Análise – Wolfenstein II: The New Colossus

Em maio de 2014, a MachineGames surpreendia toda a gente ao trazer de volta uma das franquias clássicas mais adoradas pelos fãs de FPS, Wolfenstein, uma série que desde os seus primeiros momentos já trazia consigo uma enorme polémica, tanto pelo seu humor negro, como pela violência constante e o facto de apresentar uma historia alternativa onde os nazis venceram a Segunda Guerra Mundial.

Devido ao facto de não ser um estúdio muito conhecido, as dúvidas rapidamente surgiram quanto à qualidade do jogo, dúvidas que, porém, foram rapidamente respondidas, e de maneira positiva, com Wolfenstein: The New Order, o jogo que marcava o regresso da série e que vinha conquistar não só o coração dos fãs mais nostálgicos, mas ainda acolher novos seguidores.

Agora em 2017, com o aproximar do final do ano, o estúdio regressa a este universo peculiar, sob a tutela da Bethesda, para apresentar Wolfenstein II: The New Colossus, o segundo jogo num conjunto que, de acordo com a própria MachineGames, ainda receberá um terceiro lançamento no futuro. Desde o seu anúncio, na E3 2016, a sequela atraiu todas as atenções, já que as expectativas estavam em alta. Será que o jogo conseguiu atingir tais expectativas?

Ao contrário daquilo que se poderia esperar, como uma estratégia de segurança, a MachineGames não ficou satisfeita em apenas repetir a mesma estrutura de The New Order, e por isso em The New Colossus o estúdio decidiu mudar muito do que era até mesmo estruturante no primeiro. Começando pela própria maneira como a história é agora contada, com mais linhas de diálogo, cutscenes mais profundas e uma maior atenção ao enredo, existindo agora a tentativa de, assim, equilibrar diversão e narrativa.

A primeira mudança foi logo apresentada na E3 2016: o protagonista William “B.J.” Blazkowicz deixou de lado o ambiente da Segunda Guerra Mundial na Europa e aventura-se agora nas terras norte-americanas, onde irá tentar travar novamente o domínio nazi, que ameaça a liberdade da sociedade e do seu povo.

Blazkowicz também tem o seu lado sensível

Um dos melhores exemplos desta dedicação maior à historia é a própria introdução do jogo, que leva os jogadores a conhecer o passado e as motivações do protagonista, mostrando assim um lado mais emotivo do mesmo, que teve uma infância extremamente dolorosa e subjugada por um meio autoritário, com inclusive uma situação onde, independente de qualquer decisão do jogador, o final será de grande tristeza. A história também faz uso constante de um humor bastante pesado e com constantes críticas sociais, até mesmo a determinadas situações bem atuais.

Apesar disso, este equilíbrio não foi totalmente alcançado, já que por diversas vezes será notado que a duração de certas cutscenes poderia ser reduzida ou até mesmo ser inserida numa outra situação, quebrando por vezes o ritmo da ação, que é uma das mais apelativas características de Wolfenstein. Após alguns segundos é possível saltar a cutscene e voltar novamente à ação pura e dura, porém, tal coloca o jogador num dilema complicado: focar-se na ação e deixar a história para segundo plano, ou dar primazia à história, mas sacrificar o ritmo frenético do jogo?

A jogabilidade não foi drasticamente alterada, e o jogo centrar-se na fórmula já apresentada com grande sucesso em The New Order, num estilo de shooter clássico onde o objetivo principal do jogador será ceifar vidas de nazis, seja de maneira mais furtiva (mais adiante voltaremos a tocar nesta “furtividade”) ou no bom e velho estilo de eliminar tudo o que nos aparecer à frente, com recurso a um vasto arsenal. No entanto, nem tudo é igual e aqui surge uma adição que pode passar despercebida à maioria dos jogadores, mas que sem dúvida é merecedora de menção, já que mostra a atenção aos detalhes que a MachineGames teve.

Literalmente, utilizem o que tiverem à mão.

Em The New Colossus o jogador não apenas terá um vasto leque de armas à sua disposição, mas também poderá escolher como fará uso das mesmas, sendo possível escolher uma abordagem mais precisa onde utiliza uma única arma, com a qual pode mirar nos inimigos, ou utilizar uma arma em cada mão. Esta opção, no entanto, já estava presente em The New Order. No entanto, nesta sequela é também possível combinar armas diferentes, sendo possível carregar uma metralhadora numa mão, enquanto na outra seguramos uma pistola, o que não era possível no primeiro jogo. Durante a exploração também será possível encontrar armas pesadas, no entanto estas não vão fazer parte do inventário e ocupam as duas mãos do protagonista.

Neste jogo a MachineGames também teve em consideração que cada jogador tem o seu próprio estilo de jogo e preferências no que toca a controlar a ação, tendo por isso posto à disposição dos jogadores novas maneiras de adaptar o jogo ao seu próprio estilo. Enquanto exploramos o cenário será possível encontrar um kit de melhorias que permitirá atualizar qualquer uma das armas que temos à nossa disposição no inventário, sendo possível – a cada arma – aumentar a capacidade de munição, adicionar um supressor que reduzirá o recoil e o barulho, ou mesmo adicionar um disparo carregado que irá causar um dano ainda maior ao inimigo. Durante a campanha também poderão ser adicionados ao nosso arsenal alguns gadgets de alta tecnologia, que permitirão atravessar portas, reduzir o tamanho do protagonista para que possa atravessar pequenos dutos, entre outras funções úteis.

