Análise – Yooka-Laylee

Playtonic Games é um estúdio de desenvolvimento de videojogos independente fundado em 2015, em que a equipa é composta por ex-empregados da Rare (conhecida pelos clássicos Donkey Kong Banjo-Kazooie), à exceção de 1 membro. O primeiro título da Playtonic Games é este Yooka-Laylee, um projecto ambicioso com o intuito de entregar aos fãs do género Plataformas uma experiência única. No entanto, para criar Yooka-Laylee,Playtonic Games necessitou de recorrer à famosa plataforma de crowdfunding Kickstarter, tendo como meta inicial 175,000 dólares. Esta campanha foi um sucesso enorme e o objetivo foi ultrapassado por uma longa margem, tendo a campanha acumulado mais de 2 milhões de dólares, o que permitiu à equipa esmerar-se para entregar um jogo de plataformas sem igual.

Yooka-Laylee transporta-nos até um mundo animado, divertido e cheio de personalidade, metendo qualquer pessoa com um sorriso na cara ao ver a estranha dupla de um lagarto e um morcego numa grande aventura. Cheios de energia e muito humor, estes dois irão encontrar desafios de personagens únicas e carismáticas, como Trowzer, uma serpente empresária vestida com um chapéu de aventureiro, uma gravata e um par de calções(fazendo lembrar Indiana Jones), ou um frasco de tónico maquilhado e com um lenço na cabeça. A PlayTonic conseguiu criar imensas personagens memoráveis e divertidas sem ser necessário que estas digam 1 única palavra. Todos os diálogos se baseiam em ruídos animalescos, um pormenor original e engraçado a que Banjo-Kazooie nos habituou.

Preparam-se para conhecer as criaturas mais hilariantes de sempre.

Yooka-Laylee oferece-nos a possibilidade de jogarmos na companhia de outra pessoa, permitindo assim que a aventura seja experienciada por 2 pessoas ao mesmo tempo. No entanto, apenas o jogador «número 1» irá controlar a dupla Yooka-Laylee, deixando o outro jogador sem personagens para controlar a não ser um ponto com abelhas enfiadas, uma espécie de “ninho” que segue a famosa dupla. As únicas funcionalidades que este cursor disponibiliza são: a possibilidade de colecionar itens que escapem à dupla, podendo armazenar para utilizar em uma situação crítica; e a pequena ajuda ao desactivar certas armadilhas que se encontram espalhadas pelos mundos de jogo. A Playtonic podia ter adicionado uma segunda dupla ou ter permitido o controlo de uma das variadas personagens que encontramos ao longo do jogo, tal como noutros jogos de plataformas conhecidos (Knack por exemplo), o que tornaria esta uma experiência mais interessante.

Mas atenção que esta falha só está presente no modo campanha. Existe um outro modo de jogo onde é possível jogar com várias duplas de Yooka-Laylee (cada uma com a sua própria cor). Refiro-me ao modo arcade, onde o dinossauro Rextro nos disponibiliza vários mini-jogos baseados em fórmulas muito conhecidas, tal como Catch the Flag, corridas de obstáculos e até tiro ao alvo, perfazendo um total de 8 minijogos que podem ser jogados com até mais 3 amigos em modo cooperativo local.

Vai uma corridinha?

Ao iniciarmos o modo campanha, somos agraciados  com a presença da dupla principal de vilões: Capital B, uma abelha empresária dona das Hivory Towers, que ambiciona ter o poder do livro mágico para reescrever a história do mundo a seu bel prazer; e o seu ajudante, Dr. Quack, uma cabeça de pato enfiada numa máquina de freebies. Estes irão ativar uma máquina que absorve todos os livros do mundo, sendo um deles o livro de Laylee, que possibilita a manipulação da história, monopolizando assim a indústria dos livros. É aqui que nos apresentam esta divertida dupla, que, ao ver este acontecimento, decide infiltrar-se nas Hivory Towers a fim de recuperar as páginas do livro mágico (que se espalharam devido à fricção da máquina do Capital B) e acabar com os planos deste malévolo empresário.

 Yooka-Laylee baseia-se então numa caça às páginas deste livro, que estão espalhadas pelos diversos mundos de jogo. Para as obtermos, muitas das vezes teremos de completar os desafios que as mais variadas personagens nos fornecem, ou completar quebra-cabeças para abrir os cofres e obter as Pagies (como iluminar algumas lanternas, ativar botões no chão numa certa sequência, etc.). Embora  os métodos de recuperação das Pagies sejam sempre os mesmos, os desafios e os quebra-cabeças são empolgantes e atrativos, oferecendo uma grande diversidade de desafios de que com certeza irão gostar.

