Animal Crossing: New Horizons – Análise

A minha aventura com Animal Crossing começou há uns anos atrás, com Wild World lançado em 2005. Na altura, tudo me parecia estranho, mas viciante – não existia um objetivo definido, andava feliz a apanhar fruta para tentar pagar um empréstimo e tudo era uma experiência de descoberta. Quanto saiu New Leaf, foi a loucura. Todos os dias tinha o ritual de visitar a minha cidade, de falar com todos os seus habitantes, de tentar apanhar mais um peixe ou insecto para a minha coleção. Com o tempo, a minha cidade ficou para trás, a própria 3DS também, apesar de tempos a tempos fazer questão de dar uma volta por New Leaf. Ainda me recordo dos meus primeiros habitantes, quase como se de amigos de infância se tratassem.

Foi com um misto de emoção e cautela que vi o anúncio de Animal Crossing: New Horizons. Sendo um jogo que me é muito querido, existe sempre aquela expectativa de voltar a viver toda uma experiência de jogo, mas agora maior e melhor! Mas existia sempre uma pequena parte de mim que me dizia para ter calma, que podia não ser o jogo que eu esperava. Mas felizmente, todos os meus medos foram infundados.

Não tendo jogado outras iterações de Animal Crossing (principalmente o original da GameCube, em que os habitantes eram bem mais salgadinhos), atrevo-me a dizer que New Horizons é a experiência definitiva para todos os fãs, novos e antigos.

Por onde começar? Como já devem saber, New Horizons deixa de lado a ideia de pôr o jogador à frente da gestão de uma cidade. Estamos cansados, precisamos de umas férias e Tom Nook resolve-nos o assunto (OK, tem um preço, mas isso já sabemos). Temos direito a alguma escolha, podendo escolher uma ilha no hemisfério norte ou sul – algo que influenciará a passagem das estações. Estão à vontade para escolherem o que preferem (eu prefiro acompanhar as estações reais), bem como um layout geral da ilha e o aspecto da vossa personagem. Com este último, não se preocupem muito, a decisão não é definitiva e futuramente poderão alterar o vosso aspeto. Posto isto, lá vamos nós a caminho de uma ilha deserta e quando chegamos, nada mais existe do que a nossa tenda onde vamos dormir e a tenda onde Tom Nook trata de todos os assuntos relacionados com os serviços para os residentes. Dois outros habitantes juntam-se a nós e lá começa a aventura.

É um trabalho árduo, mas alguém tem de o fazer.

Logo de início, é-nos dado uma espécie de smartphoneNookPhone – onde teremos acesso a diversas apps que nos irão permitir desfrutar ainda mais da vida na ilha. New Horizons mantém-se fiel à máxima da ilha deserta e a nossa personagem começa apenas com uma pequena tenda, sem quaisquer ferramentas ou o que quer que seja. A ilha é selvagem, cheia de fauna e flora (e muitas ervas daninhas) pelo que, apesar de não terem ferramentas à vossa disposição, certamente se vão ver rapidamente ocupados com a tarefa hercúlea que é limpar toda a ilha de ervinhas.

E é aqui que vão começar a perceber o sistema de gestão de recursos que foi implementado em Animal Crossing: New Horizons. As ervas daninhas e galhos espalhados pela ilha servirão para criarem os vossos primeiros objetos e ou ferramentas na mesa de DIY – inicialmente disponível na tenda de Tom Nook. Relativamente a esta nova componente de DIY, as receitas disponíveis são infinitas e estão sempre a crescer. Podem obter novas receitas por exemplo pagando pelas mesmas, trocando-as por milhas, encontrando-as perdidas em garrafas na praia ou mesmo oferecidas pelos habitantes. As possibilidades são gigantescas e tal fez com que a emoção fosse sempre imensa de cada vez que conseguia uma receita nova.

Logo de início, não vão ter muita variedade, mas New Horizons é exímio em dar uma coisa de cada vez, deixando os jogadores a querer mais. Ao início, criar canas de pesca e redes vai-vos permitir que apanhem peixes e insectos, que podem vender por Bells ou simplesmente doar ao museu. Juntem a isto as rochas que podem apanhar do chão ou obter batendo nos calhaus espalhados pelo mapa e podem ter um machado. Com este último, podem obter vários tipos de madeira das várias árvores… etc. etc. Estão a perceber a ideia? Estes mesmos recursos irão servir para criarem tudo e mais alguma coisa, desde mobília, a melhores ferramentas, até meros objetos de decoração e acessórios para a vossa personagem. No entanto, as ferramentas não duram para sempre. Após algumas sessões de pesca ou outra atividade, vão-se aperceber de que as ferramentas que inicialmente podem criar são, bem… uma porcaria.