Outra novidade neste sentido é que as ações do jogador irão permitir ter acesso a bónus durante o jogo, num sistema semelhante ao que tinha sido introduzido em The Elder Scrolls V: Skyrim. Com este sistema, focando-nos, por exemplo, no stealth, iremos ganhar níveis nessa vertente, que permitirá aumentar a velocidade de movimento enquanto estamos agachados. Este é um acrescenta que sem dúvida irá permitir ao jogador receber bónus naquilo que melhor se adapta ao seu estilo de jogo.

Jogue e evolua com base nas habilidades que melhor se adequam ao vosso estilo.

Em cima foi dito que iríamos voltar a falar da furtividade no jogo, e este é o momento ideal para aprofundar um pouco mais este ponto. Wolfenstein nunca foi conhecido pelo seu sistema de stealth e The New Colossus não será o jogo que irá mudar esta imagem. Apesar de existirem elementos de stealth, incentivos a essa abordagem, e ser possível eliminar os inimigos sem sermos notados, esta será uma tarefa quase impossível de levar a cabo durante boa parte do jogo, já que os cenários na sua maioria são abertos e a visão dos inimigos é notavelmente boa, então até mesmo os jogadores mais cuidadosos e habituados a jogos de stealth exigentes vão sentir que o melhor é realmente ignorar este tipo de aproximação.

Em termos de dificuldade, Wolfenstein II: The New Colossus até mesmo nas dificuldades mais baixas é mais exigente que o jogo que o precede, com os inimigos a utilizar bem o cenário para flanquear a personagem, além de que em dificuldades mais elevadas o dano causado pelos mesmos será considerável, forçando o jogador a constantemente procurar postos para se proteger dos disparos, assim como estar constantemente atento ao seu redor, em busca de pontos de saúde, armaduras, munições e armas de arremesso (como granadas ou machados).

Haverão, ainda assim, momentos em que a IA irá falhar, pelo que acontecerá que Blazcowicz seja ignorado pelos soldados nazis mesmo quando está mesmo ao seu lado, ou, no sentido oposto, virar-se de maneira pouco natural (mesmo com todo o nosso cuidado) e destruir os momentos de stealth alertando todos os inimigos em redor. Apesar de raro, graças aos níveis mais abertos deste jogo, um ponto negativo algo comum em shooters também foi possível notar ocasionalmente ao longo do jogo, que é a possibilidade de simplesmente acumularmos corpos inimigos num mesmo sítio, já que – contrariando toda a lógica -, os soldados teimavam em ir de encontro ao jogador em zonas bastante estreitas, onde eram alvos fáceis.

Em determinado momento da história são desbloqueadas missões secundárias que vão permitir ao jogador regressar aos locais já visitados, nos quais podem «caçar» os restantes comandantes dessas mesmas zonas e encontrar kits de melhoria e colecionáveis deixados para trás. Esta é uma opção interessante que serve também para prolongar a longevidade de jogo, que tem uma duração média de 17 horas (dependendo da dificuldade escolhida e do estilo de jogo).

A liberdade e diversidade norte-americanas ameaçadas pelo nazismo…

A nível gráfico, Wolfenstein II: The New Colossus sem dúvida merece aplausos, oferecendo uma das mais belas ambientações que é possível encontrar num videojogo, não apenas pela própria beleza visual, mas também por toda a diversidade de cenários, sendo-nos dado a explorar desde uma Manhattan pós-apocalíptica após ser destruída por uma bomba nuclear, até o extremo oposto, em Rosswell, um lugar de contrastes com a animação e cores fortes características de uma cidade norte-americana dos anos 50, porém adornada com bandeiras e símbolos nazis e do KKK.

Estes gráficos deslumbrantes também se estendem aos inimigos, que contêm em si uma grande diversidade, que será facilmente reconhecida pela variedade e detalhe dos seus trajes e armas, com até mesmos inimigos de um mesmo tipo numa área a possuir detalhes diferentes nos seus trajes, além de alguns bosses que por vezes nos fazem questionar se realmente seremos capazes de lidar com ele e sair do embate com vida.

A nível sonoro, o jogo também não deixa a desejar, com uma banda sonora neutra que se adapta a cada momento do jogo, embora nunca tirando o destaque àquilo que é mais importante no jogo: as armas. Há algumas falhas, principalmente nas vozes, mas nada que comprometa a experiência.

Opinião final:

Em resumo, a MachineGames entrega com Wolfenstein II: The New Colossus tudo aquilo que um fã do género e da franquia poderia esperar, com algumas novidades em relação ao seu antecessor, sendo algumas delas belas adições à franquia, enquanto que outras ainda precisam de melhorias antes de voltarem a estar presentes no terceiro e último jogo deste reviver da clássica série de shooters.

Wolfenstein II: The New Colossus é um jogo com uma ação frenética, com uma qualidade gráfica incrível, mas também com um humor muito peculiar e doses pontuais de crítica social. Além disso, apresenta uma perspetiva muito mais humana para a até então maquina de destruição nazista, B.J. Blazkowicz.

Do que gostamos:

  • Uma boa variedade de armas e inimigos;
  • Sistema de armas atualizado;
  • Um sistema que beneficia o estilo de jogo de cada um;
  • Qualidade gráfica sublime;
  • Humor aliado a críticas sociais que podem ser aplicadas ao momento atual;
  • Melhorias na narrativa.

Do que não gostamos:

  • Cutscenes excessivamente longas que quebram o ritmo em alguns momentos;
  • Fraco incentivo real a uma abordagem mais stealth;
  • Bugs em alguns diálogos;
  • Falhas pontuais na IA dos inimigos.

Nota: 8,5/10