Análise – Injustice 2

Injustice: Gods Among Us foi lançado em 2013, tendo sido muito bem recebido tanto pelos jogadores como pela crítica especializada. Uma nova propriedade intelectual que desde logo marcou impacto, tornando-se numa referência no género de jogos de lutas. Agora, em Maio de 2017, foi finalmente lançada a sequela, designada de Injustice 2, que prometia trazer novidades não só à série, como ao género, sendo que a NetherRealm Studios fez de tudo ao seu alcance para entregar o melhor jogo possível.

Um dos aspectos no qual se tentaram superar a si próprios e que foi uma das coisas pelo qual o Injustice: Gods Among Us se destacou tanto, foi na história. Apesar do jogo anterior ter-nos apresentado uma campanha cheia de grandes momentos e uma história que, dentro do género, elevou a fasquia, a exploração de um universo paralelo e a mistura de personagens duplicadas de dois universos tornou o enredo um bocado confuso e tirou algum brilhantismo. No entanto em Injustice 2, além dos acontecimentos do jogo anterior não terem ficado esquecidos, e ter havido consequências das ações de algumas personagens, isso é um pequeno detalhe que servirá de arranque para uma história completamente nova e refrescante.

Depois dos acontecimentos de Injustice: Gods Among Us, Batman e os seus colaboradores irão fazer de tudo para reconstruir o mundo para ficar como antes, no entanto aparece uma fação, supostamente liderada pelo Gorilla Grodd designada de Sociedade, que é composta por Deadshot, Poison-Ivy, Bane, Cheetah, Reverse-Flash, Catwomen, Captain Cold e Scarecrow. Essa fação foi criada com o intuito de dominar o mundo, mas quando as coisas começam a correr mal, a verdadeira mente por detrás da Sociedade aparece: Brainiac. A partir daí o enredo irá desenvolver-se cada vez mais, acompanhada de cutscenes absolutamente fantásticas e uma banda sonora adequada para as diversas situações.

Injustice 2 apresenta aquela que é a melhor história num jogo do género, numa campanha épica do principio ao fim. Todos os super-heróis e vilões estão fielmente representados, tanto a nível de personalidade como a nível de combos e habilidades especiais. Nesse aspecto, há que referir que enquanto em Injustice: Gods Among Us as personagens tinham um aspecto mais cartunesco, em Injustice 2 tem um aspecto mais humano, com animações dignas de menção e talvez do melhor que já se tenha visto num jogo de luta.

No total há 28 personagens jogáveis, sendo que um deles só ficará desbloqueado quando se completar o modo história, o Brainiac. O número seria elevado para 29 caso decidissem adquirir o Darkseid, que custa 5.99 euros, um preço um bocado caro para uma só personagem. No entanto esse número irá aumentar ainda mais, porque já foi confirmado três pacotes que irão trazer três personagens cada, o que significa que irá haver 38 personagens. Já é possível comprar o Ultimate Pack que dará acesso a todas essas personagens e skins, mas o preço é alto: 39.99 euros. Em comparação, o Injustice: Gods Among Us tinha no jogo base um total de 24 personagens jogáveis, sendo que com os DLC ascendeu às 30 personagens.

Mas números à parte, quando se fala em personagens num jogo de luta, pensa-se logo na jogabilidade, nos combos, nos poderes e habilidades especiais, e nisso o jogo cumpre com o que se esperava, e até supera as expectativas, ao adicionar pequenas novidades como clicar num determinado botão no timing certo quando se está no ar depois do adversário nos atacar, de forma a recuperar a posição, ou rebolar ao cair no chão para se preparar para contra-atacar. Os cenários são ligeiramente mais interactivos que o jogo anterior, podendo-se pegar e mandar mais coisas contra o adversário, utilizar algo pesado para se ganhar alavanco para saltar para o lado que se desejar e claro, as reconhecidas transições de cenário, em que consiste em clicar no botão certo para dar um pontapé ou murro no adversário para aparecer um tipo de cutscene onde o oponente irá atravessar o cenário, embatendo contra tudo o que aparece à frente. Quando finalmente cair no chão, iremos ter com o adversário e a luta continuará caso o oponente ainda tenha HP, mas num cenário diferente de onde se começou.