Preparem-se para passarem muito tempo de volta da mesa de DIY.

E este é um dos ciclos viciosos de New Horizons, toda esta gestão de recursos leva-nos a querer sempre mais e melhor, de modo a podermos não só criar objetos para decorar a nossa tenda/casa e a ilha, mas também para podermos criar objetos de elevado valor para vender e assim obter mais Bells. A obtenção de Bells é um dos pontos fulcrais do jogo, como já o era em títulos anteriores. Tom Nook não faz nada de borla e apesar de vos cobrar a viagem e a tenda em milhas, se quiserem uma casa (e as suas subsequentes melhorias), têm de pagar, e não é pouco.

Mas Tom Nook também precisa da vossa ajuda para publicitar todo o projeto da ilha e assim chamar novos habitantes. É preciso não só encontrá-los (através de um acampamento, à semelhança do anterior título, ou em outras ilhas desertas), como também é preciso definir o local onde querem que se instalem. Tudo isto tem o seu custo, quer seja monetário ou mobílias, e rapidamente se vão aperceber da necessidade de terem atividades diárias que vos façam render um dinheirinho.

Esse dinheiro depois poderão usar para comprar mais objetos de decoração, roupas, ajudar a financiar projetos na ilha – tais como pontes ou rampas – ou simplesmente pagar o vosso empréstimo. Tudo isto pode ser gerido não só junto de Tom Nook, como na máquina de ATM disponível no Resident Services – onde podem colocar os vossos Bells numa conta poupança, comprar produtos do catálogo (e que está sempre a crescer) ou trocar milhas por variadas coisas como receitas, penteados, objetos de decoração/mobília e muitas outras surpresas. Há ainda que referir que é neste mesmo ATM que podem chamar até à ilha os vossos habitantes favoritos, quer através da utilização de amiibos, quer pela utilização de cartas. Chamei a Gwen (habitante OG da minha cidade de New Leaf!) e folgo em dizer que após alguma persuasão, a mesma decidiu ficar a viver na minha ilha.

A componente de personalização é imensa, permitindo aos jogadores que mudem a cor dos objetos de decoração, bem como os padrões dos mesmos. Podem mudar a coberta da vossa cama para a cor ou desenho que quiserem, mas fiquei sem perceber o porquê de a Nintendo não ter aproveitado a utilização do touchscreen. É só estranho estar a colorir pixel a pixel (e não duvido que muita gente consiga fazer coisas espectaculares) como se estivéssemos a brincar com papel quadriculado. Torna-se limitativa e, francamente, pouco apelativa a utilização dos controlos normais neste aspecto. A personalização da personalidade da ilha continua, ao permitir mudarem não só a bandeira (através da personalização já mencionada) mas também o tema musical da mesma. O vosso papel de melhorar a ilha torna-se cada vez maior e, com a chegada de Isabelle, Tom Nook começa a delegar-vos mais e mais tarefas. A ilha é de todos e todos têm uma responsabilidade de a manter, sendo que a vossa ainda é maior.

Não há nada como um lindo pôr-do-sol.

Apesar de poderem escolher o design inicial da vossa ilha, mais à frente poderão personalizá-la ao máximo fazendo umas pequenas obras, quer escolhendo onde querem os vossos rios, bem como criando caminhos ou até mesmo elevações de terra, criando uma espécie de penhascos. A juntar a isto, têm a possibilidade de colocar todo e qualquer objeto de mobiliário e decoração no exterior. Basicamente, têm aqui toda uma miríade de opções para que possam personalizar a vossa ilha ao máximo, criando uma obra de arte ao vosso gosto.

Apesar de começarem numa ilha deserta, em New Horizons irão deparar-se com algumas personagens e lojas já conhecidas, tal como Nook’s Cranny (com Tommy e Timmy) e até a loja das Able Sisters, onde poderão encontrar os melhores modelitos. A par disto temos o museu, que será a casa dos peixes, insectos e fósseis que vamos coleccionando. Desta vez, o museu é absolutamente massivo e todo ele é uma obra de arte. Parece-se efetivamente com um museu e é um absoluto prazer percorrer as várias salas do mesmo, desfrutando das coleções que ajudámos a construir.

