Boyfriend Dungeon – Análise

Boyfriend Dungeon é daqueles jogos cujo conceito é tão estranho, que pode acabar por resultar. Na sua essência, é uma mistura de dungeon crawler com dating sim, em que as vossas armas são na verdade os vossos pretendentes – humanos que se transformam em armas como espadas ou adagas.

Esquisito, sim, provavelmente não agradará a todos, com certeza. Mas mesmo com este conceito fora da caixa, Boyfriend Dungeon poderá perfeitamente vingar se fizer bem aquilo que quer fazer. No entanto, esta última parte é sem dúvida discutível.

O protagonista é basicamente quem vocês quiserem, em termos de género, aspeto físico e até nome. Têm vinte e tal anos e nunca tiveram um encontro amoroso em toda a vossa vida. Isso tudo muda quando vão passar o verão com o vosso primo em Verona Beach. Este acaba por decidir que, der por onde der, vocês vão ter um par amoroso este verão.

Tanto através do decorrer da história como ao avançarem pelas dungeons (aqui chamadas de dunj), vão conhecendo os vários pretendentes. Primeiro conhecem-se, depois trocam umas mensagens pelo telemóvel, têm encontros, saem juntos para matar monstros, tudo muito normal portanto.

Como já referi, Boyfriend Dungeon é um misto de dois géneros muito bem definidos. Começando pela componente de dating sim, é de esperar que a história do jogo (básica como tudo) se desenrole mediante a preferência do jogador, que eventualmente irá perseguir uma relação com determinada personagem. Até aqui tudo bem, básico, simples, feito várias vezes em vários jogos. O problema é que o rol de personagens de Boyfriend Dungeon não é particularmente interessante, sendo que uma delas até é, francamente, asquerosa na sua abordagem ao jogador. As mensagens e encontros vão demonstrando as várias personalidades, permitindo ao jogador que escolha as suas respostas para determinar o seu interesse, mas quando insisti várias vezes com uma das personagens para me deixar em paz e ainda assim o nojento continua a mandar mensagens achando-se a última bolacha do pacote… não é divertido, é só desconfortável.

Sair em encontros para matar monstros, tudo normal!

Dating sims normalmente apelam a uma fantasia narrativa, pelo que este tipo de abordagem, ainda que possivelmente realista, deixou-me a coçar a cabeça sem perceber no que estavam os devs a pensar quando decidiram ir por esta via. Principalmente num jogo que logo de início parece estar bastante preocupado não só com a inclusividade da sua base de jogadores, bem como de possíveis gatilhos (triggers) associados à personagem de Mãe – cujas mensagens podem ser desativadas, caso não se sintam confortáveis com as mesmas.

As restantes personagens também não são estelares e acabei por escolher o pretendente que é uma estrela de K-Pop, apenas porque me senti quase na obrigação de escolher alguém para ver o que acontece – apesar de o querido ser desinteressante e um pouco pedante.

Relativamente à parte de dungeon crawling, Boyfriend Dungeon também pareceu deixar o projeto a meio. O combate é rápido, recorrendo a um ataque rápido e um ataque mais poderoso, mas mais lento. Cada arma/pretendente tem associada uma habilidade especial, que pode ser melhorada à medida que vão aumentando a arma de nível. Na teoria, isto dá alguma variedade ao combate, mas na prática acaba por não ser suficientemente complexo para fazer com que o jogador queira jogar uma e outra vez com diferentes armas/personagens. Por outro lado, permite que o jogador possa utilizar facilmente qualquer arma para ir avançando (e assim melhorando a sua relação com a personagem correspondente), mas infelizmente esta decisão acaba por não ter qualquer peso.

As masmorras disponíveis são básicas, cujo objetivo é na sua essência levar a que a personagem principal enfrente os seus medos. Na teoria, isto até poderia ser engraçado e mais explorado, mas os inimigos e o seu padrão de ataque rapidamente se tornam demasiado repetitivos e com pouca variedade. Quando achamos que ainda estamos apenas a raspar a superfície deste tipo de jogabilidade, rapidamente nos apercebemos de que, infelizmente, o jogo não vai passar daquilo mesmo – o que acaba por retirar qualquer vontade de voltar a jogar tudo de novo.

Pretendentes que se transformam em armas? Claro que sim.

Graficamente, Boyfriend Dungeon não deslumbra, mas também não o tenta fazer. Nos momentos de diálogo, são-nos apresentados retratos num estilo ilustrativo das diversas personagens e no combate e deslocação entre locais (no mapa principal) temos uma visão isométrica com a nossa personagem personalizada – um boneco meio atarracado mas que serve o seu propósito. O estilo geral é bastante simples, mas agradável à vista.

À medida que vão avançando nas dungeons, vão também recolhendo materiais e receitas que vos permitem aceder a um menu de crafting, criando presentes que podem dar aos vossos pretendentes, assim como peças de vestuário. Estas últimas podem ter algum efeito especial, mas na sua grande maioria apenas servem um propósito estético.

Boyfriend Dungeon não é de todo um mau jogo, mas a sua superficialidade faz com que também não ser torne memorável. Tendo em conta que metade do jogo se foca na componente de dating sim, como jogadora é difícil dedicar-me a 100% quando não consigo ter interesse por nenhum dos pretendentes. O mesmo ocorre com a componente de dungeon crawling, que é demasiado superficial para agarrar o jogador, principalmente quando existem tantas outras propostas do género que são mais bem-sucedidas a criar um loop de jogo viciante.

Opinião final:

Boyfriend Dungeon tenta aplicar um conceito fora da caixa a um misto de géneros, mas o resultado não é extremamente bem-sucedido. Ambas as suas componentes acabam por não ser exploradas a fundo e acabam por ser demasiado superficiais para que os jogadores queiram levar este verão do amor até ao fim.

Do que gostamos:

  • Conceito com mistura improvável de géneros;
  • Preocupação em criar uma experiência de jogo inclusiva e atenta a possíveis gatilhos (triggers)

Do que não gostamos:

  • …mas que acaba por falhar neste mesmo propósito com um pretendente em particular;
  • Experiência revela-se demasiado superficial a todos os níveis.

Nota: 6/10

Análise efetuada através da versão Nintendo Switch.