Todas essas mecânicas e a combinação das mesmas, juntamente com um grafismo de luxo, tem a fluidez necessária. No entanto Injustice 2 é mais do que apenas um simples jogo de luta, pois tenta revolucionar o género ao incutir sistemas de um RPG. Todos os lutadores são personalizáveis e assim que se abre o menu de escolha das personagens dá para ver uma diferença em comparação com o jogo anterior: os lutadores tem estatísticas como Força, Habilidade, Defesa e HP, bem como existe uma opção de Loudouts, que serve para equiparmos a nossa personagem da forma que quisermos com o que ganhamos no espaço pretendido.

Ai entra o factor Loot. De forma a ser possível personalizar as personagens, há que simplesmente jogar, cumprindo desafios, subindo de nível e completar planetas no Multiverso, por exemplo. As recompensas são normalmente aleatórias e podem vir de duas formas: em caixas que poderão ser depois abertas no Brother Eye Vault ou equipamentos (Gear) que são dados de forma directa. Existem três níveis de equipamentos: comuns, raros e lendários. Cada equipamento tem a sua estatística e habilidade, o que significa que ao se personalizar uma personagem com um melhor equipamento, as estatísticas do lutador irá aumentar, e como tal irá tornar-se melhor e mais eficiente. Dou como exemplo o filme Batman v Superman: Dawn of Justice, em que o Batman, de forma a ter mais hipóteses contra o homem de aço, Super-Homem, teve que apostar em equipamentos de topo.

Isso significa que é um sistema fiel ao que acontece nos filmes, banda desenhada e até séries de super-heróis e vilões da DC. E sendo que as recompensas são normalmente aleatórias, isso significa que mesmo que decidam lutar com o Flash, o equipamento ganho poderá ser de qualquer personagem. Esse ganho irá parar ao inventário, que está limitado a 50 itens para cada personagem que recebe equipamentos. De referir ainda que não se poderá equipar algo que tenha um nível superior à personagem, o que significa que se uma determinada personagem tiver nível 10, só poderá usar itens de nível 10 ou inferior. Outra das recompensas possíveis além de equipamentos capazes de aumentar as estatísticas dos lutadores, são as Skins e Shaders. As Skins mudam o aspecto da personagem de forma a transformar aquela personagem específica noutra personagem. Por exemplo, o Captain Cold tem uma Skin em que se “transforma” em Mr. Freeze e o Flash uma Skin que se “transforma” em Reverse-Flash e Jay Garrick.

No que toca a outros modos Single-Player além da campanha, há o Multiverse, que é uma das grandes novidades na série. A NetherRealm Studios inspirou-se nas Living Towers de Mortal Kombat X para as adaptar ao conceito do universo da DC Comics. Esse modo apresenta um local onde se pode aceder a vários planetas nos diversos universos paralelos. Cada planeta terá desafios e recompensas diferentes, sendo que de tempo a tempo os planetas mudam, tal como a sua descrição e respectivos objectivos e loot. O único planeta fixo é o “Battle Simulator”, local onde se encontra algo similar ao modo Arcade, o que significa que ao completarem isso com as diversas personagens irão depois desbloquear uma cutscene final com uma história única para cada lutador. É pena que, ao contrário de Injustice: Gods Among Us, não haja o Archives, local onde se poderia ver as cutscenes dos lutadores no modo Arcade, algo que espero que venha a ser adicionado através de uma actualização.