A juntar-se a esta componente de colecionismo, já presente noutros jogos de Animal Crossing, temos também as milhas – uma importante moeda de troca, que já referi anteriormente. Mas como obter estas milhas? Através do vosso NookPhone terão acesso a uma app com uma espécie de lista de objetivos ou achievements. Para além de alguns objetivos fixos, têm também alguns que vão variando (na opção NookMiles+). Estes objetivos vão desde pescar números cada vez maiores de peixes, até simplesmente falar com os vossos vizinhos todos, numa base diária. Apesar de Animal Crossing ter sido sempre um jogo em que o jogador criava os seus próprios objetivos, isto ajuda a dar alguma direção a alguns jogadores. A liberdade existe sempre, podem jogar New Horizons como bem quiserem, mas a motivação extra para fazerem tudo o que o jogo oferece fica sempre lá à espreita, através desta lista. O NookPhone é de muito fácil acesso e aqui não só podem aceder à listagem de milhas, mas também à lista de bicharada que já descobriram, assim como receitas, mapa, câmara fotográfica e até a um serviço de resgate (Resetti, não te escondas, toda a gente tem de trabalhar!).

Depois de tanto trabalho, descansar na praia é bem merecido.

Se estiverem fartos da vossa ilha (não percebo como!), podem sempre apanhar um aviãozinho da Dodo Airlines para uma qualquer ilha deserta, onde irão ter a oportunidade de apanhar recursos diferentes daqueles que têm disponíveis. A ilha é sempre diferente e depois de saírem de lá, nunca mais irão voltar à mesma. É sempre uma questão de sorte e nunca sabemos se as milhas trocadas pelo bilhete serão bem gastas. Mas isso faz parte da diversão. A par disso, podem também visitar as ilhas de outros jogadores (via online), bem como ter outros jogadores convosco localmente na vossa ilha. Infelizmente, não conseguimos testar estas últimas componentes.

Visualmente, não há palavras para exprimir o mimo que New Horizons é. Desde a componente gráfica que, apesar do visual cartoony, nos permite desfrutar de pequenos detalhes como o bordado no casaco da Isabelle, assim como de todo o ambiente criado pelos gráficos coloridos, sem serem berrantes. Os detalhes sonoros ajudam à imersão, a música é relaxante como sempre, mas é impossível não notar o som das ondas do mar, ou até dos pés da nossa personagem ao passar da relva para um caminho de pedra. Os habitantes e personagens ajudam à criação de um ambiente vivo, sentando-se debaixo de árvores a beber o seu sumo, a regarem as plantas ou simplesmente a fazerem um pouco de exercício na praça principal. É um jogo lindo, maravilhoso e cada pormenor obriga a um sorriso.

Animal Crossing: New Horizons é tudo aquilo que queria de um jogo Animal Crossing, e mais. Apesar de já ter desbloqueado algumas coisas, tenho a sensação de que me falta explorar e fazer tanto e é tão bom poder retomar o meu ritual diário de visitar a minha cidade (agora ilha), regar as minhas plantas, falar com os meus vizinhos ou simplesmente relaxar um pouco a pescar.

Para quem já era fã de Animal Crossing, podem ir sem medos nesta aventura para uma ilha deserta. Para quem não conhece a série e quer dar os primeiros passos, aqui têm a oportunidade para o fazer. Podem partir à descoberta com a certeza de que New Horizons será a aventura de uma vida.

Opinião Final:

Animal Crossing: New Horizons é o jogo ideal para uma consola portátil/híbrida, uma experiência tão diferente de tantos outros jogos mas que fala tanto a muitos jogadores. Com uma componente enorme de personalização, permite aos jogadores não só que desfrutem da sua ilha e dos seus vizinhos, como que a alterem a seu bel-prazer, criando assim um pequeno refúgio das agruras do dia a dia. É impressionante como a Nintendo conseguiu transformar um abraço ternurento num jogo, mas aqui estamos. É isto Animal Crossing: New Horizons.

Do que gostamos:

  • Adição de programa de milhas adiciona montes de objetivos;
  • Mecânica de DIY adiciona ainda mais coisas para fazer;
  • Gestão de recursos e implementação na jogabilidade é perfeita;
  • Apresentação e ambiente absolutamente lindos;
  • Experiência mais completa de sempre de Animal Crossing… na Switch!

Do que não gostamos:

  • Bem… nada?

Nota: 10/10