Análise – NieR: Automata

Yoko Taro é um dos grandes mestres da criação de videojogos, embora seja menos conhecido frente aos seus colegas Hideo Kojima Goichi Suda, que ficaram conhecidos pela sua originalidade, implementando temáticas muito sensíveis e fora daquilo a que estamos habituados. Yoko Taro demonstrou o seu mérito em NieRDrakengard, utilizando personagens petulantes e fora do comum em mundos com uma essência única, tentando sempre quebrar as regras do “politicamente correto”.

Yoko Taro revelou na E3 de 2015, durante a conferência da Square Enix, que estava a trabalhar num novo projeto da série NieR, escondendo qualquer informação relativamente ao mesmo. Foi anunciado mais tarde que NieR: Automata iria ser um produto proveniente da parceria entre a Square Enix e a Platinum Games, tendo sido revelado que iria sair apenas na PlayStation 4 e no PC.

O diretor de NieR gosta de se destacar, apresentando-se em eventos com a máscara de Emil.

NieR: Automata é uma sequela de NieR, e, por isso, passa-se após o final do primeiro, na verdade,  milhares de anos depois dos eventos do primeiro jogo. O planeta Terra foi invadido por criaturas robóticas de origens desconhecidas, instalando o caos e provocando a destruição no planeta, o que forçou a humanidade a se refugiar na Lua, onde passa a tentar engendrar um plano com o intuíto de reconquistar o seu planeta. Com este objetivo em mente, foi criada uma organização de androides, a Yohra, estando depositada nesta a última esperança da humanidade.

Ao ser arrasada pelas máquinas, a Terra ficou à mercê da natureza, que se apoderou das grandes cidades da nossa civilização. Estas não passam agora de ruínas cheias de raízes de árvores, desertos,  para além de fábricas abandonadas que escondem máquinas aterradoras, entre outros fenómenos. Em suma, o planeta tornou-se num campo de guerra entre os androides e as máquinas.

2B, a protagonista do jogo, é uma androide da Yohra com o objetivo de aniquilar as máquinas da Terra e ajudar a Resistência, que insiste em ripostar contra o domínio mecânico. Fiel à sua organização e sem questionar as suas ordens, 2B mergulha no cenário conflituoso com 9S, um androide de suporte, e o seu POD, um dos pequenos robôs que servem de apoio aos androides, fornecendo ligações à base da Yohra e ajudando nos combates com as suas miniguns.

As paisagens deste mundo pós-apocalíptico são de tirar o fôlego!

Uma das grandes diferenças de Nier: Automata frente a um jogo normal de Action RPG é precisamente os vários modos de jogo que Yoko Taro implementou, tal como as trocas de tiros frenéticas ao estilo shmup com que nos deparamos em vários momentos, os vários ângulos da câmara a que o jogo nos obriga a nos habituarmos, mudando repentinamente de 3D para 2D ou até mesmo RTS, entre outros modos que prefiro deixar em segredo para não estragar a vossa experiência. Todos estes pequenos pormenores tornam Nier: Automata numa experiência única e refrescante que nos dá vontade de repetir vezes e vezes sem conta, especialmente para vermos todos os seus finais desde o A ao Z.

Assim que iniciamos o jogo, embarcamos na missão apresentada na demo entretanto disponibilizada, onde 2B tem de aniquilar Goliath, uma máquina de tamanho massivo que se encontra numa fábrica abandonada. Nesta, somos presenteados de imediato com um momento de shooting onde controlamos a nave da 2B, permitindo-nos experimentar um pouco da experiência do modo shoot’em up, em que iremos enfrentar várias máquinas voadoras e em que teremos de fazer uso do potencial da nave para as destruir.

Os comandos do modo shoot’em up são muito básicos, estando divididos em 2 tipos: o tipo vertical e o horizontal. No vertical a nave foca-se nos tiros da minigun(R1) para os ataques normais e, ao utilizarmos os seus propulsores, esta irá emitir shockwaves e destruir tudo o que a rodeia num certo raio de alcance (triângulo), e claro que podemos sempre esquivarmo-nos ao premir o botão R2. Já o horizontal foca-se mais nos ataques dos propulsores, sendo possível utilizar uma skill especial de longo alcançe. Este utiliza as mesmas mecânicas do vertical mas com animações diferentes.

O Sistema Shmup está fluído e proporciona momentos únicos.

