Análise – Pokémon Crystal (Nintendo 3DS)

A série Pokémon teve, tal como na de muitas outras pessoas, um grande impacto na minha infância, tanto através dos desenhos animados nas manhãs da SIC, como pelo seu Trading Card Game, como ainda, e em especial, pelos seus jogos, que me mantinham colado ao ecrã por horas, colecionando os adoráveis “monstros de bolso”, evoluindo-os e batalhando com eles até à vitória frente ao campeão, e não ficava por aí, havendo muitos segredos por explorar. E uma das coisas mais impressionantes é que, mesmo fazendo já no próximo ano duas décadas desde que o primeiro Pokémon saiu na Europa, para o GameBoy, a série continua a fascinar milhões de pessoas, mantendo, em grande medida, o mesmo “esqueleto”. Talvez nenhuma outra série de entre as clássicas do mundo dos videojogos consiga alcançar um furor tão grande durante tanto tempo como Pokémon, que tão bem testemunhámos estar vivo há relativamente pouco tempo com o fenómeno Pokémon GO.

Embora tenha começado apenas a minha jornada nesta série em Hoenn, com Pokémon Ruby, reconheço que muitos dos pontos essenciais e imutáveis da série já tinham sido estabelecidos, merecendo a segunda geração um lugar de destaque na consolidação da experiência Pokémon que tanto adoramos e que perdura até hoje. No ano passado, Silver e Gold foram recebidos com grande aparato no catálogo de jogos para a Virtual Console da 3DS, e este ano, mais especificamente no passado dia 26 de janeiro, a versão definitiva desta geração – Crystal – seguiu o mesmo caminho.

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Foi na segunda geração que uma funcionalidade tão básica como escolher o género da nossa personagem foi introduzida.

Embora para a altura em que foi lançado – com o grande furor em torno da possibilidade de jogar a cores as séries clássicas da Nintendo em todo o lado com o GameBoy Color, e com o facto de agora os Pokémon terem animações durante os combates – Pokémon Crystal tenha sido um jogo bastante elogiado a nível técnico, os seus 17 anos notam-se perfeitamente, pelo que se já foram suficientemente “corrompidos” pela adoração dos visuais detalhados com extraordinárias animações em 3D e efeitos ao ponto de não conseguirem aproveitar o que os jogos retro têm a oferecer, seguramente este não será um jogo indicado para vocês. O grande público deste jogo parece-me ser sobretudo jogadores que se enquadram numa destas 3 categorias: 1) São fãs de longa data de Pokémon, mas nunca deram “um salto” por Johto; 2) São fãs de longa e de facto jogaram Gold, Silver ou Crystal, mas querem revisitar Johto e sentir nostalgia em toda a sua força; ou 3) São fãs mais novos desta série e querem (seja por iniciativa própria, seja por um entusiasmo de amigos/familiares mais velhos) saber como eram as origens da série, e quem sabe até explorar os títulos que começaram tudo.

Talvez tirando alguns daqueles que se enquadram no segundo grupo, o anúncio da chegada deste jogo para a família de consolas 3DS levanta a seguinte importante questão: terá Pokémon Crystal sobrevivido ao teste do tempo e continua divertido mesmo hoje, apesar da incrível evolução tecnológica? Felizmente, a resposta é completamente afirmativa (como, diga-se, é no caso dos vários jogos desta série no geral, desde os primeiros) e Pokémon Crystal, sendo uma instância da fórmula já tão conhecida de imensos jogadores, consegue ainda hoje, tal como na altura, divertir por horas e horas na nossa jornada para nos tornarmos um mestre Pokémon e os “apanharmos a todos”.

Algumas mecânicas estão obviamente ausentes, como a possibilidade de ter um segundo ecrã com um menu mais acessível, mais diversificado e mais intuitivo, mas mesmo outras, como ter um botão para correr ou outro para andar de bicicleta estão ausentes e levam-nos a um brevíssimo momento de incompreensão até nos apercebermos que estamos mesmo perante uma das entradas iniciais da série, em que embora muito do essencial já esteja presente, havia ainda muito a acrescentar até à forma atual (ou mesmo até à forma que ganhou logo em seguida na 3ª geração, onde comecei). Estes pequenos entraves não são, contudo, nada de significativo e não perturbam a experiência. Aliás, dependendo da mentalidade com que encaramos a nossa expedição por este jogo, pequenos detalhes como estes podem até ser um fator que melhora ainda mais a nossa experiência, criando em nós o mesmo sentimento de admiração que sentimos quando nos contam como “as coisas eram antigamente” e mal conseguimos imaginar como tal seria. Aqui passa-se o mesmo, mas com o fator adicional de que podemos realmente experienciar como era a série antes de várias das possibilidades introduzidas até à data ainda não se terem atualizado.

