Análise – Metroid: Samus Returns

Metroid é sem dúvida alguma uma das séries que revolucionou o mundo dos videojogos e serviu de influência e inspiração a diversos títulos. Apesar de 2D, o seu mundo era extenso e detalhado e sempre conseguiu manter uma qualidade consistente ao longo dos anos. O último titulo 2D foi Zero Mission, em 2004, e foram precisos 13 anos para voltarmos a ver um novo título Metroid à moda antiga. Sem querer desvirtuar os títulos Prime e as suas óbvias qualidades, já há muito que ansiava por uma nova aventura de Samus no bom e velho estilo Metroidvania. Eu e vários fãs, cuja desilusão perante o mais recente lançamento foi notória (e aqui é a última vez que vamos falar de Federation Force).

A expectativa estava elevadíssima, pelo que foi com muito entusiasmo que iniciei este Metroid: Samus Returns e ouvi a icónica música de início. Mas é preciso cuidado com as expectativas. Qualquer fã de videojogos sabe certamente que existem inúmeros exemplos de expectativas altas que acabaram por sair furadas. Samus Returns é na verdade um remake de Metroid 2: Return of Samus, mas a experiência que oferece é totalmente nova.

Existia alguma apreensão com o facto de ser a MercurySteam a desenvolver este título, considerando a recepção mista por parte dos fãs de Castlevania – Mirror of Fate. Mas felizmente, Samus Returns é tudo aquilo que esperava e ainda mais. A influência e supervisão de Yoshio Sakamoto é notória e o que acabamos por ter é um título que tanto atinge a nostalgia como se eleva acima da sua reputação, apresentando-se como uma experiência mais do que sólida para agraciar novos jogadores.

Samus está de volta e aqui para ficar!

O enredo mantém-se familiar, Samus Aran é enviada pela Galactic Federation ao planeta SR388, com a missão de exterminar todos os Metroids que o habitam. A “história” é simples e serve de mote a uma exploração extensa pelos cenários de SR388… que é bem gigante. Como já é usual na série, Samus Returns conta com doses bem grandes de exploração e de backtracking, com inúmeros recantos que apenas podem ser descobertos após obtenção de alguns upgrades. As viagens pelo mapa foram facilitadas com a introdução de pontos de tele-transporte, que tornam a tarefa de um jogador que quer obsessivamente completar tudo (eu, eu!) muito mais fácil. Ao longo do extenso mundo, terão a tarefa árdua de derrotar 40 Metroids. Dito assim, isto parece muito linear, mas o que é certo é que a MercurySteam conseguiu introduzir variedade suficiente para que cada encontro mantenha o jogador sempre alerta. A dificuldade vai escalando, mas nada é impossível.

Preparem-se para morrer algumas vezes, uma vez que as batalhas com os Metroids requerem alguma tentativa e erro de modo a encontrar a melhor estratégia de combate. Mas não se preocupem, o sistema de checkpoints é bastante amigo do jogador, colocando Samus sempre à porta de entrada da área onde o Metroid a espera. Isto torna as batalhas significativamente menos frustrantes do que seriam se apenas contássemos com as Save Stations. Assim, toda a experiência acabou por ser melhorada através da introdução de algumas “facilidades”. A vida do jogador torna-se mais fácil, a experiência mais fácil, mas nem por isso o desafio se tornou menor. Apenas foram cortados alguns detalhes e acrescentados outros que permitem que o desafio seja criado através da exigência de destreza do jogador, ao invés de falhas de game design.

Os perigos de SR388 são muitos, mas Samus Aran tem alguns truques novos na manga.

Como já é usual, Samus começa a sua missão bem despojada de capacidades, que vão sendo adquiridas ao longo do jogo. Todas as habilidades já bem conhecidas dos fãs e que foram sendo introduzidas ao longo dos jogos da série não foram aqui esquecidas, adicionando à variedade da jogabilidade e modo de enfrentar os cenários. O ambiente e design dos níveis foi criado ao pormenor e muitas vezes o que aparenta ser um pequeno obstáculo ambiental é, na verdade, um puzzle que nos obriga a coçar a cabeça caso queiramos aquele míssil extra. Samus Returns não vive só da nostalgia, e como tal temos acesso a novas capacidades alimentadas por Aeion – uma fonte de energia que vai sendo obtida através de esferas amarelas largadas pelos inimigos. São quatro novas habilidades que não só ajudam a facilitar a nossa vida – como é o caso do Scan Pulse, que permite ver quais os blocos que podem ser destruídos – como também dão azo à criação de novos puzzles, obrigando a uma utilização inteligente destas habilidades.

Samus é uma mulher de armas, é certo, mas isso não quer dizer que não saiba usar os punhos de vez em quando. Ao carregar no X, Samus dá um soco aos inimigos que, se for bem sincronizado, funciona como uma contra-ataque que deixa os inimigos desprotegidos e mais fáceis de derrotar. A precisão com a arma foi também aumentada. Ao carregar no L, Samus fica fixa e permite que apontemos a nossa arma em qualquer direcção, aumentando a precisão no combate e até na utilização de mecânicas como o grapple beam. Apesar de poder soar algo limitado – nomeadamente o facto de obrigar a que Samus fique parada sem se mover – rapidamente vão deparar-se convosco a utilizar esta mecânica uma e outra vez, até em lutas mais complicadas. São pequenos ajustes como este que elevam a jogabilidade de Metroid a todo um outro patamar.

