Artigo Especial de Halloween – Top 5 Filmes de 2019

Como já é tradicional, sempre gosto de trazer um artigo especial para o Halloween, não por ser uma data que leve tão a sério, mas por ser um momento onde é possível fazer indicações de conteúdos mais voltados para o terror e horror, género que sempre gostei desde miúdo e que infelizmente não tem o mesmo destaque de algumas décadas atrás.

Porém, esse ano decidi seguir um rumo totalmente diferente de outros artigos do passado e ao invés de apostar em promoções ou indicações de jogos que estão a fazer eventos temáticos, decidi esmiuçar um pouco o ano de 2019 e trazer 5 indicações de jogos, séries e no caso desse artigo específico filmes que na minha opinião destacaram-se até o momento.

Ao contrário do artigo de jogos onde o difícil foi encontrar jogos de qualidade dentro de género para indicar, no caso dos filmes a dificuldade foi escolher apenas 5 filmes para entrar nessa lista, principalmente já que deixaria de fora filmes que ainda não chegaram ao cinema e filmes que de alguma maneira tem qualidade, mas que foram superados por produções que conseguiram estabelecer ali o seu espaço sem qualquer dúvida.

A pensar nisso, criei algumas regras para filtrar, reduzir ao máximo essa lista e até esclarecer melhor o leitor para o que será indicado, para assistirem principalmente no Halloween:

  • 1º Nenhum dos filmes não tem obrigação de dar susto, então o filme até pode ter momentos de jumpscare, mas funcionará como um elemento adicional a ambientação, por isso, não espere encontrar nessa lista Annabelle 3.
  • 2º Todos os filmes indicados são para espetadores maiores de 18 anos e que não ficam facilmente impressionadas com cenas de violência, sangue, crimes reais, violação, cenas extremamente gráficas, etc. Então em hipótese nenhuma assista esses filmes com crianças ou pessoais sensíveis, para esses casos Zombieland: Tiro Duplo e A Família Addams são mais indicados.
  • 3º Os outros conteúdos indicados após cada um dos 5 filmes, não são obrigatórios de serem vistos antes, mas de alguma maneira complementam ou ampliam aquilo que o filme indicado oferece, a funcionar assim como uma maneira de também ampliar o conhecimento do leitor dentro daquele estilo cinematográfico.
  • 4º Devido a questões pessoais, todos os 5 filmes indicados foram assistidos através de edições digitais compradas ou alugadas em plataformas online como o YouTube, Google Play ou iTunes, sendo assim, alguns dos filmes poderá ainda estar em exibição nos cinemas, mas também estão disponíveis nessas plataformas, mesmo que ainda sem legendas em português.
  • 5º Obviamente é uma lista que se limita a minha opinião, caso não concorde, tem toda liberdade de deixar outras indicações nos comentários, porém, comentários ofensivos ou depreciativos, serão automaticamente apagados.

1º – Midsommar

Midsommar é uma daquelas gratas surpresas para um fã de terror e horror, com realização de Ari Aster, o mesmo cineasta que trabalhou em Hereditário e que agora traz um filme que pode ser definido dentro de um género muito próprio, o “horror folclórico” e que surpreendentemente funciona muito bem na sua ambientação maioritariamente diurna. A historia é bem simples, um casal que está a passar por uma fase complicada na sua relação, principalmente depois de um evento traumático vivido pela protagonista Dani. eEles então são convidados por amigos para visitar uma pequena aldeia na Suécia, onde está a decorrer uma edição especial do evento que dá nome ao filme.

Apesar do filme entregar logo na sua abertura toda a historia, o espetador não precisa saber muito mais para desfrutar desse filme, na verdade, Midsommar convida o espetador a fazer a sua própria interpretação sobre o que exatamente é o filme, será um filme sobre fases de uma relação desgastada? Será um filme sobre união e empatia? Será um filme sobre a influência de um culto? Sobre as diferentes fases do nosso emocional? Uma coisa é certa, Ari Aster merece aplausos, pois Midsommar não é apenas um filme de qualidade, ele é um filme que nota-se em pequenos detalhes que teve uma paixão e atenção do realizador, já que até as runas que aparecem no filme (e nos posters de divulgação), trazem para os runologos, uma experiência única enquanto assiste ao filme.

Pessoalmente não gostei de Hereditário por diversos motivos, mas Midsommar conseguiu prender a minha atenção do início ao fim, até por serem filmes completamente diferentes, então espere de Midsommar um filme difícil de digerir, que quebra muitos conceitos pré-estabelecidos, em diversos momentos incomodo, grotesco, que toma decisões muito arriscadas, mas, ao mesmo tempo, sensível com aquilo que aborda e na maneira como aborda, mesmo quando essa sensibilidade está lado a lado com uma cena que estará a conflitar com uma sensação de incomodo. No final Midsommar, entrega uma experiência que vale cada minuto das suas 2 horas e 20 minutos de duração.