No Multiverse, ainda na parte do “Battle Simulator”, é possível encontrar o Modo Survival, onde os jogadores terão que sobreviver a uma série de combates com o HP e super-meter a transitar do combate anterior para o próximo, e o Modo Endless, onde há que derrotar o máximo de oponentes possíveis sem perder nenhum combate. No entanto, noutros planetas, e tendo em conta os novos desafios, deparamos com algo chamado de Modificadores. Esse é um elemento em que acrescenta alguma habilidade nova, impede executar determinadas ações e que faz os combates serem muito rápidos ou com maior dano, por exemplo. Isso foi incluído no jogo de forma a proporcionar combates singulares, no entanto também tornam um jogo extremamente divertido num jogo demasiado frustrante. Num dos combates o oponente poderia fazer tudo e mais alguma coisa, no entanto havia um Modificador em que não poderia executar nenhum combo, podendo só fazer ataques de um hit. Claro que isso destruiu por completo o equilíbrio daquele combate, porque beneficiou claramente um lado e prejudicou completamente o outro. Outro dos casos é um combate ser interrompido porque há um Modificador em que faz misseis eletrizantes caírem do céu, interrompendo por completo o combate em si.

No entanto nem todos os Modificadores são maus ou desequilibrados, há um que permite Side-Kicks, o que significa que poderemos entrar num combate com um companheiro à nossa escolha e durante o combate é possível chamá-lo para entrar na arena e atacar o oponente. Desde que isso seja possível executar tanto do nosso lado como do lado do oponente, não é algo que afecte o equilíbrio. Na verdade, o estilo dessa mecânica faz lembrar Marvel vs Capcom, e a nível técnico, essa inclusão em Injustice 2 foi feita com sucesso. De referir ainda que nem todas as lutas no Multiverse tem Modificadores.

Outra das novidades são as Guilds, uma vertente multiplayer que permitirá trabalhar em conjunto com outros jogadores. Depois de se criar ou escolher uma Guild, o objectivo será aceder aos planetas do Multiverse e completar os diversos desafios. Sendo que esse modo está feito a pensar no trabalho de equipa, grande parte dos desafios são quase impossíveis de se passar sozinhos. No entanto com a dificuldade, vem grandes recompensas, com loot específicos para Guilds. Se um grupo de jogadores se juntarem para completar um evento, por exemplo, todos irão ter direito aquele loot. Essa vertente está de tal forma pensada em trabalho de equipa, que até existe batalhas contra Bosses, personagem ou personagens extremamente poderosas que só poderão ser vencidas com um esforço entre os vários membros. Se um jogador perder, outro será imediatamente colocado em jogo contra aquele Boss.

Enquanto que Injustice: Gods Among Us tinha como modos Multiplayer o Versus, Ranked Match, Player Match e Private Match, Injustice 2 não só também os têm, como vai muito mais longe. Além das Guilds, há um novo modo designado de AI Battle Simulator, que consiste em criar uma equipa de três com as personagens existentes para defrontar qualquer uma das equipas criadas por outro jogador. Nesse caso não seremos nós a controlarmos as personagens, mas sim uma luta entre a inteligência artificial. Iremos assistir às lutas, que no final de tudo serão decididas pelas habilidades das personagens, pelo Equipamento que tem e respectivos benefícios que isso traz. Sendo um jogo cheio de opções, será depois possível ver esse combate todo, escolher novos defensores/alterar a equipa, “Spar with friends”, o que significa que poderemos lutar contra uma equipa criada por um amigo nosso, e Leaderboards.

Dentro do modo Multiplayer, é possível criar um Torneio e jogar com um amigo, por exemplo, escolhendo várias definições, como escolher o tempo de cada ronda, fazer ou não random ao equipamento das personagens, activar ou desactivar o bónus de primeiro hit, diminuir ou não as barras de vida, aceitar ou não as interações/transições com o cenário, e se preferimos ou não escolher a arena. Embora nesses modos seja possível utilizar equipamentos, no online isso fica reduzido a meros itens cosméticos, de forma a assegurar uma competição justa e equilibrada.