Terminada a acção deste modo, iremos finalmente controlar a androide 2e explorar a fábrica abandonada, onde nos são explicados os controlos básicos da nossa personagem: quadrado para ataque leve, triângulo para ataque forte, círculo para interagir com objetos e NPC’S, X para saltar e R2 para correr e esquivar dos ataques que os oponentes nos direcionam. Em suma, os controlos são os mesmos a que a Platinum Games nos tem habituado, em jogos como Metal Gear Rising: RevengeanceBayonetta.

2B carrega sempre 2 tipos de armas consigo, estando uma ligada ao ataque leve e outra ao forte, sendo possível misturar ataques de ambas em combos fatais. Existem 4 tipos de arma que a 2B pode utilizar: Braçadeiras (que lhe permitem utilizar socos e pontapés), Espadas, Espadas de duas mãos e Lanças. Todas elas podem ser utilizadas tanto em ataques leves como em fortes e contêm uma história única, sendo desbloqueadas à medida que as aperfeiçoamos nas lojas, recebendo 1 extra por cada melhoria. No entanto, para melhorar as armas é necessário obter certos materiais, um dos drops que as máquinas nos podem fornecer.

As batalhas fornecem desafios para a nossa mente.

As máquinas, os principais inimigos de Nier: Automata, são imensamente variadas no que toca às suas categorias. Estas tanto podem ser apenas uma inofensiva lata de metal que apenas rodopia os braços para nos atacar, um misto dessa lata com uma base circular voadora e uma minigun, como podem ser golems de proporções enormes com todo o tipos de ataques, obrigando-nos a pensar várias vezes na melhor maneira de os conseguirmos derrotar. É nas máquinas que o humor de Yoko Taro está muitas vezes presentes, utilizando-as como cobaias para demonstrar várias temáticas. Um dos exemplos de que gostei mais foi o momento em que saí de um cano de esgoto e vi uma réplica da Disneyland Paris, onde as máquinas estavam todas vestidas de palhaço e enfeitadas com balões enquanto dançavam e festejavam a “paz” e a felicidade que é o amor e a diversão. Achei este momento em si hilário. Mas nem todas as máquinas serão nossas inimigas, algumas delas neste mapa, por exemplo, convidam-nos a entrar e oferecem-nos brindes, sendo algumas delas lojas, sempre com um humor extraordinário.

Outro exemplo de como as máquinas não são todas inimigas, é o nosso Pod, que está sempre presente para nos auxiliar em combate de longo alcance (o que nos permite disparar a sua minigun a qualquer momento ao premir o botão R1) e utilizar o modo lock-on ao premir o botão L1. Esta funcionalidade é muito diferente do que estamos habituados, teremos de visualizar os inimigos que queremos fazer lock-on um a um, em vez do comum modo automático, o que nos leva a descartar esta hipótese quando nos habituamos às mecânicas.

É graças ao Pod que podemos preservar o nosso próprio estilo de jogo, sendo possível implementar chips que vamos obtendo dos inimigos ou  compramos nas lojas. Estes chips estão divididos em 4 tipos: Sistema, Suporte, Ataque e Defesa. Os chips de sistema irão influenciar o HUD de jogo, tal como a visualização dos pontos de vida da 2B,os pontos de experiência que faltam para aumentar de nível, o mini-mapa no canto inferior direito, entre outros pormenores que nos ajudam. Os de suporte permitem à 2B várias opções extras, tais como o aumento de experiência ganha nos combates, aumento de velocidade ou a utilização de itens automáticamente, entre outros que deixarei incógnitos com o intuíto de serem vocês a descobrir. Tal como o nome indica, os chips de ataque permitem melhorar os ataques da 2B,  tanto estatísticamente como diretamente, como é o caso da implementação de shockwaves em cada hit que fornecemos aos inimigos. Já os chips de defesa fornecem melhores estatísticas à 2B, com o intuito de aguentar ainda mais dano por parte dos inimigos.

Tal como as armas, também os chips têm de ser escolhidos com cuidado, visto que a capacidade do POD é limitada. Poderemos fundir vários chips do mesmo tipo para conseguir um chip fortalecido, que nos fornece melhores estatísticas que os dois originais, além disso podemos comprar mais espaço para o Pod. Todas estas funções e melhorias tanto nas armas como nos chips são-nos possibilitadas através das várias lojas que encontramos no vasto mundo de Nier: Automata.

Oh, wHat fUN! Oh, whaT FUn! LeT’s bE haPPy toGETHer!