Conteúdo complementares: O Sacrifício (1973), A Bruxa (2015), Hagazussa (2017),Wild Wild Country (2018).

 

2º – O Bar Luva Dourada

O Bar Luva Dourada é um filme complicado e não por ser de qualidade questionável, muito pelo contrário, mas por ser um filme intenso, pesado e repulsivo. Apesar do nome abrir espaço para interpretações sobre um filme sobre boxe, infelizmente para pessoas mais sensíveis, não é isso que o filme entrega, mas sim, um filme sobre violência, crimes, abusos e psicopatia.

O Bar Luva Dourada ou no original, Der goldene Handschuh, é um filme realizado pelo alemão Fatih Akin, que está acostumado a trabalhar em filmes com temática mais tensa, porém, nesse filme ele foi muito além do habitual, ao adaptar o livro homónimo escrito por Heinz Strunk, que narra a historia do serial killer, Fritz Honka, que assassinou 4 mulheres de maneira grotesca entre os anos de 1970 e 1974 em Hamburgo, Alemanha.

Por se tratar de um caso real e muito noticiado na época, saber que ele foi um serial killer que assassinou 4 mulheres não estraga a experiência do filme, já que todo o peso dele está nos detalhes sobre o caso que chocou o país. O filme também não se preocupa em explorar muito o passado de Honka, com apenas informações básicas que ajudarão o espetador a entender como aquele homem com passado conturbado e repleto de agressões, abandono e bullying, se transformou no monstro que acompanhamos durante esses 4 anos.

O Bar Luva Dourada é um filme muito pesado e apenas indicado a pessoas que realmente estejam preparadas para uma experiência quase traumatizante, já que as cenas são extremamente realistas, sem efeitos especiais gráficos notáveis e com cenas repugnantes, além disso, os efeitos sonoros aumentam ainda mais a sensação de incomodo, com momentos onde o espetador terá realmente de respirar fundo, pois será difícil continuar a acompanhar determinados momentos de violência e principalmente desmembramento (quem assistir o filme, irá lembrar para sempre de uma cena a envolver uma serra).

Conteúdos complementares: O Silêncio dos Inocentes (1991), Seven – 7 Pecados Mortais (1995),An American Crime (2007), My Friend Dahmer (2017).

 

3º – A Perfeição

A Perfeição é um daqueles filmes onde o espetador será constantemente desafiado a rever aquilo que acreditava estar a entender sobre a narrativa, sendo um filme que talvez faça muitos terem sentimentos bem controversos a medida que a sua narrativa avança.

Realizado por Richard Shepard (Girls) fez a sua estreia mundial através da Netflix em maio de 2019 e acompanha a historia de Charlotte (Allison Williams) uma jovem violoncelista promissora que é forçada a desistir dos seus sonhos após um trágico incidente familiar. Alguns anos passam e a jovem agora adulta, decide regressar ao mundo da música, porém, ela esbarra em Elizabeth (Logan Browning), a nova aprendiz do seu antigo professor.

A receita perfeita para adentrar na experiência que A Perfeição promete entregar ao espetador, é limitar-se a essas informações, não procure saber nada, além disso, e não leia ou veja análises sobre o filme, pois tudo aquilo que o espetador precisa entender sobre a historia será explicada durante o filme, seja na sua narrativa principal, ou através de flashbacks que são introduzidos em momentos simplesmente geniais e explicam um pouco melhor os acontecimentos bizarros e inesperados do filme.

Conteúdos complementares: A Centopeia Humana (2009), Eu Vi o Diabo (2010), Cisne Negro (2010), Whiplash – Nos Limites (2014).

 

4º – Parasitas

Parasitas foi talvez uma das maiores surpresas de 2019, sendo um filme amplamente elogiado pela critica e conseguiu destacar-se de tal maneira, que durante a edição desse ano do Festival de Cannes, o filme ganhou a “Palma de Ouro” o prémio de maior prestígio do evento, entregue desde 1955 aos melhores filmes do Festival. Além disso, essa foi a primeira vez que um filme sul-coreano, ganhou esse prémio.

A sinopse do filme é bem simples, uma família com grandes problemas financeiros que vive num pequeno apartamento, porém, um dia a família tem uma oportunidade de ouro para melhorar a sua situação financeira, quando o filho mais velho da família recebe a oferta para dar aulas particulares de inglês, para uma jovem de família rica.

