Baldur’s Gate Enhanced Edition – Análise

É fácil catalogar um jogo com 21 anos como uma mera relíquia de uma era passada, mas Baldur’s Gate é um marco da história dos videojogos, dando início a uma levada de RPG’s de sucesso que cimentaram a Bioware como um dos gigantes da indústria. Baldur’s Gate e Baldur’s Gate II são ainda hoje conhecidos como clássicos e enormes influências para outros videojogos, quer pelo seu foco e utilização das regras de Dungeons & Dragons, quer pela escrita e atuações de voz brilhantes.

Confesso que me era muito difícil conseguir visualizar jogos deste género adaptados à realidade de uma consola, muito menos de uma Nintendo Switch. São jogos em que o rato parece uma absoluta necessidade, com uma UI extensa e com inúmeras opções. É difícil imaginar como é que isso poderia ser adaptado aos controlos de uma consola, com um leque de opções bem mais reduzido, sem prejudicar a experiência de jogo. Estava reticente, mas ao mesmo tempo entusiasmada. Nunca tendo jogado o primeiro título e nunca tendo conseguido acabar BGII, tinha aqui a oportunidade de o fazer com estas Enhanced Editions e, melhor ainda, onde bem me apetecesse já que os teria sempre comigo, na minha Switch.

Já se passaram alguns anos desde que joguei Baldur’s Gate II e estou bastante mais familiarizada com os títulos da Bioware desde Neverwinter Nights, por isso escusado será dizer que foi um grande choque quando peguei no primeiro Baldur’s Gate. Este é um jogo de 1998. A sua idade nota-se, e bem, apesar das melhorias que a Beamdog fez. A jogabilidade e mecânicas são densas, sem dar a mão ao jogador de todo, à excepção de algumas ajudinhas por parte de uns monges logo no início do jogo. BG é claramente um jogo de uma outra era, sem checkpoints e com um combate absolutamente impiedoso para principiantes. Morri mais vezes do que deveria e admito que demorei demasiado tempo a descobrir como raio poderia ressuscitar os membros do meu grupo.

Apesar de antigos, Baldur’s Gate e Baldur’s Gate II continuam jogos obrigatórios para qualquer fã de RPG‘s.

Baldurs’ Gate e Baldurs’ Gate II são jogos de uma era de descoberta, em que como jogadores, tínhamos de ir verdadeiramente à aventura. E isto tem tanto de bom como de mau, dando uma sensação de triunfo quando finalmente conseguimos descobrir o que fazer naquele determinado momento, ou também de imensa frustração quando nos encostamos a nós mesmos à parede porque não percebemos nada do que estamos a fazer e criámos a pior personagem de sempre – e só nos apercebemos perto do final, onde não há Save que nos valha.

Ainda assim, a Beamdog achou que Baldurs’ Gate e Baldurs’ Gate II são jogos que deveriam ser apreciados por todos. Os mais puristas ou mesmo os novatos à procura de um desafio têm à sua disposição uma série de níveis de dificuldade, de modo a poderem adaptar o melhor possível toda a experiência ao seu gosto. Para aqueles que apenas querem desfrutar da história, existe um modo de jogo apenas chamado Story Mode, em que as vossas personagens simplesmente não podem morrer, fazendo com que a experiência seja bem mais linear, removendo a bem dizer toda a experiência do combate e estratégia aliada à construção de personagens.

Para alguns poderá parecer um facilitismo desnecessário, mas nos dias que correm e considerando aquilo a que os jogadores de hoje em dia estão habituados, consigo ver grande parte dos novos jogadores a colocarem o jogo de lado logo na primeira hora. Assim, apesar de não ser uma experiência em pleno, podem ao menos descobrir o mundo e história de Baldur’s Gate, já em preparação para o terceiro título da série. Os jogadores mais hardcore têm aqui um modo de dificuldade completamente absurdo, chamado Legacy of Baal. Com todos os restantes níveis de dificuldade pelo meio, têm aqui uma experiência para todos. No entanto, devo dizer que senti bastante mais dificuldade no primeiro Baldur’s Gate – talvez por ser mais antigo. O salto de dois anos entre os dois títulos foi o suficiente para criar uma experiência mais equilibrada.

