
Quando fiz a antevisão a The Tomorrow Children, fiquei bastante contente com tudo o que o jogo oferecia e esperava uma grande série de melhorias para a versão final, resultando num jogo onde embora existam classes, a vida é bastante à moda do sonho soviético do século passado.
O início do jogo está igual, em que encaramos, através de pequenos ecrãs espalhados pelo The Void – o que restou da Terra depois de uma experiência que correu muito, muito mal -, um líder soviético bastante misterioso e sombrio e que nos explica o que fazer.
Basicamente o objetivo proposto é o de recolhermos recursos para a nossa cidade e fazer com que esta cresça e se mantenha firme mesmo contra os ataques mais fortes dos Izvergs – monstros de enormes dimensões que povoam o The Void.
Assim, nesta primeira fase do jogo é nos explicado como recolher recursos e os transportar até zonas específicas, fora das quais não são contabilizados para o stock, digamos assim, da cidade. Após este breve tutorial, em que também ficamos a saber que somos nada mais do que um mero clone numa sociedade em que todas (a personagem que controlamos é feminina) somos iguais – o que alude ao comunismo, que pretende em última instância o tratamento de todos por igual -, somos então levados até ao metropolitano, através do qual nos podemos deslocar para várias cidades.
Estas cidades são criadas por diversos utilizadores da comunidade que se organizam em grupos (a que nos podemos juntar ou não dependendo de se estão guardadas ou não por palavra-passe, como se de salas de jogo online se tratassem). Não há, no entanto, qualquer objetivo último (como eu esperava encontrar, após jogar a beta) e o resultado é bastante idêntico ao que já se encontrava nessa versão.
Isto tudo resulta em, após o tutorial, sermos enviados para uma cidade aleatória e, sem qualquer pista, sermos meio que «abandonados» numa cidade em que não sabemos onde nos devemos dirigir e o que fazer. Embora esta situação crie um sentimento de perplexidade como o de descobrir um mundo completamente novo, a verdade é que a quantidade de informação é tão grande e o número de estabelecimentos com os quais podemos interagir é tão elevado que andamos completamente à nora nas primeiras horas de jogo, experimentando várias coisas e vendo o que resulta. Infelizmente, este sentimento não é assim tão positivo como isso e poderá levar a que, os que têm menos paciência ou tempo para enfrentar um jogo com tantos pormenores, acabem por desistir de o jogar, especialmente por não haver um objetivo para além da mera sobrevivência (que é facilmente assegurada neste jogo) e do crescimento da cidade.
Vamos trabalhar! E, para motivar, como fundo temos um enorme vazio a que a humanidade chama agora de lar.
Para além do facto de não existir nenhum objetivo específico para seguir, o que pode acabar por tornar o jogo em algo entediante, também não temos qualquer propriedade privada, excetuando o nosso lar, pelo que todos os recursos que apanharmos ficam a comando de todos os membros da cidade. Embora seja gira esta referência ao sonho comunista, a verdade é que se sente ao mesmo tempo uma grande falta de união entre os personagens, podendo estar 4 ou 5 a trabalhar para um objetivo X enquanto que outros trabalham para um objetivo Y, já para não falar nos que gostam de estragar a festa só porque sim. Assim, embora a ideia seja bastante original e positiva, a verdade é que a falta de comunicação leva a algumas situações infelizes.
Uma vez que a cidade em questão chega ao limite do seu crescimento, são novamente convidados a se dirigirem ao metropolitano e a se estabelecerem numa nova cidade, começando quase tudo de novo, uma vez que mantêm os vossos itens e upgrades. Assim, The Tomorrow Children acaba por se tornar numa experiência um quanto repetitiva e vazia – no sentido de não ter qualquer finalidade.
Não obstante todos estes problemas, o jogo acaba por se sair igualmente bem em vários aspetos. Se, por um lado, como referido anteriormente, a quantidade de serviços, itens etc. pode levar bastante tempo a ser interiorizada, a verdade é que por outro oferece uma experiência riquíssima em que há sempre muito que fazer.
Outro dos aspetos muito interessantes de The Tomorrow Children é a forma das ilhas a que acedemos para recolher recursos. Estes (os recursos) não se situam no meio das cidades é preciso, caso estejamos num nível mais baixo, apanhar um autocarro até uma determinada ilha, caso contrário, podemos sempre pegar no nosso próprio veículo e explorar livremente o The Void. No entanto, há que ter cuidado, este mundo é tudo menos amigável e várias criaturas perigosas estão à espera de um clone para atacar, há, ainda, que ter precaução em relação a onde deixamos o nosso veículo e quanto tempo andamos longe da cidade ou ilha em questão, pois andar a pé no The Void leva a que sejamos sugados pelo mesmo.
Estas ilhas são todas únicas e apresentam desenhos completamente inesperados e, embora bastante aleatórios, são bastante aprazíveis, tendo-me levado a alguns momentos de pura contemplação pelos cenários.
Outro dos pontos positivos que encontrei foi a banda sonora, que está excelente e na qual destaco a música inicial da escolha do jogo, uma peça cantada em coro e que nos transmite o sentimento tipicamente soviético que podemos encontrar, por exemplo, nos espetáculos musicais do exército russo ou nas suas músicas mais tradicionais, como a «Kalinka». Poderão ouvir a música na parte final da análise.
Graças à PlayStation Portugal, recebemos o Founder’s Pack do jogo, o que nos permitiu descobrir logo o que o jogo oferece numa fase mais posterior, em que temos mais direitos. The Tomorrow Children está organizado segundo um sistema de classes clássico do comunismo, em que existe o proletariado – a classe mais baixa e quase sem qualquer direito – e a burguesia – a classe que dispõe das regalias mais elevadas e tem direito à sua própria casa.
O jogo foi lançado já a 6 de setembro em formato Early Access em exclusivo para a PlayStation 4. No entanto, caso estejam interessados no jogo da Q-Games, poderão obtê-lo numa data ainda por revelar de forma completamente livre.
Fiquem com a música referida em cima (cortesia do canal CobaiyeOST):
Opinião final:
Após ter jogado a Beta de The Tomorrow Children fiquei bastante entusiasmado com a ideia de explorar um mundo distópico e pós-apocalíptico inspirado na sociedade soviética comunista do século passado. No entanto, a falta de objetivos, uma certa confusão relativamente ao que fazer e alguns problemas devido à falta de comunicação entre a comunidade levaram a que tivesse uma experiência menos positiva do que esperava. Não obstante, a parte gráfica (nomeadamente as ilhas a explorar), a banda sonora e a quantidade de coisas por fazer acabam por criar um contraste.
Em suma, The Tomorrow Children acaba por ser um jogo com um enorme potencial e um ótimo e original ambiente, falhando em cativar o jogador, sendo o resultado um produto mediano, embora tenda mais para o lado positivo do que para o negativo.
Do que gostamos:
- Banda sonora rica, diversificada e que consegue transmitir em alguns momentos o sentimento soviético;
- Diversidade de ilhas e o seu aspeto no geral;
- Premissa e sociedade bastante originais, embora clássicas.
Do que não gostamos:
- Complexidade e falta de explicações faz-nos sentir perdidos;
- Falta de um objetivo que nos motive a continuar a jogar.
Nota: 6,5/10

