de grande impacto, mas apenas contar uma história através das imagens, mostrar os efeitos causados pela neve numa paisagem que anteriormente estaria cheia de vida, sons de crianças a brincar, veículos, seres vivos, etc.

Na realidade, Impact Winter passa muito aquela sensação de estarmos perante um jogo mais antigo, e isto  não tanto pela sua qualidade gráfica, mas pela sua intenção de ser um jogo simples, onde o mais importante é levar o jogador numa viagem não apenas ao jogo, mas na sua própria mente, tal como os jogos lançados já há algum tempo, que tratavam de preencher as limitações tecnológicas de então com a imaginação de quem os jogava. No entanto, apesar da sua simplicidade, é possível notar detalhes como as marcas de passos na neve ou a dimensão dos efeitos e tempo decorrido, com base na altura da neve em relação ao edifício de que estamos próximos.

A banda sonora do jogo ajuda a compor a ambientação, já que traz consigo o silêncio e a opressão dos locais, aliados a músicas compostas pelo sueco Mitch Murder, com canções sintetizadas que lembram músicas dos anos 70-80.

Um dos pontos mais fracos do jogo é a sua qualidade técnica. Impact Winter é um jogo que sem duvida alguma iria beneficiar de algum tempo adicional de desenvolvimento para corrigir certos problemas técnicos (sendo que alguns já foram corrigidos no dia em que esta análise foi publicada). Para além de problemas na respostas do comando às ações no jogo. O Mojo Bones terá que ter em especial atenção a tradução do jogo (a análise foi feita com tradução em espanhol) já que apesar de não ter erros gramaticais, em vários momentos palavras em espanhol foram substituídas por palavras em inglês, algo que certamente não vai comprometer a experiência do jogador, mas que é sempre um incómodo. Além disso, os tempos de loading são especialmente longos em certos momentos, principalmente quando saem da igreja, algo que o próprio estúdio já se comprometeu a resolver no futuro.

Nenhum problema técnico realmente irá comprometer drasticamente a experiência de jogo, mas talvez algumas semanas mais de desenvolvimento seriam o suficiente para que boa parte desses problemas não existissem nesta versão final.

Opinião final:

Em resumo, Impact Winter é um jogo de sobrevivência bem exigente, com uma história simples, mas interessante e sistemas que vão fazer o jogador estar em constante movimentação e atenção a tudo e todos, caso queira sobreviver durante os trinta dias necessários até ao resgate. Um jogo que graficamente não irá ganhar nenhum prémio na indústria, mas que com certeza irá ser apreciado por muitos daqueles que apreciam gráficos mais simples e artísticos, com a imagem dos personagens a ser desenhada a mão. Um jogo que apesar dos seus problemas técnicos, representa bem o esforço de um estúdio até então limitado a pequenas obras, de expandir as suas produções e correr novos riscos num mercado que muitas vezes é criticado por não arriscar muito, lançando assim um título que muitos certamente vão comparar a This War of Mine, só que com uma ambientação gélida e a substituir a ameaça da guerra pela ameaça da temperatura.

Do que gostamos:

  • Um grande fator de replay;
  • Uma ambientação perfeitamente reproduzida tanto a nível visual como sonoro;
  • Um jogo como uma proposta simples e ao mesmo tempo desafiante, ideal para aqueles momentos mais calmos.

Do que não gostamos:

  • Problemas técnicos desde uma tradução inconstante até tempos de loading demasiado longos;
  • Alguma repetição de eventos e desafios.

Nota: 8/10