Análise – New Style Boutique 3: Styling Star

Embora muitas vezes ridicularizados e considerados de pouco valor, a verdade é que um jogo de moda não é, desde logo, um mau jogo. Trata-se simplesmente de um título pertencente a um género mais casual e, muitas vezes, mais voltado para um público mais feminino, o que não é por si um defeito, mas apenas uma característica.

Dada a natureza do género a que pertence, Nintendo presents: New Style Boutique 3 – Styling Star (de agora em diante, referido apenas por Styling Star) é um dos jogos que se afastam daqueles que são os títulos mais esperados pelos jogadores mais dedicados, e portanto para muitos passará despercebido neste final de vida das consolas Nintendo 3DS, especialmente pelo lançamento recente de Pokémon Ultra Sun e Ultra Moon. De novo, o seu público é mais casual, e é como um jogo adequado para esse grupo que o temos de ver.

Apesar do público-alvo comum da série, é curioso ver como nestes anos a Nintendo tem dado um relativo destaque e mantido o apoio a esta série de jogos de moda, tanto com novos lançamentos mais ou menos frequente (este é o terceiro jogo na 3DS), como através de uma presença marcada nas apresentações Nintendo Direct, para além de demos disponibilizadas na eShop, através das quais os jogadores podem testar o jogo antes de decidirem se realmente vale a pena comprarem-no. Este comprometimento da Nintendo deixa-se já antever pelo próprio título do jogo e vai totalmente de encontro àquilo que a companhia afirma repetidamente ser um dos seus maiores motes: permitir que todos possam disfrutar deste fantástico meio de entretenimento que são os videojogos.

Posto isto, do que se trata Styling Star? Tal como já referi, de um jogo de moda, mais especificamente, um jogo em que somos a proprietária (a nossa personagem é sempre uma jovem adulta) de uma boutique, o que já se poderia adivinhar pelo próprio nome da série. Nesta terceira iteração, o legado é-nos passado por um familiar (um tio) que, tanto devido à sua falta de bom gosto em questões de moda, como pela sua vontade de partir em descoberta do mundo, deixa a sua boutique para trás, connosco a cuidar dela desse momento em diante.

Quando iniciamos esta nossa carreira virtual, temos muito por onde pegar. Primeiro, há o facto de a boutique começar bastante simples e com uma decoração muito pouco atrativa, mas que se vai compondo à medida que vamos angariando mais dinheiro e tendo mais oportunidades de negócio. Em segundo, há o facto de que nem todas as marcas de roupa estão disponíveis à partida, sendo estas desbloqueadas à medida que o nosso negócio se vai estabelecendo.

O nosso stock, no entanto, não é ilimitado, pelo que vai ficando cada vez mais complicado decidir que peças de roupa (e em que quantidade) queremos trazer do centro da cidade até à nossa boutique. O estilo das clientes (e, numa fase mais tardia do jogo, também dos clientes) é representado por uma marca específica, e portanto poderemos reparar que afinal não temos nenhuma saia de estilo mais “rockeiro” ou uma blusa de estilo “girly”. Quando isto acontece, temos de pedir às/aos clientes que esperem enquanto vamos fazer restock, o que implica perder algum tempo do dia, e portanto tempo útil em que poderíamos estar a atender outras/os clientes. Assim, é necessário que tenhamos sempre atenção tanto a que marcas é que simbolizam que estilo, como a que roupas é que estão a fazer falta na nossa boutique.

Mas a profundidade do sistema de gestão em Styling Star não se fica por aqui. Como já referido, vamos personalizando a boutique a nosso bel-prazer, escolhendo tanto o papel de parede como os móveis e, por fim, os itens decorativos que lhes dão o perfeito último toque. A posição dos móveis também está à nossa escolha, desde que consigam caber nos restantes espaços vazios. Para além da boutique, podemos ainda personalizar o apartamento onde a nossa personagem vive. Neste, podemos ainda arranjar a nossa personagem, escolhendo o seu outfit e a sua maquilhagem, bem como alterar alguns dos aspetos que decidimos antes do jogo começar, como o seu penteado ou estilo das sobrancelhas.

Embora possamos escolher entre vários detalhes da nossa personagem, esta é sempre do sexo feminino.

Todos estes níveis de personalização, em conjunção com o ambiente agradável com diálogos repletos de energia positiva que estabelecemos com os outros moradores e em particular com as/os nossas/os clientes, fazem-nos sentir uma certa reminiscência de uma das séries mais adoradas da Nintendo, Animal Crossing, o que é tanto difícil de conseguir, como sempre um sinal de que a produção do jogo seguiu numa boa direção.

