Análise – Strikers Edge

Por termos acompanhado a evolução de Strikers Edge ao longo deste par de anos, é com prazer que assistimos ao seu lançamento na consola da Sony, por ter ganho a primeira edição do Playstation Talents. Não só celebramos o sucesso deste jogo nacional como a abertura de portas para mais aventuras digitais e nacionais.

Para quem não acompanhou o percurso deste jogo, Strikers Edge é um jogo de dodgeball ou, em bom português, do mata com armas medievais. Há um campo de batalha dividido em dois, com os seus obstáculos próprios, e dois adversários que lutam entre si. E sim, pode-se dizer que é só isto. A simplicidade parece extrema mas a verdade é que Strikers Edge é um jogo bastante fácil de jogar… mas extremamente difícil de jogar bem. O facto de a área em que nos podemos movimentar ser relativamente estreita leva a que quase possamos apenas controlar a nossa personagem para cima ou para baixo, no nosso pequeno campo de batalha, podendo e neste dar uso a um leque de movimentos e obstáculos para dominar o adversário.

O campo de batalha está dividido em dois, mas não em split screen, como se poderia esperar. Pode ser um rio ou um precipício que separa os dois adversários, mas o cenário é único, uma verdadeira arena de combate. A audiência, a torcer pelo seu favorito e a atenção ao detalhe estão sempre presentes, como numa das arenas em que os espectadores nos empurram para a luta caso nos afastemos muito do nosso oponente.

Preparem-se para perderem mais vezes do que o que estão à espera.

Strikers Edge foi feito a pensar na competição de sofá, para passar o comando a um amigo ou familiar e passar um serão divertido a arrear em alguém ao nosso lado. Na triste eventualidade de não termos amigos, há sempre o bom do online. No meio disto tudo, se partilhar experiências de jogo localmente não for para vocês, há um modo história que tanto serve para introduzir as personagens, como para explicar as mecânicas do jogo. O enredo entretém, mas não esperem nada de profundo, uma vez que para este género de jogo, como seria de esperar, a história apenas serve para termos algo que dê o mote ao resto a tudo o resto. Ainda assim, é agradável ver a dedicação da Fun Punch em criar uma espécie de lore light para servir como pano de fundo .

Quanto à dificuldade do jogo em si, vou ser suspeita porque confesso que não me tenho safado muito bem. Não consigo deixar de sentir que a jogabilidade seria muito mais fluída se estivéssemos a falar de um rato ao invés de um gamepad mas aí já é mais falha minha. Os controlos são até acessíveis – com um analógico controlamos a personagem e com os gatilhos podemos atacar, defender ou desviarmo-nos das investidas do adversário. Se pressionarmos o botão de ataque durante alguns segundos podemos activar o especial específico da personagem. O bom é que podemos jogar assim e já está, mas também podemos usar o segundo analógico para controlar a direcção do ataque. Controlar a personagem ao mesmo tempo que se controla a lança é quase como mexer cada braço em direcções diferentes – a descoordenação é gritante e invariavelmente algo de desastrado irá acontecer. E aconteceu. Perdi os combates mais vezes do que gostaria de admitir.

Strikers Edge é a melhor desculpa para puxarem amigos para o sofá e arrearem neles.

Não me interpretem mal. Existem jogos cuja dificuldade recai em mau design, maus controlos, entre outros detalhes. O facto de quase querer jogar Strikers Edge com rato ou mesmo com um touch screen não invalida o facto de que os controlos são acessíveis. Aqui se o jogador perder é porque tem de tentar de novo umas quantas vezes até melhorar. A simplicidade mas também genialidade de Strikers Edge recai neste ponto. Não é fácil ser-se bom a jogar Strikers Edge, mas o caminho até se lá chegar é bem divertido.

No departamento sonoro, a Fun Punch está de parabéns. Tanto a música como as vozes das personagens são distintas e características. Estas últimas merecem também ser referidas. São oito heróis, ou strikers, e cada um tem a sua história individual e típica – temos o lutador, o arqueiro, o mago, e por aí fora – ou seja nada de novo ou que fuja muito ao que já estamos habituados quando estamos a falar de um mundo de fantasia, mas que servem bem o seu propósito como uma espécie de classes. As suas histórias podem ser seguidas no modo campanha e todos estão desenhados naquele estilo pixelizado retro que tem marcado o mercado indie, e que adoro quando é bem feito (como é o caso aqui). A restante arte não fica atrás, sendo bastante colorida e viva, cheia de detalhes, como já referi mais acima.

Normalmente diz-se que o que é nacional é bom, mas a verdade é que tem dias. Ainda assim ,Strikers Edge consegue ultrapassar qualquer cepticismo que possa haver e mostrou que não foi à toa que venceu o Playstation Talents. Apesar de ainda ter de comer muito pãozinho para conseguir levar a minha personagem a bom porto, não tenho qualquer dúvida de que a viagem vai valer a pena.

Opinião final:

Se forem fãs de jogos de arcadas, frenéticos e competitivos para acabarem amizades, têm aqui o exemplo perfeito. Qualquer pessoa pode pegar e jogar, mas com algum tempo poderão tornar-se profissionais. É um jogo divertido e um exemplo de como chegar a um meio termo para agradar a gregos e troianos. É bom ver títulos como este a encontrarem o seu cantinho do meio dos videojogos e é impossível não sentir orgulho ao ver que em Portugal se consegue não só habilidade técnica mas também originalidade para criar algo tão simples e ainda assim tão diferente. Agora é esperar que a Fun Punch nos traga mais surpresas agradáveis como foi Striker’s Edge.

Do que gostamos:

  • Jogabilidade rápida e acessível;
  • Grafismo e banda sonora;
  • Opção de modo campanha.

Do que não gostamos:

  • Se quisermos ser profissionais temos de batalhar, e bem, com os controlos.

Nota: 8/10