Os 8 ginásios por completar, a liga Pokémon, o limite de carregar 6 Pokémon ao mesmo tempo, os Poké Center, os Poké Marts, as HMs e TMs, as diferentes Pokéballs e muito mais já estão presentes neste jogo, pelo que qualquer fã da série reconhecerá prontamente todos estes elementos e saberá sem grande esforço perceber o que tem por fazer e como se orientar. Exatamente por este motivo (de o grande público serem jogadores que já são fãs da série) é que tenho de apontar como único ponto menos bom (e que não é um ponto fraco do jogo em si) o facto de que para jogadores que já estejam familiarizados com a série, a jornada em Johto se torna demasiado acessível. Pokémon Crystal é um jogo mesmo muito fácil para quem já está por dentro deste universo e conhece a estrutura básica, pelo que o seu encanto não poderá residir no eventual desafio que pudesse apresentar aos jogadores.

Como esquecer a clássica receção do Prof. Oak, repetida em todos os jogos desde então?

O seu encanto encontra-se, sim, para além de nos vários elementos que já referi, ainda na sua apresentação. Embora aquilo que vou afirmar agora possa ser amplamente discutido e possam discordar totalmente, não posso deixar de esconder que me parece que a série Pokémon estava especialmente bem desenhada para um mapa em duas dimensões, em que apenas nos podemos mover em 4 sentidos diferentes, e não em 360º, como é possível desde a grande chegada da série à 3DS com Pokémon X & Y. O andar nas ervas altas, os encontros com treinadores e muito mais se alterou com esta passagem, e portanto é mágico voltar a estes momentos da série em que não só temos a apresentação familiar, como ainda por cima encontramos temas reproduzidos nos clássicos sons mais eletrónicos e “estridentes” dos GameBoy. Mas mesmo que não considerem que a série estava melhor desenhada para uma estrutura diferente da atual, penso que continuará a ser uma boa experiência revisitar esta época da série pré-sexta geração.

Por fim, seria imperdoável não referir que este jogo é compatível com o Pokémon Bank, pelo que poderão transferir os Pokémon que forem treinando neste título clássico da catálogo da Virtual Console para os vossos mais recentes títulos na 3DS, como Ultra Sun/Moon. Para além disso, é possível utilizar as funcionalidades de rede do jogo original e trocar e combater com amigos localmente, o que aproxima ainda mais a experiência à que se tinha com o lançamento original, em 2001 (agora sem ser preciso um cabo, é claro).

Opinião final:

Há jogos que não importa quantos anos passem, continuam a ser tão divertidos como sempre foram, e Pokémon Crystal já mostrou ser um deles. Esta continua a ser a versão definitiva da segunda geração, uma das mais aclamadas pelos fãs até hoje e a responsável pela introdução de muitos elementos cruciais para esta série, que, apesar de manter uma estrutura praticamente inalterada desde os seus primeiros lançamentos (excluindo desta equação umas quantas novidades essenciais introduzidas por Sun/Moon) continua a conquistar milhões de corações a cada novo lançamento e a vender muitas e muitas consolas só por si. Neste momento em que esperamos ansiosamente por novidades sobre o primeiro Pokémon RPG para a Nintendo Switch, Crystal é uma alternativa mais que tentadora, que recomendo vivamente, tanto a fãs de longa data, como aos que apenas mais recentemente se juntaram a este fenómeno. A viagem vale bem a pena.

Do que gostamos:

  • Resistiu de forma perfeita ao passar do tempo;
  • Sons e cenários transportam-nos para a época do lançamento original e deixam-nos de sorriso na cara;
  • Compatível com Pokémon Bank e tem funcionalidades de multijogador local ativas;
  • Clássica experiência Pokémon em toda a sua força e beleza.

Do que não gostamos:

  • Demasiado acessível para o seu público alvo.

Nota: 9/10