De entre todos estes elementos, um deles pareceu-me estar um pouco simples demais, e que poderia ser o ideal para o jogo nos impor um maior desafio: escolher a roupa para os nossos clientes. Rapidamente nos apercebemos de que basta saber que marca de roupa corresponde a que estilo, e depois escolher, de entre as roupas oferecidas pela marca, quais as que queremos trazer connosco (escolha que só não é totalmente dependente do nosso gosto pessoal se tivermos em consideração o preço das várias peças e como o budget de cada cliente pode variar bastante). Não há qualquer necessidade de estar a tentar combinar peças que nos pareçam bem, basta que todas pertençam a uma certa marca. Por um lado, compreendo que o estilo de cada jogador seja diferente, e que portanto não seria justo que Styling Star impusesse um certo padrão a todos, mas por outro, cada cliente é única/o e seria de esperar que (como pontualmente acontece) estes fossem mais rigorosos com o que procuram e portanto que tivéssemos de realmente tentar o nosso melhor para cumprir com os seus requisitos, em vez de simplesmente lhes recomendarmos roupas de uma certa marca porque corresponde ao seu estilo genérico. É verdade que continua a ser divertido criar outfits o mais bem compostos possível, mas parece que o jogo não nos apoia muito nessa nossa tentativa.

Outro ponto menos positivo é o facto de, de personagem para personagem, se repetirem muitas vezes certas reações e momentos de diálogo genéricos, o que mais uma vez nos faz pensar que não temos realmente pessoas únicas em nossa frente, mas muitas vezes apenas ligeiras variações de um mesmo tipo.

Em contraste com estes defeitos, Styling Star torna-se único dentro da série por introduzir toda a temática de estrelas pop. Não, não seremos uma estrela que sobe aos palcos e conquista os corações de milhões de fãs, mas seremos a pessoa responsável pela imagem dessas mesmas estrelas em ascensão, sendo o nosso trabalho decisivo para os resultados que as mesmas alcançam na «hora da verdade».

A determinado ponto da nossa carreira, a empresa de talentos NIN10 (qualquer parecença com o nome NINTENdo será pura coincidência…) começará a procurar as próximas estrelas, e estará a nosso cargo prepará-las para o olhar crítico dos fãs. De facto, esta funcionalidade é o grande destaque do jogo, não fosse até o seu tema principal “Welcome to the new Stage”. No trailer live-action apresentado em baixo poderão ver exemplificado este mesmo processo:

Esta funcionalidade é a principal marca distintiva deste jogo e acaba por funcionar bastante bem, adequando-se perfeitamente não só ao tema geral do jogo e o ambiente que este cria a cada instante, mas também ao público a que pretende chegar.

Opinião final:

Nintendo presents: New Style Boutique 3 – Styling Star não será um jogo para todos, tal é certo. No entanto, se gostarem do mundo da moda e de jogos em que podem personalizar quase tudo ao vosso gosto e onde encontram uma enorme variedade de opções de entre as quais podem escolher livremente (como em Animal Crossing), este poderá ser um jogo para vós.

Fazendo claramente um apelo ao estereótipo feminino, Styling Star está especialmente virado para um público que pertença a esse mesmo grupo, ou que simplesmente goste de coisas mais adequadas a esse mesmo estereótipo. Tal nota-se claramente tanto pela sua apresentação geral, como pelo tipo de interações que vamos vendo ao longo do jogo, como ainda por todo o novo tema das estrelas pop e de preparar a imagem daqueles que podem vir a ser os nomes mais badalados da cidade.

Do que gostamos:

  • Imensa variedade de itens disponíveis, tanto para vestir as/os clientes, como para personalizar a nossa própria boutique, o nosso apartamento e a nossa personagem;
  • Gestão dos produtos em stock e de que peças os clientes podem comprar introduz um bem-vindo nível profundidade ao jogo;
  • Ambiente e diálogos repletos de energia positiva, especialmente quando fazemos um trabalho bem sucedido;
  • A funcionalidade de preparar a imagem de estrelas da música antes de estas subirem ao palco é uma grande adição para a série.

Do que não gostamos:

  • Escolher a peça certa para a/o cliente em questão acaba por ser demasiado fácil e muitas vezes repetitivo (basta escolher a marca certa);
  • Não é possível criar uma personagem do sexo masculino;
  • Reações de clientes e diálogos podem ser repetitivos e aborrecidos.

Nota: 8/10