O mundo de NieR: Automata é enorme e não tem quaisquer ecrãs de loading, exceto quando nos transportamos entre checkpoints ou para o Bunker. No entanto, esta particularidade tem um custo. E não é pequeno. Por exemplo, quando passamos da base da resistência para outro mapa, somos alvejados por quebras de framerate devido ao loading das estruturas, o que também se sucede quando levamos com várias rondas seguidas de inimigos, estragando momentaneamente a experiência.

A base da resistência e o Bunker da Yohra são os lobbys de jogo onde poderemos efetuar alterações aos nossos personagens, através das lojas, que nos fornecem armas, chips e suplementos a troco de “G”  (o nome dos parafusos que os nossos inimigos deixam cair quando são derrotados), ou através das conclusão das missões, assim como de conversas que nos permitem conhecer melhor a lore do jogo. As únicas diferenças entre a base da resistência e o Bunker são as personagens que se encontram presentes, e o mapa. E tanto um como outro têm tudo aquilo de que precisamos para a nossa aventura no mundo de NieR: Automata.

O Bunker é a base principal da Yohra e nele está tudo a preto e branco.

Esta aventura está sempre ligada indiretamente ao menu de jogo, que está dividido em 7 partes: Mapa, onde poderemos, obviamente, observar o mapa da localização onde nos encontramos, marcar pontos de interesse e verificar as distâncias que teremos de percorrer até aos nossos objetivos; Missões, que nos permite verificar as missões por concluir, as que já terminámos e a história das mesmas (algumas das quais têm vários finais, entre os quais teremos de escolher); Itens, que nos permite verificar os nossos itens, saber para que servem e utilizá-los;  Armas, onde podemos personalizar as armas que a 2B carrega, sendo possível criar 2 sets instantâneos para trocar a meio do combate. Neste podemos ver também a história das mesmas, as suas estatísticas, etc.; Habilidades, parte especialmente dedicada às funções do Pod, tais como a personalização dos chips que queremos que ele tenha implementado, os detalhes do mesmo e até as habilidades que o Pod irá utilizar ao carregarmos no botão L1; Intel, onde teremos todas as informações acerca do mundo do jogo, como detalhes das personagens e visualização dos modelos, tanto aliados como inimigos e as suas histórias, os vários tutoriais sobre o jogo também estarão disponíveis aqui e, por último, temos o Sistema, onde poderemos alterar as definições do jogo, como a dificuldade, a câmara, o áudio, etc.

As funcionalidades online de NieR: Automatta são muito idênticas às de Dark Souls, em que à medida que vamos explorando o mundo de jogo iremos encontrar corpos de outros jogadores no chão, permitindo rezar por eles e recuperar (o que nos fornece extras, vida, etc.) ou repará-los, fazendo com que se tornem nossos aliados por tempo limitado. Caso a 2B morra, será requisitado ao jogador que escolha 3 frases pré-elaboradas para mostrar online, visto que também nós ficaremos visíveis para outros jogadores neste modo. No entanto, iremos perder os nossos chips caso não recuperemos o corpo algum tempo depois.

Emil is back?!?

Opinião final:

NieR: Automata conseguiu criar uma experiência sem igual ao juntar o típico combate frenético da Platinum Games e o mundo de Yoko Taro, entregando ao jogador cenários sem igual, associados a uma banda sonora que puxa pelas emoções humanas e que nos leva a imaginar como terá sido o massacre que ocorreu no mapa que estamos a explorar. Embora o jogo nos dê a sensação de ser pesado à primeira vista, como Metal Gear Solid, também Yoko Taro esmerou-se em deixar “pérolas” nas diversas personagens que vamos encontrando, como as máquinas a imitarem os desejos dos humanos de uma forma cómica e a agirem como se fossem uma comunidade. NieR: Automata é um dos melhores jogos que foram lançados para a PlayStation 4, sendo muito provavelmente o melhor no género  hack ‘ n slash. Em suma, um título obrigatório para quem adora uma aventura cheia de emoções e combates de tirar o fôlego.

Do que gostamos:

  • História original e empolgante com personagens carismáticas e misteriosas;
  • Grafismo e banda sonora únicos, fornecendo uma experiência sem igual;
  • Menu de jogo muito detalhado, flexível e com todas as informações de que precisamos;
  • Sistema de upgrades interessante, dividido em várias categorias (Armas, Chips e Habilidades do Pod);
  • Funcionalidades online originais;
  • Mundo de jogo fascinante;
  • Vários finais, apelando a múltiplas sessões de jogo.

Do que não gostamos:

  • Dessincronização entre os diálogos e as legendas;
  • Quedas de framerate constantes quando o jogo está a carregar estruturas ou inimigos.

Nota: 9/10