Com realização de Bong Joon Ho (The Host; Expresso do Amanhã) é impossível ficar indiferente a narrativa desse filme, que sem entregar spoilers, explora de uma maneira muito bem estruturada os conflitos e problemas gerados pelas diferenças de classe social, que tem como origem unicamente o quanto cada um possui na sua conta bancaria. Para além desses elementos sociais, o filme também explora elementos como drama, thriller e até mesmo humor negro, sem que nenhum deles se sobreponha ao outro na narrativa e a funcionar em diversos momentos como uma representação bastante natural de como funciona a vida de todos nós.

Conteúdos complementares: Psico (1960),Nem Respires (2016), Foge (2017), A Forma da Água (2017).

 

5º – Histórias Assustadoras para Contar no Escuro

Histórias Assustadoras para Contar no Escuro para mim pelo menos é um filme quase obrigatório para colocar nesta lista, não exatamente porque é o melhor filme de todos os tempos, não precisamos ir tão longe, mas é aquele típico filme que provavelmente passa despercebido por grande parte dos fãs de terror e horror, apesar de ter todos os elementos que fizeram essa género ter grande destaque e apresentados na historia de maneira bastante satisfatória.

A sinopse desse filme é extremamente genérica, já que inspirado nos contos escritos pelo autor norte-americano Alvin Schwartz, Histórias Assustadoras para Contar no Escuro acompanha um grupo de jovens que decide invadir uma mansão que possui um histórico de mistérios e historias assustadoras que passaram de geração em geração. Lá então eles encontram um misterioso livro, que irá se transformar no maior pesadelo desses jovens.

Com realização de André Øvredal (A Autópsia de Jane Doe), além de produção e argumento de Guillermo del Toro (A Forma da Água) o filme é uma agradável surpresa para aqueles fãs de filmes de terror dos anos 70-80 onde um grupo de jovens acaba por tomar decisões que levam a consequências terríveis, mas principalmente graças a presença de Del Toro, na produção o filme vai além, ao realmente adaptar os contos do livro escrito por Schwartz, mas de uma maneira a que cada conto tem uma ligação com o outro e com a narrativa do filme como um todo.

Histórias Assustadoras para Contar no Escuro consegue ir de encontro daquilo que diferencia um filme meramente construido sob a base de jumpscares gratuitos e previsíveis graças a outros elementos técnicos, de um filme que faz sim uso do jumpscare em momentos pontuais, mas esses jumpscares estão inseridos dentro de uma narrativa criada a base de tensão, criaturas que possuem motivações para surgirem, uma preparação fundamental para serem inseridas e como nunca fez mal a ninguém, momentos no mínimo nojentos e até engraçados. Então esqueça aqueles momentos de silêncio numa cena, para logo depois haver uma explosão no áudio seguido da aparição de um monstro, Histórias Assustadoras para Contar no Escuro vai levar o espetador numa viagem com monstros que não precisam de efeitos sonoros para deixar-los desconfortáveis, eles existem dentro da historia para isso.

Conteúdos complementares: O Projecto Blair Witch (1999), The Host – A Criatura (2006), O Senhor Babadook (2014), It (2017).

Menção Honrosa

Na Fronteira

Na Fronteira é facilmente um filme que poderia estar entre os cinco filmes citados, porém, decidi não colocar ele por um simples motivo, iria quebrar a proposta de trazer apenas filmes que fizeram a sua estreia em 2019, já que ele fez a sua estreia em diversos países incluindo os EUA ainda em 2018 e chegou a Portugal apenas no dia 06 de março de 2019, então por um lado ele poderia estar nessa lista e por outro…

Na Fronteira ou no titulo original, Gräns é um filme sueco realizado pelo iraniano, Ali Abbasi (Shelley), e segue a historia de Tina, uma mulher no mínimo peculiar graças a sua aparência deformada e uma incrível habilidade olfativa, que leva ela a conseguir um emprego na secção de imigração do aeroporto, já que a Tina é capaz de sentir o mais leve odor de drogas, produtos ilegais e até as emoções dos passageiros.

Porém, durante um dia de trabalho, ela conhece um homem que possui muitas semelhanças com ela e a partir dai a historia se desenrola de uma maneira totalmente inesperada.

Na Fronteira é um filme muito único que explora um pouco do folclore nórdico, assim como elementos científicos e biológicos, para resultar numa filme que definitivamente não é indicado para todos os espetadores, não exatamente por ter momentos gore ou violentos, mas por gerar em diversos momentos sensações de desconforto e surpresa, momentos esses inclusive que vão ficar gravados na mente daqueles que se arriscarem a assistir. O filme é tão peculiar, que é possível inclusive encontrar elementos de reflexão e critica social.