Com tantas habilidades e funcionalidades, seria de esperar menus complicados ou combinações de botões estranhas. É aqui que entra o touchpad da 3DS, onde constantemente podemos ver o mapa e assim sempre saber onde estamos e também mudar de arma e/ou habilidade com a facilidade de um toque. Todas estas pequenas coisas tornam a jogabilidade fluída, o que é chave quando estamos a percorrer SR388 de uma ponta a outra e nos vemos assoberbados de inimigos por tudo quanto é canto. Assim que se habituarem aos controlos, rapidamente se verão a mudar de arma, efetuando um contra-ataque e utilizando uma habilidade para escapar a mais ataques. Algo que poderia ser complicado torna-se numa segunda natureza.

Os Metroids e as suas evoluções são a principal ameaça de SR388.

A dificuldade consegue atingir o raro ponto de equilíbrio entre uma experiência difícil e desafiante, mas que consegue ser ultrapassada satisfatoriamente. Isto reflecte-se não só na jogabilidade, como já mencionei, como também nos encontros com os inimigos. Ao verem-se a braços com inimigos potencialmente invencíveis, devem sempre lembrar-se de que nada é impossível. Samus Returns recompensa a determinação do jogador e a chave é mesmo não desistir. É certo que em alguns momentos me senti perdida ou então a desesperar um pouco face a um Metroid particularmente ruinzinho, mas em nenhum momento o jogo atinge picos de dificuldade injustos. O sucesso da missão de Samus encontra-se totalmente nas mãos e na destreza do jogador, nunca sendo lançados obstáculos com o único propósito de criar dificuldade artificial. É aqui que se vê como é possível ter um design de jogo verdadeiramente sólido.

Return of Samus é o único título da série que era totalmente a preto e branco. Os cenários de SR388 eram apenas coloridos pela imaginação dos fãs e a MercurySteam tomou partido desta quase tabula rasa para criar um mundo vivo e rico. Apesar de estarmos a falar de um side-scroller, Samus Returns toma todo o partido de gráficos 3D para criar um planeta vivo, com uma incrível atenção ao detalhe. Os cenários mantêm o colorido que os caracteriza e os ambientes são vívidos e com profundidade. Tudo isto é melhorado através da função 3D. Confesso que esta é uma funcionalidade que raramente utilizo, uma vez que acaba por ser completamente desnecessária e que acaba por ser esquecida por muitos títulos mais recentes. O 3D aqui foi bastante bem conseguido e consegue adicionar à experiência de jogo, ao invés de ser apenas uma característica engraçada à qual se dá atenção durante cinco minutos e depois se desliga. A profundidade dos cenários torna-se acrescida e o mundo de Samus Returns torna-se ainda mais vivo e envolvente.

Sonoramente, Samus Returns é um mimo. Talvez indo buscar inspiração ao presente jogo, a banda-sonora é toda ela familiaridade envolta numa nova embalagem. Decerto que irão reconhecer muitos dos temas que permeiam o jogo, ao mesmo tempo que irão notar que estes tiveram pequenas atualizações e até reinterpretações. Todos os detalhes contam e a música e efeitos sonoros não foram decerto descurados.

Samus Returns é o novo título perfeito que os fãs há muito ansiavam, provando que velhas fórmulas funcionam e que por algum motivo se tornaram clássicos que influenciaram gerações. Metroid está vivo, e de saúde, e espero que este seja a primeira de uma lufada de ar fresco nesta série tão icónica e que tanto amor merece. Samus Returns provou que é possível pegar num título antigo, em tudo o que o tornou bom, e criar quase de raiz toda uma homenagem que consegue ser muito mais do que a soma das suas partes. Fala-se muito em jogos obrigatórios para a 3DS, mas Metroid: Samus Returns é um jogo que todos os jogadores deveriam experienciar, fãs ou não de Metroid.

Opinião final:

A expetativa criada à volta de um jogo muitas vezes vem acompanhada de receio. Metroid: Samus Returns não era excepção, apesar de prometer ser tudo aquilo que os fãs já pediam há muito. Samus Aran continua a ser o ícone dos videojogos que sempre foi, mostrando que aquilo que a tornou numa heroína clássica se mantém actual, mesmo após uma longa carreira de 31 anos. Nostalgia à parte, a MercurySteam e a Nintendo ofereceram a todos os fãs uma carta de amor à série, provando que Samus não está esquecida. E nós estamos aqui para nos certificarmos de que nunca será.

Do que gostamos:

  • Utilização da fórmula Metroidvania na perfeição;
  • Introdução de novas mecânicas em harmonia com o jogo base;
  • Finalmente um novo Metroid!
  • Basicamente tudo!

Do que não gostamos:

  • Bem… hum… nada!

Nota: 10/10