Todas as personagens de Yooka-Laylee elaboram trocadilhos ao falar, e embora alguns tenham piada por referirem assuntos ridículos, outros são desnecessários e “fora de época”, sentindo-se que a Playtonic se focou bastante neste pormenor, talvez até demasiado,  tornando-se chato ao fim de ouvirmos dezenas de trocadilhos forçados. Um dos melhores diálogos presentes no jogo é com Shovel Knight. Sim, leste bem, o cavaleiro da pá do famoso jogo indie pertencente à Yacht Club Games está neste jogo. Neste caso, o cavaleiro encontra-se perdido num dos mundos de Yooka-Laylee à procura de uma joia  (como já era de se esperar) e a dupla Yooka-Laylee terá de executar essa tarefa a troco de uma Pagie.

Favores, favores e mais favores!

Tendo em conta que Yooka-Layleé um jogo indie, pode-se dizer que os gráficos estão excecionais, ao nível de um jogo AAA, apresentando cenários cheios de cor e atividade da natureza, ao ritmo de uma banda sonora rítmica e contagiante: o ideal para um jogo de plataformas. No entanto, a câmara do jogo é uma das fraquezas que a Playtonic não conseguiu corrigir (já nos jogos de Banjo-Kazooie existia este problema), criando alguns momentos desesperantes, principalmente em espaços pequenos, onde a câmara nos dificulta a visão das personagens.

Os controlos da dupla é o habitual dentro do género, X para saltar, quadrado para fazer Yooka rodar a cauda e atacar os inimigos, triângulo para Laylee utilizar frequências sonoras (que permitem atordoar os inimigos e desvendar alguns segredos) e R2 para fazer Yooka rebolar, não havendo aqui nada a que não estejamos já habituados em jogos de plataformas. No entanto, nas habilidades de Yooka a originalidade está presente.

Alguns favores e quebra cabeças necessitam que Yooka utilize as suas habilidades especiais (baseadas nas ações dos camaleões), sendo que a sua principal habilidade se trata de fazer uso da sua língua para engolir vários objectos, principalmente as frutas espalhadas pelos cenários, permitindo a este disparar fogo, água, gelo, cristal, e mais. Mas não é só esta habilidade que destaca Yooka de outras personagens conhecidas: a sua pele também irá sofrer mudanças com alguns alimentos que Yooka ingere, tal como o mel das colmeias ou as balas de canhões, que permitem aos jogadores ter mais controlo sobre a dupla quando caminha por plataformas mais desafiantes.

Rebolar é sem dúvida uma das habilidades mais necessitadas no jogo.

Como em qualquer jogo de plataformas, Yooka-Laylee também tem itens coleccionáveis que nos permitem aumentar o número de borboletas (a vida da dupla), aumentar a energia e comprar habilidades à serpente empresária. Todos estes objetos têm a sua própria «personalidade» e irão movimentar-se, dançar e comunicar connosco, oferecendo dicas ou congratulando-nos por os termos obtido. Existe ainda outro NPC que nos possibilita aumentar as habilidades de Yooka-Laylee, tal como a Vendi, e que irá oferecer-nos algumas melhorias quando terminarmos uns certos desafios que ela nos propõe. Mas não é só boosts que ela nos oferece, ao completarmos o jogo poderemos ter acesso a extras engraçados.

Opinião final:

A Playtonic prometeu aos fãs que iria ressuscitar a essência de Banjo-Kazooie, e assim o fez! No entanto os erros que Banjo-Kazooie possuía no passado também se encontram neste novo jogo, tal como a câmara de jogo, o abuso nos trocadilhos e a inexistência de um mini-mapa num jogo com um tão grande grau de liberdade. Embora Yooka-Laylee tenha defeitos, este consegue oferecer uma experiência nostálgica e divertida a quem gosta de jogos de plataformas. Yooka-Laylee é ainda uma brisa de ar fresco para o mercado de jogos ocidentais, que nos habitua cada vez mais a jogos hiperrealistas.

Do que gostamos:

  • Personagens originais e divertidas;
  • Gráficos excepcionais para um indie;
  • Mini-jogos arcade divertidos e temáticas bem implementadas;
  • Imenso humor e animação nos mundos de jogo;
  • Habilidades originais e empolgantes.

Do que não gostamos:

  • Trocadilhos antiquados e repetição na implementação dos mesmos;
  • Câmara mal calibrada em certas alturas do jogo;
  • Inexistência da opção skip para saltar cutscenes;
  • Muitas semelhanças a Banjo-Kazooie, tornando-se uma “cópia” em vários aspetos.

Nota: 7,5/10