Graficamente, não existe qualquer melhoria face às Enhanced Editions originais (lançadas pela Beamdog em 2012) e isso é bem notório, se fizerem zoom até ao máximo. Umas das minhas preocupações era se basicamente ia precisar de aumentar a minha graduação depois de jogar Baldur’s Gate. São jogos que têm imenso texto e cujos cenários e personagens são bem pequenos… o que não é problemático num CRT ou mesmo numa televisão grande, mas em modo portátil, é compreensível que exista algum receio. Felizmente existe a opção de fazer zoom, já acima referida, que permite vermos as personagens e cenários mais ao detalhe, bem como a opção de aumentar o tamanho dos textos.

É um mimo poder jogar Baldur’s Gate II numa Nintendo Switch.

Finalmente, vamos à minha principal preocupação: os controlos. Esperava o pior, mas fiquei agradavelmente surpreendida com o quão bem tudo foi adaptado à realidade de uma consola e o quão bem se joga Baldur’s Gate e Baldur’s Gate II numa Nintendo Switch. Podemos optar pela opção de o jogo entrar em modo pausa em determinados momentos (como quando encontramos um inimigo ou uma armadilha), permitindo que o jogador pare e avalie os seus próximos passos. Podemos remover a pausa no botão Mais (+) e no Menos (-) podemos aceder ao menu de opções – onde podemos fazer também Save e Load. Os botões L e R servem para poderem ir trocando de personagem ativa. Através do ZL acedem a um ecrã onde podem gerir a vossa equipa, permitindo selecionar todos de uma vez e assim evitando que fiquem alguns perdidos pelo mapa. O ZR dá acesso a um menu radial de onde podem aceder a todas as restantes opções – mapas, inventário, diário, livros de feitiços, entre outros. Com o analógico esquerdo controlam a personagem ativa (ou toda a vossa equipa) e com o direito controlam a câmara. Tudo isto contribui para uma experiência de jogo fluida e perfeitamente adaptada à realidade dos controlos de hoje em dia.

Como estamos a falar de ports das Enhanced Editions já lançadas para PC, o que temos aqui são edições super completas tanto de Baldur’s Gate como de Baldur’s Gate II. Podem contar com a inclusão dos jogos originais, bem como das expansões oficiais – bem como das expansões desenvolvidas pela Beamdog e todo o conteúdo adicional criado por esta. Temos aqui facilmente bem mais de 100 horas de jogo no total. Ainda assim, apesar de termos uma versão excelente em mãos, é um pouco difícil justificar o elevado preço colocado nesta versão de ambos os jogos, considerando que é possível obter as mesmas versões para PC por bem menos. De todo o modo, como já referi, se decidirem comprar Baldur’s Gate e Baldur’s Gate II, têm aqui muitas e muitas horas de jogo pela frente – e acreditem que este é um mundo onde se vão querer perder.

Não posso dizer que em momentos não senti falta de um rato e teclado… mas foi por apenas uma fração de segundo, o que diz muito destes ports. Nunca na vida imaginei, quando peguei em Baldur’s Gate II pela primeira vez há uns bons anos, que o voltaria a jogar numa consola portátil, onde bem quisesse. Apesar de serem jogos antigos e de se sentir muito a sua idade ao jogá-los, é fácil ver porque são considerados clássicos. É impossível pegar num Dragon Age, um Mass Effect ou até mesmo (voltando uns anos atrás) num Knights of The Old Republic sem ver laivos de Baldur’s Gate. Afinal, foi aqui que tudo começou. E é tão bom poder experienciar este mundo nos dias de hoje, sem ter de fazer malabarismos de compatibilidades. A Beamdog está sem dúvida de parabéns e mal posso esperar por poder jogar Planescape: Torment e Icewind Dale.

Opinião Final:

Baldur’s Gate e Baldur’s Gate II são dois títulos de peso que chegam à Nintendo Switch, adaptando a experiência original na perfeição à realidade das consolas. Com um esquema de controlos bem conseguido e uma história que é ainda um marco nos videojogos, Baldur’s Gate e Baldur’s Gate II são jogos que deveriam fazer parte da biblioteca de todos os jogadores – e com este lançamento na Nintendo Switch, podem ser levados para todo o lado. Porque qualquer bocadinho é bom para dar uns toques de D&D.

Do que gostamos:

  • Esquema de controlos perfeitamente adaptado;
  • Dois clássicos mais acessíveis do que nunca;
  • Edições super completas, com todas as expansões e add-ons;
  • Modos de jogo que permitem que qualquer jogador possa desfrutar da experiência.

Do que não gostamos:

  • Não existiram melhorias notórias a nível gráfico, face às Enhanced Editions originais;
  • Preço poderá ser considerado um pouco excessivo, em comparação com outras plataformas.

Nota: 9/10