É um jogo bastante completo, com imensos modos online e offline, incluindo o clássico Tutorial e Practice, sendo que o primeiro elucida de forma ideal todos os detalhes das mecânicas, para que qualquer jogador consiga pegar no jogo e fazer uso daquilo que o jogo tem para oferecer. O clássico “Single Fight” também está presente, sendo possível escolher a personagem que se quer utilizar e o adversário, bem como o cenário. Algo que é visto como uma opção secundária mas bem-vinda de qualquer das formas, é um extra designado de “Hero Cards”. Quando se acede a essa opção, dá-se de vistas com o “Overview”, estatísticas que referem qual é a nossa personagem favorita, quantos combates é que já fizemos, vitórias/derrotas e percentagem das mesmas, o maior streak de vitórias que se teve, as horas que já se jogou, e muitas outras estatísticas. Na página ao lado do “Overview” está o “Offline Character History”, onde aparece todas as personagens e a informação das vitórias/derrotas e respetivas percentagens, e por fim o “Progression Rewards”, que informa sobre os diversos desafios e se estamos ou não quase a completá-los, sendo que à frente de cada desafio está a respectiva recompensa, que neste caso é XP e créditos, estes últimos que servem para comprar Mother Box, ou seja, caixas que virão com equipamentos, shaders e habilidades, estes últimos que são mais raros de se obter.

Opinião Final:

Injustice 2 ultrapassou todas as expectativas possíveis e imaginárias. Não é uma simples sequela e está longe de ser um simples jogo de luta. O jogo revoluciona o género ao incutir sistemas de um RPG com uma enorme profundidade, tornando o jogo extremamente divertido, mas também aumentando imenso a longevidade. Chegar ao nível máximo com uma só personagem não é fácil e demora tempo, tal com obter os melhores equipamentos e habilidades, algo que incentiva a gastar tempo no jogo para os ganhar. Além disso é um jogo impecável tanto a nível gráfico, como a nível de fluidez. Em imensas horas de jogo nunca apanhei um bug, nunca notei uma queda de frame-rate e a nível visual, todos os cenários tem uma arte lindíssima, com imensos detalhes, isso além de ser muito interativo e ter transições, que continuam a ser fantásticas. A nível de personagens, há muitos por escolher e cada um tem o seu estilo único. As animações dos lutadores estão espectaculares, com faces bastante realistas, algo que contribui para uma melhor experiência. Infelizmente personagens icónicas de Injustice: Gods Among Us como Deathstroke, Doomsday, Killer Frost, Martian Manhunter e Lobo ficaram de fora, no entanto houve novas inclusões de peso em Injustice 2, como Supergirl, Gorilla Grodd, Poison Ivy, Firestorm, Dr. Fate e outros. É uma dupla oportunidade para obterem e jogarem ambos. Embora não seja um jogo perfeito, muito devido aos Modificadores e, se tiver que referir algo mais, os conteúdos adicionais, que são caros (embora se possa dizer o mesmo de quase todos os jogos durante os dias de hoje), a perfeição também não existe, mas tendo em conta todos os aspectos do jogo e o quão longe a NetherRealm Studios foi para entregar uma sequela que fosse mais do que uma simples continuação do jogo anterior, investindo os seus recursos para trazer uma série de novidades não só à franquia como ao género, arriscando imenso como consequência, e ter acertado em pleno na fórmula, então há que dizer que se há jogo de luta que roça a perfeição, esse jogo é o Injustice 2.

Do que gostamos:

  • A história é magnífica e é do melhor que já se viu num jogo de luta;
  • Recheado de novidades;
  • Elementos como Gear e Loot foram implementados com sucesso;
  • Guilds e batalhas contra bosses;
  • Uma série de novos modos entusiasmantes, incluindo o Multiverse e AI Battle Simulator;
  • Cenários mais interactivos, com transições que continuam fantásticas;
  • Grafismo é soberbo e os combates muito fluídos;
  • Depois de dezenas de horas de jogo, não houve um único bug ou quebra de frame-rate.

Do que não gostamos:

  • Alguns Modificadores no modo Multiverse transformam um jogo divertido num jogo frustrante.

Nota: 10/10